A cerimônia de recepção e fim do Exílio é uma agonia sem tamanho. Os membros do Conselho estão de pé, em silêncio, como todos do salão. Encapuzados, os cinco vampiros da Casa Zegrath caminham em direção às cadeiras no centro. Eles ficam de frente para nós, os rostos cobertos.
A capa púrpura cai no chão revelando-os.
Enquanto a cerimônia se desenrola no centro, Dorian me explica quem são os vampiros da Casa Zegrath. Celeste eu reconheço, claro.
— Sidara, sobrinha de Celeste, é sua sucessora. — Ele aponta disfarçadamente para uma bonita morena de olhos redondos e cabelos ondulados preso com um rabo de cavalo todo trançado, como uma guerreira. — Aquela é Bliss, filha de Sidara. — Ele aponta uma menininha de cabelos curtos e bem ondulados de olhar sério e com um sorrisinho quase maldoso. — Mark, irmão mais novo de Sidara e também sobrinho de Celeste. — Agora olho para um rapaz moreno de cabelos bem curtinhos quase raspados e lábios grossos, mais ou menos da minha idade. — E aquele é Henri, seu alvo.
Até me sinto esquisita por olhar alguém com essa intenção tão vil. Henri. Que tipo de pessoa será que ele é? O que posso perceber só com o olhar é que Henri é o único branco, de cabelos lisos, bagunçados, de um tom castanho bem escuro contrastando com sua pele pálida, olhos grandes e com a barba por fazer. Ele é bem-apessoado, é verdade, parece forte e observa o salão um pouco desconfiado, como se não quisesse estar aqui. Parece bem despojado, o tipo de pessoa que faz amizade com facilidade e que pode ter a mulher que quiser.
Eu não tenho um plano e começo a cogitar que talvez eu precise de um, como Caedyn, que conhece bem Mark e sabe como se aproximar e chamar atenção. Não sei nada sobre Henri! É quase injusto que eu fique com a missão mais difícil. Melhor eu inventar um logo.
Os membros do Conselho aproximam-se de uma mesa onde há uma adaga, com a qual cortam seus braços e respingam sangue em um cálice, um a um, até Celeste faz o mesmo. O último membro é Kaiser, que segura o cálice e leva-o de um a um, servindo-os do sangue misturado, por fim, ele toma todo o sangue que sobrou. Todos dão as mãos formando um cículo e anunciam em uníssono, falando repetidamente a mesma frase:
— O Círculo de Nether está completo. O Círculo de Nether está completo. O Círculo de Nether está completo. — A vibração de suas vozes soam separadas a princípio, mas depois se tornam uma voz sobrenatural e poderosa, que toca o fundo da minha alma com uma sensação que nunca senti antes: a de fazer parte de algo.
No salão os outros vampiros repetem as palavras e logo eu estou repetindo também, entrando em um coro quase intenso e insano de poder. É algo que cresce dentro do meu peito e se espalha por minhas veias.
— O Círculo de Nether está completo.
Ninguém precisa me explicar e eu simplesmente entendo: juntos, são mais fortes. Juntos, são como Um.
●●●
Após a cerimonia o Conselho se retira para uma reunião fechada e servem um coquetel para aqueles que ficaram no salão. Por mais que me desagrade a ideia de que Devon sumiu com Celeste para uma sala fechada, me desagrada ainda mais as pequenas porções de canapés servidas. Acabei de me tornar vampira e estou faminta! Adoraria que servissem comida de verdade dessa vez.
— O truque é não comer nada e só beber, vaqueira! — Caedyn dá risada e segura nos meus ombros, me puxa antes que eu alcance o meu terceiro bolinho de queijo da bandeja do garçom.
— Por que você fez isso?
— Vem, quero que você conheça o Mark. — Ela me empurra na direção que quer que eu siga, forçando meus passos para a frente.
Vou lambendo os dedos até perto de uma mesa com um arranjo de galhos secos, pérolas falsas e flores lilás, onde Mark está, ele sorri contente, olhando para Caedyn. De perto, ele é ainda mais alto, quase da mesma altura que Zane, só que bem mais cheio de músculos preenchendo o corpo, de uma maneira que me sinto intimidada. Ele tem os olhos apertados, as sobrancelhas finas e distantes. Ele está sorrindo, como se estivesse contente por voltar à Sociedade dos Vampiros.
— Mark! Essa é Jaylee! — Caedyn nos apresenta.
— Muito prazer senhorita! — Ele segura na minha mão e beija, reverenciando, ignorando o fato de que estou com os dedos gordurosos e lambidos. — Ouvi boas coisas sobre você.
— Muito prazer, Mark. — Lanço um sorriso quase inexistente. A ideia de que eu tenho que fazer amizade com meus inimigos é estranha. Quer dizer, parece uma atitude muito suja e sem moral, fazer amizade para depois apunhalar alguém pelas costas. Penso em Lyek, que está ali fora cuidando dos carros e fico com uma gigante vontade de sair correndo e pedir desculpas, de dizer a verdade, que eu o usei para conseguir informações, mas quando me lembro de seus olhos frios em cima de mim, até perco um pouco da fome.
— Mark e eu estudamos junto com Zane, Lucretia e Román antes da guerra. — Caedyn não parece estar fingindo esse sorrisão que ela tem estampado no rosto, ela solta meus ombros e fica do meu lado, gesticulando empolgada. — Tinha também Bertha e Nel, mas eles não estão aqui. Oh, eu queria poder reunir todo mundo de novo! Lembrar dos velhos tempos, coisa e tal!
— Seria ótimo. — Mark dá um sorriso genuíno, os olhos brilhando, de repente ele olha para os lados, como se procurasse alguém. — Por falar em Lucretia e Zane? — Ele olha novamente para Caedyn. — Fiquei sabendo que estão noivos.
— É, finalmente. — Caedyn suspira e vejo o sorriso de Mark derreter de imediato. — Ah, qual é, você não vai ficar com ciúmes bem agora, vai? — Caedyn segura no braço dele.
— Não! Quer dizer… Não. — Mark revira os olhos escuros e com um brilho avermelhado, dando de ombros, como se não estivesse enciumado ou interessado na história. — Imaginei que eles fossem terminar juntos de qualquer forma.
— Está, sim! — Caedyn insiste.
— Só estou um pouco surpreso. Lucretia disse que não ia correr atrás dele e fez mesmo assim.
Nossa, perdi alguma coisa? Mark e Lucretia tiveram um relacionamento no passado? Uma espécie de triângulo amoroso que envolvia Zane? Estou chocada. Se Mark me dissesse que tinha se apaixonado por Zane e até tido um envolvimento com ele eu ficaria menos surpresa, é sério! Não imaginei que Lady Lucretia tivesse outro alguém.
— Lucretia está sempre correndo atrás de Zane, você se lembra do colégio. — Caedyn dá uma risadinha e arranca um sorriso de Mark. — Lucretia costumava morrer de ciúmes de tudo, tão insegura!
— Ela continua insegura?
— Você sabe como mulheres são. Uma vez ciumentas, sempre ciumentas. — Caedyn brinca, rindo.
Um garçom coloca na nossa frente uma bandeja com canapés esquisitos. Eu pego um com cada mão e logo enfio um na boca, indo atrás de outro. Enquanto Caedyn nega com um aceno de cabeça.
— E onde está Lisa? Não a vi. — Mark pega um canapé e olha o que eu estou fazendo, com curiosidade.
Minha vontade é de dizer “O que foi? Nunca sentiu fome, não?” mas acho que vampiros da Casa Zegrath não sentem a fome dos vampiros da Casa Riezdra. Zane que foi sortudo e se safou dessa.
— Lisa está morta. — Caedyn responde com a voz carregada de tristeza.
— O quê?! — Mark arregala os olhos. — Fomos informados que ela foi encontrada viva!
— A notícia chegou pela metade até vocês, Lisa tornou-se vítima de uma fatalidade recente. — Caedyn dá de ombros. — Não fale dela na frente de Zane, ele está se quebrando.
— Devíamos fazer alguma coisa para animar. — Mark ergue as duas sobrancelhas para Caedyn. — Lembra que costumávamos fugir das festas?
— Ah, claro que sim! Aposto que encontro uma rota de fuga primeiro que você.
— Então quero ver, Lady Caedyn! — Ele se curva para ela e se vira para mim. — Com sua licença senhorita!
— Toda. — Forço um sorriso e olho para Caedyn que pisca vitoriosa para mim. Acho que a vaqueira deu a primeira laçada no pescoço do boi.
Já que fui abandonada pelos dois, resolvo dar uma volta no salão em busca de mais bandejas de canapés. Os garçons passam por mim e vou pegando as coisas de uma e de outra, comendo, até que me dá sede e estico a mão para alcançar a útima taça de vinho branco de uma bandeja, mas outra mão, masculina e com um anel no polegar, tenta pegar também. Lanço um olhar ameaçador e a pessoa hesita.
Pego a taça:
— Obrigada, preciso mais do que você. — E dou goles largos.
— Posso ver que sim. — Henri coloca as duas mãos na cintura. Ele está usando um paletó simples e cinza, com uma camiseta de algodão.
Solto o copo de volta na bandeja, nem deu tempo do garçom se afastar. Lanço um sorriso amarelo a Henri como se tivesse me ofendido e viro as costas, saindo. Ele segura no meu braço, um toque de dedos gelados.
— Espere!
— Desculpe-me, senhor, por acaso eu o conheço? — Ergo uma sobrancelha e olho-o enviesado, reparando em como seu sorrisinho tonto esmorece, conforme ele percebe que não estou para conversas.
— Não, eu… — Henri solta o meu braço, hesitando.
— Então por favor, não me ofenda. — Viro novamente as costas, saindo.
— Espere! — Ele me segura novamente. Arfo, como se seu toque fosse a coisa mais irritante desse universo, mas ele segura com suavidade, não está realmente me forçando a nada. Henri logo me solta. — Não quis ofendê-la, senhorita...? — Ele tenta arrancar meu nome.
— O nome é Jaylee. — Viro para ele e cruzo os braços
— Sou Henri, muito prazer. — Ele estende a mão em um cumprimento. Limpo a mão no vestido e seguro na dele, com cara de poucos amigos. — Desculpe, eu realmente não quis ofendê-la. — Agora ele fala sério e olhando nos meus olhos, com a mão no corpo indicando arrependimento.
— Tudo bem, eu posso ter me irritado além da conta. — Puxo a minha mão da dele. — Eu fico de mau-humor quando estou com fome.
Um garçom passa um pouco distante de mim e me esfoço para pegar um canapé de sua bandeja.
— E você costuma ter muita fome? — Henri pergunta, colocando as duas mãos no bolso.
— Não muito, só o tempo todo. — Enfio o canapé na boca esfomeada. — Acabei de me transformar em vampira, não sei, eu não deveria sentir menos fome? Talvez não tenha me transformado direito, sei lá.
— Aqui, deixe-me ver. — Henri segura no meu rosto com as duas mãos, inclinando minha cabeça para trás e coloca os dois polegares na minha boca, conferindo os caninos.
— Ai! — Reclamo quando ele aperta minha gengiva e solto os caninos em cima de seus dedos, pinicando-o.
— Ai! — Ele reclama também e coloca o dedo na boca, contendo o corte. — Viu, você é uma vampira, só não precisava me morder.
— Não mordi você, apenas não estou acostumada! — Eu o empurro um pouco brava e seguro nos meus caninos, como se estivessem doendo. — Hoje mordi minha própria boca. Não nasci com isso como vocês.
— Não nasci com presas também. — Henri me conta e eu abro bem os olhos como se fosse novidade. — Sou um Recém-Transformado como você, só que um pouco menos atrapalhado. — Ele olha para o ferimento que deixei em seu polegar, cicatrizando.
— Por quanto tempo? — Pergunto.
— Três meses mais ou menos. — Henri dá de ombros.
— Hm, então já deve estar bem habituado.
— Com algumas coisas, talvez. — Ele sorri e retribuo o sorriso com simpatia.
Deixo que o assunto morra entre nós, fingindo um pouco de desinteresse e distração, um garçom passa com uma bandeja com taças, eu pego uma e Henri outra. Dou um sorriso de quem não tem mais o que falar e um gole na bebida.
— Não conheço ninguém na festa. — Ele comenta, olhando para a pista de dança cheia de vampiros pulantes.
— Já conheço quase todo mundo, mesmo que a maioria ainda não me conheça, de tanto escutar a vida alheia, fica até monótono.
— É mesmo? — Henri olha para mim curioso e eu dou um sorriso atrevido antes de beber novamente da taça. — Não tem cara de bisbilhoteira.
— Não sou uma bisbilhoteira. — Dou uma piscada sorrindo. — Eu sou uma espiã.
— Uma espiã? — Henri dá uma risada, não sei se debochando ou apenas se divertindo, mas ela soa genuína. Preciso ouvir essa risada mais vezes, para comparar quando ele a usa, para conhecê-lo mais do que ele mesmo. — E posso saber o que você está espionando?
— Agora mesmo?
— Sim.
— Você. — O sorriso dele esmorece novamente e ele franze o cenho, pensando. Então dou uma risada ventando um pouco e aponto para ele, fingindo que é mentira o que eu falei, mas é verdade.
— Oh! — Ele ri balança a cabeça. — Então diga-me, senhorita espiã, o que quer saber sobre mim?
— Hm? — Olho para ele em dúvida, reparando em como ele estende as mãos, me dando abertura. — Melhor não. Preciso encontrar meus amigos. — Solto a taça em uma bandeja de canapés que passa por mim. — Até uma próxima oportunidade, Henri.
Reverencio-o e me afasto, deixando Henri sozinho em sua festa de desconhecidos. Pelo último olhar que vejo nele, tenho certeza que consegui sua atenção.
●●●
Um tempo depois que eu me escondo na pista dançando sozinha, já estou sentindo solidão. Onde está Devon? Nenhum dos membros do Conselho retornou, acho que a volta de Zegrath está mesmo criando confusão.
Caedyn me encontra na pista:
— Jay! Estava procurando você! — Ela puxa o meu braço, me guiando para fora da pista. — Estamos no telhado.
— Não está chovendo? — Pergunto.
Estava chovendo à cântaros quando viemos para a festa.
— Achamos um canto coberto, todos estão lá, só falta você! — Caedyn explica.
Passamos por uma porta dupla que costuma dar acesso à cozinha, mas ao invés de irmos por ali, pegamos uma segunda portinha, subindo por uma escada apertada de pedra.
Chegamos em uma janela que está aberta, posso ouvir o barulho da chuva e não vê-la, percebendo que tem algum telhado naquela área. A janela fica bem apra cima, quase no teto, mas como sou uma vampira agora, consigo saltar e alcançá-la, escalando para cima. Passo o corpo sentando no batente e fico em pé na beirada da janela. Uma lufada de ar gelado bagunça meus cabelos.
Olho para cima, checando minhas opções e cruzo olhares com Henri. Eu não esperava vê-lo! Quase escorrego, da beirada da janela e por sorte, ele segura no meu braço e me oferece o impulso que faltava para eu subir como um gato, no batente do que parece ser uma varanda de prédio, no segundo andar do salão.
A estrutura é suntuosa, de pedras decoradas e tem um gárgula me encarando, sentado em um pedestal. Mesmo sem iluminação, enxergo cada detalhe do sorriso de Henri, ele segura na minha cintura e me levanta para pular a varanda. Está ventando e a temperatura caindo pode fazer a chuva virar uma nevasca, mas a sensação térmica na minha pele não é tão crítica, nem preciso de um casaco.
Piso no chão, por cima dos meus saltos e percebo que todos estão ali, sentados no chão frio. Mark, Lucretia, Zane e até Román, que normalmente tem mais prazer em ficar em um canto no salão lamentando sua falta de sorte na vida, ele está até com a expressão mais leve, como se fosse bom estar ali com amigos.
Henri me solta e vira-se para ajudar Caedyn, embora eu ache que ela conseguiria subir sozinha, Caedyn não é do tipo donzela indefesa.
— Ah, veja quem chegou! — Lady Lucretia sorri largamente ao me ver, com as pernas de lado, sentada como uma verdadeira princesa com a postura elegante e as costas retas. — Sente aqui conosco!
Ela nunca perde a pose de princesa, mesmo no chão. Coloco a mão no pescoço, andando até eles e escolho um lugar de frente para eles, mas noto que Zane segura um copo de vidro na mão, desses de whisky, só que com três dedos de uma bebida transparente tingida por um framboesa grande e azul mergulhada.
Percebendo que estou encarando, Lady Lucretia explica:
— Zane vai tomar Sangue-deBruxa.
— Como presente de noivado para Lucretia. — Zane está sentado do lado de Lady Lucretia com os braços no joelho.
— Até ela pedir o próximo, meu amigo! — Mark da uma risada, sentado ao lado de Zane com uma perna dobrada e a outra apoiando o braço, despojado.
— A parte boa é que poderemos todos provar. — Caedyn se senta ao lado de Mark, eles batem as mãos, no alto de suas cabeças, comemorando.
— É seguro tomar Sangue-de-Bruxa assim direto? — Henri se aproxima, sentando do meu lado, fico incomodada com sua proximidade, é como se ele estivesse invadindo o meu espaço. Meu espaço com meus amigos.
— Ahn, claro. Totalmente seguro. — Román revira os olhos, sem entender. Ele é o único em pé, encostado na parede e segurando uma garrafa de espumante, que vira na boca.
Zane, Mark e Lucretia dão risada, como se não fosse nada seguro, mas talvez estejam só debochando da falta de conhecimento de Henri.
— Ande, todos estão aqui, tome logo. — Lady Lucretia pede, batendo no fundo do copo, para Zane levantar.
— Certo, mas… — Ele olha para ela com o copo perto da boca. — Lembre-se do que prometeu, nada de morder minhas mãos.
— Sem mordida nas mãos, prometo! — Ela ergue as palmas, como sinal de paz.
Zane coloca o copo nos lábios e engole o liquido de uma só vez. Todos aplaudem como se fosse uma coisa muito importante e Lady Lucretia segura o copo de suas mãos, antes que Zane derrube. Ele coloca a mão na testa, como se sentisse dor de cabeça.
— Fica imediatamente tonto. — Mark explica erguendo as sobrancelhas finas, com Caedyn pendurada em seu ombro. Acho que ele percebeu que arregalei bem os olhos de susto.
— Você primeiro. — Zane vira para Lady Lucretia, que solta o copo no chão com delicadeza e pisca os cílios longamente para ele. — O que você quiser.
Ela sorri bonitinho, segurando o rosto dele com as duas mãos, beijando-o na boca, mas não é um beijo fofo, é voluptuoso, com os caninos rasgando a boca de Zane.
— Hm. — Ele segura no cabelo dela, puxando, suas bocas se afastam um centímetro. — Isso é ótimo. — E eles se beijam com ainda mais intensidade, ficando com os lábios vermelhos de sangue.
Eu me lembro de Zane dizer que se vampiros fossem gatos, Sangue-de-Bruxa seria como catnip. Troco olhares com Henri, ele comprime as extremidades dos lábios, numa espécie de sorriso sem graça;
— Já tomou isso? — Pergunta, olhando para mim.
— Não, nunca tomei. Nem como uma humana. — Dou de ombros sem graça. — E você?
— Tem gosto de açúcar. — Ele dá de ombros também, acho que isso quer dizer que ele já tomou.
— Então você já foi escravo de sangue? — Pergunto. Henri faz que “sim” com a cabeça, os cabelos sendo bagunçados pelo vento. — Eu também. — Dou um sorriso.
— Ei vocês dois! — Caedyn interfere no beijo do Casal Real, cutucando o ombro de Zane. — Vocês não estão autorizados ao ósculo ainda!
— Tem razão. — Lady Lucretia empurra Zane, de repente, separando-se e limpa os cantinhos da boca. — Mas a minha vontade é de te beber inteiro. — Ela comenta. Zane abaixa a cabeça rindo, um pouco tímido e um pouco alto da bebida. — Qual é, não seja um pervertido.
— Foi você que disse! — Ele ri e depois olha para nós. — Quem é o próximo?
— Minha vez. — Caedyn segura no braço de Zane, desabotoando a manga da camisa negra e abaixando um pouco o punho da luva de renda negra. Zane estica o braço. Caedyn olha para Mark, sorrindo. — Vamos juntos?
— Vamos. — Mark abaixa a perna e segura no braço de Zane. — Três, dois…
— Ai, nossa! — Zane faz uma careta de dor quando recebe as mordidas duplas.
— Sempre uma putinha da turma, Zane. — Román brinda com a garrafa.
— Vá se ferrar! — Zane mostra o dedo do meio para Román. — Só por isso você será o último.
— Ah! — Caedyn se solta do braço de Zane, erguendo a cabeça, colocando a cabeça bem para trás, de um jeito que posso ver seus dentes vermelhos e o esforço que ela faz para parar de beber sangue. — Maravilhoso. — Ela deita para trás, encostando-se na parede e suspirando. Mark se solta na sequencia, sem o esforço de Caedyn, rindo. Caedyn limpa o queixo dele. — Você babou, amador!
— Sua vez, Jay. — Zane muda de lugar, sentando do meu lado.
— O quê? — Abro bem os olhos assustada.
— Não me diga que está com medo. — Zane debocha, desabotoando a gola da camisa. Encaro seu pescoço, sem a tatuagem que antes ele tinha, da Casa Bawarrod.
— Apenas dê goles pequenos, essa é a veia do coração. — Lady Lucretia pede com a língua um pouco enrolada como se estivesse bêbada. Acho que ela está preocupada com Zane, afinal, ele tem um coração humano.
— Só coloque os dentinhos para fora! — Caedyn coloca os dedos na frente da boca, gesticulando.
— Faça enquanto ainda tem Sangue-de-Bruxa no sangue, o efeito passa rápido! — Mark me incentiva. — Você vai se sentir no céu.
— Tudo bem. — Respiro fundo e me ajoelho, ficando de frente para Zane, eu seguro em seus ombros para me apoiar e aproximo-me meio sem jeito.
Escuto uma risadinha e olho para Mark. Caedyn dá uma cotovelada nele:
— Para com isso, essa é a primeira mordida dela. — Caedyn ri.
— Oh! — Mark ri mais ainda, mas percebe que estou olhando para ele.
— Não realmente, hoje mais cedo eu me mordi.
Caedyn e Mark explodem numa risada, dessa vez, Román e Henri os acompanham, rindo. Lady Lucretia precisa segurar a risada nos lábios, para não rir de mim.
— Não ligue para eles. — Zane resfolega, colocando as mãos na minha cintura, cruzando os olhos com os meus e sorrindo. — Faça o que sentir natural, você é uma vampira agora.
Comprimo os lábios. Zane, sempre tão paciente e meu porto seguro. Não tem como ter medo de nada se ele estiver do meu lado. E sendo bem sincera, acho que posso fazer isso, morder uma pessoa, sugar seu sangue e tudo o mais. Não estou com medo, e confesso que no fundo, eu quero fazer isso.
Abro a boca e voluntariamente coloco os caninos para fora. Miro meus dentes na veia e abocanho com força o pescoço de Zane. Ele aperta as mãos na minha cintura, sentindo a picada. O estranho é que o sangue não jorra para dentro da minha boca, como se meus dentes fossem duas rolhas, contendo-o.
— Uhuuu! — Caedyn e Mark comemoram, batendo as mãos, caindo na risada na sequência.
Eu me sinto bem com essa sensação, a da carne rasgada pelas minhas presas. Recolho os dentes e cubro as duas feridas com a boca, dando um chupão e recebendo o sangue de Zane na minha boca.
Sou imediatamente transportada para uma lembrança de quando eu era criança: houve uma noite de natal em que percebi que Papai Noel, a entidade mágica que habita nossos sonhos inocentes, tinha me considerado uma boa garota. Ou seja, eu tinha agido bem, eu tinha feito o que eu tinha que fazer e Papai Noel estava orgulhoso de mim. Esse era o motivo por eu estar recebendo uma recompensa. Tinha chocolate quente na minha boca, doce e viscoso, embora eu já estivesse de barriga cheia por causa do jantar. Papai beijou a minha cabeça e mamãe pegou lá na árvore um grande pacote colorido e cheio de fitas. Quando ela trouxe o pacotão para mim e eu finalmente o segurei, nossa, nem sei descrever em palavras o que eu s
— Sim. — Concordo com a vontade de Devon e me afasto pelo contorno do salão, por onde a chuva fina e gelada não me alcança. Passo por Celeste, que nem me olha, apenas coloca as mãos no quadril pequeno, ficando numa pose quase sensual. Sou como um mosquito para ela, mas não quero mesmo chamar atenção. Caminho devagar, de cabeça baixa, só para escutar um pouco esse espetáculo.— Ela é sempre assim obediente?O que Celeste está in
Ando até a cadeira que Amabile me apontou, de madeira e coberta por pele de animal marrom escura. Os passos ecoam no galpão entregue ao silêncio. Sento confortavelmente assistindo Amabile pigarrear e digitar no seu mini-computador. O barulho de sua unha comprida batendo contra a tela é rítimico, como um relógio.— Vou registrar Telecinese, Realidade Artística e Empatia Tátil(1). — Ela bate a unha a cada palavra. — Mais alguma coisa, alteza?— Tenho que dizer tudo? — A voz de Zane é um som claro, nem forte nem fraca, nem fina e nem grossa, apenas uma vibra&c
— Você bebeu? — Henri pergunta, enquanto checa meu corpo nu. Não é um olhar lascivo, entretanto, é mais procurando alguma coisa em mim. Meu corpo está totalmente ensaboado, um pouco distante do jato de água. Há uma névoa esbranquiçada subindo, o vapor da água quente e convidativa.— Se eu tivesse bebido você saberia, não é mesmo? — Se eu quisesse te infectar, não acha que pegaria alguma coisa desse sabonete? — Henri ergue os olhos, provocativo.— Como Devon me pediu, acompanho Zane e seus quatro guarda-costas até o galpão onde Amábile o espera duas horas mais cedo para iniciar os testes mentais. Zane está com uma expressão de saco cheio típica, mas me entrega um papel dobrado e uma florzinha de jardim amarela:— Leva isso pra Lucretia.— Agora virei pombo correio?— Não enche. — Ele entra pela porta de metal, atrás de Amabile. Talvez eu seja mesmo uma bisbilhoteira, mas eu não poderia deixar que Zane e Lucretia conversassem sem ter cem por centro de certeza de que eles fariam as pazes dessa vez. Estou escondida no telhado, enquanto o Casal Real conversa em um pequeno beco entre duas contruções perto do refeitório. O cheiro de comida atiça minha fome e eu tenho vontade de sair correndo e pegar um prato de comida, mas mantenho meus dois olhos e ouvidos bem grudados nesses dois. É um beco sem saída, onde eles estão. Tanto no relacionamento quanto fisicamente, literalmente.— Quando você fica apáticCapítulo 07 - Emergência!
Capítulo 08 - Coração de Pedra
Amabile Taseldgard falou com cada um de nós sobre como deveria ser nossa apresentação. Ela gostaria que fosse um segredo e que não comentássemos com ninguém, mas durante os treinamentos eu seria capaz de ver Zane e Henri.O que significava que Henri também veria nossas apresentações e contaria tudo para Celeste. Nesse aspecto, mesmo que Zane não se apresentasse por qualquer motivo, ela já teria informações o suficiente sobre seus poderes e teria vencido essa batalha. Celeste saberia onde atingir Zane, como como evitar que ele pudesse se defender. Era um pensamento desesperador.
— Nunca vou me acostumar com isso. — Sentado no sofá da sala principal do castelo da Casa Bawarrod com os pés em cima de um banquinho de pele de animal, com preguiça, Devon desvia os olhos de Zane aos beijos sangrentos com o Imperador, sentados no tapete felpudo por cima de algumas almofadas.Também tenho um pouco de dificuldade de lidar com Zane e o Imperador, especialmente com a mão que cresce possessiva nas costas de Zane. É um sentimento ruim que se forma em mim, um sentimento que transita entre a angústia e o zelo.A lareira está ligada e agradável, os candelabros meio