... Com a última frase dita, o sorriso de Ian se alargou ainda mais enquanto os pelos do corpo de Alana se arrepiaram todos, e por um instante o olhar dela estremeceu sob o dele.
Ian acenou para ela em um gesto de cabeça, levando o cigarro novamente à boca e se afastando. Alana ficou parada, sentada no mesmo lugar, mas seguiu os movimentos dele até a porta com os olhos, a cabeça virando-se de modo que parecia que ia quebrar o pescoço.
Ian parou com a mão na maçaneta, e disse a última coisa:
— Você começa o estágio ainda hoje; a secretária, Miranda, vai lhe dar mais informações.
E então ele saiu sem nenhuma despedida, e Alana estava sozinha novamente, ainda sentada no mesmo lugar se perguntando o que fora toda aquela situação, o que fora toda aquela conversa; o que fora que ela tinha na cabeça por falar com ele daquele jeito. Suspirou. Não podia se concentrar em buscar respostas para suas perguntas agora, tinha algo mais importante a fazer: fazer com que seu coração parasse de bater forte no peito antes que tivesse um ataque, e aniquilar as malditas borboletas que pareciam dançar em seu estômago quando estavam na presença dele.
[...]
Já era noite, Cassandra havia chego do trabalho havia uma hora e estava na cozinha quando ouviu a porta da sala ser aberta; sabia que era Alana. Foi para lá e quando as duas se viram, começaram a falar ao mesmo tempo, uma tentando falar mais alto que a outra até que Alana gritou:
— OK, JÁ CHEGA!... Uma de cada vez.
— Certo. — concordou Cassandra, enxugando a mão molhada no pano de prato. Estava lavando a louça. — Você primeiro. — encorajou a rosada, sentando-se no sofá.
Alana assentiu, sentando-se na poltrona gasta ao lado.
— Você sabia que Norton Ian, é filho de Norton Frederick? — perguntou a Steawart, fitando a amiga com olhos especulativos.
— Claro que eu sabia. — respondeu Cassandra de maneira simples, e viu o queixo de Alana cair. — O que?... Eu pensei que você sabia também, afinal vai estar estagiando lá!
— Não, eu não sabia. A família Norton é muito reservada! — murmurou; Alana jogou a cabeça para trás, massageando as têmporas com as mãos de olhos fechados. — Além disso, eu pensei que ele fosse só um aluno rico.
— Bom, não. É que ele não usa muito o nome do pai, não sei por que já que usando ou não, a fama dele é enorme. — Cassandra foi incapaz de dizer sem que revirasse os olhos. Ela respirou fundo ao suspiro cansado que Alana soltou. — Além disso, eu com certeza teria lhe falado se soubesse que você ia chutar os faróis da Ferrari dele.
— Ah... —Alana suspirou novamente, envergonhada. — Então você soube né?
— Sim. Eu não vi porque depois que você saiu correndo eu voltei ao meu armário pra pegar um livro de Geografia que esqueci; tenho prova daqui dois dias. Enfim, foi a Lisandra que me contou o que houve quando ligou pra mim mais cedo.
— Entendo. — disse Alana, novamente abrindo os olhos e ajeitando-se na poltrona. — Pois é, eu meti o pé na Ferrari dele. Pensei que fosse desmaiar quando vi de quem se tratava.
— Imagino. Mas, muito estranho... Lisandra disse que ele não fez nada com você. Digo, nada do que ele faria com outro alguém. Tipo, fazer com que fosse expulsa e humilhá-la até a morte!
— Ah, mas ele me humilhou sim. — falou Alana, com a voz irritada. — Quando eu fui pra empresa, foi ele quem veio falar comigo sobre o estágio. Ele se divertiu muito com minha reação ao saber que havia chutado o carro do herdeiro das empresas Norton, na qual vou estagiar! Então, já foi uma grande humilhação!
— É. — concordou Cassandra. As duas suspiraram ao mesmo tempo, quando a rosada se pôs de pé com um grande sorriso no rosto. — Olha só, eu falei com a Lisandra no telefone e ela vai passar aqui em casa e nós vamos sair. Sugiro que vá tomar banho e se arrumar.
— O que? Sair? — Alana se desesperou, quase gritando. A amiga só podia estar brincando. — Não dá, estou cansada. Quer dizer, o estágio é muito legal, acho que vou aprender muito lá; mas já tive emoções demais por um dia. Não, não, eu vou ficar cansada. Estou cansada.
— E eu não né? — disse Cassandra, revirando os olhos. — Servir mesas o dia inteiro, tudo o que eu quero é deitar na minha cama e dormir; mas não tem como enfrentar a fúria de Lisandra se não formos. Além disso, ela nos leva arrastadas pelos cabelos!
Alana escondeu o rosto entre as mãos, balançando a cabeça. Suspirou derrotada.
— Certo. — deu-se por vencida, e Cassandra deu um pulinho contente. Não teria de agüentar as maluquices de Lisandra sozinha, ao menos. — Eu vou. Mas, pra onde vamos?
— Não faço a menor ideia. Lisandra disse que é uma surpresa!... E sinceramente? Eu tenho medo dos tipos de surpresa que pode ser, já que estamos falando da Lisandra aqui. Ela é genial, mas completamente louca!
Alana riu, embora começasse a sentir o mesmo medo que Cassandra.
[...]
Os olhos verdes acompanhavam cheios de malícia os corpos das duas moças a frente, dançando ao som da melodia de Stripper do The Soho Dolls que explodia no som potente de um dos muitos carros tunados no andar debaixo, separado de onde estava, apenas por uma escada de cinco degraus.
— Não quer dançar conosco, David? — perguntou uma das mulheres, rebolando o corpo. Seus traços eram nitidamente americanos, mas com um cabelo castanho escuro e, era nítido que tinha mais de vinte e um anos.
David fez que não, levando a garrafa que segurava nas mãos aos lábios e tomando um gole da cerveja. Sorrio de lado para as duas mulheres, que não pararam de dançar a sua frente, ao ritmo da música, deslizando as mãos pelos próprios corpos e também no da outra.
— Prefiro apenas observar. — respondeu o Deeper depois de um minuto. A voz séria, arrastada, como sempre muito baixa, mas nem por isso menos presente.
Estava sentado em uma poltrona de couro preta, esparramado na mesma e com os olhos verdes atentos a cada movimento minucioso e atrevido das duas a sua frente. Aquele era, com certeza, o início de uma bela noite para o jovem Deeper. Um sorriso malicioso dançou em seus lábios com esse pensamento.
Ele jogou os olhos para o sofá ao lado, onde Vicent se pegava com outra garota de cabelos negros e cacheados, caindo em uma cascata de cachos perfeitos nas costas, que naquele momento espalhava beijos molhados pelo pescoço do Bennie, estando sentada no colo dele.
— Vão para um quarto, porra. — esbravejou David, já vendo o momento em que só faltava os dois se despirem e transar bem ali, na frente dele. Não que se importasse muito com isso, mas de todo caso...
Vicent abriu um olho, e riu para o amigo que logo também ria. Ambos ouviram um ronco de motor, e logo um farol forte passou, iluminando onde estavam antes de abaixar.
— Ele chegou. — sibilou David, tomando outro gole de cerveja em seguida. Ele permaneceu sentado, os olhos verdes novamente voltados para as duas mulheres a sua frente e um sorriso malicioso no canto de seus lábios.
Vicent empurrou a garota de seu colo, fazendo-a se sentar no sofá vermelho com um biquinho nos lábios, triste pela brincadeira ter acabado. O Bennie a ignorou, levantando-se e apoiando-se na grade a ponto de ver Ian sair de seu carro no andar de baixo.
— Fala babaca. — saudou o Bennie, rindo quando Ian lhe mostrou o dedo do meio. O Norton passou pelos carros tunados, todos Mercedes, Ferraris, BMW’s e muitos outros, sem falar nas motos; subindo as escadas e logo estando na mesma área que os amigos.
— Onde esteve o dia todo? — David perguntou de maneira desinteressada, os olhos ainda nas mulheres que continuavam a dançar ao ritmo de uma nova música, quando Ianse esparramou na poltrona ao lado da sua.
— Comendo alguma vagabunda, aposto. — disse Vicent, voltando ao seu lugar no sofá vermelho. A garota que lhe dava beijos e outras caricias por cima da roupa, havia ido buscar bebidas.
— Quem me dera. — respondeu-lhe Ian, rindo brevemente antes de sua expressão se tornar séria e ele suspirar. — Estava com a Yara.
Até David que, até então, não havia desviado os olhos das moças a sua frente, voltou-se para o amigo, vendo sua face conturbada.
— E como ela está? — perguntou Vicent, mais sério do que o normal. Ian suspirou pesadamente, pendendo a cabeça para trás na poltrona e fechando os olhos.
— Na mesma. — respondeu o loiro, voltando a encarar os amigos.
Tanto Vicent quando David abaixaram a cabeça, em forma de lamento. Realmente, eles lamentavam pelo amigo e, principalmente, por Yara. Principalmente Vicent. Oh sim, ele se preocupava muito com Yara.
— Então... — David disse de repente, quebrando aquele silencio fúnebre que havia se instalado entre eles. — ... vamos? — perguntou, e num pulo estava de pé, girando a chaves do seu Celica preto, com chamas vermelhas ao redor das rodas.
Vicent e Ian Levantaram, ambos sorrindo de lado. Vicent foi até o seu Toyota Supra azul marinho, e Ian Voltou para o seu Mazda RX-7 VeilSide laranja e preto, mas, antes que estivessem cada um dentro de seu carro, David perguntou:
— Me diga uma coisa Ian e aquela garota? A que meteu o pé na sua Ferrari?
— O que tem ela? — respondeu Ian, com uma nova pergunta, erguendo os olhos para o amigo. Vicent, que entrara em seu carro, apoiou-se na janela aberta para ouvir a conversa, e quase riu da carranca ameaçadora de Ian para o ruivo.
— Acalme-se meu rapaz. Ela não faz meu tipo, de qualquer jeito. — defendeu-se David do olhar ameaçador do loiro, erguendo as mãos para cima. Vicent riu.
— Eu disse. Ele vai acabar transando com ela. — disse o Bennie entre risos que logo David acompanhou.
Ian rolou os olhos.
— Ela não faz meu tipo. — disse o loiro, dando de ombros e entrando em seu carro. Abriu as janelas e finalizou aos amigos: — Se bem que, com o jeitinho estouradinho dela, fico pensando como ela deve ser na cama. — ele soltou um risinho sacana, no qual os amigos o acompanharam.
Sem mais Ian deixou a garagem com seu carro invejável, não apenas pela aparência da máquina como pelo motor da mesma. David olhou de soslaio para Vicent, e o Bennie disse:
— Ah, ele definitivamente a quer. — e os dois riram, David entrou em seu carro e ambos arrancaram com suas máquinas dali. Não se importaram nem um pouco em deixar para trás três mulheres no andar de cima. De onde aquelas haviam saído havia muito mais, e mesmo aquelas estariam lá quando eles voltassem. Eles sabiam. Sabiam que eram irresistíveis a elas, por isso não se preocupavam.
— Me explica de novo, como foi mesmo que eu concordei com isso? — disse Alana meio incrédula, sentada no banco de trás do Nissan Laruel rosa que Lisandra dirigia, naquela noite.— Você não concordou. — quem disse isso foi Cassandra, sentado ao lado de Lisandra. Alana colocou a cabeça entre o vão dos dois bancos, olhando para as amigas. — Lisandra nos ameaçou de morte se não viéssemos, lembra?— Ah, é. Agora eu me lembro. — Alana lançou um sorriso amarelo para a motorista loira. Lisandra gargalhou, antes de dizer:— E ainda bem que vocês resolveram me ouvir. Eu conheço uns caras que fariam o serviço de dar cabo nas duas de graça pra mim e tudo muito limpo.— Ah, isso eu não tenho dúvidas. — brincou Cassandra. — Aposto que
— E o Ian ? — Alana tentou não demonstrar muito seu interesse na pergunta.— Ele corria com mais frequência antes, hoje nem tanto. Mas, também, não tem tanta graça de vencer sempre. — Lisandra disse rindo.— Ele é tão bom assim? — perguntou Cassandra duvidosa, e Alana voltou sua atenção para o loiro que já estava agarrado com uma loira que ela não pode ver o rosto por estar de costas. A única coisa que ela reparava com clareza era na mão grande de Ian na bunda da garota, que, parecia super à-vontade com aquilo, não se importando por estarem cercados de gente.— Nunca perdeu uma corrida. — Jhon, finalmente falou algo.Alana torceu os lábios para aquilo. Era tão irritante que até em fazer coisa errada – claro, porque era óbvio que aquelas corrid
Na última curva, Ian pegou vantagem. Novamente o oponente abrira demais, o suficiente para que Ian passasse com o carro derrapando perfeitamente por ele, assumindo a liderança novamente. Sorrio de lado. Fora fácil. Até sem graça, ele diria!Quando Ian chegou ao terraço a multidão gritava em empolgação, e quando finalmente parou de girar o carro em seu próprio eixo, meio que de lado, derrapando e deixando as marcas do pneu as pessoas aglomeraram-se em volta do seu carro.Desceu do carro e a gritaria eufórica atingiu seus ouvidos em cheio, odiava aquela parte, ainda que seus sorrisos amplos e mentirosos mostrassem o contrario. Foi cumprimentado por várias mãos, até que viu os amigos se aproximarem. David riu, quando o outro carro finalmente chegou. Ian havia pego grande vantagem na última curva.— Então, se
— Isso é porque você está com muito álcool dentro do corpo. — Ian lhe sorriu, dando uma breve secada, muito descaradamente, no corpo da Steawart que apertou mais o casaco dele contra o corpo. O rapaz riu, descendo do carro e apoiando se na janela, vendo a Steawart ainda sentada. — Espero que não esteja esperando que eu vá abrir a porta pra você. — um sorriso divertido dançou no canto dos lábios dele, enquanto Alana piscou aturdida, abrindo e fechando a boca diversas vezes sem conseguir de fato falar nada. Por fim, achou melhor apenas saltar do carro.Vincent que vinha descendo a escada com a ruiva de óculos, Karen, em seu encalço foi o primeiro a avistar Ian entrando.— Onde estava seu merda? — perguntou o Bennie, a voz indiferente de sempre, enquanto aproximava-se do amigo loiro, que entrou rindo. — Pensamos que haviam pegado voc
Idiota. Era isso que pensava sobre si mesma. Desde quando se sentia atraída por loiros prepotentes, frios e imbecis? Aquilo era estupidez, ela sabia. Uma estupidez inevitável.Uma semana havia se passado desde o beijo com Ian, e às vezes, de maneira distraída, Alana ainda se pegava passando os dedos nos lábios, como que ainda sentindo o toque, o gosto dos lábios de Ian nos seus. Sentindo o mover de seus lábios um sob o outro, o gosto viciante do hálito dele, o mesclar de suas línguas; sentindo as mãos dele em sua cintura, firmes, fortes, colando-a contra o corpo másculo que ele possuía. O corpo estremeceu só de pensar novamente em tudo aquilo. Suspirou. Idiota, sua consciência gritou novamente. É, era uma grande idiota por ficar pensando no beijo. Pensando nele.Ian sequer a olhou durante toda a semana
Cassandra nada disse, apenas entortou os lábios num bico meio descrente para as palavras da amiga. Podia ser verdade, podia não ser. Talvez, Alana estivesse mais interessada naquele loiro problema do que se permitiria admitir.O sinal soou.— Melhor irmos ou perdemos a primeira aula. — disse Cassandra, Alana assentiu e ambas caminharam para fora do banheiro. — Minha primeira aula é de Artes. Deus, eu odeio artes...— Cassandra. — chamou Alana, interrompendo novamente a amiga, mas dessa vez tinha um sorriso no rosto. — Obrigada por me ouvir. Nunca achei que encontraria uma amiga tão boa, meio louca e temperamental, mas boa como você.Cassandra abriu um largo sorriso. A verdade é que, mesmo não se conhecendo a uma vida toda, era assim que ambas se sentiam em relação à o
Dentro da sala, Ian ainda encostado a porta com os olhos brilhando em plena fúria, encarava o reflexo de si mesmo, porém mais velho, sentado na cadeira atrás da mesma. O reflexo o encarava com a mesma seriedade e frieza com a qual estava habituado, não apenas a ser olhado por ele, como também a olhar para os outros. O homem sentado na cadeira usava um terno Armani, os olhos eram azuis como o do rapaz encostado a porta de semblante furioso, os cabelos tão dourados e brilhantes quanto. O homem sentado, olhando para o filho de maneira indiferente, parecia de fato um Ian dali a alguns anos; um Ian mais velho.— Você não fez isso. — disse o loiro mais novo muito sério, marchando até a mesa do pai, que o fitava como que não sabendo do que o filho falava.— Primeiro, olá para você também filho, cheguei bem da viagem, muito obrigado por perguntar. &md
E lá estava ela, limpando mesa por mesa e mexendo a cabeça ao som da melodia agitada que tocava na rádio. Era sempre assim, todos os dias, de segunda á sexta, depois da aula era ali que Cassandra passava o resto do dia até o anoitecer. Não que estivesse reclamando, afinal era dali que saia o dinheiro para pagar a metade do aluguel que dividia com Alana e um pouco menos da metade da mensalidade da BHS; mas também não era como um sonho realizado. Ficar servindo todo o tipo de gente, recebendo cantadas quase o tempo todo e no final do dia ir para casa cheirando a fritura não era exatamente o que se consideraria o emprego dos sonhos.— Cassandra, mesa quatro. — disse Caim, filho do dono da lanchonete, assistente de cozinha, colocando uma porção de batata fritas em cima do balcão.Cassandra sorriu, aproximando-se do balcão e pi