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 Parecia que estava no centro de um enorme palco sob a luz de um imenso holofote, tendo toda a atenção do público que a assistia com seus olhos críticos e de puro desprezo. Bom, pelo menos era assim que Alana se sentia naquele momento.

  Por quê? Porque ela caiu no impulso de desferir um chute nos faróis? Porque, de repente, se esqueceu que não estava mais em Texas, mas sim em Amsterdã, na escola mais prestigiada dali? E porquê, porque em nome de Deus, logo o carro dele? Porque logo a Ferrari de Ian Norton, um dos membros da tão famosa Trindade daquela escola, fora o alvo de seu chute?

  Alana desejava, com todas as forças de seu ser, que um buraco se abrisse debaixo de seus pés e ela fosse sugada pela terra. Oh sim! Qualquer coisa seria melhor do que ficar sob o olhar de todos ao seu redor, e principalmente sob o olhar dele. Ian. Ian que estava parado frente à Steawart, e embora não aparentasse estar furioso, seus olhos sob Alana estavam tão intimidadores que a menina encolheu um pouco os ombros.

  “ O que está fazendo? – sua consciência gritou para ela. – Desde quando tem medo de alguém? Desde quando se rebaixa para burguesinhos como ele?... Afinal, foi ele quem quase te matou. Não o contrário.”

— Estou esperando. — disse Ian. Ele não falava alto, mas também não falava assim tão baixo. Seu tom era brando e a voz, mesmo com impaciência, saiu arrastada, causando um arrepio prazeroso em Alana.

— Esperando o quê? — confusa, ela piscou os olhos pérolas diversas vezes, obrigando-se a concentrar-se na situação e não nos olhos azuis dele.

  Ian entortou os lábios, como numa expressão descrente, para então depois seus lábios se arrastarem suavemente para os lados, e num sorriso torto de pura prepotência ele a respondeu:

— Esperando que você me peça desculpas por ter acabado com o farol do meu carro.

 A arrogância com a qual ele disse aquelas palavras, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo, e ainda como se fosse uma ordem a qual devia ser acatada, fizeram subir o sangue de Alana. A Steawart não acreditava em tamanha prepotência e arrogância, talvez, pior do que ele só o tal Bennie.

  Alana estreitou os olhos para ele, tentando ignorar o fato dele estar tão próximo a ela que a fazia poder sentir o perfume delicioso de sua pele, que parecia hipnotizar e confundir todos os seus sentidos. Ela piscou diversas vezes, uma vez mais, em seguida puxando o ar para dentro dos pulmões de maneira rápida antes de responder, curta e grossa:

— É você quem deveria se desculpar por quase me atropelar.

  Como se a terceira guerra mundial acabasse de estourar, o estacionamento explodiu em comentários, por tamanha afronta e disparate daquela garota.

— Ela, com certeza é uma bolsista! — comentou uma garota com a voz enojada, e a mão de Alana coçou para dar um tapa na cara provavelmente cheia de maquiagem dela, mas se controlou, não desviando os olhos do rapaz a sua frente.

  Diferente de todos ao redor, que pareciam ofendidos, irritados e talvez com vontade de tacar tomates em Alana por ela afrontá-lo, Ian não mostrou-se nem um pouco irritado. Uma leve surpresa passou por seus olhos, mas foi coisa rápida. E então, os lábios dele se entortaram em um bico tão terrivelmente sexy e atraente no canto da boca que Alana esqueceu por um momento que ele a podia ter atropelado.

 E então ele riu. Riu não, gargalhou. Alto. Como se tivesse ouvido a piada mais engraçada do mundo.

  Diante da risada de Ian, as pessoas em volta se calaram, dividindo seus olhares de admiração e temor para Ian, com os de repugnação e descrença para Alana.

 “Ele é louco?” – perguntava-se Alana, com a risada de Ian. Estava confusa. Ele não iria gritar com ela? Não ia destruí-la, fazê-la ser enxotada daquele colégio?... Ou pior, a surraria como fizera com aquele rapaz? Oh não, ele podia ser tudo, mas Alana soube olhando nos olhos dele que jamais bateria em uma mulher.

  Quando Ian parou de rir, recuperando a expressão séria e divertida ao mesmo tempo de antes, ele deu mais um passo à frente. Alana pensou em recuar, pelo menos era o que alertava sua mente, mas suas pernas simplesmente não se moviam. Era como se ele exalasse um magnetismo que a tornava incapaz de se afastar, de se mover para longe dele.

  Alana prendeu o fôlego. Ele estava tão perto dela que ela podia sentir o hálito fresco dele, uma mistura de menta e tabaco. Ele fumava?, perguntou-se ela, mas isso não a importava no momento. O fato era que, assim como todo ele, seu hálito era inebriante, viciante, sedutor... Convidativo.

  Quando Ian inclinou o rosto um pouco mais pra frente, o coração de Alana parou de bater por um segundo. Ouve gritinhos de desespero da parte de algumas garotas, que pensavam que ele iria beijá-la. A própria Alana pensou isso, mas então; para o alivio das garotas ao redor, os lábios de Ian foram não para os lábios de Alana, mas sim para próximo ao ouvido dela.

— Agradeça por ser assim tão linda. Ou não estudaria mais aqui. — ele sussurrou, e Alana estremeceu. Não por medo, mas sim pela voz dele sussurrada em seu ouvido, fazendo-a sentir um tremor prazeroso que jamais sentira antes.

 Ian se afastou, num gesto rápido, mas ao mesmo tempo gracioso, e sorrio maroto ao ver os olhos vagos de Alana e a coloração vermelha nas bochechas da garota. Ele caminhou calmamente de volta pra Ferrari, e antes de entrar no veículo apoiou os braços na porta e disse, com voz alta o suficiente para os outros ouvirem:

— Na próxima vez tente não sair correndo pelo estacionamento feito a maluca que eu acho que é. E pense duas vezes antes de cruzar o meu caminho ou chutar meu carro. Não serei legal de novo.

  Aquilo sim soou como a advertência que era, e Alana absorveu o impacto daquelas palavras a tempo de vê-lo entrar em seu carro. Ela estremeceu e foi para o lado, deixando-o sair dirigindo sua Ferrari sem que tivesse que passar por cima dela. Os olhos pérolas, assim como os olhos de todo o resto, acompanharam a traseira do carro até que ele cruzasse o portão da escola, desaparecendo de vista ao virar para a esquerda.

  Como se liberto de um transe, as pessoas voltaram a transitar pelo estacionamento, algumas saindo a pé, outras indo para seus carros, e outras esperando seus motoristas abrirem a porta da limusine. Foi então que Alana notou que não era exatamente para ela que eles olhavam, não haviam ficado parados em silêncio absoluto por causa da louca que chutara os faróis da Ferrari de Ian, mas sim justamente por causa de Ian. Porque ele se deu ao trabalho de sair do carro, por que ele se deu ao trabalho de parar, então todos os outros pararam.

 Alana engoliu em seco, e como uma lâmpada que acabava de ser acessa, ela lembrou de seu estágio e saiu correndo para o ponto de ônibus, as bochechas ainda coradas e a mente perdida no tremor que sentiu quando Ian sussurrou ao seu ouvido e a chamou de linda.

 Ela não percebeu que não muito longe, Vicent e David, parados frente a uma BMW conversível observaram toda a cena. David, com um sorriso divertido no rosto disse:

— Isso vai dar merda. — e riu junto com Vicent.

— Aposto cinco mil que ele vai pra cama com ela até o final do semestre. — disse o Bennie, a voz em seu habitual tom frio, mas com nítida diversão a acrescentar.

— Eu dobro a aposta pra dez mil, e digo que ele transa com ela antes do final do bimestre! — falou David, sorrindo vitorioso. Ambos trocaram olhares e sorrisos de puro desafio e por fim Vicent respondeu:

— Feito. — e apertaram as mãos, antes de rirem.

  Cinco mil. Dez mil. O que era uma grande quantia para uns, para eles não era nada. O que, talvez, custasse caro fosse o resultado da aposta feita em sigilo.

                                                              [...]

 Quando a porta do elevador abriu e Alana se viu no vigésimo quinto andar, ela respirou fundo. Antes de deixar o elevador ela pode ver no relógio na parede que estava dez minutos atrasada. Bufou, a culpa era do maldito motorista lerdo do ônibus que ela pegou.

— Posso ajudá-la? — perguntou a secretária de trás de sua bancada, quando Alana surgiu a sua frente. Era uma mulher de meia-idade, talvez na faixa dos 30 ou 40 anos, e era uma típica japonesa de cabelos negros, rosto gordo e olhos castanhos.

— Sim. Eu vou começar um estágio aqui hoje, e na recepção lá embaixo me disseram para vir até aqui.

— Oh, sim. — o rosto da mulher se iluminou com a explicação de Alana, e ela deu um sorriso. — Espere um minuto, sim?

  A mulher se levantou indo até a única porta-dupla que tinha ali, deu três batidas leves na madeira e atravessou-a, sumindo do campo de visão de Alana. Estava sozinha agora, e pode admirar o local. Era espetacular.

 O prédio de fora, como ela observou ao chegar no local, era lindo. O lobby era fantástico, moderno e muito fino, assim como todo o resto. Enquanto pegava o elevador para chegar ao último andar, onde estava agora, Alana viu vários empresários e empresárias em suas roupas sociais, com pastas nas mãos ou celulares próximo aos ouvidos.

 Ela engoliu em seco, sentindo-se um pouco intimidada. Respirou fundo, afinal era aquilo que queria para si. Mas ainda sim, era um pouco aterrorizante. Sempre era aterrorizante quando sonhos, metas, começavam a se realizar.

  Alana lançou seus olhos por toda a sala em que se encontrava, era ampla, com sofás espalhados estrategicamente pelos dois cantos da sala, havia quadros na parede que, assim como o chão, parecia ser forrado de uma madeira incrível. E também havia um vaso muito bem trabalhado com flores de cerejeira dentro, em cima da bancada onde a secretária estivera até minutos atrás.

  A porta novamente foi aberta, e Alana voltou-se para ela:

— O senhor Norton vai falar com você agora. — disse a secretária, e os olhos de Alana se esbugalharam.

  Norton? O dono da empresa? Respirou fundo, sentindo-se tonta. Mas é claro, onde ela pensou que estava? A ala do último andar pertencia ao presidente da corporação.

  Alana deu uma olhada em si mesma, em seus trajes. Ainda estava com um uniforme da escola. Pensou em procurar um banheiro para se trocar, como dissera a Cassandra que faria, mas ao ver que a secretária do senhor Norton segurava a porta aberta para ela, achou melhor desistir de uma vez e ir logo.

— Claro. — falou a Steawart, e com passos tímidos foi até a porta entrando na sala, e ouvindo a porta se fechar logo atrás de si. A secretária se fora, e ela nem sabia o nome dela.

 Alana lançou os olhos sobre a sala, observando cada canto bem decorado. Desde o carpete, aos móveis modernos, os quadros na parede e mesmo a luminária, era tudo perfeito. Uma bela sala. E então, ela parou os olhos na mesa grande a uns metros a sua frente, o senhor Norton estava sentado em sua cadeira, mas de costas. A Steawart só podia ver suas mãos sob os braços da cadeira. Em passos leves, ela se aproximou, havia três pequenas poltronas de couro frente à mesa, e ela se sentou na do meio.

— Está atrasada. — assim que a frase foi dita, Alana reconheceu a voz, e quando a cadeira foi girada e ela se deu frente a ninguém menos que Ian, arregalou os olhos.

— Você. — ela gritou, e num pulo da cadeira estava de pé. — O que faz aqui?

  Ian riu, relaxando na cadeira presidencial e a olhando com um ar despreocupado.

— Como assim o que eu faço aqui?... Eu sou o dono dessa empresa; quer dizer, ainda não; mas serei. — respondeu ele de maneira displicente. Alana piscou aturdida, aquilo não podia estar acontecendo podia? Estava.

  Ian vendo o completo espanto nos olhos da garota a sua frente, teve vontade de rir. Mas conteve-se, apontando a poltrona do meio com a mão para ela.

— Sente-se. — ordenou. Sim, não foi um pedido. Foi uma ordem, não em tom ríspido e grosso, mas calmo e gentil. Ainda sim, uma ordem.

  Ainda com a mente trabalhando no momento em que ele dizia ser o dono da empresa, Alana sentou-se. Achou melhor, pois não sabia por quanto tempo mais suas pernas sustentariam seu corpo em pé; estavam moles.

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