5

— O amigo de vocês, David, aconteceu. — respondeu Simon, tomando a frente. Havia acompanhado Alana até ali, não saindo de seu lado, como que para ampará-la – e era exatamente o que faria – caso acontecesse algo novamente.

— É David Deeper, pra você. — disse Ian, com uma rispidez que ele próprio estranhou um pouco. Quase crispou as sobrancelhas também ao ver quão incomodado estava com a aproximação de Simon a Alana.

O Norton suspirou cansado, então saltando da mesa e parando frente a Alana.

— O que houve? — perguntou a ela com uma preocupação tão intensa que o deixou levemente preocupado por isso.

Alana tentou, tentou mesmo mas não conseguiu se controlar. Um soluço irrompeu de seu peito, de sua garganta pelos lábios e lançou-se contra o corpo de Ian, afundando o rosto em sua camisa, enquanto como que em uma reação automática ele a envolveu de imediato em seus braços, enlaçando sua cintura, enquanto ela chorava em seu peito.

— O que está acontecendo? — Vincent que se aproximava juntamente com Cassandra perguntou; a rosada olhava aflita para Lisandra e então para Alana que chorava nos braços de Ian. — Quem é esse aí? — fitou Simon com frieza.

— David apareceu. — Ian disse, ganhando para si a atenção não só do Bennie como também de Cassandra. Em seus braços, Alana soluçou um pouco mais alto, fazendo com que ele a abraçasse com mais força, reconfortando-a.

O abraço de Ian era bom, era reconfortante. Ele era quente, e Alana sentia em seu íntimo que estava exatamente onde deveria estar; nos braços dele.

— O que aconteceu? — Cassandra perguntou, impaciente com o silêncio que se formou. Ela olhou diretamente para Alana, que só então descolou a cabeça do peito de Ian para fitá-la. — Alana... O que... O que ele fez a você?

E lá estava a pergunta, a pergunta que Ian mais que todos ansiava a resposta. A Steawart suspirou, ela deu um pequeno passo para longe dos braços de Ian apenas para conseguir mover as mãos e secar o rastro de lágrimas, mas ficou feliz por Ian não se afastar ou afastá-la por completo, mantendo uma mão em sua cintura, como que pronto para trazê-la novamente para mais perto de si.

Alana puxou o ar com força, na tentativa inútil de se acalmar, de afastar o medo com suas seguintes palavras:

— Ele vai tirar Eva de mim.

As palavras mal lhe escaparam os lábios e ela já estava novamente envolta dos braços de Ian, tentando em vão controlar as lágrimas que lhe saltavam os olhos silenciosas.

— Ele não vai. — Ian garantiu, trocando um rápido olhar com Vincent que assentiu, sacando o telefone celular do bolso.

— Como você pode ter certeza? — ela perguntou baixo em meio a um soluço, num sussurro que apenas Ian foi capaz de ouvir.

— Porque é uma promessa. — ele lhe respondeu em igual tom baixo, enxugando-lhe as lágrimas. Ian piscou para ela, que sorriu fracamente.

— Como ele entrou na escola sem ser visto? — perguntou Cassandra e Ian suspirou, olhando para Vincent que deu de ombros.

— Ele tem chaves para isso. — o Bennie respondeu, ainda fuçando no celular. Cassandra o encarou surpresa, e como que sentindo o olhar sob si, Vincent a fitou. — O que? Ele não é o único que tem. — o Bennie fitou Ian que, com um sorriso cínico nos lábios, puxou um molho de chaves dos bolso, dando de ombros.

— Não pareça tão surpresa Cassandra, já fizemos coisas muito piores do que tirar cópias clandestinas das chaves da escola. — disse o Norton.

— Como ele estava? — Lisandra que, a todo o tempo se mantivera calada, perguntou. Ela fitou Alana que, mais calma, enxugou as lágrimas com as costas das mãos.

— Perdido. — a Steawart respondeu com pesar, alternando seu olhar entre Ian, Lisandra e Vincent que trocaram olhares entre si. — Ele estava... estava perdido... Quero dizer, ele sempre foi um pouco assustador, mas além disso, dessa vez ele me pareceu perdido. Parece mais magro, mais frágil, mais...

— Violento. — Simon a interrompeu com os punhos fechados.

— Ah, você ainda está aqui. — Ian rolou os olhos, e Vincent baixou a cabeça, disfarçando o riso que queria lhe escapar. Cassandra e Lisandra suspiraram, Ian sabia como ser rude quando queria, e Alana balançou a cabeça negativamente, pedindo desculpas silenciosas com o olhar para o amigo.

— Estou. — o Simpson tentou não ligar para a ofensa, e com olhos firmes finalizou: — E ainda bem, pois se não fosse por mim o amiguinho de vocês a teria machucado a sério.

Os olhos de Ian e Lisandra fincaram-se em Alana de maneira que mostrava que eles esperavam uma confirmação dela, diante daquilo. O que ela diria? Que era mentira de Simon? Não podia fazer isso, não apenas por aí sim estar mentindo, como também não iria prejudicar Simon em nada. Seria ingrata depois de ele a tê-lo salvo. Ainda sim, diante dos olhares de Ian e Lisandra, por um instante ela considerou a hipótese de mentir. A verdade os decepcionaria muito com o Deeper, os entristeceria demais. Porém, ainda que não quisesse isso, também não podia mentir.

— Ele não queria me machucar de verdade, eu acho. — ela disse, não desmerecendo Simon, mas também tentando não plantar uma decepção ainda maior em Lisandra e Ian, e mesmo que Vincent que ainda que estivesse a fuçar no aparelho celular, estava mais que atento à conversa.

Porém a decepção foi inevitável, Alana viu nos olhos de Lisandra o quanto aquilo a castigou por dentro. Ian, diferente de Lisandra, não demonstrou nenhuma emoção que não leve raiva, ele cerrou os punhos com o maxilar travado, baixando os olhos para o chão.

Alana suspirou, pondo dois dedos embaixo do queixo dele fazendo-o assim voltar a fitá-la.

— Não era ele de verdade. — ela disse como que tentando reconfortá-lo; em seguida fitou Lisandra. — David pode ser estranho, esquisito e algumas vezes assustador mas... não era ele, entendem?

— Pode falar que eram as drogas Alana, ninguém vai te condenar por isso. — Ian disse como que entediado com todo o tato que ela tinha com as palavras, e Alana rolou os olhos.

— Não sou indelicada como você.

— Tem razão, você é boa demais. — Ian sorriu malicioso, e Alana corou imediatamente com o duplo sentido da frase, enquanto Vincent balançava a cabeça com um sorrisinho sacana quase invisível nos lábios, e as garotas fingiam não ter ouvido nada.

— Precisamos encontrá-lo. — disse o Bennie, sua habitual frieza o fazia parecer quase como se não se importasse com o amigo, mas se importava. — Ele precisa de ajuda, da nossa ajuda. — quebrou o contato visual com Ian para olhar diretamente para Lisandra, que virou os olhos para outra direção.

— Tem razão. Agora que ele voltou para Amsterdã, ficará mais fácil encontrá-lo. — concordou Ian e Vincent assentiu.

— Voltou pra... Amsterdã? — confusa, Cassandra questionou. — Ele não estava na cidade?

— Não, ele a deixou logo depois de falar com Lisandra, achamos. Por isso não o encontramos... Ele pode ter estado em qualquer lugar.

— Eu pensei que...

— O que? — se pronunciou Ian, quase que sorrindo debochado. — Achou que não o tínhamos encontrado na nossa cidade? — ele riu levemente. — David é bom em se esconder, mas nem mesmo ele conseguiria isso.

— Pensei que ele fosse tão influente quanto vocês dois são. — comentou Cassandra, não deixando de mostrar sua aversão ao fato deles se sentirem os donos do mundo.

— E ele é... — admitiu Ian.

— Mas são dois contra um aqui. — completou Vincent, com frieza e orgulho nítidos.

Fez-se silêncio por alguns segundos até que, Ian juntou as mãos numa palma, então dizendo:

— Então... Tenho umas ligações pra fazer, vejo vocês depois...

— Ian, não vá machucá-lo quando o encontrar. — Lisandra lhe disse, segurando-lhe o braço. Ela não participaria da busca, havia prometido a si mesma não se envolver enquanto David não resolvesse se ajudar, por mais que isso lhe doesse. Ainda sim, não podia controlar a preocupação. — Ele precisa de ajuda.

— Relaxa Lisandra. — o Norton sorriu largamente, o que, vindo de Ian, nunca era um bom sinal. — E eu vou ajudá-lo... Mas isso não quer dizer que não posso dar uns socos nele antes por estar nos dando tanto trabalho.

Lisandra suspirou derrotada e Ian piscou. Ele voltou-se para Alana, aproximando os lábios do ouvido da garota.

— Sua irmã ficara bem. Ninguém vai tirá-la de você, nem mesmo David. — sussurrou a ela. Alana sorriu, e antes que ele se afastasse, sussurrou de volta:

— Obrigada. — ela já quase se sentia tola por tantos agradecimentos que estava a lhe fazer naquelas últimas semanas; mas não podia evitar. Ele a estava ajudando, e embora lhe intrigasse muito o porque de tudo aquilo, o real motivo, pois os que ele lhe alegava não a convenciam; ela estava mais que grata por tê-lo por perto. Sentia-se segura e capaz de tudo quando estava perto dele, o que em parte era de grande alivio, outra era demasiado assustador. Assustava-lhe a dependência que parecia crescer em seu corpo por ele. Dependência de Ian.

O Norton nada disse, apenas sorriu de lado dando de ombros e então se afastando para fora do refeitório, com Vincent ao seu lado. Ambos discutindo a melhor maneira de encontrar David.

— Você está bem? — Lisandra perguntou, aproximando-se mais de Alana. A Steawart suspirou.

— Você está? — devolveu a pergunta no mesmo tom baixo em que a recebera.

Lisandra suspirou e Alana abraçou-a e logo Cassandra juntou-se ao abraço.

— Eu estou ótima. — disse com a voz embargada pelo choro que continha.

— Mentirosa. — murmuraram Alana e Cassandra ao mesmo tempo, e Lisandra fungou, deixando poucas lágrimas lhe escaparem silenciosas dos olhos, enquanto as amigas apertavam ainda mais no abraço acolhedor.

Ela sorriu minimamente; elas estavam certa, era uma mentirosa. Estava mentindo para si mesma, tentando convencer a si própria de que em seu peito seu coração não batia doído, quando a verdade era que estava. Mentindo para si mesma quando todo dia, durante aquelas semanas cercadas de agonia interna, olhava no espelho e sorria para seu reflexo dizendo que estava ótima, quando na verdade estava péssima e tudo o que queria era quebrar o espelho, deixá-lo em cacos... Exatamente do jeito como seu coração estava.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo