Amelie— Ele foi tentar conseguir mais alimentos e roupas, por enquanto só temos uma abóbora, e não há temperos ou sal. — Olhou para a panela que parecia um caldeirão pequeno. — A sopa é só de abóbora. — Certo. Obrigada pelos cuidados, Willian. — Caminhei até a cadeira e peguei as roupas dobradas. Olhei primeiramente os bolsos da capa e senti o alívio pelas joias ainda estarem lá.A camisola estava amarelada, mas parecia que tinha sido lavada, ou pelo menos tentaram. Retornei para o outro cômodo e vigiando a entrada sem porta, vesti rapidamente, até mesmo minha calça íntima estava limpa, nem consigo imaginar um homem lavando essa peça, é vergonhoso demais.Mas não importava no momento. Eu consegui fugir, tinha que pensar no que fazer daqui para frente. A parte de cima da camisola estava rasgada, mas não mostrava os meus seios e apesar do tecido fino, era melhor que estar nua.Voltei para o outro cômodo e hesitei antes de me aproximar de Willian que mexia dentro daquela panela. A casa
AmelieAs pessoas de classes baixas viviam quase na miséria, eu conhecia a realidade pois me compadeci de muitas que conheci e eu não era alheia às notícias de política, creio que me adaptaria a qualquer vida que fosse.Eu até mesmo poderia viver em um casebre desses.Olhei para a porta fechada de maneira improvisada ao ouvir algo do lado de fora, Willian se apressou em abri-la e me levantei do chão.— Finalmente! — Willian recebeu Arthur que trazia um saco de pano cheio com entusiasmo. — Não demorei tanto assim. — Ele olhou-me de cima a baixo e puxei a parte rasgada da camisola para cima.Eles eram idênticos, agora de dia eu conseguia ver com mais clareza. Os mesmos olhos cor de mel, a mesma cor dos cabelos, mas Arthur tinha os cabelos um pouco mais ondulados que Willian.— E ela, como está? — Arthur perguntou para Willian um pouco baixo, mas não o suficiente para que eu não ouvisse.— Estou bem — respondi a ele e me aproximei.— Fico feliz que esteja. — Seu meio sorriso não era tím
Inglaterra, século XIXAmelie— Hmm… Que barulho irritante…Forcei-me a abrir os olhos. Que barulho insistente é esse essa hora da noite? Será algum vizinho? — O que… Arthur? Willian? — Chamei, eu estava sozinha na cama.Estava frio, o braseiro perto não estava sendo suficiente. Arrastei-me para a beirada da cama, o quarto estava escuro, a vela já tinha acabado.— Willian? Arthur? — Chamei mais uma vez e apenas escutei novamente aquele barulho que parecia vir da cozinha.Descalça, apenas coloquei o robe grosso por cima da camisola, a madeira deixava o chão menos frio nessa época de inverno. A casa feita de tijolos não tinha revestimento, então, era um pouco mais úmido, mas já havia um tempo que não desfrutava de conforto. Era o preço a se pagar pelo meu pecado. O pecado era tentador e, às vezes, não se conseguia mais sair dele, eu já não pensava tanto a respeito.O barulho insistente vinha da cozinha, a porta dos fundos estava aberta, o vento a levava e trazia com força. Um pouco
Um ano antes…AmelieA carruagem parou e apertei a saia do vestido com as mãos enluvadas. Estava cansada, foi uma viagem longa.Olhei para a senhora na minha frente que ainda me encarava com rigor. O rosto enrugado contribuía para uma expressão mais severa, mas ela não parecia ser uma mulher feliz. Dizem que mulheres solteiras ficam amargas com o passar do tempo.Senhora Olga era a governanta da casa do meu marido, eu nunca o vi pessoalmente, porém, ele teve o cuidado de mandar sua serviçal mais fiel para me acompanhar. Bem, a julgar pela maneira que tudo aconteceu, achei o gesto atencioso. A porta foi aberta e o cocheiro estendeu a mão, sem dizer uma palavra, Olga se levantou para sair sob o auxílio do homem. Respirei fundo sentindo a atmosfera suavizar depois de sua saída, ela me julgava com um olhar impiedoso, como se eu não fosse suficiente para ser sua nova senhora.Levantei finalmente no pequeno espaço e aceitei a mão do homem de meia idade para descer o degrau da carruagem. O
Amelie— O senhor Albert estará de volta em breve, por agora, a senhora deve desfazer suas bagagens e descansar. — Ela apontou para as escadas antes de caminhar até elas, resignada, a acompanhei. — A refeição é servida às dezessete horas pontualmente, o senhor Albert detesta atrasos, então, por favor, esteja atenta a isso.— Estarei, obrigada por informar.— Uma criada virá para ajudá-la a se lavar e a ficar apresentável para logo mais. Peço que permaneça no seu quarto por enquanto e só saia na hora que for chamada.Olga abriu uma das portas escuras do corredor. O quarto espaçoso tinha o necessário para atender uma dama. Uma cama ao centro com dosseis claros, uma penteadeira em madeira escura com alguns detalhes entalhados, principalmente em volta do espelho redondo. Havia um tapete bem bordado que ocupava quase todo o lugar, em um canto, uma cômoda grande e bem polida, no outro, uma divisória parcialmente dobrada separava o quarto de uma banheira.A janela alta deixava bastante luz e
Amelie— Senhora? — Ah, sim, Ana. — Assustei-me com seu chamado, estava distraída o suficiente para perder a noção de tempo.— Está pronto.— Certo. Me ajude com as vestes, sim?— Com sua licença. — Ana se aproximou e desfez o laço do cordão que prendia o espartilho. Apesar de acostumada com seu ajuste, me causava alívio quando o retirava. Levantei-me para ajudá-la e peça por peça foi retirada até restar a camisola que usava por baixo. Meus cabelos foram soltos e revelaram os cachos grandes.— Se me permite, senhora, és tão bela quanto um anjo.— Obrigada, Ana. Minha mãe que foi agraciada por tal beleza, eu apenas herdei alguns dos seus traços. — Olhei-me no espelho da penteadeira. De fato, eu herdei os cabelos dourados cheios de cachos, os olhos azuis e lábios naturalmente pintados em um rosa mais acentuado. Mas essa beleza sempre foi condenada em todas as vezes que o padre me mandava esconder meu olhar sedutor devido a minha maldição. Assim eu fazia, ajoelhava e rezava até que m
Amelie— Ótimo, agora vamos jantar.Olga se aproximou e tirou a tampa do pote de louça refinada, o cheiro de sopa se espalhou, estava agradável, ao menos minha fome não tinha diminuido com esse início de conversa.Ela serviu uma concha cheia em meu prato e achei pouco, mas não questionei. Eu devia ter comido os biscoitos que Ana levou junto ao chá depois do meu banho. A sopa de legumes estava saborosa, era uma refeição apropriada para aquele horário.Por um tempo, apenas se ouviu o leve roçar dos talheres nos pratos fundos. Eu comi devagar, não esquecendo dos bons modos que aprendi e isso pareceu agradar meu marido, pois notei seu olhar. De certa forma, isso me deixava satisfeita.Depois disso, ele guiou-me até a sala, mas não se sentou tão próximo. Albert acendeu um cachimbo e sentou em uma poltrona confortável próximo a lareira acesa.— Amelie, é importante que saiba que nesta casa há algumas regras importantes a serem seguidas e, de forma alguma você deve desobedecer ou não hesitar
AmelieMe apressei e vesti a camisola longa, ela cobria desde meu pescoço até meus pés, porém, os botões na frente em forma de pérolas podiam ser abertos se assim meu marido desejasse. Havia outras camisolas mais abertas, porém, essa em especial, mostravam minha pureza e pudor, era o que eu deveria mostrar ao meu marido na primeira noite. Acendi as velas que tinham se apagado no candelabro, depois peguei o rosário e me ajoelhei aos pés da cama. Eu deveria rezar até que meu marido chegasse.Não muito tempo depois, Albert entrou no quarto. Levantei devagar e aguardei. Ele tirou o colete e abriu alguns botões da camisa. pude ver os pelos fartos de seu peito, mas desviei a atenção daquele lugar momentaneamente. Meu peito subia e descia mais intensamente e apertei o rosário em minha mão. Ele observou meu gesto e continuou se despindo. Quando ficou com sua roupa de baixo, virei o rosto. Eu nunca vi um homem nu e logo ele estaria, mesmo sendo meu marido, parecia errado que eu olhasse. —