ESTAVA CONVICTA DE QUE EU NÃO SERIA MAIS A MESMA. No instante em que Devon sugou a Última Gota do meu sangue e eu engoli a primeira de seu sangue vampírico, senti como se meu coração tivesse sido arrancado do meu peito. Senti uma dor insana, meu corpo amoleceu e meus pensamentos deixaram a minha mente. Aos poucos, afundei-me em um ar de inércia e negritude.
Eu não podia respirar, nem ao menos sentia frio ou calor. Era como se meu corpo tivesse sido deixado pela minha alma e eu estava flutuando entre dois mundos. A única razão por eu saber que eu estava viva era que dentro de mim nascia algo, uma espécie monstruosa de mim mesma.
E faminta.
Deliberadamente faminta.
Acho que para cada humano, tornar-se um vampiro é uma experiência única e nenhum vampiro sabe ao certo que criatura renascerá depois da transformação ser completada.
Momentos antes, eu estava sentada na cama e aterrorizada com a ideia de que, se eu tomasse sangue de vampiro, eu me tornaria uma deles. Como seria quando isso acontecesse? Eu teria que beber sangue de outro humano e outras coisas que eu não conseguia me enxergar fazendo. Ergui a cabeça:
— Vou morrer? — Perguntei com a voz trêmula, olhando firme nos olhos de Devon. Ele estava abaixado diante de mim, sem camisa, a pele tocada pela luz neon acima de nossas cabeças.
— Você é forte. — Seu timbre firme e quase rouco era a certeza que eu procurava. Devon não arriscaria a minha vida no processo se não estivesse certo de que eu sobreviveria.
— Estou com medo, Devon. — Confessei, quase entregue às lágrimas que queriam surgir em meus olhos. Uma agonia crescente em meu peito, dominando o meu coração.
Devon segurou no meu rosto e beijou minha boca com delicadeza. Deitei no colchão e ele subiu por cima de mim, cobrindo-me com seu calor, suas mãos me excitando, conforme percorria minhas coxas. Era familiar e já tínhamos tido intimidade antes, mas eu me senti como uma garotinha virgem em sua primeira noite de sexo. Todos os músculos do meu corpo tremiam de medo e eu sentia o meu corpo endurecido, mesmo que Devon me segurasse com extrema calma e confiança.
Para um humano se tornar vampiro ele precisa ter todo o seu sangue bebido, até a Última Gota, que é conhecida pela gota da morte. Antes do coração ficar vazio, entretanto, ele deve ser preenchido de sangue vampírico. A troca completa deve acontecer, eu precisaria preencher minhas veias com o sangue de Devon, beber o meu sangue em sangue dele.
E eu fiz.
Minha mente clareou subitamente e abri os olhos no susto, sentindo meus caninos cortarem a carne da minha boca, prendendo os dentes no lábio inferior. Acho que posso dizer que a minha primeira mordida foi em mim mesma. Sentei-me assustada, todo o quarto estava escuro e eu não conseguia enxergar nada, respirando forte, com dor. Segurei na minha boca, soltando o lábio dos dentes pontiagudos e passei os dedos na gengiva, percebendo que agora, sobre a minha arcada dentária, eu tinha caninos como os de uma cobra.
— Você se mordeu, que desastre. — Contra o silêncio do quarto, escuto a voz de Devon, perto de mim. Sua mão quente alcança o meu rosto, tateando a ferida que eu fiz e recebo um beijo delicado para ela cicatrizar. O perfume amadeirado que ele sempre usa invade minhas narinas. Ele se afasta. — Como você está sentindo?
— Cega. — Constato. Por acaso virar vampiro pode te deixar cega? Não enxergo nada, posso ouvir, sentir cheiros e até tocar em suas mãos ao redor do meu rosto, mas não posso vê-lo.
— Deixei a luz acesa. — Suas mãos escorregam do meu rosto e seus passos se afastam de mim. Escuto o barulho do interruptor desligar. — Melhor?
— Melhor. — É imediato. Apesar de ele ter dito que a luz se apagou, para mim, parece que se acendeu.
É diferente de enxergar com olhos de uma humana com Relação-Sanguinea, não está com um tom azulado predominante, mas vejo cores e claro, como se fosse dia. Acho que esse é o motivo dos olhos de um vampiro brilharem na escuridão: eles acendem a noite.
Agora entendo porque seus capacetes são negros e eles usam GPS para se locomover de dia e porque as luzes são sempre fracas no salão: eles não conseguem ver direito se não for na escuridão. São o inverso dos humanos. Eu sou o inverso agora.
— Seus olhos se habituarão à claridade com a prática. — Olho para Devon, enxergando-o com meus novos olhos de vampiro, conferindo cada detalhe de sua pele e de seu corpo. A barba bem feita que ele sempre deixa e que é capaz de causar arrepios constantes em todo o meu corpo, os cabelos castanhos-claros penteados para trás. Oh, esse homem não tem defeitos. Ele está fardado, mas não é uma farda comum de serviço e sim a de celebrações, preta e dourada, com um cinto por cima do paletó e uma bainha dourada segurando um sabre. — Você será capaz de enxergar silhuetas.
— Será como andar em casa no escuro para ir beber água no meio da madrugada. — Suspiro. Devon balança a cabeça fazendo um “não”. — É, acho que você não entenderia a analogia já que nunca foi humano.
— Acho que não. — Ele venta, rindo. — Vista-se, temos que ir ao jantar de Recepção.
— Tudo bem. — Concordo acenando com a cabeça e Devon deixa o quarto.
Seu quarto continua o mesmo: vazio, apenas uma cama, um armário e uma mesa com cadeira, para uso de escritório. Ele não deixa nada por aqui, entretanto, talvez com receio de que eu possa bisbilhotar.
A porta abre novamente e Murilo entra, o garoto que sempre me ajuda a arrumar o vestido para as festas, lá da alfaiataria. Levanto da cama. O piso frio debaixo da sola do meu pé energiza o meu corpo. Caminho até o centro, puxando minha camisola vermelha e transparente, jogando-a no chão.
Murilo se aproxima de mim e larga o cesto de costura em cima da cama, abrindo o zíper do saco preto que segura meu vestido. Ergo os braços. Droga! Tinha até me esquecido que hoje chega a Casa Zegrath.
São os vampiros que prometem ser nossos inimigos e o Grande Império realizará uma espécie de recepção com um desfile e a re-integração da Casa Zegrath aos membros do conselho. Todos serão apresentados. Respiro fundo. Estou nervosa só de pensar que estarei frente a frente com Celeste mais uma vez. Nosso primeiro encontro foi um pouco assustador.
Murilho escorrega o vestido no meu corpo e fecha o zíper. Fica firme, mas ele pega a agulha e linha para prendê-lo melhor. Abro os braços, ele coloca o bolero e sai do quarto cumprimentando.
Na sequência, entram as cabelereiras, junto com Izobel, usando um vestido bonito cinza e prata, com a saia bem bufante.
— Jaylee, trouxe joias da família para você usar. — Ela sorri animada, com os cabelos castanhos presos em um coque rígido no alto da cabeça, adornado por pequenos cristais.
Izobel, irmã mais nova de Devon, é uma mulher sempre sorridente e de humor quase sempre alegre. Sua energia trás leveza à família e ela é tão bonita que chega a ser etérea em sua presença elegante. Um pouco compreensiva demais, eu diria. Especialmente com o gênio explosivo de Dorian, o mais velho dos três, que tem os olhos mais afiados e pavio curto. Esse sim é um homem de pouca paciência!
— Eu nunca uso joias. — Estranho.
— Deixe-me olhar você. — Izobel ignora meu comentário. Acho que agora que sou uma vampira recebo o direito de usar joias. — Você está magnífica, Jaylee, fico muito orgulhosa por saber que a transformação fez bem à você. — Segurando nos meus ombros, ela vira o meu corpo para o espelho que uma das senhoras cabeleireira segura, mostrando meu vestido.
Eu deveria conferir as costuras, mas acabo perdida dentro do brilho amarelo-âmbar do meu olhar. Eu sou uma vampira. Constatar que sou uma deles agora me causa uma satisfação grande, eu tenho orgulho de mim mesma, pelo o que eu me tornei. Nunca mais serei um peixinho. Agora sou um tubarão.
Mostro os dentes para o espelho, olhando a saliência por onde pulam minhas presas de vampiro. Izobel coloca um colar no meu pescoço, a pedra se encosta ao meu colo fria, pendendo em cima da curva dos seios de uma maneira sensual.
Olho para o colar, um enorme rubi redondo rodeado por um arco de metal dourado. Brincos de ouro e rubi completam o visual. Uau! Coloco a mão no colo.
— É um presente, meu e de Dorian para você. Nossa forma de agradecer sua lealdade e todas as graças que trouxe a nossa família. — Seus olhos da cor da um topázio translúcido e claro brilham, emocionados. — Seja oficialmente bem vinda à Casa Riezdra, Jaylee.
Fico sem palavras. Izobel se afasta e chama a cabelereira.Prendem meu cabelo de um jeito bonito e elegante, para cima, de uma maneira que as pontas mais compridas fiquem soltas em meus ombros. Por fim, troco o equilíbrio de um pé para o outro, enquanto me calçam.
Estou pronta para a festa, mas não me sinto pronta para a chegada de Zegrath e, especialmente, Celeste.
Saio do quarto, atravesso para a sala, onde Devon sorri ao me ver.
— Você está linda. — Ele me corteja e mordo a boca segurando o sorriso, enquanto dou o braço com ele.
Saímos pela porta, todos já me esperam no corredor. Dorian com uma farda parecida com a de Devon, porém, sua calça é cinza, de braços dados com Izobel e Caedyn, com um bonito vestido jovial e amarelo. Dá para acreditar que Zegrath será recebido como se fossem as pessoas mais importantes do universo? É até insano de se pensar.
Seguimos juntos para o veículo estacionado na saída da ala em que fica a Casa Riezdra, está chovendo muito e o céu está mais escuro encoberto pelas nuvens. Um motorista cobre nossas cabeças com uma espécie de guarda-chuva bem grande e verde, guiando-nos para a limousine branca.
— Você está uma gata, será facil atrair a atenção de Henri assim. — Dorian lança, como um lembrete de qual é a minha missão.
Combinamos que parte do plano para derrubar Celeste, ex-esposa e vingativa inimiga de Devon, envolve que eu me aproxime de Henri, um recém-transformado da Casa Zegrath. Não sei nada sobre ele e confesso que nem criei expectativas. É uma missão, eu devo encará-la como tal independente do quão horrível e nojento ele possa ser.
— Ela acabou de passar pela transformação, Dorian, dê tempo para Jaylee se acostumar antes de qualquer coisa. — Devon interfere, arranhando a voz e com o braço apoiado no meu ombro, me abraçando.
— Claro que sim, desde que não seja muito tempo, temos um plano para seguir. O garoto já fez a parte dele incitando uma leve revolta entre os nobres e os humanos com aquela lei que convenceu Kaiser a aprovar. — Dorian resfolega, de braços cruzados e os olhos apertados por seu sorriso divertido estampando o rosto pequeno. Seus cabelos negros estão espivitados e com muito gel. — Ele irritou muita gente, mas estou surpreso com sua representatividade aos humanos, aceitaram-no como a um lider nato.
— Devon o criou muito bem. — Izobel segura no braço de Caedyn, sorridente. — Você está preparada para rever Mark, minha filha?
— Tenho tudo em mente, mamãe. — Caedyn pisca um olho convencida. Seus cabelos esvoaçantes e vermelhos estão contidos por uma presilha na lateral da cabeça. — Mark sempre foi muito competitivo, então passarei a desafiá-lo em tudo, forçando os limites, então eu o deixarei vencer, mas de uma maneira que ele perceba que só venceu porque eu deixei. Tenho certeza que terei seu respeito novamente após isso e voltaremos a ser amigos, ou pelo menos, assim ele acreditará.
— Muito bem, parece um bom começo. — Dorian sorri satisfeito com sua filha. — Precisamos estar alinhados para que nossas operações estejam no curso certo para o dia em que ofereceremos a apresentação de Jaylee como uma Recém-Transformada da Casa Riezdra, se tudo correr bem, será quando Celeste fará seu primeiro ataque a Zane e Bawarrod cederá o conselho. Não podemos falhar nessa primeira fase.
— O que acontece se falharmos? — Pergunto.
— Então Celeste terá vencido a primeira jogada. — Izobel aperta Caedyn em seus braços. — E será nosso pior cenário.
Eu me arrepio inteira.
O veículo frea e através da janela percebo que estamos em frente à festa. Um dos encarregados abre a porta do carro e Caedyn é a primeira a descer, depois Izobel e Dorian. Devon sai na minha frente e estende a mão para mim. Seguro na barra do vestido e seguro em sua mão, tomando impulso. Saio do carro e encontro com os olhos bem abertos e escuros de Lyek, segurando o guarda-chuva para me levar até a porta da festa sem me molhar. Congelo na mesma hora, meu coração pula até uma batida.
Lyek desvia o olhar, para o chão, franzindo o cenho, numa expressão de descontentamento. Devon coloca a mão na minha lombas e me guia para a porta do salão. Distraído, Lyek pisa na barra do meu vestido, dou um tranco parando de andar e puxo a saia.
— Desculpe, senhorita. — Ele pede, de cabeça baixa e uniforme de manobrista.
— Não foi nada, Lyek. — Comprimo os lábios, sem jeito.
— Vocês se conhecem? — Devon pergunta estreitando os olhos na minha direção.
Ops! Abro bem olhos, assustada, mas Lyek responde por mim:
— Não reconheço. — Com uma frieza na voz sem igual.
Ignorando o que mais Lyek possa vir a dizer, Devon me puxa novamente, para andar. Eu seguro a saia do vestido mais para cima e atravesso pela chuva, com as gotas grossas explodindo na proteção do guarda-chuva.
Abrem a porta do salão e eu entro, de braços dados com Devon. Olho por cima do ombro para Lyek, mas ele já se vira, indo para o próximo carro. Eu sei que tinha razão e que Lyek não me veria mais como a mesma pessoa depois que eu me tornasse uma vampira, se sentiria traído e isso doeria nele, mas não esperei que fosse doer tanto em mim.
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O salão está diferente do normal, não há mesas de festas nem garçons servindo bebidas e petiscos. As cadeiras estão colocadas em fileiras de meio-círculo. Na ponta, nove cadeiras de madeira e estofados brancos de frente para as fileiras, a do centro, maior e mais suntuosa que acredito ser Bawarrod. Alguns membros do conselho já ocupam suas cadeiras.
Há pouca luz, ou muita, não sei dizer ao certo, estou confusa com meus novos olhos, mas enxergo tudo como uma penumbra, como um quarto escuro iluminado por apenas um abajur de pouca potência.
Devon me deixa com Izobel, Caedyn e Dorian e se posiciona com os membros do Conselho, parando para conversar um pouco com Evolus Mordecai e cumprimentando a todos com a boa educação que recebeu. Sentamo-nos.
O salão vai enchendo devagar, nobres e mais nobres ocupando seus lugares. Cornetas ressoam, anunciando a família real. A Casa Bawarrod entra, pelo centro do meio círculo caminhando até o centro.
O Imperador, Kaiser Bawarrod, está com o cabelo castanho escuro, um pouco bagunçado, parece que acordou mais cedo do que gostaria e a barba rala concede um aspecto de desleixo inerente á ele, porém, ainda assim, é de longe o homem de andar mais requintado do salão.
Do seu lado esquerdo está Lady Lucretia, uma das garotas mais dóceis que eu já conheci, o que é estranho quando a gente pensa em vampiros, eles não são muito dóceis! Ela é, sem dúvida, a mulher mais linda do salão, seus cabelos escuros como a mais negra noite e lisos, a pele bem clara e um sorriso de modelo. Ela brilha, se destacando, mesmo de vestido simples e sem bordados, todo negro, usando o Luto Nupcial e com os olhos vendados por uma renda transparente que esconde o brilho vermelho inspirador sempre presente em seu olhar.
Do lado direito, Zane o sucessor roubado da Casa Riezdra e o próximo a usar a coroa do Grande Império e se tornar imperador. Ele passa atraindo os olhares de todos, com um magnetismo sem igual e um sorriso libertino como sua filosofia de vida. Tão controverso! Quando era humano, Zane costumava ser um garoto de humor irônico, desafiador e com um ar único de rebeldia que era apaixonante, mas agora que é um vampiro, Zane atrai olhares de admiração e inveja, não existe meio termo, ou o amam ou o odeiam. Se bem que ultimamente, depois das medidas que tomou a favor dos humanos, muitos dos que já se sentiam ultrajados por ele ter sido um humano, apenas se ofenderam mais. Esse é o plano que Devon e Dorian tramaram, aliás, provocar a ira dos nobres, incitar uma rebelião. Não entendo onde eles querem chegar com isso e nem o que ganhariam, parece um tiro no pé, será que não acabaria atraindo mais inimigos à Zane?
Assim que alcançam o centro do salão, Kaiser separa-se o Casal Real com um beijo na testa de cada um, primeiro em Lady Lucretia, depois em Zane e os dois saem juntos pela lateral. Eu aceno e Zane segura no braço de Lady Lucretia puxando-a até onde estou.
— Você está ótima! — É o cumprimento que escuto de Lady Lucretia, com um sorriso grande no rosto. Ela me abraça com saudades, mas nos vimos há alguns dias. — Já posso te chamar de Lady Jaylee?
— Não! Por favor! Isso me deixaria muito sem graça, alteza. — Eu a cumprimento com um aceno em reverência.
Lady Lucretia se afasta para cumprimentar Caedyn e Izobel, abraçando-as forte com carinho.
Viro para Zane, segurando em seus braços, trocando um rápido selinho de cumprimento, ele estreita os olhos brancos por trás da venda, reparando em mim.
— Suponho que posso te chamar de mãe? — Zane debocha e eu simplesmente adoro como seus cabelos caem por cima do ombro, em cachinhos castanhos escuros.
— Nem pensar, certo? — Dou uma risada estendendo o dedo como uma bronca, para ele.
Em resposta, ele apenas pisca um olho e sorri, galante.
— Celeste já chegou? — Dorian pergunta, se intromentendo entre a gente. Ele cumprimenta Lady Lucretia e Zane, ambos com um beijo na testa.
— No caminho, vindo para cá, vimos a caravana estacionar na entrada da colônia, acabaram de chegar. — Lady Lucretia explica.
As cornetas ressoam, anunciando o início da recepção. Todos os nobres ficam de pé e Dorian passa o braço pelos meus ombros, ficando bem de frente para o corredor pelo qual os vampiros da Casa Zegrath vão passar. Eu fico também, como um manequim exibindo uma roupa em uma vitrine exposta em um shopping.
Uma fileira de soldados entra primeiro, marchando, armados, de dois em dois. Vê-los me dá a impressão que Zegrath são tão perigosos e olho para Dorian, insegura.
— O que eu preciso saber sobre esse Henri?
— Bem, menina, isso é o que você terá que descobrir. — Dorian me responde, com um sorriso malicioso no rosto.
Os soldados se posicionam, tomando o corredor e um a um, os nobres da Casa Zegrath passam a entrar, todos trajando um manto púrpura pesado, com capuz. Minha respiração acelera.
A cerimônia de recepção e fim do Exílio é uma agonia sem tamanho. Os membros do Conselho estão de pé, em silêncio, como todos do salão. Encapuzados, os cinco vampiros da Casa Zegrath caminham em direção às cadeiras no centro. Eles ficam de frente para nós, os rostos cobertos.A capa púrpura cai no chão revelando-os. Enquanto a cerimônia se desenrola no centro, Dorian me explica quem são os vampiros da Casa Zegrath. Celeste eu reconheço, claro.— Sou imediatamente transportada para uma lembrança de quando eu era criança: houve uma noite de natal em que percebi que Papai Noel, a entidade mágica que habita nossos sonhos inocentes, tinha me considerado uma boa garota. Ou seja, eu tinha agido bem, eu tinha feito o que eu tinha que fazer e Papai Noel estava orgulhoso de mim. Esse era o motivo por eu estar recebendo uma recompensa. Tinha chocolate quente na minha boca, doce e viscoso, embora eu já estivesse de barriga cheia por causa do jantar. Papai beijou a minha cabeça e mamãe pegou lá na árvore um grande pacote colorido e cheio de fitas. Quando ela trouxe o pacotão para mim e eu finalmente o segurei, nossa, nem sei descrever em palavras o que eu sCapítulo 03 - Lembranças
— Sim. — Concordo com a vontade de Devon e me afasto pelo contorno do salão, por onde a chuva fina e gelada não me alcança. Passo por Celeste, que nem me olha, apenas coloca as mãos no quadril pequeno, ficando numa pose quase sensual. Sou como um mosquito para ela, mas não quero mesmo chamar atenção. Caminho devagar, de cabeça baixa, só para escutar um pouco esse espetáculo.— Ela é sempre assim obediente?O que Celeste está in
Ando até a cadeira que Amabile me apontou, de madeira e coberta por pele de animal marrom escura. Os passos ecoam no galpão entregue ao silêncio. Sento confortavelmente assistindo Amabile pigarrear e digitar no seu mini-computador. O barulho de sua unha comprida batendo contra a tela é rítimico, como um relógio.— Vou registrar Telecinese, Realidade Artística e Empatia Tátil(1). — Ela bate a unha a cada palavra. — Mais alguma coisa, alteza?— Tenho que dizer tudo? — A voz de Zane é um som claro, nem forte nem fraca, nem fina e nem grossa, apenas uma vibra&c
— Você bebeu? — Henri pergunta, enquanto checa meu corpo nu. Não é um olhar lascivo, entretanto, é mais procurando alguma coisa em mim. Meu corpo está totalmente ensaboado, um pouco distante do jato de água. Há uma névoa esbranquiçada subindo, o vapor da água quente e convidativa.— Se eu tivesse bebido você saberia, não é mesmo? — Se eu quisesse te infectar, não acha que pegaria alguma coisa desse sabonete? — Henri ergue os olhos, provocativo.— Como Devon me pediu, acompanho Zane e seus quatro guarda-costas até o galpão onde Amábile o espera duas horas mais cedo para iniciar os testes mentais. Zane está com uma expressão de saco cheio típica, mas me entrega um papel dobrado e uma florzinha de jardim amarela:— Leva isso pra Lucretia.— Agora virei pombo correio?— Não enche. — Ele entra pela porta de metal, atrás de Amabile. Talvez eu seja mesmo uma bisbilhoteira, mas eu não poderia deixar que Zane e Lucretia conversassem sem ter cem por centro de certeza de que eles fariam as pazes dessa vez. Estou escondida no telhado, enquanto o Casal Real conversa em um pequeno beco entre duas contruções perto do refeitório. O cheiro de comida atiça minha fome e eu tenho vontade de sair correndo e pegar um prato de comida, mas mantenho meus dois olhos e ouvidos bem grudados nesses dois. É um beco sem saída, onde eles estão. Tanto no relacionamento quanto fisicamente, literalmente.— Quando você fica apáticCapítulo 07 - Emergência!
Capítulo 08 - Coração de Pedra
Amabile Taseldgard falou com cada um de nós sobre como deveria ser nossa apresentação. Ela gostaria que fosse um segredo e que não comentássemos com ninguém, mas durante os treinamentos eu seria capaz de ver Zane e Henri.O que significava que Henri também veria nossas apresentações e contaria tudo para Celeste. Nesse aspecto, mesmo que Zane não se apresentasse por qualquer motivo, ela já teria informações o suficiente sobre seus poderes e teria vencido essa batalha. Celeste saberia onde atingir Zane, como como evitar que ele pudesse se defender. Era um pensamento desesperador.