— Até tentei começar a preparar algo para comermos, mas, com a ligação de trabalho, acabei ficando sem tempo. — Henrique diz, seu tom de voz leve, mas com um toque de descontração.Eu sorrio, observando-o enquanto ele mexe os ovos que quebrou na frigideira. Há algo no jeito dele que, de algum modo, me atrai. Ele é tão seguro de si, mas sem ser arrogante. E, apesar de estarmos apenas em uma cozinha, essa simples cena me faz sentir que há algo mais. Algo que nem a distância ou o tempo podem apagar.— Deixe-me te ajudar, então. — Falo, já me levantando, pronta para me mover em direção à bancada.Henrique me impede com um gesto suave, e seu olhar se encontra com o meu de forma intensa. Ele me observa por um momento, como se estivesse decidindo se deveria dizer o que está realmente pensando.— De jeito nenhum! Quero que você fique aí, sentada, sendo bonita, vestida com a minha blusa… — Ele sorri, os olhos brilhando com um tipo de cumplicidade que me faz sentir uma onda de calor subir pelo
Eu respiro fundo, permitindo que as palavras de Carol reverberem. Parte de mim quer acreditar no que ela diz, mas a outra parte, a mais machucada, ainda insiste em se proteger. — É fácil falar, Carol. Mas e se ele perceber que eu sou… complicada demais? Que minha bagagem é um peso que ele não quer carregar? Carol balança a cabeça, quase impaciente. — E se ele perceber que você é a mulher incrível que eu vejo? Que tem força pra reconstruir sua vida e, ainda assim, consegue abrir espaço pra sentir de novo? — Ela me encara, os olhos determinados. — Você acha que ele teria se esforçado tanto pra estar com você se não te enxergasse assim? Eu desvio o olhar, mordendo o lábio inferior. Talvez ela tenha razão, mas é difícil confiar. Difícil soltar o medo. — Só que eu não quero criar expectativas e depois descobrir que ele não quer a mesma coisa que eu. — Confesso, minha voz mais baixa. Carol estende a mão e segura a minha, apertando levemente. — Ninguém quer isso, Cíntia. Mas, às vezes
Eu ainda estava processando as palavras de Henrique quando ele respirou fundo, soltando minha mão com delicadeza. Ele recostou-se na cadeira, como se precisasse criar um pouco de distância entre nós para organizar os pensamentos. Mas seu olhar não desviou do meu, e ali havia algo novo. Não era impaciência, mas um limite silencioso que ele parecia estar estabelecendo. — Cíntia, quero ser honesto com você. — Sua voz estava baixa, mas firme. — Eu quero isso. Quero você. Mas não posso ignorar que já estive aqui antes. A menção velada ao passado, à Carol, estava ali, mesmo que ele não a nomeasse. Não era uma ameaça, mas um lembrete de que ele também tinha feridas que carregava. — Já sei como é dar tudo de mim, me esforçar para fazer algo funcionar, só para perceber que, no final, eu era o único lutando. — Ele fez uma pausa, os olhos escurecendo com uma lembrança distante. — Não quero passar por isso de novo. As palavras dele caíram sobre mim como uma verdade difícil de ignorar. E en
— Cíntia, dê uma olhada nesses azulejos para mim. Estava pensando em colocá-los na piscina. O que acha? Estava de volta a Minas há alguns dias. Retomar a rotina de trabalho tinha sido como respirar depois de passar muito tempo submersa. O novo contrato que fechei era um projeto ambicioso: decorar e planejar os acabamentos de uma casa que estava sendo construída do zero. Um jovem casal de Belo Horizonte havia confiado a mim a tarefa de transformar o espaço em algo funcional e sofisticado. Eu passaria meses nesse projeto, entre visitas à obra, escolhas de materiais e reuniões para alinhar ideias. Era o tipo de trabalho que me desafiava, e eu precisava disso. Era como se cada decisão criativa que eu tomava ajudasse a cimentar não apenas a casa deles, mas também a minha reconstrução pessoal. — Esses aqui são lindos, mas talvez seja melhor optar por algo com acabamento antiderrapante. Piscinas precisam de segurança e estilo, lembra? — Respondi, segurando as amostras de azulejos e analis
Henrique Eu estava de volta a Belo Horizonte. A cidade sempre teve um certo charme para mim, com suas montanhas que pareciam abraçar os prédios e aquele ar de nostalgia que vinha com o sotaque mineiro. Desta vez, porém, não era apenas o trabalho que me trazia aqui. Havia uma certa quantidade de clientes que agora precisavam da minha presença na cidade ocasionalmente. Meu pai e eu decidimos que talvez fosse hora de expandir os negócios, abrir um escritório por aqui e aproveitar o mercado em crescimento. Uma decisão lógica, mas, no fundo, eu sabia que havia mais. Não tinha avisado a Cíntia que viria. Talvez fosse o desejo de surpreendê-la, talvez ainda estivesse tentando entender em que pé estávamos. — Henrique, podemos dar uma olhada nos apartamentos que você está interessado e nos prédios comerciais para a instalação do novo escritório. — A voz firme de Sabrina interrompeu meus pensamentos assim que entramos na recepção do hotel. — Não temos nada agendado para hoje. Talvez vo
Cintia Henrique estava lá, eu não sabia que ele estava lá dentro do escritório da Carol, ela tentou me alertar gesticulando e me cortando, mas eu não entendia o que ela estava querendo dizer. Então o Henrique saiu do escritório parecendo muito decepcionado, e se dirigiu até mim com frieza. Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo, em nenhum momento quis dizer que não gostava dele, mas talvez eu não tenha feito a melhor escolha de palavras. — Henrique, espera… — Tentei dizer algo, mas ele já havia dado um passo para trás, como se o impacto do que ouviu tivesse empurrado toda a nossa conexão para longe. O que eu tinha feito? — Acho que já ouvi o suficiente, Cíntia. — Ele cortou, a voz grave, mas controlada, do jeito que ele sempre era quando queria esconder que estava magoado. Ele se virou e saiu antes que eu pudesse sequer reagir. Meu peito parecia comprimido, como se faltasse ar. A porta do ateliê se fechou atrás dele, e o som ecoou como uma despedida. Carol, que
Quando cheguei ao café no horário combinado, Henrique já estava lá. Ele olhava pela janela, o rosto sério e pensativo, como alguém que já sabia exatamente o que precisava dizer. — Olá — falei ao me sentar à sua frente. — Cíntia — ele respondeu, educado, mas sem aquele calor que eu conhecia. O silêncio entre nós era quase palpável, pesado. Respirei fundo, reunindo coragem para falar. — Antes de tudo, eu queria te agradecer por ter vindo. Eu sei que… que as coisas ficaram confusas, e sinto muito pelo que aconteceu. Henrique inclinou levemente a cabeça, seus olhos encontrando os meus. — Confusas é uma forma de colocar — ele disse, a voz firme, mas sem hostilidade. Engoli em seco. Não seria fácil, mas ele tinha razão em me cobrar clareza. — O que você ouviu no ateliê não foi justo. Eu não queria que soasse daquele jeito. — E como deveria ter soado? — ele perguntou, direto, me desarmando. Por um momento, fiquei sem palavras. Não porque eu não soubesse o que sentia, mas
No fim de semana, Carol e Fernando nos convidaram para uma noite de vinho no sítio. Carol, antecipando minha reação, mencionou que havia chamado Henrique também. Ele ainda estava na cidade e poderia aparecer. Tentei manter a calma, mas era impossível ignorar o efeito que a presença dele tinha sobre mim. Mesmo assim, decidi me preparar para a noite. Fiz uma torta de morango, pensando que seria uma boa contribuição para o jantar. Felipe e Ana haviam ido na frente, enquanto eu terminava os últimos detalhes da sobremesa. Assim que finalizei, coloquei a torta no carro e parti em direção ao sítio, tentando me convencer de que seria apenas mais uma noite tranquila. Assim que cheguei no sítio, estacionei minha caminhonete ao lado do carro do Felipe, peguei a torta e desci do carro. Entrei dentro da casa e segui as risadas que vinham da cozinha. Assim que entrei no entanto, fui surpreendida não apenas pela presença do Henrique, mas uma mulher estava ao seu lado. - Cindy, que bom que ch