Acordei no meio da tarde com o som de batidas suaves na porta. Meu corpo ainda sentia uma leve ardência, um desconforto persistente que denunciava o exagero sob o sol. Me levantei, tirei a toalha e me enrolei no roupão, indo até a porta. Ao abri-la, dei de cara com Ana e Carol, que entraram no quarto com expressões preocupadas. — Henrique falou que você pegou uma insolação — Carol disse, estendendo uma sacola de farmácia. O gesto dela transparecia um carinho que eu sabia ser genuíno. — Está tudo bem, doendo muito? — Ana perguntou, enquanto nos acomodávamos na cama. A atenção delas era confortante, e, por um momento, quase esqueci o incômodo. Baixei um pouco o roupão, expondo a pele que ainda exibia vestígios da vermelhidão. — Estava bem pior mais cedo — expliquei. — Mas Henrique passou um creme que aliviou bastante. Ana arqueou as sobrancelhas, o sorriso provocador aparecendo de imediato. — Interessante… então ele te viu sem roupa? — soltou, e, antes que pudesse me defender, Car
O perfume da Cíntia me invade, e a lembrança do beijo que trocamos ainda está fresca na minha mente. Ela é incrível, doce e tão receptiva que me sinto completamente à vontade ao seu lado. — Não consigo tirar as mãos de você — falo, deixando minhas mãos passearem pelo seu corpo, sentindo a suavidade da pele dela sob meus dedos. — Então não tire — ela responde, e beija meu pescoço com um sorriso que ilumina o ambiente e faz meu coração disparar. A atmosfera ao nosso redor parece eletrificada, e preciso de um pouco mais de privacidade. Não quero dividir esse momento com mais ninguém. — Vamos sair daqui — sugiro, e a ideia de termos um espaço só para nós dois me faz sentir uma onda de expectativa. Ela concorda com um gesto, levantando-se. Eu a sigo, ainda sem acreditar que estamos fazendo isso. A cada passo que damos, meu coração parece mais leve, mais ansioso. O caminho para a área mais isolada é iluminado pela luz suave da lua, e é quase como se o mundo tivesse se reduzido a n
- Acho melhor deixar seu cabelo solto, Cindy. Pra não deixar em evidência a vermelhidão da sua pele. - Ana fala terminando de fazer o último cacho no meu cabelo com o babyliss. Me olho no espelho dando uma olhada na maquiagem e cabelo que a Ana havia arrumado, estava tudo tão lindo. Havíamos pensado em contratar uma cabeleireira e uma maquiadora, mas a Ana fez questão de arrumar o cabelo de todas nós. Então meu quarto tornou-se o lugar onde todas se arrumavam para a festa de casamento que aconteceria em algumas horas. Carol estava sentada em uma poltrona com uma taça de espumante na mão e vestindo um hobbie escrito, “noiva”, todas também estavam com um hobbie de seda enquanto esperávamos a hora de colocar o vestido. - Está lindo, obrigada, Ana. - Falo me levantando da cadeira, para que ela possa fazer o cabelo da Carmem agora. Caminho até o aparador onde estava disposta algumas taças de espumante e pego uma taça, levando o líquido a boca. Eu estava muito dispersa pensando na
Depois de uma cerimônia linda e emocionante, seguimos para o espaço de festa reservado. Era uma estrutura ao ar livre com vista para uma praia de tirar o fôlego. A noite estava clara, a lua cheia iluminava o cenário, e as ondas quebrando ao longe traziam uma tranquilidade que contrastava com as emoções que eu sentia. Assim que chegamos, Henrique se aproxima, tocando levemente minha cintura. O gesto é breve, quase imperceptível, mas suficiente para causar um arrepio inesperado. — Como você está? — ele pergunta, e sua voz soa próxima, baixa, como se o tom suave fosse só para mim. Eu sabia que não poderia evitar Henrique para sempre, mas o desejo que ele despertava em mim era algo que eu mal conseguia disfarçar. Minha mente parecia se embaralhar quando ele estava por perto. — Você está incrível — ele comenta, e um sorriso sincero ilumina seu rosto. — E sua pele está visivelmente melhor. — Ele hesita por um segundo antes de acrescentar, em um tom mais sério: — Sinto que está me evitan
A festa havia durado até metade da madrugada, mas eu já estava de pé bem cedo, pronta para retornar a Minas Gerais. Algumas pessoas ainda passariam alguns dias na ilha, mas eu precisava regressar para casa. Ana e Felipe também iriam comigo, já que ele precisava voltar para a vinícola e ela para o ateliê, enquanto Carol passaria alguns dias em lua de mel com Fernando. — Cíntia, se achar necessário, posso pedir uma medida protetiva para você — disse Henrique, com a voz firme e os olhos presos nos meus, revelando uma preocupação que ele tentava disfarçar. Henrique estava me orientando sobre como proceder na volta para Minas, mantendo a postura profissional que eu mesma pedi. Mesmo assim, era estranho vê-lo tão sério, distante. — Não acho necessário — respondi, tentando aliviar o tom. Eu havia sido casada com Alonso por sete anos. Sabia muito bem do que ele era capaz e agressão, definitivamente, não era uma delas. Ele me insultara da última vez que esteve na fazenda, mas eu sabia
No dia seguinte, o Alonso havia aparecido na fazenda no horário de almoço, mas eu já estava preparada, ele havia mesmo cumprido o que tinha dito, que ele retornaria no dia seguinte. Eu precisava que ele mantivesse distância, ou precisaria sair da fazenda. - Cintia, será que podemos conversar? - Alonso pergunta olhando para o Henrique. Eu havia contado para o Henrique que o Alonso estava aqui quando cheguei de viagem ontem a noite com a Ana e o Felipe, então ele veio para cá e chegou há poucos momentos, timming perfeito. A audiência de conciliação seria amanhã, eu precisava que as coisas fossem resolvidas de forma amigável, caso contrário, o juíz quem bateria o martelo sobre todas as decisões, divórcio e bens. Eu respirei fundo e olhei para o Alonso. A determinação que eu sentia se misturava com uma pitada de apreensão. Queria que essa conversa fosse definitiva, mas não estava certa de que ele estava disposto a colaborar. Ao meu lado, Henrique mantinha uma postura firme, cru
Eu não sabia se estava pronta para aquilo, mas sabia que precisava encarar. Alonso estava à minha frente, o olhar cheio de algo que eu não reconhecia mais, um misto de arrependimento e frustração. Ele parecia diferente agora, menos imponente, quase vulnerável.Depois de tudo o que passamos, vê-lo dessa forma era desconcertante.Ele pigarreou, como se procurasse as palavras certas, e, por um instante, hesitou antes de falar. Eu já havia presenciado esse silêncio dele antes, mas dessa vez havia um peso diferente.— Cíntia… — ele começou, a voz falhando um pouco. — Eu pensei muito sobre tudo que aconteceu entre nós. Sobre o que eu fiz… e sobre o que deixei de fazer. Eu sei que dizer isso agora talvez não conserte nada, mas… me arrependo. Me arrependo de ter sido tão egoísta, de ter te machucado. E eu sinto muito. — Ele parou, o olhar baixo, como se não conseguisse me encarar.Minhas mãos se apertaram sobre o colo, e eu tentei manter uma expressão neutra, mas era difícil. Eu sempre imagin
Depois que formalizamos o divórcio, Cíntia saiu da sala com o rosto firme, como se tentasse manter a compostura. Mas, ao encontrar Carol e Ana do lado de fora, desmoronou, caindo em prantos nos braços delas. Aquele desabafo me atingiu de uma forma que eu não esperava.Eu já havia conduzido muitos divórcios difíceis, mas esse, sem dúvidas, foi um dos mais complicados, porque eu havia me envolvido emocionalmente com a minha cliente . Tentei oferecer a ela todo o apoio possível, mas confesso que me incomodava o quanto Alonso ainda a afetava, mesmo depois de tudo. Ainda assim, era impossível não me solidarizar com o que ela sentia. Sete anos ao lado de alguém não se apagam assim, e agora, ela estava colocando uma pedra sobre uma parte significativa da vida.Com o divórcio formalizado, entendi que precisava sair de cena. Por mais que meu pensamento estivesse consumido pelos momentos que compartilhamos em Noronha e pelo que sentia por ela, eu tinha que voltar para São Paulo. Gostava dela ma