AVA NARRANDO. ESCOCIA.Desde o momento em que Rafaella entrou em minha vida, eu soube que a amaria como uma filha. Me lembro da primeira vez que a vi, uma pequena criança de olhos curiosos e sorriso tímido, ainda sem entender completamente o que tinha acontecido. A mãe dela, uma mulher tão cheia de vida e bondade, havia partido cedo demais, deixando um vazio que, mesmo com todos os meus esforços, eu nunca consegui preencher por completo. Mas fiz o meu melhor. Dediquei cada dia da minha vida a cuidar de Rafaella, a protegê-la do mundo e, principalmente, das sombras que pairavam sobre aquela casa.Aquelas sombras eram representadas por Celina e Adam. Nunca entendi o motivo de tanta amargura e crueldade neles, especialmente em Celina. Ela sempre parecia invejosa de tudo e todos, e a sua frieza para com Rafaella era algo que me partia o coração. Muitas vezes, encontrei Rafaella chorando sozinha em seu quarto, assustada ou machucada por palavras cruéis que Celina lançava sem o menor remor
RAFAELLA MARTINI NARRANDO.ESCOCIA. Naquele dia, o céu parecia carregar toda a melancolia do mundo. A chuva caía pesada, incessante, como se o próprio universo estivesse em luto. O som das gotas contra o telhado do café era quase hipnótico, um ritmo constante que, em outras circunstâncias, poderia até ser reconfortante. Mas naquele dia, a chuva só parecia intensificar a minha inquietação, refletindo o turbilhão que acontecia dentro de mim.As cólicas começaram desde cedo, me pegando de surpresa com a sua intensidade. Eu tentava controlá-las, respirar fundo e focar nas pequenas tarefas do dia, mas era difícil. A cada nova onda de dor, o meu corpo se encolhia involuntariamente, e eu me agarrava ao balcão, tentando manter a compostura. O café estava praticamente vazio. Apenas alguns poucos clientes, encolhidos em suas mesas, buscando abrigo da tempestade lá fora. A chuva espantava as pessoas, e o movimento era fraco, o que, de certa forma, era um alívio. Não sei se conseguiria atender m
RAFAELLA MARTINI NARRANDO.ESCOCIA.A chuva caía com uma fúria desmedida, as gotas grossas e pesadas se chocando contra o asfalto com uma força que fazia ecoar um lamento constante. Eu mal conseguia ver o caminho à frente, cada passo sendo um esforço monumental. Ava estava ao meu lado, me amparando como podia, mas eu sentia que a qualquer momento as minhas pernas iriam ceder. As contrações estavam cada vez mais fortes, a dor intensa e avassaladora, me arrancando o fôlego.Com cada nova onda de dor, eu rezava silenciosamente, implorando a Deus que não deixasse o meu bebê nascer ali, no meio da tempestade e daquele caos.— Por favor, não agora, não aqui... — Murmurava entre os dentes cerrados, enquanto tentava manter o ritmo da respiração, algo que parecia impossível com o pânico e a dor misturados dentro de mim.Ava me puxava com força, me guiando pelo que parecia um labirinto de ruas inundadas. Cada passo era uma batalha, e eu me concentrava apenas em colocar um pé na frente do outro,
LEONARDO RIZZI NARRANDO.ESCÓCIA.O jato tocou a pista com um leve solavanco, e a minha respiração ficou presa no peito. Estávamos na Escócia, finalmente. A neblina densa cercava tudo ao redor, como se o próprio país estivesse imerso em uma melancolia constante. O tempo ali parecia refletir o que se passava dentro de mim: uma tormenta sem fim. Cada segundo que passava eu sentia o peso da ansiedade apertando o meu peito, uma mistura de dor, raiva e um desejo incontrolável de vingança.O avião parou e a rampa se abriu, deixando o vento frio da manhã envolver o meu corpo. Ao sair do jato, coloquei a mão no bolso e toquei a arma que estava guardada ali. Aquele simples gesto me dava uma estranha sensação de controle em meio ao caos que havia se tornado a minha vida. Não havia espaço para dúvidas ou hesitação. Estava tudo claro: Rocco morreria. E eu seria o homem a acabar com a vida dele.Os meus homens estavam a postos, atentos, os olhos varrendo a paisagem, em busca de qualquer sinal de p
LEONARDO RIZZI NARRANDO. ESCÓCIA. A chuva fina e constante batia no para-brisa do carro, distorcendo as luzes da cidade que desfilavam diante dos meus olhos. O som monótono das gotas de água contra o vidro contrastava com o turbilhão que fervilhava dentro de mim. O cheiro de couro do interior do carro se misturava com a fragrância amarga da minha raiva, impregnando o ambiente. Ao meu lado, amarrado e amordaçado, estava Rocco. Aquele maldito que destruiu a minha vida, que tirou os meus pais de mim, que tirou Rafaella de mim. Eu podia sentir o medo dele, mesmo que ele tentasse esconder, como se fosse um animal encurralado, sabendo que o seu fim estava próximo.Estávamos indo para o café. Aquele lugar que tinha se tornado uma espécie de prisão para Rafaella, onde ele a mantinha sob o seu controle, afastada de mim. Mas antes de chegarmos lá, o meu celular vibrou no bolso. Tirei ele com uma das mãos, sem tirar os olhos da estrada, e atendi. Do outro lado, a voz grave e conhecida de Walla
RAFAELLA MARTINI NARRANDO. ITÁLIA. O avião finalmente pousou na Itália, e o som das turbinas desacelerando era um eco distante comparado à tempestade que se desenrolava em meu peito. Segurei o meu bebê mais firme nos braços, buscando nele um ponto de ancoragem para a realidade, para não me perder em meio ao turbilhão de emoções. Cada segundo no ar tinha sido uma batalha interna, uma mistura de esperança, medo e uma dor tão profunda que parecia impossível de suportar. Estar de volta à Itália, o lugar onde tantas memórias foram construídas, e destruídas, me deixava à beira de um colapso.Quando a porta do avião finalmente se abriu, o ar fresco da manhã italiana entrou na cabine, carregando consigo o cheiro familiar que me fez fechar os olhos por um breve momento. Ao abri-los, o meu coração quase parou ao ver Lorenzo. Ele estava lá, em pé na entrada do avião, os olhos arregalados, fixos em mim. Eu podia ver a confusão e a surpresa estampadas em seu rosto, e por um momento, nenhum de nó
LEONARDO RIZZI NARRANDO.ITÁLIA.A tensão dentro do jato era palpável. Eu não conseguia me concentrar em nada além da urgência de ver Rafaella. Desde o momento em que soube que ela estava viva, o meu mundo virou de cabeça para baixo. A viagem de volta para a Itália parecia se arrastar eternamente, cada segundo uma agonia enquanto a minha mente se enchia de pensamentos de como ela poderia estar, o que ela havia passado, o que a fazia estar no hospital.Finalmente, quando as rodas do jato tocaram a pista, me senti mais perto dela, mas ainda assim atormentado pela distância. As minhas mãos tremiam levemente quando peguei o telefone e liguei para Lorenzo.— Lorenzo, onde ela está? — Perguntei, mal conseguindo controlar o desespero na minha voz.— Ela está no hospital, Leonardo. Chegou hoje de manhã, está tudo bem agora — Ele respondeu, tentando me tranquilizar, mas a palavra "hospital" reverberava na minha cabeça.Antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, desliguei a ligação e ord
RAFAELLA MARTINI NARRANDO.ITÁLIA.Finalmente, o dia chegou. Depois de dois dias no hospital, estávamos prontos para voltar para casa. Não foi fácil ficar ali, em um ambiente que constantemente me lembrava dos momentos de dor e incerteza que passei, mas o pior havia passado. Eu estava com Leonardo e com o nosso filho, e isso era tudo o que eu precisava. Quando Lorenzo entrou no quarto com a alta médica, senti um alívio imediato. Era hora de começar uma nova fase, de deixar para trás os pesadelos e encontrar a paz que tanto desejávamos.No caminho de volta para casa, a tensão se acumulava dentro de mim. A quietude de Leonardo, que normalmente me acalmaria, agora apenas aumentava a minha ansiedade. Eu sabia que ele estava tentando ser forte por mim, tentando manter o foco no que importava: nossa família. Mas não podia mais guardar aquilo dentro de mim.— Leonardo, eu... eu não aguento mais. — A minha voz quebrou o silêncio do carro. Ele me olhou, preocupado, mas não disse nada, esperand