Quando Chega A Lua Cheia
Quando Chega A Lua Cheia
Por: Cristinna Ramos
As duas bestas

Inglaterra, século XIX

Amelie

— Hmm… 

Que barulho irritante…

Forcei-me a abrir os olhos. Que barulho insistente é esse essa hora da noite? Será algum vizinho? 

— O que… Arthur? Willian? — Chamei, eu estava sozinha na cama.

Estava frio, o braseiro perto não estava sendo suficiente. Arrastei-me para a beirada da cama, o quarto estava escuro, a vela já tinha acabado.

— Willian? Arthur? — Chamei mais uma vez e apenas escutei novamente aquele barulho que parecia vir da cozinha.

Descalça, apenas coloquei o robe grosso por cima da camisola, a madeira deixava o chão menos frio nessa época de inverno. A casa feita de tijolos não tinha revestimento, então, era um pouco mais úmido, mas já havia um tempo que não desfrutava de conforto. 

Era o preço a se pagar pelo meu pecado.

O pecado era tentador e, às vezes, não se conseguia mais sair dele, eu já não pensava tanto a respeito.

O barulho insistente vinha da cozinha, a porta dos fundos estava aberta, o vento a levava e trazia com força. Um pouco de neve tinha entrado, mesmo assim, pisei em cima dela para poder fechar a porta, mas a noite clara pela lua cheia me mostrou pegadas recentes que iam para os fundos.

Voltei para dentro e calcei as botas. Antes de sair, puxei o casaco grosso com capuz do gancho ao lado da porta. A neve tinha parado e o céu estava limpo, mas o vento continuava forte e gelado. Arrepiei-me ao sentir, ninguém em sã consciência saía de casa em um tempo como esse.

Willian e Albert estavam estranhos, silenciosos, trocavam olhares cúmplices, eles eram gêmeos, tinham uma união mais fortalecida, principalmente, devido ao passado, mas eu precisava saber o que estava acontecendo. 

Minhas botas afundavam na neve fofa, meus dedos das mãos estavam frios, eu deveria ter calçado as luvas, mas a pressa e ânsia de descobrir para onde eles tinham ido era maior que os cuidados. 

Por que não foram para a rua? Entrar na mata era perigoso, há tempos que esse lugar era assombrado por criaturas noturnas. Alguns diziam que eram lobisomens, outros afirmavam que eram demônios que viam castigar os pecadores, afinal, só desapareciam aqueles que erroneamente saíam de suas casas no meio da noite.

Não se sabia. Os moradores viviam aterrorizados, mas confiavam nas palavras do padre da pequena igreja no centro da vila. Ele dizia: “apenas tranquem bem suas casas e coloquem uma cruz na porta que espantará todo o mal”. 

No fim, isso pareceu funcionar, contudo, ainda se ouvia sons aterrorizantes em algumas noites de lua como essa.

Eu estava temerosa por Willian e Arthur, eu os amava e não tinha mais ninguém além deles. O que farei se perdê-los? Graças a eles não sucumbi a loucura e as atrocidades desse mundo. Nós lutamos para escapar daquele lugar e foram eles que me fizeram enxergar um mundo novo, sentir o amor de verdade.

A fumaça se formava quando o ar saía da minha boca e nariz, as pegadas entravam na mata e segui, nessa época as árvores quase não tinham folhas devido ao frio severo, então a claridade entrava facilmente. 

Assustei-me quando um barulho ecoou, olhei para trás e os lados, mas não havia nada próximo, depois de mais alguns passos, peguei uma roupa caída no chão, era de Arthur, estavam amontoadas e suas botas caídas mais na frente. Meu coração acelerou e apressei meus passos, logo encontrei outro monte de tecidos, eram de

— Willian...

Não estavam rasgadas e nem havia sangue, era como se… apenas tivessem sido tiradas.

O que está acontecendo?

Um vento frio mais uma vez atingiu minhas bochechas, ali entre as árvores e galhos finos ele fazia um barulho assombroso.

Minha capa engatou em um galho e ouvi o tecido rasgar quando puxei com força, meus dedos já estavam dormentes e de repente ouvi um grunhido seguido de um rosnado.

Olhei na direção que veio, os passos também iam para lá.

Hesitei, algo em meu íntimo me dizia para não prosseguir. Talvez fosse meu instinto de sobrevivência, porém, eu não podia simplesmente retornar depois de chegar até aqui. 

E se fossem eles as vítimas? 

Meus pés se comandaram ao ir. Eu estava com medo e senti falta do meu rosário que ficou para trás no dia que fugi, talvez Deus tivesse misericórdia de sua filha pecadora ao menos nesse momento.

Os sons ficaram mais altos à medida que eu me aproximava, de repente me vi andando em cima de um rastro de sangue que desejava desesperadamente que não fosse deles. 

Foi então que vi.

Um pouco mais na frente havia uma mulher jogada no chão, suas vestes estavam rasgadas e o sangue manchava a neve ao redor. Eles… 

Levei as mãos aos lábios para conter o grito, mas eles já estavam olhando para mim. As duas bestas cobertas de pelos escuros, focinho alongado, orelhas pontudas... O sangue escorria por seus dentes longos e afiados, mas os olhos brilhantes e estranhamente familiares olharam diretamente para mim.

O rosnado saiu da boca de um deles e dei um passo para trás, mas tropecei em algo. Apertei a neve ao cair e rapidamente me levantei.

Eles vieram e me desesperei mais.

Willian… Arthur…

Meu pé engatou em uma raiz e eu caí, antes de tudo escurecer senti a dor na cabeça e o cheiro de sangue.

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