Capítulo 2

Kiara,

Assim que chego em casa, vou direto para a nossa adega. Pego um vinho e me sento na poltrona, refletindo sobre meu único problema: meu filho. Na verdade, meus filhos, pois sofri cinco perdas nos últimos cinco anos de casada com o Nando. Uma delas foi especialmente dolorosa, pois o bebê estava praticamente formado. Mas consegui me manter de pé graças ao carinho e cuidados do Nando.

Mas muitas vezes, ele me proibia até mesmo de visitar meus pais, pois dizia que meus olhos brilhavam ao ver meus sobrinhos, e depois eu ficava triste ao voltar para casa. Eu pensava que era a mulher perfeita para o Nando, mas a vida me mostrou que a perfeição só existe quando não tem diversidade.

Ele também entra no escritório e pega uma taça, juntando-se comigo na bebedeira. Ele me estende a mão e eu a seguro me levantando. Nando se senta e me coloca em seu colo, virando a taça em sua boca. Ao terminar, ele passa a língua nos lábios de forma provocativa, me levando ao delírio.

— Esse vinho é quase tão gostoso quanto você, mas se juntar os dois, vira o meu prato preferido. — Ele fala em sussurro, próximo ao meu ouvido. Arrepio meu corpo inteiro, e sorrio com suas palavras de safadezas.

— Por que você é assim? Você é mais do que eu poderia ter. — falo, olhando nos olhos dele com um ar de tristeza. Mas, como sempre, ele me surpreende.

— Então, talvez precisamos levar você a um psiquiatra, pois só uma pessoa louca não percebe que você que é demais para mim. Você é mais do que eu mereço. Se há algo na minha vida do qual não me arrependo, é de te amar loucamente todos os dias da minha vida.

— Droga, Nando! — Estou falando, eu não mereço todo esse amor que ele sente por mim. Mesmo que ele não toque no assunto, sei que o que ele mais queria era ter um filho nosso.

— Vamos jantar, princesa, a comida já está na mesa. E quem sabe, a minha sobremesa me espere na cama. — dou um selinho bem demorado na boca dele, e nos levantamos.

No dia em que conheci Fernando, foi o dia mais feliz da minha vida. Apesar de ser uma mafiosa assim como minha mãe, ou até um pouco mais doida, não nego que ainda tenho aquele jeito de menina romântica.

E vê-lo tão lindo, com um corpo atlético, cabelos pretos e pele levemente bronzeada, fez-me apaixonar à primeira vista. Sorri durante o jantar do nosso noivado como se fosse uma adolescente. Ele olhava para mim, exibindo suas covinhas, e isso me deixou ainda mais encantada.

Ah, o amor bateu na minha porta, e eu abri com tudo, deixando o Fernando Medina killer, entrar de uma vez. No dia do nosso casamento então? Foi uma confusão enorme. Coisa que sempre acontece na nossa vida. Depois da nossa assinatura perante as máfias, uma bomba explodiu o salão, e acabou machucando a minha cunhada Clara.

Apesar de querer e ficar para ajudar, minha mãe mandou o Fernando me levar para a nossa lua de mel. Clara é a minha melhora amiga, e não podia ter deixado ela lá sozinha. Mas o meu Nando me confortou, ele ligava todos os dias para saber como ela estava, e claro, com isso acabei ficando mais tranquila.

Pedi para ele esperar que ela se recuperasse, para que possamos ter a nossa noite de núpcias, e ele aceitou. Ele sempre foi tão bonzinho, que nem parece ser um mafioso de verdade. Bom, como eu disse, só comigo e com a família dele.

Mas, mal eu sabia que o mal ainda estaria por vir. E esse dilema me acompanhou por muito tempo. Me senti menos mulher com a situação, pois eu não conseguia dar um herdeiro para o Fernando. Comecei a fazer alguns exames bem rígidos para descobrir a causa do meu problema de não conseguir manter a gestação. E depois de meses descobri. Eu tenho Insuficiência Placentária.

Em outras palavras, eu perco o bebê nos primeiros meses de gestação, pois a minha veia entope, e meu filho fica sem nutriente dentro de mim. Ou seja, meu corpo está matando meus bebês de fome.

Então, comecei o tratamento logo na primeira fez que engravidei depois do diagnóstico. Aplicava a HBPM ( Heparina de baixo peso molecular.) Mas adiantou? Não, não adiantou, pois eu continuava a perder os meus filhos.

Não sentia dor na barriga, apenas uma sensação de mal estar, e quando eu menos esperava, estava sangrando, e meu filho estava ido embora sem eu poder fazer nada. Desesperada, entrei em uma depressão por causa disso. O Fernando sempre esteve ao meu lado em todas as percas. Ele poderia está onde estivesse, quando eu ligava para ele, ele vinha correndo e segurava na minha mão, para que eu não sofresse sozinha.

Até que um dia desistir, não queira mais ter filhos. Na verdade, não queria perder mais nenhum. Então, optei pelo implanon, (chip contraceptivo) e segui a minha vida. Fernando foi fundamental nessa fase, pois ele mesmo me deu todo apoio, falando que ele apoiaria no que eu decidisse. Foi até comigo na clínica para fazer o implante.

Depois de cinco anos, comecei a sentir a casa vazia, trabalhamos o dia todo fora na máfia, e isso deixava minha mente ocupada. Mas quando chegamos em casa, aquele silêncio me incomodava. Mesmo eu tento a certeza que não poderia gerar um filho, eu ainda queria um de qualquer jeito. E só bastava eu tomar algumas taças de vinho, que logo meus sentimentos desabrocham. Não era mais pelo meu marido, era para mim mesmo. Para me sentir uma mulher de verdade.

— Eu já não aguento mais, eu preciso mudar isso, pensar em que posso fazer. — desabafo enquanto jantamos.

— Do que está falando, princesa?

— Eu quero um filho, Fernando, eu preciso disso, por favor, me ajuda. — largo os talheres em cima da mesa, e coloco a mão no meu rosto, soluçando em desespero.

Sinto os braços dele me enlaçando, me confortando nesse momento difícil. Sei que ele está sofrendo igual a mim, mas ele é forte de mais para ficar triste como eu.

— Eu já disse a você, o que você decidir, eu vou te apoiar. Não importa o que seja. Já sugerir uma vez, e vou falar de novo. Quer adotar um bebê?

— Não, eu não quero adotar. Isso já fazemos no orfanato, eu quero um bebê nosso, que tenha os seus traço, os meus, tudo misturado em nosso filho. Que seja um pedaço nosso de verdade. Eu sei pode parecer egoísmo, mas não é, esse é o único sonho que eu tenho, mas é a única coisa que eu não consigo fazer.

Caio em choro, dificilmente eu chorava na minha vida, mas com essa situação, eu não estou conseguindo me segurar. Me sinto até fraca chorando na frente dele, pois na máfia aprendemos que choro é fraqueza. Mas aqui na minha casa...aqui eu não consigo ser a mulher forte que sou do lado de fora.

— Quero que você fique aqui em casa amanhã. Aliás, não iremos trabalhar. Você vai focar somente em como resolver isso. Não estou te pressionando, eu só quero que você pare de sofrer desse jeito. Eu te amo muito, minha princesa, e não quero ver você desse jeito.

— Você está preso a mim, e nem pode desfrutar da paternidade. Eu não te mereço Fernando, não te mereço... — limpo as lágrimas e olho para ele. — Mas posso fazer amor com você, isso eu posso, não posso?

— Claro que pode, e eu amo foder gostoso com você. Vamos para o nosso quarto nos amar? Pois você fica toda fogosa quando está bêbada, e eu adoro esse seu jeito selvagem que me ataca na cama.

Sorrio para ele balançando a cabeça. Ele me tira dos meus pensamentos de dores só com esses palavras safadas dele. Me levanto da mesa me apoiando, e ele me pega no colo, e me leva até o quarto enquanto me beija pelo caminho.

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