Capítulo 4

Fernando,

Ela olha para mim com uma expressão que, se pudesse, arrancaria meu pescoço fora. Mas a ideia foi dela. Por que está tão nervosa?

— Escuta aqui, Fernando Medina, eu não divido você com ninguém. E caso você tente alguma gracinha, vou te denunciar para a máfia. Mas mesmo assim, serei eu a cortar sua cabeça.

— E como vou engravidar outra mulher, se não for dessa forma? Me diga.

— Inseminação artificial, né? — ela fala com raiva e se vira de costas para mim. Mordo os lábios, pois nunca na minha vida pensei nesse tipo de coisa.

— Desculpa, amor, mas me fala como é isso? — Sei bem como é o procedimento, mas quero que ela fale só para vê-la empolgada novamente.

Então, ela começa a falar, e como nas outras vezes em que teve que tomar a seringa na barriga, ela me explica com muita empolgação. O problema é ter que gozar em um potinho. Tem clínicas que não aceitam que a esposa entre junto, mas eu vou fazer de tudo para que ela me ajude. Afinal, será nosso filho, então nada mais justo do que ela esteja comigo.

Depois de toda a explicação, ela está mais animada, especialmente porque concordo com tudo. Não me sinto mal por ela não poder me dar um filho, mas sim por vê-la triste por não conseguir me dar um herdeiro.

Ela pega o contato da mulher que fez o procedimento e manda uma mensagem perguntando onde ela encontrou a doadora. A mulher responde rapidamente, dizendo que encontrou alguém em um bairro pobre de seu país. No entanto, ela avisa a Kiara que é importante escolher bem a mulher.

Aparência nem sempre é tudo. É preciso encontrar uma mulher de caráter e responsável, ou teremos problemas na hora da entrega do bebê. Afinal, aqui na França, essa prática é ilegal. Felizmente, sendo mafioso, não terei problemas com isso. Mas a mulher do outro lado da linha não precisa saber disso.

Agora, só precisamos ir até a máfia e informar sobre nosso procedimento. Assim que encontrarmos a mulher, a levaremos lá para que ela perceba onde está se metendo e não tente nenhuma gracinha. Estou fazendo isso pela minha esposa e não vou tolerar que ninguém a faça sofrer novamente.

Nos trocamos e seguimos para a sede da máfia. Foi uma luta, mas conseguimos a autorização deles para nosso herdeiro vir de uma barriga de aluguel. Um dos conselheiros ainda veio falar comigo em particular, sugerindo que, no caso de Kiara não conseguir me dar um herdeiro, eu poderia cancelar o casamento e encontrar outra mulher capaz de engravidar.

Apenas olhei para ele com meus olhos de quem não gostou do seu comentário, e não respondi nada. Mas ele percebeu, baixou a cabeça e se retirou. Era só o que me faltava, parece até piada. Eu me apaixonei pela Kiara assim que a vi pela primeira vez. Apesar de sua aparência angelical, ela é uma verdadeira mafiosa e uma companheira perfeita para mim. Não poderia ter escolhido melhor.

Após obtermos a autorização, voltamos para casa e anotamos todos os locais mais pobres da capital. Passamos o dia dentro dos carros, tirando fotos de algumas mulheres que se assemelham à Kiara. Cabelos negros, pele levemente bronzeada, nariz empinado e olhos castanhos marcantes.

Mas claro, nunca encontramos todas essas características em uma única pessoa, apenas na minha princesa. No entanto, Kiara não desiste e continuamos em busca da mulher perfeita até o anoitecer.

Cansado de tanto procurar e de ficar tanto tempo sentado, chamo-a para irmos para casa e tentarmos novamente amanhã. Ela concorda e voltamos para casa. Subo para o quarto e espero que ela suba, mas ela não vem. Desço novamente e não a encontro. Vou até o escritório e lá está ela, concentrada no computador.

— Kiara, vamos dormir. Amanhã a gente continua. — Ela levanta uma das mãos e me pede para esperar um pouquinho. Me aproximo e me sento ao seu lado, observando-a pesquisar o nome das mulheres que tiramos fotos.

— Das cinco, nenhuma serve para ser nossa barriga de aluguel. Três são casadas, uma namora um gangster local e a outra é usuária de drogas. Encerro essa primeira seleção. Agora sim, podemos ir dormir.

— Você é doida! Vamos logo, antes que eu te jogue no meu ombro e te leve para o quarto. — Ela começa a rir e seguimos para o quarto de mãos dadas. Tomamos nosso banho juntos e nos deitamos.

Uma semana se passa enquanto buscamos pela barriga de aluguel perfeita. Kiara está sendo muito exigente com suas escolhas, o que está complicando bastante o processo. A única coisa que falta é ela anunciar no jornal: "Procura-se uma barriga de aluguel".

Nem vou dar essa ideia para ela, senão ela realmente vai fazer isso. Voltamos à nossa rotina na máfia. Ela utilizou alguns de nossos soldados para procurar por mulheres semelhantes a ela, tirar fotos e descobrir onde moram. Mesmo sem entenderem completamente, eles acataram suas ordens, pois sabem que ela pode ser bastante cruel quando pede algo e a pessoa não o faz.

Ela é bem nervosinha, tanto dentro de casa quanto fora. Isso às vezes me deixa até louco, porque aprendi com meus pais que, se eu quiser ter um casamento pacífico, nunca devo discordar dela nem falar mais alto do que ela. Às vezes, eu respiro fundo, conto até dez e me acalmo. Dessa forma, mostro ser um esposo perfeito para minha princesa.

Nunca tivemos uma discussão sequer, sempre foram coisinhas bobas que eu sempre tentei transformar em momentos fofos, e ela logo encerra a briga e ficamos bem.

Duas semanas se passaram e ainda não encontramos a mulher ideal, e vejo Kiara voltando a se fechar em seu mundo. Levo-a para os lugares comigo, mas mesmo assim, quando chegamos em casa, minha esposa parece deprimida. Se ela não conseguir encontrar essa mulher em breve, ela vai desistir e não vai mais tentar nada, assim como fez nas outras vezes.

Ela pede para ir embora mais cedo da sede, e eu a libero, mesmo que em casa ela fique pior. Mas não vou prendê-la aqui, já que ela quer ir. Ao anoitecer, volto para casa e assim que entro pela porta, vejo Kiara conversando com uma mulher que, de costas, tem a mesma cor de cabelo dela.

— Kiara? — Chamo, e as duas olham para mim. Chega até ser assombroso a semelhança entre elas, parecem até irmãs.

— Ele chegou. Vem, vou te apresentar ao meu marido, mas... — Ela fala algo no ouvido da mulher, e as duas se aproximam. — Posso até apostar que ela tenha falado algo para nao me tocar, pois eu sei como minha princesa é ciumenta.

— Prazer, senhor Killer. Kiara estava me contando sobre o problema de vocês. Já conversamos, e eu serei a barriga de aluguel.

Seus olhos têm um brilho estranho, o mesmo brilho que as mulheres assanhadas usavam quando queriam sair comigo, antes de eu me casar com a Kiara. Porque depois do casamento, ela mesmo dá um chega para lá nas mulheres que se aproximam de mim.

— O prazer é todo meu. Não vou incomodar, resolvam as questões aí, e depois minha esposa vai me passar tudo. — Me aproximo de Kiara, dou-lhe um beijo e subo para o meu quarto.

Espero que isso seja apenas uma impressão minha, e que essa mulher não tenha ficado interessada em mim.

Espero também que a Kiara não permita que essa mulher chegue perto ou fique aqui em casa, pois não quero ter nenhum problema com minha esposa. Porque aqui, que mesmo que seria ela a colocar a mulher dentro dessa casa, eu que acabarei sendo o culpado.

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