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— Me explica de novo, como foi mesmo que eu concordei com isso? — disse Alana meio incrédula, sentada no banco de trás do Nissan Laruel rosa que Lisandra dirigia, naquela noite.

— Você não concordou. — quem disse isso foi Cassandra, sentado ao lado de Lisandra. Alana colocou a cabeça entre o vão dos dois bancos, olhando para as amigas. — Lisandra nos ameaçou de morte se não viéssemos, lembra?

— Ah, é. Agora eu me lembro. — Alana lançou um sorriso amarelo para a motorista loira. Lisandra gargalhou, antes de dizer:

— E ainda bem que vocês resolveram me ouvir. Eu conheço uns caras que fariam o serviço de dar cabo nas duas de graça pra mim e tudo muito limpo.

— Ah, isso eu não tenho dúvidas. — brincou Cassandra. — Aposto que dormiu com todos eles.

  Alana e Lisandra gargalharam.

— Claro que não. — defendeu-se a Sheroman. — Só com o chefão deles. — ela sorriu safada, e Cassandra e Alana soltaram gritinhos agudos antes de cair no riso.

 O riso logo morreu na garganta de Alana, quando Lisandra virou uma esquina e havia um prédio enorme no final da rua, cheio de gente na frente, e carros, tão ou mais, tunados e, com certeza, caros que o de Lisandra entravam no prédio. Era um daqueles prédios específicos, apenas para estacionamento de carros e tinha quatro andares e terraço, também estacionável.

— Mas o que...

— Já ouviram falar de drifting? — perguntou Lisandra com um sorriso.

 Alana arregalou os olhos, é claro que já ouvira falar. Drift ou, como Lisandra disse, Drifting era uma espécie de corrida onde a técnica de direção é os carros deslizarem nas curvas escapando a traseira.

— Fala aí, Lisandra. — um rapaz, devia ter uns dezenove anos, saudou a loira quando chegou a vez dela na portaria. Lisandra apenas sorrio pra ele, piscando o olho e logo o rapaz permitiu sua entrada.

— AI. MEU. DEUS! — exclamaram Cassandra e Alana ao mesmo tempo, quando o carro entrou no prédio.

 O que viram era mais do que podiam supor. Havia carros estacionados em todos os cantos, pessoas transitando, mulheres e homens. Alguns encostados em carros tunados, todos no valor de mais de dez mil com certeza. As garotas usavam mini-saia, tops, tudo curto e apertado, revelando mais pele e acentuando as curvas, as que tinham. Agora Alana entendia o porquê de Lisandra tê-la obrigado a vestir um vestido curto, nas coxas e aquela bota de couro, até os joelhos e salto fino. Cassandra, não estava vestida tão diferente, a rosada usava uma saia, no mesmo comprimento que o vestido de Alana, e uma blusinha de alça bem grudada ao corpo, além de botas salto fino.

— Lisandra, eu não... Eu não acho isso boa idéia. — sibilou Alana, enquanto Lisandra batucava os dedos no volante, de maneira muito relaxada, dirigindo o mais lentamente possível, como se estivesse desfilando o seu carro. E estava.

— Ah, Alana. Dá um tempo! Se você vai ficar por aqui, tem que saber os pontos certos para se enturmar. E aqui, definitivamente é o lugar mais quente! — a loira jogou os cabelos pro lado, piscando para a Steawart.

  Cassandra nada dizia, estava concentrada demais – ou seria assustada? – em observar o lugar, as pessoas falantes, o ronco de motores, a mistura de músicas que explodiam nos auto-falantes e sons potentes dos carros, um mais lindo que o outro, um mais potente que o outro. Alguns carros tinham o capo aberto, com várias pessoas ao lado, como que exibindo o poderoso motor que estava por debaixo da lataria incrivelmente personalizada.

— Eu não quero me enturmar. — Alana foi firme. Tinha que ser, antes que fosse tarde demais. Antes que o seu senso de curiosidade sem fim a fizesse prisioneira daquele mundo.

  Lisandra gargalhou, finalmente estacionando o carro em um vaga ao lado de onde Jhon estacionou a sua picape Toyota Hilux, e esperava pela “namorada” da vez, encostado na mesma.

— Deixa de ser mentirosa. — disse Lisandra a Alana, virando-se para a mesma com um doce sorriso. — Você quer isso, está tentando dizer que não pra não se contaminar, mas você quer transitar por ai. Você gosta de coisas novas, eu posso ver seus brilhando de curiosidade para explorar o mundo que gira nesse prédio. Você só tem metas demais na cabeça para pensar em diversão, por isso hesita diante da oportunidade de sair da sua zona de conforto!

  Ela estava certa. Alana sabia e era justamente isso que a assustava. Lisandra desceu do carro, lançando-se nos braços de Jhon, seu corpo colado ao do rapaz contra a picape, beijando-o de maneira feroz.

  Cassandra e Alana permaneceram no carro. Cada uma com seu pensamento.

  Alana não podia negar, estava louca para sair daquele carro. Para observar o mundo que, como disse Lisandra, girava naquele prédio. Sempre foi assim. Tudo o que era errado, proibido e, porque não dizer, perigoso sempre chamou em muito a atenção da Steawart, sempre a atraiu; mas no entanto, sua cabeça sempre esteve no lugar para que ela se deixasse levar pelos seus instintos ao menos uma vez.

  Uma vez, foi o que pensou a Steawart. Uma primeira, única, e última vez. Sim, era o que ela queria.

— Vamos. — disse Alana, com voz determinada. Cassandra, que parecia estar no mesmo debate que a amiga, abriu um largo sorriso. Sim, aquilo era o que as duas queriam.

  Desceram do carro, e os olhos de ambas brilharam. Aquilo era incrível! Tão diferente do que estavam acostumadas, dos lugares que frequentavam.

 O cheiro de álcool, cigarro, adrenalina e perigo eram inebriantes em todos os sentidos, fazendo as duas se entreolharam e sorrirem. Era uma sensação incrível! Um lugar totalmente diferente do mundo delas, um mundo completamente diferente do delas.

  Era como... Um novo mundo!

 Carros, motos. Todos se gabavam de suas máquinas, todos queriam correr, todos queriam adrenalina. Queriam se sentir vivos!

  As garotas, os rapazes, todos transitando. Todos falando alto. Cheiro de cigarro. Música alta. Cheiro de álcool. Malícia. Cheiro de fumaça. Adrenalina.

— Ei, gatinhas. — saudou um grupo de garotos ao passar por elas, piscando e assoviando para as duas.

  Cassandra e Alana se entreolharam e soltaram leves risinhos.

  Não que gostassem de ter seus corpos secados como se fossem apenas um pedaço de carne, ou serem cantadas por um bando de idiotas que achavam que quanto mais veloz o carro, melhor. Oh não, de jeito nenhum. Mas aquela era a primeira vez das duas num lugar como aquele, não tinha como não ficarem, ao mesmo tempo em que, um pouco assustadas, fascinadas.

  “Primeira e ultima vez.” – pensou Alana, mas sem que seus olhos parassem de brilhar e o sorriso crescer em seus lábios com a visão de tudo aquilo.

  Sim, aquela seria a primeira e última vez que entraria num lugar como aquele, num mundo como aquele. Tinha de ser a primeira e última vez, se, segundo ela, ela quisesse ser alguém na vida.

— E então, meus amores... — Lisandra chegou entre as duas, apoiando seus braços no ombros de cada uma. A loira tinha um grande sorriso no rosto. — ... Estão curtindo? É muito legal não é?... Venho aqui sempre. Esperem só até começar as corridas.

— Isso é... — balbuciou Cassandra, completamente extasiada com o que seus olhos viam. Aquilo tudo era incrível. Os carros, as pessoas, as músicas que se misturam, sempre em batidas frenéticas e alucinantes.

— Incrível. — completou Alana, e o sorriso de Lisandra só se fez alagar.

 A loira arrastou as duas, por todos os cantos, falando com várias pessoas. Lisandra, era realmente muito popular, e não apenas no colégio, pois não havia muitos alunos da UHS ali. Em cerca de uma hora, Alana e Cassandra já estavam completamente enturmada com um grupo, mais amigo de Lisandra, cada uma tinha uma bebida na mão e riam descontraídas. De repente, o som alto de motores roncado foi-se ouvido e todo o salão voltou-se para entrada.

— Agora sim o negócio vai ficar bom. — comentou um rapaz muito empolgado, do qual Alana não se recordava o nome.

  Todos olharam para a entrada, um Mazda RX-7 VeilSide laranja e preto entrava, e mais atrás, fazendo cada um, um lado do imponente carro, havia um Celica preto e um Toyota Supra azul.

— Que lindos. — Alana referia-se aos carros, já que não se podiam ver os motoristas pelos vidros serem filmados.

— Espere só até ver os motoristas. — sussurrou uma garota, que ela também não lembrava como se chamava, soltando um suspiro apaixonado.

  Todas as pessoas no local pareciam focadas nos três carros, como se estivessem esperando-os desde o início e quando por fim eles estacionaram uma pequena multidão se formou ao redor de cada carro.

— Aí não. — murmurou Cassandra cruzando os braços ao ver Vicent Bennie sair do Supra azul marinho, ele estava vestido por uma calça jeans preta, uma camisa branca e uma jaqueta de couro preta por cima. Assim que ele saiu foi cercado por garotas, e cumprimentado por várias mãos. O mesmo aconteceu a David, vestido com um jeans claro, camisa pólo escura, ao descer do Celica.

  Alana se preparou. Se aqueles dois estavam ali, então ele também estava.

  E ela estava certa.

  Ian foi o último a descer, saindo de seu Mazda RX-7 VeilSide. Assim que saiu cumprimentou alguns rapazes com toques de mãos, e beijou as bochechas da maioria das garotas que o cercaram.

 Alana arfou. Aquele miserável era realmente bonito, tinha que admitir, e a rebeldia que ele parecia exalar só o tornava mais atraente, o que era perigoso demais para ela! Maldito seja Ian Norton, a Steawart pensou.

  Ian usava um jeans escuro, tênis all-star, e um regata preta que denunciava o definido tórax por debaixo dela e deixava seus braços com músculos bem torneados a mostra, o que era motivo de apalpação de algumas garotas mais ousadas, as quais ele lançava uma piscadela. A corrente de prata que mais cedo Alana havia visto por baixo da camisa branca do uniforme, agora estava completamente à mostra por cima da regata preta.

— Eles são bons? — a pergunta partiu de Cassandra, e Alana a agradeceu mentalmente pois suas palavras a libertaram do transe em que estava, observando o Norton que sequer reparou em sua presença no local. Não era pra menos, o lugar era absurdamente cheio e nunca que Iana imaginaria encontrar ali.

— Bons? — repetiu Lisandra com ironia, à loira tinha os braços de Jhon a sua volta, enquanto o moreno depositava beijos intercalados no pescoço dela. Jhon não era de falar muito, segundo Lisandra, mas sim de agir. — Eles não perdem uma corrida!

— Já correram entre si? — Alana perguntou.

— Raramente. Mas, nas vezes que correram foi mais o Vicent e o Ian. David quase nunca corre, ele gosta mesmo de observar as coisas. Vicent também não corre muito, só que às vezes, o negócio dele é ficar com a mulherada.

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