LEONARDO RIZZI NARRANDO. ESCÓCIA. A chuva fina e constante batia no para-brisa do carro, distorcendo as luzes da cidade que desfilavam diante dos meus olhos. O som monótono das gotas de água contra o vidro contrastava com o turbilhão que fervilhava dentro de mim. O cheiro de couro do interior do carro se misturava com a fragrância amarga da minha raiva, impregnando o ambiente. Ao meu lado, amarrado e amordaçado, estava Rocco. Aquele maldito que destruiu a minha vida, que tirou os meus pais de mim, que tirou Rafaella de mim. Eu podia sentir o medo dele, mesmo que ele tentasse esconder, como se fosse um animal encurralado, sabendo que o seu fim estava próximo.Estávamos indo para o café. Aquele lugar que tinha se tornado uma espécie de prisão para Rafaella, onde ele a mantinha sob o seu controle, afastada de mim. Mas antes de chegarmos lá, o meu celular vibrou no bolso. Tirei ele com uma das mãos, sem tirar os olhos da estrada, e atendi. Do outro lado, a voz grave e conhecida de Walla
RAFAELLA MARTINI NARRANDO. ITÁLIA. O avião finalmente pousou na Itália, e o som das turbinas desacelerando era um eco distante comparado à tempestade que se desenrolava em meu peito. Segurei o meu bebê mais firme nos braços, buscando nele um ponto de ancoragem para a realidade, para não me perder em meio ao turbilhão de emoções. Cada segundo no ar tinha sido uma batalha interna, uma mistura de esperança, medo e uma dor tão profunda que parecia impossível de suportar. Estar de volta à Itália, o lugar onde tantas memórias foram construídas, e destruídas, me deixava à beira de um colapso.Quando a porta do avião finalmente se abriu, o ar fresco da manhã italiana entrou na cabine, carregando consigo o cheiro familiar que me fez fechar os olhos por um breve momento. Ao abri-los, o meu coração quase parou ao ver Lorenzo. Ele estava lá, em pé na entrada do avião, os olhos arregalados, fixos em mim. Eu podia ver a confusão e a surpresa estampadas em seu rosto, e por um momento, nenhum de nó
LEONARDO RIZZI NARRANDO.ITÁLIA.A tensão dentro do jato era palpável. Eu não conseguia me concentrar em nada além da urgência de ver Rafaella. Desde o momento em que soube que ela estava viva, o meu mundo virou de cabeça para baixo. A viagem de volta para a Itália parecia se arrastar eternamente, cada segundo uma agonia enquanto a minha mente se enchia de pensamentos de como ela poderia estar, o que ela havia passado, o que a fazia estar no hospital.Finalmente, quando as rodas do jato tocaram a pista, me senti mais perto dela, mas ainda assim atormentado pela distância. As minhas mãos tremiam levemente quando peguei o telefone e liguei para Lorenzo.— Lorenzo, onde ela está? — Perguntei, mal conseguindo controlar o desespero na minha voz.— Ela está no hospital, Leonardo. Chegou hoje de manhã, está tudo bem agora — Ele respondeu, tentando me tranquilizar, mas a palavra "hospital" reverberava na minha cabeça.Antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, desliguei a ligação e ord
RAFAELLA MARTINI NARRANDO.ITÁLIA.Finalmente, o dia chegou. Depois de dois dias no hospital, estávamos prontos para voltar para casa. Não foi fácil ficar ali, em um ambiente que constantemente me lembrava dos momentos de dor e incerteza que passei, mas o pior havia passado. Eu estava com Leonardo e com o nosso filho, e isso era tudo o que eu precisava. Quando Lorenzo entrou no quarto com a alta médica, senti um alívio imediato. Era hora de começar uma nova fase, de deixar para trás os pesadelos e encontrar a paz que tanto desejávamos.No caminho de volta para casa, a tensão se acumulava dentro de mim. A quietude de Leonardo, que normalmente me acalmaria, agora apenas aumentava a minha ansiedade. Eu sabia que ele estava tentando ser forte por mim, tentando manter o foco no que importava: nossa família. Mas não podia mais guardar aquilo dentro de mim.— Leonardo, eu... eu não aguento mais. — A minha voz quebrou o silêncio do carro. Ele me olhou, preocupado, mas não disse nada, esperand
RAFAELLA MARTINI NARRANDO.ITÁLIA.Os últimos meses trouxeram a paz que eu nunca pensei que fosse possível alcançar novamente. Ricardo estava crescendo forte e saudável, com uma energia que me fazia sorrir todos os dias. A casa, que antes parecia envolta em sombras, agora estava cheia de luz, cheia de vida. Leonardo e eu conseguimos reconstruir o que Rocco tentou destruir, e cada dia que passava era uma vitória para nós, uma prova de que o amor verdadeiro consegue superar qualquer obstáculo.Naquela noite, algo em particular me fez perceber o quanto as coisas tinham mudado para melhor. Leonardo sugeriu que saíssemos para um jantar, apenas nós dois. Era raro termos um momento só para nós, com Ricardo exigindo tanta atenção, mas eu sabia que precisávamos desse tempo juntos. Precisávamos lembrar do que éramos antes de todas as tragédias, antes das separações e do sofrimento. Precisávamos lembrar do amor que nos uniu.Me vesti para aquela noite trouxe de volta um sentimento que há muito e
RAFAELLA MARTINI NARRANDO.ITÁLIAAcordei sentindo o calor do corpo de Leonardo envolto ao meu. Ele estava abraçado em mim, os braços firmes me mantendo próxima a ele, como se tivesse medo de me deixar ir, mesmo durante o sono. Não pude evitar um sorriso suave ao sentir o ritmo constante de sua respiração contra o meu pescoço, um sinal de tranquilidade e segurança que há muito tempo eu não sentia. Esse simples gesto me lembrava de como éramos abençoados por termos sobrevivido a tudo o que passamos. Olhei para o teto, ainda mergulhada na penumbra da manhã, e silenciosamente agradeci a Deus pela nossa família. Ricardo estava crescendo saudável, e Leonardo e eu tínhamos conseguido reconstruir o nosso lar e o nosso amor.Mas, à medida que os pensamentos sobre a nossa felicidade me preenchiam, um nome ecoou em minha mente: Celina. Um calafrio percorreua minha espinha ao me lembrar dela. O que teria acontecido com Celina? Depois de tudo o que ela fez, depois de toda a dor que causou, o que
LEONARDO RIZZI NARRANDO.ITÁLIA.. Rafaella estava silenciosa, perdida em pensamentos depois de tudo o que havia acontecido minutos antes, quando vimos Celina na rua. Não consegui deixar de observar como ela tentava processar tudo, como as emoções se desenhavam em seu rosto, alternando entre alívio e um traço de amargura.O garçom trouxe os nossos pedidos, colocando uma xícara de café fumegante na frente de Rafaella e um prato com pães e frutas. Ela agradeceu com um aceno de cabeça, mas não parecia realmente focada no que estava ao redor. Os seus olhos encontraram os meus, e eu soube que havia algo mais que ela precisava discutir, algo que a estava incomodando.— Leonardo — Ela começou, com a voz um pouco hesitante, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras.— O que aconteceu com Olívia e Gabriel? Onde eles estão agora?Eu sabia que essa pergunta viria eventualmente. Rafaella sempre foi uma pessoa que precisava entender o destino das pessoas que marcaram a sua vida, para
LEONARDO RIZZI NARRANDO. ITÁLIA.1 ANO DEPOIS...O hospital estava tomado por uma energia tensa e ansiosa. Corri pelos corredores com o coração acelerado, sentindo cada segundo pesar em meu peito como se fossem horas. A notícia chegou de repente, e eu larguei tudo o que estava fazendo para chegar aqui o mais rápido possível. Não conseguia pensar em mais nada além de Rafaella, e do fato de que o nosso segundo filho estava prestes a nascer.Os meus passos ecoavam pelos corredores frios e brilhantes, cada um me levando mais perto da sala de parto onde Rafaella estava. Não poderia perder este momento por nada no mundo. Ricardo foi um milagre, e agora estávamos prestes a experimentar essa bênção novamente.Finalmente, alcancei a porta que me separava de Rafaella e do nosso bebê. Pude ouvir a sua voz abafada do outro lado, e o som fez o meu coração pular. Entrei na sala apressado, quase sem fôlego, e a primeira coisa que vi foi Rafaella deitada na cama, lágrimas escorrendo pelo rosto.— Le