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Capítulo 05 - Herança

Ando até a cadeira que Amabile me apontou, de madeira e coberta por pele de animal marrom escura. Os passos ecoam no galpão entregue ao silêncio. Sento confortavelmente assistindo Amabile pigarrear e digitar no seu mini-computador. O barulho de sua unha comprida batendo contra a tela é rítimico, como um relógio.

Vou registrar Telecinese, Realidade Artística e Empatia Tátil(1). — Ela bate a unha a cada palavra. — Mais alguma coisa, alteza?

Tenho que dizer tudo? — A voz de Zane é um som claro, nem forte nem fraca, nem fina e nem grossa, apenas uma vibração em perfeito equilíbrio, que na maioria das vezes acompanha uma animação única. Essa animação desapareceu hoje e não sei por quê.

A porta de ferro abre novamente, interrompendo-os, arrastando no chão e rangendo como uma batida de carro.Henri lança um sorriso tonto e acena com a mão. Amabile respira pesadamente.

Está atrasado.

D-desculpe. — Ele gagueja, hesitante.

Claro, claro. — Amabile coça a sobrancelha clara e fina. — Sente-se ali, onde os atrasados se sentam. — Ela aponta para onde estou, há mais duas cadeiras.

Sim senhora. — Henri caminha na minha direção, o barulho de seus sapatos é leve, porém ecoa do mesmo jeito, mas seus passos são desastrados, fora do ritmo. Henri se senta, trocando rápidos olhares comigo.

Quando o salão fica em silêncio novamente, Zane já está olhando para o teto distraído e Amabile tem que chamá-lo.

Alteza? — Vejo apenas parte de suas costas magra, as pontas dos cabelos que já passam dos ombros e uma parte do rosto de Zane. — O objetivo dessa apresentação é demonstrar sua Herança. Precisamos listar o que vamos avaliar até para sabermos o que procurar, de acordo com a Herança, podemos desenvolver uma apresentação mais apropriada. — Ela lança um sorriso amável como sua voz soprano e digita mais algumas coisas, rapidamente. — Diga, há mais alguma Herança?

Zane respira fundo pensando, posso ver em toda a sua expressão corporal que ele não quer responder, mas mesmo assim, se força a dizer:

E se eu mentir?

Você pode tentar, mas os meus rapazes aqui são mestres em descobrir mentiras. — Amabile aponta para os dois homens atrás dela, o magro com um bigode espanador vermelho em baixo do nariz e o robusto grisalho de rosto e rugado. — E seria anti-ético, alteza.

Não que eu me importe com éticas. — Zane resfolega entojado. — Dominação, manipulação telepática, manipulação sináptica, controle memorial, oneirocinese... (2)

Espere. Vossa Alteza Real me perdeu no “manipulação sináptica". — Amabile ergue a mão, rindo. — O que isso quer dizer? Não acho que temos registros disso.

Significa que posso fazer você sentir frio, calor, dor, medo, amor… qualquer coisa relativa a sinapses cerebrais.

Orgasmos?

Seria divertido, acredito.

Um alvo ou vários?

Apenas um.

Tátil?

Contato visual.

Com esse tipo de poder você pode desligar parte da mente do alvo ou ainda a mente inteira?

Acho que sim, não sei.

Amabile solta o computador em cima da mesa, colocando as mãos na boca. Enquanto ela se demora pensando, eu fico tentando enumerar tudo o que Zane pode fazer e ele nem terminou de listar.

Realmente Devon não estava brincando quando disse que Kaiser deu a ele todos os poderes de Bawarrod. Isso significa que Zane é um dos mais poderosos vampiros que existem atualmente e quando ele receber o Conselho, pode ser que se torne o mais forte. Olho rapidamente para Henri, ele está cutucando as unhas e mordendo, acho que sinal de ansiedade ou tédio, embora eu tenha certeza que tudo o que ouvir vai contar para Celeste e isso é um problema.

Você alguma vez testou todos os seus poderes, alteza?

Não. — Zane responde olhando para o teto novamente. — Sei que tenho mais afinidade com telecinese. Podemos registrar só telecinese na apresentação?

Você conhece as regras, alteza. — Amabile suspira impaciente. — Alguma vez testou a intensidade de sua Herança? Por exemplo, sabe até onde sua telecinese pode ir? Quantos quilos você aguenta levantar no ar, qual a força de impacto? Essas coisas?

Leve a moderada. — Posso dizer pelo tom de voz quase urgente e abrupto, que é uma mentira. Zane não costuma mentir, ele omite, mas agora, nesse instante, ele mentiu.

Os dois homens parecem perceber a mentira e tocam o braço de Amabile.

Está me dizendo que há quase um ano você é um vampiro e não testou os limites dos seus poderes.

Estou depressivo, não testo limites.

Você tem bebido sangue em quantidades apropriadas?

Não.

Qual o motivo?

Fico enjoado.

O homem de bigode tem que segurar a risada de deboche. Amabile comprime os lábios para não rir e digita em seu computador.

Então acredita que sua telecinese é de intensidade leve a moderada?

Provavelmente.

Tem certeza, alteza? — Amabile pergunta com os olhos sérios em cima dele.

Eu não tenho certeza de nada! — Zane responde em ímpeto.

Acredito que você deva saber o que pode fazer.

Eu sabia que podia abrir gavetas, então outro dia eu esmaguei um maldito cavalo até a morte em segundos, apenas tentando empurrá-lo para longe da minha namorada antes que ele a mordesse! — Ele explode, gesticulando. — O que vocês esperam que eu faça, afinal? Destrua a droga do mundo?

Você precisa se acalmar, alteza, ninguém está aqui para te forçar a nada.

Já me forçaram a estar aqui. — Zane encosta-se à cadeira novamente e cruza os braços.

Amabile resfolega.

Não vou preencher essa ficha agora. Testaremos nos aparelhos a intensidade de sua telecinese, tá bem? — Amabile abaixa o seu computador colocando-o sobre a mesa.

Certo. — Zane concorda.

Vá se sentar, alteza. Henri, venha aqui.

Henri fica em pé, Zane também, eles se cruzam sem dizer nada um para o outro e Zane se senta do meu lado. Lanço um sorriso lânguido para ele, mas Zane parece distraído, pensando em outras coisas. Até me preocupa vê-lo assim.

Sei que para Zane ser vampiro, especialmente da Casa Bawarrod é um fardo, mas estou curiosa: se como humano ele podia desestabilizar uma Nave Favo com um tiro de fuzil militar, o que pode fazer agora que tem plenos poderes?

Há quanto tempo você é um vampiro? — Amabile pergunta.

Quatro, cinco meses. — Henri responde, sua voz baixinha e hesitante.

Quais as suas Heranças?

Controlar Carniçais pequenos, como roedores e o Toque da Peste, ou seja: ao tocar um vampiro ou pessoa, consigo deixá-los instantaneamente doentes. — Henri explica.

Só isso?

Só isso? Achei perigoso e é bom tomar cuidado com as mãos dele! Cumprimentá-lo com um aperto de mão? Nem pensar! Mas como vou me aproximar dele e manter distância?

Sim.

Reparo nos homens atrás de Amabile e eles não parecem achar que é uma mentira. Ela digita em seu dispositivo e olha novamente para Henri:

Em questão de intensidade, você testou?

Controlo os animais muito bem e numerosos, acho que consigo cem sem problemas ou sem me sentir muito cansado, mas o Toque da Peste tenho certeza que apenas poucos se safariam.

Os membros do Conselho?

Certamente.

Ótimo Henri, obrigada por sua colaboração, vá se sentar. — Ela sorri. — Jaylee? Venha aqui.

Levanto um pouco temerosa, cruzando com Henri, dessa vez ele trava os olhos nos meus, de um jeito incômodo. Sento em frente à Amabile, ela me analisa com cuidado e faz as mesmas perguntas.

Quanto tempo você se tornou uma vampira?

Dois dias.

Você recebeu Heranças?

Uma.

Qual?

Eletromagnetismo.

O que isso quer dizer?

Descargas elétricas, na verdade.

Sabe qual a intensidade de seus poderes?

Não, não sei.

Obrigada, Jaylee, pode ir se sentar.

Vou para perto dos garotos, Zane olha para mim sem sorrir e eu me sento ao seu lado.

(1)

Telecinese: a arte de mover objetos com a mente.

Realidade Artística: a arte de criar ilusões visuais que possam ser sólidas e tocadas, modificar a aparência de algo que já existe.

Empatia Tátil: a arte de saber o que a pessoa sente, tocando em sua pele ou objeto previamente segurado.

(2)

Dominação: a arte de entrar na mente de outro anulando suas vontades próprias e tomando o controle.

Manipulação telepática: a arte de manipular a mente de outro, criando ilusões, memórias falsas,

Manipulação sináptica: a arte de controlar o cérebro de outro, fazendo-o sentir sensações como se fossem reais, por exemplo a sensação da pele queimando ao fogo, como tortura.

Controle Memorial: a arte de entrar na mente de outro, pesquisando memórias, projetando e análise de informação.

Oneirocinese: a arte de manipular sonhos de outra pessoa.

●●●

Ao longo da semana testam-nos de todas as formas possíveis.

Um dos aparelhos em que nos colocam tem aqueles pregadores cardíacos, mas em todos os dedos da mão direita, enquanto estamos sentados em uma cadeira e passam uma faixa em nossa cabeça. Eles pedem que façamos primeiro coisas básicas como levantar o braço, ficar em pé, sentar e falar.

Outro teste, envolveu objetos.

À Zane foi pedido que ele manipulasse grãos de areia e desenhasse coisas complexas no ar, testando a telecinese. Começou com uma bola de areia, depois a bola tinha que virar uma estrela e foram mudando os objetos, o último foi um castelo de areia que eu achei que se parecia com uma réplica perfeita de Hogwarts.

Com Henri colocaram alguns copos de água pequenos em uma mesa e ele tinha que ir tocando um a um, despejando seu toque da peste. Eles conseguiram analisar a água infectada e descobriram virus e bactérias de algumas doenças: Caxumba, Rubéola, Sarampo, Raiva, Pneumonia, Tuberculose entre outros. Descobriram que um vampiro pode contrair essas doenças (o que não é possível normalmente), mas que se regeneraria. Não foi considerando um poder letal, mesmo assim, eu imagino que ele consiga causar muito desconforto e dor com um poder desses. Se ele pode fazer isso, imagine Celeste?

Na minha vez prepararam uma mesa com baterias, lâmpadas, e ímãs. Consegui energizar pilhas e baterias de carro, fazer um rádio funcionar apenas segurando na antena e até as lâmpadas acendi colocando suas bases na palma da minha mão, algumas estourei!

Esse foi apenas o primeiro dia.

Durante o período de uma semana, passamos por provações diversas. Nem todas as experiências foram muito boas.

Teve uma tarde que pediram para Zane levantar objetos e atirá-los distante. Começou fácil, um lápis, um livro, uma cadeira... Até que trouxeram uma talha ligada a um motor e um gancho de ferro na ponta. Ele tinha que puxar o gancho com a mente o quanto conseguisse, foram aumentando o impacto de forma gradual, até que Zane se sentiu tonto e desmaiou. Levaram-no à enfermaria de imediato e cancelaram pelo resto do dia.

Cruzei com Lady Lucretia no chuveiro esse dia e ela disse que parte do problema de Zane vem de sua indisposição para beber sangue e a outra parte é bom coração, por temer fazer um mal maior. Significava que não precisaríamos nos preocupar com sua moral e justiça, já que ele era digno, mas também significava que ele estava sofrendo. Meu coração ficou muito apertado. Enquanto eu queria testar meus limites e saber do que eu realmente era capaz de fazer, Zane se negava a enxergar seu fabuloso potencial.

Henri mostrou seus poderes de inflingir doenças em animais, humanos e um vampiro de cobaia, que ficou três dias internado com Ebola e quase morreu, mas que não foi capaz de contaminar mais ninguém. Quer dizer, a menos que fosse Henri que estivesse contaminando, um vampiro não passaria para o outro sua doença, parecia ser algo específico.

Já com seus ratos, Henri mostrou-se capaz de controlá-los como marionetes, fazendo-os roer cabos elétricos e outras coisas. Fiquei pensando no Flautista de Hamelin, sabe? Aquela lenda que conta sobre um homem capaz de encantar ratos com o som de sua flauta para ajudar a cidade e que matou todas as crianças como vingança por não receber o pagamento por ter se livrado da infestação.

Quanto mais eu conheço de Henri, mais assustada eu fico e com a impressão de que ele é só uma amostra do que Celeste poderia fazer à alguém. A impressão que tenho é que nada no mundo poderá vencê-la, mas não sei se estou impressionada e fantasiando coisas.

A parte legal dos treinos é que descobri que posso fazer mais coisas do que pensei: controlando os campos magnéticos, pude levantar alguns clipes de metal do chão, tentaram me colocar no gancho, mas só consegui balançá-lo um pouco. Eu queria ser mais forte! Amabile e seus avaliadores ficaram impressionados com minha capacidade elétrica, especialmente com a habilidade de energizar o corpo e potencializar ataques físicos. Soquei uma parede de concreto e ela se partiu até virar pó. Nem preciso dizer que me senti como a Miss Marvel!

Os garotos até aplaudiram e eu me sentei cansada na cadeira coberta com pele animal. Henri me estendeu uma garrafa de água, adivinhando que eu tinha sede.

Obrigada. — Pego a garrafa, é de acrílico negro e está bem gelada, como tudo nessa colônia, a água ao redor já congelou e a garrafa está escorregadia,

Não tem de quê. — Henri sorri bonitinho.

Vou dispensá-los por hoje pelo horário, levou mais tempo do que pensei. Amanhã certificarei essa primeira fase.

Sim senhora. — Concordamos em uníssono.

Henri pega sua mochila e é o primeiro a se afastar de nós, mantendo sempre distância de mim e de Zane. Todos esses dias ele mal trocou palavra conosco ou deu abertura para conversarmos. Eu tentei falar com ele uma ou duas vezes, mas não consegui, o cara é super fechado!

Espero por Zane, que fecha o zíper da mochila enquanto Amabile se aproxima dele.

Vossa Alteza Real, se importa de vir mais cedo para iniciarmos os testes das outras habilidades mentais?

Ahn, sem problemas.

Ótimo. — Ela se afasta e ele arfa, cansado.

Zane coloca a mochila no ombro e se aproxima de mim, estico a boca em um sorriso falso. Ele olha para a garrafa na minha mão.

Vai ficar segurando para sempre? Joga logo isso fora, deve estar infectada com alguma coisa bem nojenta. — Zane passa os braços pelo meus ombros, me puxando na direção da saída. — E você deve querer lavar as mãos, também.

Ou talvez eu deva passar as mãos em você e te infectar com alguma coisa, aí você não precisaria vir amanhã fazer os outros testes. — Ameaço colocar a mão no seu rosto, mas desisto quando vejo os olhos de Zane quase brilharem de antecipação diante da possibilidade. — Melhor não.

Melhor não. — Ele concorda rindo.

Passamos pela porta de ferro, os quatro soldados que escoltam Zane começam a nos seguir. Eu não sei como Zane aguenta ficar rodeado por vampiros que nem pode ver o rosto, cheios de cerimônia para cima dele. Agora mesmo, um deles se adianta, tomando a nossa frente e erguendo o fuzil. É como se fosse chegar alguém atirando o tempo todo.

Estava pensando, sei que jantamos sempre juntos na sexta e hoje já é quinta, mas seria legal se você fosse em casa para jantar.

Por quê? Você vai cozinhar? — Zane faz uma careta e dúvida. — Acho que você nunca cozinhou na sua vida!

Não seja idiota! — Dou uma cotovelada na costela dele, aborrecida, enquanto andamos pelo pátio em direção aos vestiários. — Eu cozinho muito bem, só não costumo ir para a cozinha. Minha mãe costumava fazer todo o serviço para mim, mas agora terá de ser eu.

Se tá falando do meu pai, com certeza, incapaz de qualquer coisa que envolva uma panela e um fogão.

Acho que consigo fazer essa relação. Devon não parece ter paciência para qualquer coisa que não seja do seu interesse ou que ache que alguém deva fazer para ele, comida, certamente se enquadra na segunda opção.

Estou cansada daquelas latinhas de patê e pensei em fazer algo gostoso, seria bom para nós que você estivesse conosco hoje. Acha que consegue dar um jeito?

Vou tentar. — Zane me mostra um sorriso.

O que você vai tentar? — Lucretia cruza conosco no corredor, ela está sempre por aqui nesse horário, as vezes parece algo combinado, mas acho que é mais pelo fato de que Zane e ela vão embora juntos.

Zane olha para ela.

Estava falando com a Jay que…

Ai, não olhe pra mim, cretino! — Ela coloca as mãos nos olhos e caminha cega em direção ao vestiário.

Lucretia, espere! — Zane me solta e vai atrás dela, entrando no vestiário que é das meninas.

Escuto uns gritinhos assanhados, alguns palavrões e algumas meninas saem correndo pela porta, rindo, chocando-se entre si, cerca de cinco. Duas delas estão apenas de toalhas, segurando suas coisas, uma ruiva robusta com quem sempre cruzo no chuveiro parece bem brava.

Ai, era só o que faltava!

Vou entrar no vestiário mas um dos guardas me interrompe, puxando meu braço, o outro já fecha a porta, me impedindo de vez.

Vocês só podem estar brincando comigo! — Reclamo e puxo o meu braço, para o soldado me soltar.

As meninas de toalha me olham, desamparadas, pingando água. A ruiva tem espuma de shampoo no cabelo.

Vamos usar o dos garotos. — Ela diz, sua voz ronca um pouco.

Mas tem garotos lá. — Reclamo.

Você sabe que eu sou lésbica, certo? — Não sabia, não! — Tirar a roupa na minha frente dá no mesmo. — Ela revira os olhos escuros e marcha para dentro do vestiário masculino.

Juro que mato Zane por essa! Sigo as meninas para o vestiario masculino e deixo que elas entrem na frente.

Opa, dá licença que tamos entrando! Mas nem se preocupa que sou lésbica. — A ruiva anuncia e a morena dá risada.

Alguns chuveiros estão ligados, mas não muitos, acho que três. As meninas soltam suas coisas no banco baixo e comprido de madeira e já se atiram nos primeiros chuveiros. Eu fico morta de vergonha de entrar onde supostamente eu não deveria entrar, mas enfrento a situação. Aproveito que não tem ninguém no corredor para me despir depressa, enrolando meu corpo com a toalha.

Quando passo para o corredor dos chuveiros, dois garotos estão saindo. Fico de bochechas vermelhas e achando que vão me agarrar e me estuprar, mas os dois garotos riem e se abraçam, passando por mim. Ah, ok, menos mal.

Resfolego e de cabeça baixa, meio sem olhar para onde vou, escolho um dos quadrados de ladrinho e entro, soltando a toalha no batente. Ligo o chuveiro, a primeira jateada de água é fria.

Ai que frio! — Resmungo sozinha e me afasto da água, esperando esquentar.

O que aconteceu? — Henri me surpreende no chuveiro ao lado, mas ele não está olhando para mim.

É uma imágem etérea, o vapor da água subindo e ele com a cara enfiada debaixo dágua, limpando o shampoo dos cabelos. Posso ver seu rosto lavado e a água pingando pelo queixo, a forma com que a água respinga de encontro com seus músculos e escorre pelas costas.

Zane aconteceu. — Entro em baixo dágua e me dou conta que esqueci o sabonete. — Ele e Lady Lucretia fecharam o vestiário feminino para uma conversa particular.

Uma conversa?

Foi conotativo. — Explico molhando a cabeça. Em que mundo ele vive?

Ah, sim. Eles fazem muito isso, não é?

São jovens, estão noivos e muito apaixonados. — Faço questão de dar ênfase no “muito”, para que Henri saiba que suas estratégias de separá-los não serão assim tão simples. — Ei, me empresta o seu sabonete? — Estico a mão para o lado, sem olhar para ele.

Ah, claro. — Sinto quando Henri coloca o sabonete molhado e cheio de espuma na minha mão.

Obrigada. — Esfrego o meu corpo depressa.

Dou uma espiada para o lado e Henri está olhando para mim. Ele desvia os olhos na mesma hora, como que surpreendido.

Se está assim tão curioso, pode olhar. — Provoco.

Desculpe. — Ele pede, desligando o chuveiro, sem olhar para mim e virando o rosto até para o outro lado, evitando contato visual.

Por olhar meu corpo ou por me oferecer água infectada?

Ele vira para me encarar, seus olhos intensos de um tom cinza escuro presos no meu. Consigo ler o quanto ele não está surpreso por eu estar enfrentando-o nesse instante. Gosto que consigo causar uma reação nele nesse instante e especialmente, que ele não consiga evitar seus olhos de conferir minhas medidas.

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