A festa havia durado até metade da madrugada, mas eu já estava de pé bem cedo, pronta para retornar a Minas Gerais. Algumas pessoas ainda passariam alguns dias na ilha, mas eu precisava regressar para casa. Ana e Felipe também iriam comigo, já que ele precisava voltar para a vinícola e ela para o ateliê, enquanto Carol passaria alguns dias em lua de mel com Fernando. — Cíntia, se achar necessário, posso pedir uma medida protetiva para você — disse Henrique, com a voz firme e os olhos presos nos meus, revelando uma preocupação que ele tentava disfarçar. Henrique estava me orientando sobre como proceder na volta para Minas, mantendo a postura profissional que eu mesma pedi. Mesmo assim, era estranho vê-lo tão sério, distante. — Não acho necessário — respondi, tentando aliviar o tom. Eu havia sido casada com Alonso por sete anos. Sabia muito bem do que ele era capaz e agressão, definitivamente, não era uma delas. Ele me insultara da última vez que esteve na fazenda, mas eu sabia
No dia seguinte, o Alonso havia aparecido na fazenda no horário de almoço, mas eu já estava preparada, ele havia mesmo cumprido o que tinha dito, que ele retornaria no dia seguinte. Eu precisava que ele mantivesse distância, ou precisaria sair da fazenda. - Cintia, será que podemos conversar? - Alonso pergunta olhando para o Henrique. Eu havia contado para o Henrique que o Alonso estava aqui quando cheguei de viagem ontem a noite com a Ana e o Felipe, então ele veio para cá e chegou há poucos momentos, timming perfeito. A audiência de conciliação seria amanhã, eu precisava que as coisas fossem resolvidas de forma amigável, caso contrário, o juíz quem bateria o martelo sobre todas as decisões, divórcio e bens. Eu respirei fundo e olhei para o Alonso. A determinação que eu sentia se misturava com uma pitada de apreensão. Queria que essa conversa fosse definitiva, mas não estava certa de que ele estava disposto a colaborar. Ao meu lado, Henrique mantinha uma postura firme, cru
Eu não sabia se estava pronta para aquilo, mas sabia que precisava encarar. Alonso estava à minha frente, o olhar cheio de algo que eu não reconhecia mais, um misto de arrependimento e frustração. Ele parecia diferente agora, menos imponente, quase vulnerável.Depois de tudo o que passamos, vê-lo dessa forma era desconcertante.Ele pigarreou, como se procurasse as palavras certas, e, por um instante, hesitou antes de falar. Eu já havia presenciado esse silêncio dele antes, mas dessa vez havia um peso diferente.— Cíntia… — ele começou, a voz falhando um pouco. — Eu pensei muito sobre tudo que aconteceu entre nós. Sobre o que eu fiz… e sobre o que deixei de fazer. Eu sei que dizer isso agora talvez não conserte nada, mas… me arrependo. Me arrependo de ter sido tão egoísta, de ter te machucado. E eu sinto muito. — Ele parou, o olhar baixo, como se não conseguisse me encarar.Minhas mãos se apertaram sobre o colo, e eu tentei manter uma expressão neutra, mas era difícil. Eu sempre imagin
Depois que formalizamos o divórcio, Cíntia saiu da sala com o rosto firme, como se tentasse manter a compostura. Mas, ao encontrar Carol e Ana do lado de fora, desmoronou, caindo em prantos nos braços delas. Aquele desabafo me atingiu de uma forma que eu não esperava.Eu já havia conduzido muitos divórcios difíceis, mas esse, sem dúvidas, foi um dos mais complicados, porque eu havia me envolvido emocionalmente com a minha cliente . Tentei oferecer a ela todo o apoio possível, mas confesso que me incomodava o quanto Alonso ainda a afetava, mesmo depois de tudo. Ainda assim, era impossível não me solidarizar com o que ela sentia. Sete anos ao lado de alguém não se apagam assim, e agora, ela estava colocando uma pedra sobre uma parte significativa da vida.Com o divórcio formalizado, entendi que precisava sair de cena. Por mais que meu pensamento estivesse consumido pelos momentos que compartilhamos em Noronha e pelo que sentia por ela, eu tinha que voltar para São Paulo. Gostava dela ma
Os meses foram passando, e a dor em mim, aos poucos, ia se aplacando. Não era o divórcio do homem que me traiu que me feria, mas o divórcio do homem com quem eu havia compartilhado anos de história, o homem que segurou minha mão nas alegrias e nas dores. A ferida doía porque o homem que me traiu e o homem com quem me casei eram, no final, a mesma pessoa. Depois disso, comecei a sofrer por cada minuto que investi nesse amor, por todo o tempo que jamais voltaria. Dinheiro era uma coisa que poderia ser recuperada, mas o tempo, era algo que jamais poderia recuperar. Em um fim de tarde, enquanto eu olhava o céu começar a mudar de cor, Carol surgiu ao meu lado, trazendo-me de volta à realidade com um convite inesperado. Minhas amigas ao meu lado estavam tornando tudo isso mais leve de ser carregado. – Tenho que resolver algumas coisas em São Paulo… Vamos comigo, Cindy? – perguntou ela, com um sorriso encorajador. Olhei para ela, hesitante. Parte de mim queria recusar, continuar aqui,
Olá, queridas🫶🏼 Os comentários são muito importantes para o autor ter uma noção do que o leitor está achando do livro, de qual direcionamento seguir… eu sinto falta das interações de vocês nos capítulos. Quem puder estar sempre comentando, me ajudaria muito, eu adoro ver o que estão achando da história. Obrigada pela leitura de vocês;) ❤️
Na manhã seguinte, quando saí do meu quarto, encontrei Carol mexendo no celular. Ela tentou disfarçar, mas a curiosidade estava estampada no rosto. Sabia que ela estava super interessada em saber o que estava acontecendo entre mim e Henrique. — Vocês vão só tomar um café? — Carol perguntou sem desviar os olhos da tela. — Sim? — respondi, pegando minha bolsa e me preparando para sair. A pergunta dela soou mais como uma provocação do que uma dúvida, e não pude deixar de sorrir discretamente. — Tenha um bom dia, querida. Aproveite, não tem nada prendendo você. — Carol disse, com um sorriso ligeiramente travesso. Ela me deu uma piscadinha antes de eu sair e entrar no elevador. Senti um calorzinho no rosto, mas a sensação de estar sendo observada de uma forma tão descomplicada me fez sorrir. Talvez ela soubesse exatamente o que eu precisava naquele momento. Quando as portas do elevador se abriram, ali estava Henrique, encostado no carro, esperando. Ele parecia tranquilo, mas o sorriso
O escritório onde Henrique trabalhava com o pai ficava perto da cafeteria onde havíamos tomado café. Era um prédio grande, moderno e imponente, localizado em um dos bairros comerciais mais movimentados de São Paulo. Ao redor, havia outros prédios similares, com fachadas de vidro e concreto, abrigando escritórios, construtoras e agências de todo tipo. A movimentação na calçada refletia o ritmo acelerado da cidade; pessoas de terno e salto alto apressavam-se entre reuniões e compromissos. Assim que entrei no edifício, senti um alívio discreto pela minha escolha de roupa. As mulheres ali estavam impecáveis, usando trajes sociais que misturavam elegância e profissionalismo. Meus olhos percorreram o ambiente ao notar alguns olhares curiosos, e sorri comigo mesma ao pensar que meu vestido havia sido uma escolha acertada. Era um vestido de corte reto, na altura dos joelhos, de um tom suave de azul que, ao mesmo tempo, transmitia leveza e seriedade. Com Henrique ao meu lado eu me sentia t