ENZONa companhia de mais três carros, aceleramos o máximo que pudemos rumo ao aeroporto internacional que ficava a vinte e cinco minutos de casa. Após ultrapassar todas as barreiras de velocidade e dirigir assumindo risco de acidente pela cidade, chegamos ao aeroporto. Saltei do carro sem nem mesmo desligar o motor e corri para dentro em busca do portão de embarque internacional.— Senhor! Não pode entrar aí, é área restrita para embarque! — disse uma mulher quando adentrei sem autorização na área para voos internacionais.— Senhor! Pare agora, ou vamos detê-lo! — disse um dos seguranças do local, entrando na minha frente.Segurei-o pelo colarinho da camisa do seu uniforme e o prendi contra uma pilastra, encarando-o completamente cego de fúria.— Me diga onde é o portão de embarque para o Brasil! — exigi alto e imponente.Ele olhou-me assustado e tentou levar a sua mão até a sua arma de choque, mas fui mais rápido que ele e a saquei primeiro arremessando-a para longe.— Diga! — grite
ENZOO motorista colocou o carro em movimento e nos levou sem pressa até o galpão. Quando a porta foi aberta, saí do carro sentindo o sanguinário adormecido em mim começar a despertar.— Vamos logo com isso. Ainda temos treze horas de voo até Laura — disse entrando no galpão.— Enzo! — disse Monalisa com um sorriso falso de felicidade, vindo até mim quando entrei no seu cárcere. — Quero lhe pedir algo... que me deixe ver o nosso filho. Por favor — implorou encenando um semblante de pobre moça fragilizada.— Que tal falarmos disso depois que você me contar sobre o seu real propósito aqui e comigo. Você foi enviada pelo Fahorelli para me matar ou para me distrair enquanto ele se aproximava silenciosamente por detrás de mim?— Do que você está falando? — perguntou fingindo inocência e fazendo-se de desentendida.— Não me obrigue a forçar você a falar de maneira dolorosa, Monalisa! Pensou mesmo que eu acreditaria na sua historinha triste e que a acolheria dentro da minha casa, deixando vo
LAURAA volta para o meu inferno brasileiro foi a mais longa viagem que alguém poderia fazer. Para minha sorte, Rodrigo dormiu boa parte do voo com o meu punho algemado ao seu. Quando enfim chegamos ao calor miserável da madrugada no Rio de Janeiro, alguns dos seus homens – quem ele tratava por “vapores” – já nos aguardavam no estacionamento do aeroporto.— Sem nenhuma gracinha! Você entendeu? — Apertou o meu braço com a sua mão, enquanto íamos de encontro aos seus “malas” escorados no carro.— Bem-vinda de volta, fiel — disse uns dos vermes comendo-me com os olhos. — Esse tempo na América te fez bem, hein?— Cuide da sua vida, seu asqueroso! — disse alto e rude.— Não mexam com ela, deve estar de “Chico” — debochou Rodrigo.Entramos no carro e fomos à favela da Rocinha. Ao chegarmos ao pé do morro, um calafrio percorreu o meu corpo, deixando-me tensa e com um bolo no estômago que dobrou o enjoo que sentia desde o dia anterior. Quando paramos em frente à casa que uma vez quando crianç
LAURAAcordei sobressaltada de susto com um barulho alto de coisa se quebrando no cômodo. Sentei-me na cama rapidamente e acendi a luz do quarto pelo interruptor ao lado da cabeceira. Era Rodrigo entrando no quarto cheio de droga e álcool nas veias. No relógio sobre o criado-mudo, à minha direita, vi que ainda era meio-dia. Rodrigo havia se esbarrado em um porta-retratos de vidro posto sobre a cômoda ao lado da porta e deixando-o cair no chão, transformando-se em mil caquinhos esparramados por toda parte.— Está esperando o que para vir aqui limpar? — perguntou caído sobre os cacos. — Ande, porra! — gritou.Levantei-me da cama e calcei os meus chinelos antes de ir até ele. Pela cortina entreaberta, vi que o sol estalava no seu pico mais alto, queimando as pessoas lá fora. Ao me aproximar senti o cheiro forte de bebida. Por Deus, ainda estávamos na metade do dia e ele já estava louco e “chapado”.Ajudei-o a se levantar e o levei direto para o banheiro, sentando-o sobre a tampa no sanit
LAURAAntes de me sentar, peguei um dos copos sobre a mesa e fui até a garrafa de café sobre a pia, servindo-me de um pouco. O cheiro do café estava estranho, mas atribuí isso por estar acostumada ao café americano que era totalmente diferente do brasileiro. Porém, quando o coloquei na boca, o enjoo voltou e eu o cuspi na pia sentindo o meu estômago revirar em reclamação.— O que houve, menina? — perguntou Amelina preocupada. — O que tem de errado com o café?— Nada. Só acho que me acostumei com o café de onde estava.— O que sentiu quando tomou? — perguntou olhando-me com curiosidade.— Enjoo. Mas, isso também pode ser porque estou há horas sem comer e o café é algo forte.— Você está amarela. Vomitou quando levantou?— Vomitei — respondi sem entender onde ela queria chegar. — Por quê?— Quando foi a última vez que menstruou?— Eu não faço ideia de quantos dias ao certo, mas sei que menstruei no mês passado.— Não notou nenhuma mudança no corpo? Seios mais doloridos, inchaço...— Não
LAURALogo mais tarde, o meu pai saiu com Rodrigo dizendo irem ao morro vizinho e a minha madrasta saiu inventando que ia à manicure, mas certamente ia mesmo era encontrar o amante.— E então... o que deu os testes? — perguntou Amelina quando entrei na cozinha.— Deram positivo — afirmei, sentindo as lágrimas caírem. — Rodrigo vai me espancar outra vez até que eu perca o bebê. Fará exatamente como fez no passado.— Não chore, menina — disse ela, largando as verduras que picava para o jantar e vindo até mim abraçando-me. — Isso aqui não é vida para você. Vai ter que fugir de novo.— Para quê? — perguntei e soltei-a. — Para quando estiver dando tudo certo outra vez, ele aparecer e desgraçar com tudo? Você não imagina o quanto eu estava feliz, Amelina. Mesmo com todas as desavenças que estava tendo com o pai do meu bebê, eu ainda era feliz! Caio estava feliz — disse secando as minhas lágrimas.— Se este homem te ama, ele virá te buscar e livrá-la deste inferno.— E se ele não vier? Vou m
ENZOEu não dormia há quase quarenta e oito horas. A minha cabeça doía de preocupação com Laura. Os meus músculos queimavam fortes e latejavam de tensão. Esse com certeza foi o voo mais longo de toda a minha vida. A cada minuto mais perto do nosso destino final, tentava me agarrar ao otimismo e mentalizar que era um a menos que a separava dos meus braços.A minha mente estava um turbilhão, agitada a mil. Eu não conseguia pensar em outra coisa que não fosse chegar ao Brasil e matar o filho da puta do Rodrigo com as minhas próprias mãos. Queria esganá-lo, poder ver e sentir a sua vida ir de pouco a pouco entre o aperto das minhas palmas no seu pescoço. Queria assistir os seus olhos se fecharem uma última vez avermelhados pelo sangue e cheios de agonia pela falta de fôlego. Tinha certeza de que iria saborear disso como já havia saboreado de qualquer outra morte acometida por minhas mãos.A agonia de Caio era ainda maior que a minha. Ele se culpou por ela voltar sozinha e temia por sua vi
ENZOA madrugada se arrastou até que o dia nasceu às cinco e meia da manhã. O sol mal estava brilhando e o calor já era descomunal. Eu só pensava em como Laura devia estar. No fim, isso era culpa minha. Se eu não tivesse agido como um estúpido arrogante, afastando-me dela e a deixado ir da minha casa, com certeza não estaríamos passando por aquilo. Sem contar na falha terrível na guarda dos dois homens que mandei para o seu apartamento. Sentia-me como um lixo. Não fui capaz de cuidar da mulher que amava.— Acabei de falar com o meu contato de novo. Ele espera a gente na entrada do Alemão.— Vamos! — disse alto, chamando a atenção de todos os meus homens.Quando chegamos à favela, havia um carro nos aguardando na entrada do morro com dois homens parados do lado de fora, segurando um fuzil nas mãos. Caio desceu do nosso carro e nos pediu para esperá-lo ali. A tensão era grande e só aumentava. Ele foi até um dos homens e conversou algo em português com ele, após cumprimentá-lo com um ape