RAFAELLA MARTINI NARRANDO.ESCOCIA. Naquele dia, o céu parecia carregar toda a melancolia do mundo. A chuva caía pesada, incessante, como se o próprio universo estivesse em luto. O som das gotas contra o telhado do café era quase hipnótico, um ritmo constante que, em outras circunstâncias, poderia até ser reconfortante. Mas naquele dia, a chuva só parecia intensificar a minha inquietação, refletindo o turbilhão que acontecia dentro de mim.As cólicas começaram desde cedo, me pegando de surpresa com a sua intensidade. Eu tentava controlá-las, respirar fundo e focar nas pequenas tarefas do dia, mas era difícil. A cada nova onda de dor, o meu corpo se encolhia involuntariamente, e eu me agarrava ao balcão, tentando manter a compostura. O café estava praticamente vazio. Apenas alguns poucos clientes, encolhidos em suas mesas, buscando abrigo da tempestade lá fora. A chuva espantava as pessoas, e o movimento era fraco, o que, de certa forma, era um alívio. Não sei se conseguiria atender m
RAFAELLA MARTINI NARRANDO.ESCOCIA.A chuva caía com uma fúria desmedida, as gotas grossas e pesadas se chocando contra o asfalto com uma força que fazia ecoar um lamento constante. Eu mal conseguia ver o caminho à frente, cada passo sendo um esforço monumental. Ava estava ao meu lado, me amparando como podia, mas eu sentia que a qualquer momento as minhas pernas iriam ceder. As contrações estavam cada vez mais fortes, a dor intensa e avassaladora, me arrancando o fôlego.Com cada nova onda de dor, eu rezava silenciosamente, implorando a Deus que não deixasse o meu bebê nascer ali, no meio da tempestade e daquele caos.— Por favor, não agora, não aqui... — Murmurava entre os dentes cerrados, enquanto tentava manter o ritmo da respiração, algo que parecia impossível com o pânico e a dor misturados dentro de mim.Ava me puxava com força, me guiando pelo que parecia um labirinto de ruas inundadas. Cada passo era uma batalha, e eu me concentrava apenas em colocar um pé na frente do outro,
LEONARDO RIZZI NARRANDO.ESCÓCIA.O jato tocou a pista com um leve solavanco, e a minha respiração ficou presa no peito. Estávamos na Escócia, finalmente. A neblina densa cercava tudo ao redor, como se o próprio país estivesse imerso em uma melancolia constante. O tempo ali parecia refletir o que se passava dentro de mim: uma tormenta sem fim. Cada segundo que passava eu sentia o peso da ansiedade apertando o meu peito, uma mistura de dor, raiva e um desejo incontrolável de vingança.O avião parou e a rampa se abriu, deixando o vento frio da manhã envolver o meu corpo. Ao sair do jato, coloquei a mão no bolso e toquei a arma que estava guardada ali. Aquele simples gesto me dava uma estranha sensação de controle em meio ao caos que havia se tornado a minha vida. Não havia espaço para dúvidas ou hesitação. Estava tudo claro: Rocco morreria. E eu seria o homem a acabar com a vida dele.Os meus homens estavam a postos, atentos, os olhos varrendo a paisagem, em busca de qualquer sinal de p
LEONARDO RIZZI NARRANDO. ESCÓCIA. A chuva fina e constante batia no para-brisa do carro, distorcendo as luzes da cidade que desfilavam diante dos meus olhos. O som monótono das gotas de água contra o vidro contrastava com o turbilhão que fervilhava dentro de mim. O cheiro de couro do interior do carro se misturava com a fragrância amarga da minha raiva, impregnando o ambiente. Ao meu lado, amarrado e amordaçado, estava Rocco. Aquele maldito que destruiu a minha vida, que tirou os meus pais de mim, que tirou Rafaella de mim. Eu podia sentir o medo dele, mesmo que ele tentasse esconder, como se fosse um animal encurralado, sabendo que o seu fim estava próximo.Estávamos indo para o café. Aquele lugar que tinha se tornado uma espécie de prisão para Rafaella, onde ele a mantinha sob o seu controle, afastada de mim. Mas antes de chegarmos lá, o meu celular vibrou no bolso. Tirei ele com uma das mãos, sem tirar os olhos da estrada, e atendi. Do outro lado, a voz grave e conhecida de Walla
RAFAELLA MARTINI NARRANDO. ITÁLIA. O avião finalmente pousou na Itália, e o som das turbinas desacelerando era um eco distante comparado à tempestade que se desenrolava em meu peito. Segurei o meu bebê mais firme nos braços, buscando nele um ponto de ancoragem para a realidade, para não me perder em meio ao turbilhão de emoções. Cada segundo no ar tinha sido uma batalha interna, uma mistura de esperança, medo e uma dor tão profunda que parecia impossível de suportar. Estar de volta à Itália, o lugar onde tantas memórias foram construídas, e destruídas, me deixava à beira de um colapso.Quando a porta do avião finalmente se abriu, o ar fresco da manhã italiana entrou na cabine, carregando consigo o cheiro familiar que me fez fechar os olhos por um breve momento. Ao abri-los, o meu coração quase parou ao ver Lorenzo. Ele estava lá, em pé na entrada do avião, os olhos arregalados, fixos em mim. Eu podia ver a confusão e a surpresa estampadas em seu rosto, e por um momento, nenhum de nó
LEONARDO RIZZI NARRANDO.ITÁLIA.A tensão dentro do jato era palpável. Eu não conseguia me concentrar em nada além da urgência de ver Rafaella. Desde o momento em que soube que ela estava viva, o meu mundo virou de cabeça para baixo. A viagem de volta para a Itália parecia se arrastar eternamente, cada segundo uma agonia enquanto a minha mente se enchia de pensamentos de como ela poderia estar, o que ela havia passado, o que a fazia estar no hospital.Finalmente, quando as rodas do jato tocaram a pista, me senti mais perto dela, mas ainda assim atormentado pela distância. As minhas mãos tremiam levemente quando peguei o telefone e liguei para Lorenzo.— Lorenzo, onde ela está? — Perguntei, mal conseguindo controlar o desespero na minha voz.— Ela está no hospital, Leonardo. Chegou hoje de manhã, está tudo bem agora — Ele respondeu, tentando me tranquilizar, mas a palavra "hospital" reverberava na minha cabeça.Antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, desliguei a ligação e ord
RAFAELLA MARTINI NARRANDO.ITÁLIA.Finalmente, o dia chegou. Depois de dois dias no hospital, estávamos prontos para voltar para casa. Não foi fácil ficar ali, em um ambiente que constantemente me lembrava dos momentos de dor e incerteza que passei, mas o pior havia passado. Eu estava com Leonardo e com o nosso filho, e isso era tudo o que eu precisava. Quando Lorenzo entrou no quarto com a alta médica, senti um alívio imediato. Era hora de começar uma nova fase, de deixar para trás os pesadelos e encontrar a paz que tanto desejávamos.No caminho de volta para casa, a tensão se acumulava dentro de mim. A quietude de Leonardo, que normalmente me acalmaria, agora apenas aumentava a minha ansiedade. Eu sabia que ele estava tentando ser forte por mim, tentando manter o foco no que importava: nossa família. Mas não podia mais guardar aquilo dentro de mim.— Leonardo, eu... eu não aguento mais. — A minha voz quebrou o silêncio do carro. Ele me olhou, preocupado, mas não disse nada, esperand
RAFAELLA MARTINI NARRANDO.ITÁLIA.Os últimos meses trouxeram a paz que eu nunca pensei que fosse possível alcançar novamente. Ricardo estava crescendo forte e saudável, com uma energia que me fazia sorrir todos os dias. A casa, que antes parecia envolta em sombras, agora estava cheia de luz, cheia de vida. Leonardo e eu conseguimos reconstruir o que Rocco tentou destruir, e cada dia que passava era uma vitória para nós, uma prova de que o amor verdadeiro consegue superar qualquer obstáculo.Naquela noite, algo em particular me fez perceber o quanto as coisas tinham mudado para melhor. Leonardo sugeriu que saíssemos para um jantar, apenas nós dois. Era raro termos um momento só para nós, com Ricardo exigindo tanta atenção, mas eu sabia que precisávamos desse tempo juntos. Precisávamos lembrar do que éramos antes de todas as tragédias, antes das separações e do sofrimento. Precisávamos lembrar do amor que nos uniu.Me vesti para aquela noite trouxe de volta um sentimento que há muito e