LAURAAntes de me sentar, peguei um dos copos sobre a mesa e fui até a garrafa de café sobre a pia, servindo-me de um pouco. O cheiro do café estava estranho, mas atribuí isso por estar acostumada ao café americano que era totalmente diferente do brasileiro. Porém, quando o coloquei na boca, o enjoo voltou e eu o cuspi na pia sentindo o meu estômago revirar em reclamação.— O que houve, menina? — perguntou Amelina preocupada. — O que tem de errado com o café?— Nada. Só acho que me acostumei com o café de onde estava.— O que sentiu quando tomou? — perguntou olhando-me com curiosidade.— Enjoo. Mas, isso também pode ser porque estou há horas sem comer e o café é algo forte.— Você está amarela. Vomitou quando levantou?— Vomitei — respondi sem entender onde ela queria chegar. — Por quê?— Quando foi a última vez que menstruou?— Eu não faço ideia de quantos dias ao certo, mas sei que menstruei no mês passado.— Não notou nenhuma mudança no corpo? Seios mais doloridos, inchaço...— Não
LAURALogo mais tarde, o meu pai saiu com Rodrigo dizendo irem ao morro vizinho e a minha madrasta saiu inventando que ia à manicure, mas certamente ia mesmo era encontrar o amante.— E então... o que deu os testes? — perguntou Amelina quando entrei na cozinha.— Deram positivo — afirmei, sentindo as lágrimas caírem. — Rodrigo vai me espancar outra vez até que eu perca o bebê. Fará exatamente como fez no passado.— Não chore, menina — disse ela, largando as verduras que picava para o jantar e vindo até mim abraçando-me. — Isso aqui não é vida para você. Vai ter que fugir de novo.— Para quê? — perguntei e soltei-a. — Para quando estiver dando tudo certo outra vez, ele aparecer e desgraçar com tudo? Você não imagina o quanto eu estava feliz, Amelina. Mesmo com todas as desavenças que estava tendo com o pai do meu bebê, eu ainda era feliz! Caio estava feliz — disse secando as minhas lágrimas.— Se este homem te ama, ele virá te buscar e livrá-la deste inferno.— E se ele não vier? Vou m
ENZOEu não dormia há quase quarenta e oito horas. A minha cabeça doía de preocupação com Laura. Os meus músculos queimavam fortes e latejavam de tensão. Esse com certeza foi o voo mais longo de toda a minha vida. A cada minuto mais perto do nosso destino final, tentava me agarrar ao otimismo e mentalizar que era um a menos que a separava dos meus braços.A minha mente estava um turbilhão, agitada a mil. Eu não conseguia pensar em outra coisa que não fosse chegar ao Brasil e matar o filho da puta do Rodrigo com as minhas próprias mãos. Queria esganá-lo, poder ver e sentir a sua vida ir de pouco a pouco entre o aperto das minhas palmas no seu pescoço. Queria assistir os seus olhos se fecharem uma última vez avermelhados pelo sangue e cheios de agonia pela falta de fôlego. Tinha certeza de que iria saborear disso como já havia saboreado de qualquer outra morte acometida por minhas mãos.A agonia de Caio era ainda maior que a minha. Ele se culpou por ela voltar sozinha e temia por sua vi
ENZOA madrugada se arrastou até que o dia nasceu às cinco e meia da manhã. O sol mal estava brilhando e o calor já era descomunal. Eu só pensava em como Laura devia estar. No fim, isso era culpa minha. Se eu não tivesse agido como um estúpido arrogante, afastando-me dela e a deixado ir da minha casa, com certeza não estaríamos passando por aquilo. Sem contar na falha terrível na guarda dos dois homens que mandei para o seu apartamento. Sentia-me como um lixo. Não fui capaz de cuidar da mulher que amava.— Acabei de falar com o meu contato de novo. Ele espera a gente na entrada do Alemão.— Vamos! — disse alto, chamando a atenção de todos os meus homens.Quando chegamos à favela, havia um carro nos aguardando na entrada do morro com dois homens parados do lado de fora, segurando um fuzil nas mãos. Caio desceu do nosso carro e nos pediu para esperá-lo ali. A tensão era grande e só aumentava. Ele foi até um dos homens e conversou algo em português com ele, após cumprimentá-lo com um ape
ENZOO tempo se arrastou. Nada o fazia passar mais depressa. Falei com o meu pai algumas vezes desde que cheguei ao Rio de Janeiro, para saber se em casa estava tudo bem. Eu havia tirado boa parte dos meus homens de lá e levado comigo. Ele disse estar tudo em perfeita ordem e paz, e que Lorenzo dizia o tempo todo que eu havia ido buscar a sua mãezinha.— Está na hora de irmos — avisou Caio para mim.Guardei o meu celular no bolso e nos reunimos para sairmos todos com destino a uma mata com acesso ao morro pelos fundos da favela. Às cinco horas estávamos todos preparados e fortemente armados para cumprir a nossa missão. O rádio de um dos soldados do morro do Alemão chamou, era alguém de dentro da Rocinha nos avisando que eles estavam saindo. Quando começamos a nos deslocar de dentro da mata, nos foi avisado de que Rodrigo não havia deixado o morro com o pai, como todos esperavam. Frustrado, soquei o capô do carro.— Fica frio, cara! — disse Caio. — Se o dono do Vidigal está esperando o
ENZOComeçamos a rolar por cima dos cacos de vidro, esmurrando um ao outro. Estava sendo uma luta dura, tínhamos porte físico bem semelhantes. Acertei-o no queixo, desestabilizando-o e rolei para cima dele desferindo vários socos. Rajadas de tiro ecoaram dentro da sala, assustando-me. Quando ergui a minha cabeça, vi Rodrigo cair no chão aos berros e Laura de pé com uma arma na mão apontada para ele.O homem com quem lutava conseguiu revidar acertando-me uma joelhada entre as pernas que me tirou o fôlego. Caí para o lado sentindo dor, mas ele não tinha mais forças para se levantar e me bater, somente ficou como estava, deitado no chão, gemendo baixinho de dor e com dentes quebrados. Coloquei-me de pé com dificuldades e peguei a arma caída no deck, atirando na sua cabeça e lhe dando um fim.Atrás do sofá, estava Rodrigo ainda no chão urrando alto com a perna direita metralhada. Laura estava ajoelhada ao seu lado, estática, encarando-o com frieza. Ela não chorava mais e tinha uma respira
LAURA— Oi — disse ao me aproximar do Enzo. Ele conversava com Serra, que rapidamente se afastou.— Oi, meu amor. Você está bem? — perguntou com a voz mansa, acariciando o meu rosto.— Estou com fome, na verdade.— Eu mandei que fosse preparado o nosso jantar, já deve estar quase vindo. Vem, vamos nos sentar ali — disse indicando uma mesinha ao canto com duas poltronas uma ao lado da outra.— Obrigada por ir me buscar. Não sei o quanto sou grata.— Eu lhe buscaria até no inferno, amor.— Como o Lorenzo está?— Bem e esperando ansiosamente pela sua chegada. Ele está sentindo muito a sua falta.— Eu lamento pelo que houve com ele.— Está tudo bem agora. Isso já passou e não irá se repetir.— É verdade. Acabou.— O que ele fez a você? — perguntou tocando delicadamente o meu pescoço com as pontas dos dedos.— Ele me enforcou após me jogar contra uma mesa de vidro.— Eu lamento tanto que isso tenha acontecido — disse com a voz pesada e um olhar triste. — Eu me culpo.— Não se culpe. Não fo
LAURANaquela noite não fizemos apenas sexo, fizemos amor de maneira fluida e natural. Foi tudo lindo e perfeito. Feito sem pressa, cheio de carícias, tesão e delicadeza.No dia seguinte, Enzo conseguiu um encaixe para eu me consultar com uma obstetra na melhor clínica da cidade. Eu estava nervosa e ele também. Queríamos logo poder saber se estava tudo bem com o nosso bebê. Eu também sentia que ele estava ali, mas esse sentir apenas não me acalmava ou era o suficiente.— Laura Cabrine — chamou a secretária da médica.— Sou eu. — Nós nos levantamos e de mãos dadas entramos no consultório.— Olá, Srta. Cabrine. Como vai? Sente-se, por favor — pediu a médica com grande receptividade. — E o senhor deve ser o pai, presumo. — Estendeu a sua mão para Enzo.— Sim.Sentamo-nos à sua frente.— Fiquem à vontade. Vou olhar o resultado do seu teste sanguíneo de gravidez feito esta manhã — disse ela abrindo um envelope. — Ah! Meus parabéns! Vocês serão papais! — disse sorrindo alegremente.Eu ainda