Assim que Henrique saiu, a porta se fechou suavemente atrás dele, e o silêncio envolveu a sala. O ar ainda estava carregado da intensidade daquele beijo, e, por um momento, fiquei ali, absorvendo cada detalhe ao meu redor, como se a sala fosse uma extensão da presença dele. Caminhei até a enorme janela de vidro e observei a vista da cidade, a movimentação lá fora contrastando com o acolhimento que sentia ali dentro. Tudo parecia tão controlado, tão estruturado. Era como se aquele lugar representasse a segurança que Henrique trazia para a minha vida, algo que eu jamais imaginava sentir tão cedo, tão pouco tempo após tudo o que enfrentei. Desviei o olhar para o canto da sala e notei uma prateleira onde estavam alguns porta-retratos. Havia uma foto dele ao lado do pai em uma cerimônia de formatura, ambos sorrindo, e outra de uma viagem, com Henrique parecendo mais jovem, talvez nos primeiros anos de carreira. O semblante de determinação já estava lá, ainda que com um toque de juventude
No dia seguinte, enquanto ajudava Carol no ateliê, minha mente ainda passeava pelas lembranças do dia anterior. Henrique foi gentil, cuidadoso… Sua presença me trouxe uma tranquilidade inesperada. Ele me levou para conhecer um museu, mostrando cada detalhe das exposições com entusiasmo, como se quisesse me apresentar uma nova perspectiva da cidade. Depois, almoçamos em um restaurante pequeno e charmoso, onde ele insistiu em me deixar escolher o prato, dizendo que “aquele almoço era meu momento.” Eu havia adorado conhecer São Paulo ao seu lado, e enquanto ajustava um tecido na mesa de costura, percebi que sorria sozinha, perdida nos detalhes do dia. - Você está só suspiros, Cindy. - Carol diz cortando o tecido que eu ajeitei na mesa. - Estou feliz, sentindo bem de verdade. Acho que eu precisava sair um pouco da fazenda pra ver que existe vida. Carol sorriu, dando um leve empurrãozinho em meu ombro. — E essa vida tem nome e sobrenome? — brincou, sem disfarçar a curiosidade.
Após o jantar, mesmo com o clima de celebração e as conversas descontraídas ao redor da mesa, Carol parecia mais reclusa. Ela estava concentrada no celular, o brilho da tela iluminando seu rosto pensativo. Eu me aproximo, sentindo que algo não estava bem. — Está tudo bem, Carol? — pergunto, me sentando ao lado dela. — Aconteceu alguma coisa em Minas, com o Pedro ou o Fernando? Ela ergue os olhos para mim, sua expressão suavizando ao perceber minha preocupação. — Não, querida. Está tudo bem com eles. É só um problema com um pedido de tecido para o ateliê de BH. A Ana acabou de me informar — ela diz, soltando um suspiro enquanto bloqueia o celular e o coloca na mesa. — Nós estávamos contando com esses tecidos para iniciar a nova coleção. Faço um gesto solidário com a cabeça, compreendendo o peso de sua responsabilidade. — Podemos fazer alguma coisa? — ofereço, inclinando-me levemente em sua direção, mas Carol já balança a cabeça, indicando que não. — Infelizmente, não. Vou ter qu
Minhas pernas se ajustam de cada lado dele, meu vestido subindo com o movimento, e suas mãos imediatamente seguram minha cintura, os dedos apertando com força suficiente para me fazer arfar. O olhar de Henrique está fixo em mim, quente e faminto, como se tentasse absorver cada detalhe do momento. — Cintia… — Ele começa, mas não consegue terminar. Em vez disso, nossas bocas se encontram novamente, o beijo carregado de toda a tensão que acumulamos durante o trajeto. Minhas mãos deslizam por seus ombros, depois por sua nuca, puxando-o para mais perto enquanto seus lábios descem pelo meu queixo até o pescoço. O calor de sua respiração contra minha pele me faz estremecer, e eu me perco completamente na sensação de tê-lo tão perto. Henrique solta uma risada baixa, quase ofegante, entre os beijos. — Isso não vai terminar aqui, Cintia. — Sua voz é grave, repleta de uma promessa implícita. — Então, o que estamos esperando? — Provoco, passando meus dedos pelo cabelo dele, enquanto o aperto
— Até tentei começar a preparar algo para comermos, mas, com a ligação de trabalho, acabei ficando sem tempo. — Henrique diz, seu tom de voz leve, mas com um toque de descontração.Eu sorrio, observando-o enquanto ele mexe os ovos que quebrou na frigideira. Há algo no jeito dele que, de algum modo, me atrai. Ele é tão seguro de si, mas sem ser arrogante. E, apesar de estarmos apenas em uma cozinha, essa simples cena me faz sentir que há algo mais. Algo que nem a distância ou o tempo podem apagar.— Deixe-me te ajudar, então. — Falo, já me levantando, pronta para me mover em direção à bancada.Henrique me impede com um gesto suave, e seu olhar se encontra com o meu de forma intensa. Ele me observa por um momento, como se estivesse decidindo se deveria dizer o que está realmente pensando.— De jeito nenhum! Quero que você fique aí, sentada, sendo bonita, vestida com a minha blusa… — Ele sorri, os olhos brilhando com um tipo de cumplicidade que me faz sentir uma onda de calor subir pelo
Eu respiro fundo, permitindo que as palavras de Carol reverberem. Parte de mim quer acreditar no que ela diz, mas a outra parte, a mais machucada, ainda insiste em se proteger. — É fácil falar, Carol. Mas e se ele perceber que eu sou… complicada demais? Que minha bagagem é um peso que ele não quer carregar? Carol balança a cabeça, quase impaciente. — E se ele perceber que você é a mulher incrível que eu vejo? Que tem força pra reconstruir sua vida e, ainda assim, consegue abrir espaço pra sentir de novo? — Ela me encara, os olhos determinados. — Você acha que ele teria se esforçado tanto pra estar com você se não te enxergasse assim? Eu desvio o olhar, mordendo o lábio inferior. Talvez ela tenha razão, mas é difícil confiar. Difícil soltar o medo. — Só que eu não quero criar expectativas e depois descobrir que ele não quer a mesma coisa que eu. — Confesso, minha voz mais baixa. Carol estende a mão e segura a minha, apertando levemente. — Ninguém quer isso, Cíntia. Mas, às vezes
Eu ainda estava processando as palavras de Henrique quando ele respirou fundo, soltando minha mão com delicadeza. Ele recostou-se na cadeira, como se precisasse criar um pouco de distância entre nós para organizar os pensamentos. Mas seu olhar não desviou do meu, e ali havia algo novo. Não era impaciência, mas um limite silencioso que ele parecia estar estabelecendo. — Cíntia, quero ser honesto com você. — Sua voz estava baixa, mas firme. — Eu quero isso. Quero você. Mas não posso ignorar que já estive aqui antes. A menção velada ao passado, à Carol, estava ali, mesmo que ele não a nomeasse. Não era uma ameaça, mas um lembrete de que ele também tinha feridas que carregava. — Já sei como é dar tudo de mim, me esforçar para fazer algo funcionar, só para perceber que, no final, eu era o único lutando. — Ele fez uma pausa, os olhos escurecendo com uma lembrança distante. — Não quero passar por isso de novo. As palavras dele caíram sobre mim como uma verdade difícil de ignorar. E en
— Cíntia, dê uma olhada nesses azulejos para mim. Estava pensando em colocá-los na piscina. O que acha? Estava de volta a Minas há alguns dias. Retomar a rotina de trabalho tinha sido como respirar depois de passar muito tempo submersa. O novo contrato que fechei era um projeto ambicioso: decorar e planejar os acabamentos de uma casa que estava sendo construída do zero. Um jovem casal de Belo Horizonte havia confiado a mim a tarefa de transformar o espaço em algo funcional e sofisticado. Eu passaria meses nesse projeto, entre visitas à obra, escolhas de materiais e reuniões para alinhar ideias. Era o tipo de trabalho que me desafiava, e eu precisava disso. Era como se cada decisão criativa que eu tomava ajudasse a cimentar não apenas a casa deles, mas também a minha reconstrução pessoal. — Esses aqui são lindos, mas talvez seja melhor optar por algo com acabamento antiderrapante. Piscinas precisam de segurança e estilo, lembra? — Respondi, segurando as amostras de azulejos e analis