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capítulo 03: tem algo errado aqui

Já estava ficando exausta de ficar naquela sala apertada, e conforme o barco balançava meu estômago se revirava.

Eu estava decidida a sair.

Abri lentamente a porta e dei de cara com dois homens que estavam me vigiando.

-- eu gostaria de sair. -- eles se olharam e nada disseram.

-- por favor já estou exausta de ficar aqui e além do mais... não há como eu fugir.

Eles continuaram se encarando, como se estivessem pensando se era ou não uma boa ideia.

Eu bufei já nervosa e sentindo um vômito iminente, passei por eles correndo. Eles tentaram me agarrar, mas rapidamente eu subi para cima.

O brilho do sol quase me deixou cega, os diversos marujos me encararam confusos. Eu apenas passei por eles e corri até a borda do barco, vomitando tudo o que havia comido.

Quando eu reabri os olhos, meu coração parecia estar saindo por minha garganta. Eu não acreditava no que estava vendo, o mar tão grande, imenso e azul.

Eu quase caí para fora do barco, quando senti a mão dele me segurando pela cintura.

Ele se aproximou gentilmente e segurou meus cabelos.

-- pode vomitar mais se quiser. -- ele falou de uma forma tão amável.

Eu ainda sentia o estômago embrulhado, mas a visão daquele vasto mundo azul me deixou em transe.

Eu sentia que iria cair para fora do barco, quando ele soltou meus cabelos e se aproximou um pouco mais ficando atrás de mim.

Lentamente ele tocou meus braços, descendo até minhas mãos. Me apoiando na borda.

-- você não vai cair, não se não quiser. Apenas... respire e segure firme. -- sua voz suou tão baixa em meu ouvido, que me deixou arrepiada. Mas eu desviei minha atenção disso e segui suas instruções, segurando fortemente na borda. Eu respirei fundo, sentindo aquele frescor salgado invadindo meus pulmões e abri um sorriso. Aquilo não parecia real, em meio a todo aquele caos, aquilo parecia um sonho.

Ele saiu de trás de mim e ficou ao meu lado, fitando o mar.

Eu nem mesmo havia notado que nuvens carregadas haviam coberto o sol.

-- é tão bonito.

-- tudo é bonito para quem vivia em uma prisão. -- eu engoli em seco e olhei para ele. Aquilo não deixava de ser verdade.

-- quero um outro vestido, esse... está fedido e muito sujo. -- ele me fitou de cima a baixo e deu de ombros.

-- faça como quiser. -- eu o encarei, havia algo estranho em seu olhar. Mas eu não sabia o que era.

-- quando você disse que teve uma ideia em relação a mim, o que quis dizer?  -- ele continuou a olhar para o horizonte.

-- digamos que eu não sou o maior fã da pessoa que me contratou para levá-la até ele. -- havia pesar e ódio em sua voz.

-- mas você aceitou o pedido dele, aceitou me sequestrar!

-- não está errada.

-- e por quê está mudando de ideia? -- ele olhou de relance para mim.

-- você é importante demais, e além do mais... eu posso usá-la para conseguir o que quero. -- eu franzi o cenho.

-- e o que você quer?

-- liberdade. -- eu continuei a olhar para ele, havia algo de muito estranho nessa história.

Lentamente o sol foi surgindo no céu novamente, ele engoliu em seco e se afastou rapidamente da proa do barco.

-- não salte do barco, eu não irei pular na água para salvá-la. -- e logo ele desapareceu, eu ainda estava aflita e nervosa com meu futuro. Mas por um instante, eu esqueci de tudo enquanto olhava para o horizonte.

                      ****

Eu encontrei um vestido azul escuro, que ficava muito apertado e abafado naquela situação. Então cortei um pouco embaixo, aquilo parecia muito inadequado. Mas eu não morreria de calor.

Eu estava andando pelos corredores do barco, quando ouvi uma conversa em uma sala ao meu lado. Parei por um instante e tentei ouvir aquele assunto.

-- estamos próximos do porto das uvas, o que faremos quando atracarmos? -- um homem rouco questionou.

-- tem um assunto pendente que preciso resolver, deixe tudo pronto. -- Julian ordenou. O homem assentiu, eu saí rapidamente dali.

Então estávamos próximos de uma parada? Aquela era minha chance de fugir.

Eu andei um pouco mais pelos corredores, e avistei uma sala mais para baixo. Como um compartimento secreto, lentamente eu desci até lá.

Parecia que alguém havia acabado de sair dali.

Havia uma grande porta preta, e tinha um cheiro ruim. Além do fato de ser muito escuro.

Eu abri a porta lentamente, e meu coração quase saiu pela boca com a cena que vi.

Havia sangue espalhado por todo o chão, e até mesmo vísceras.

Eu tapei o nariz, e entrei um pouco mais para dentro.

Quando olhei para frente, eu arregalei os olhos. Haviam inúmeras cabras presas em correntes. Todas estripadas. E sem nenhum sangue no corpo. Eu ouvi um barulho estranho, e apenas sai correndo. Que tipo de monstro faria aquilo? Aquelas cabras com certeza não estavam sendo preparadas para servir de alimentos, havia algo comendo aqueles animais, bebendo todo o seu sangue.

                        ****

Eu estava naquela pequena sala, ainda confusa com o que eu havia visto. Quando ele adentrou, eu me sobressaltei. Será que ele sabia daquilo?

-- venha. -- eu estremeci.

-- para onde?

-- seu quarto. -- engoli em seco.

Lentamente eu me pus de pé e andei até ele, quando saímos do quarto ele me levou pelo corredor e paramos em uma sala a esquerda. Ele abriu a porta e logo eu adentrei, com ele em seguida. Havia uma grande cama de casal preparada, e um grande banquete.

Ele passou por mim, e puxou a cadeira para mim. Eu estremeci, mas logo me aproximei e sentei. Ele logo em seguida, enquanto me servia.

-- coma. -- ele pôs o prato para mim, enquanto me encarava.

Eu peguei sem demora, e comecei a engolir a comida.

-- você não deveria ser tão bisbilhoteira. -- eu quase desmaiei.

-- eu... eu...

-- ficar ouvindo atrás das portas é uma coisa muito feia de uma princesa fazer, Ravena. -- eu respirei aliviada, não era tão grave como pensava.

-- eu queria saber sobre o que era a conversa. -- ele me fitava tão intensamente, parecia que ele lia meus pensamentos.

-- está pensando em fugir quando chegarmos ao porto das uvas? -- eu nada disse. Ele abriu um sorriso de canto.

-- as pessoas de lá detestam a realeza, acredite em mim! Imagine só se virem uma mocinha tão inocente como você, não vai querer saber o que acontece. -- eu me enrijece onde estava.

-- eu não pensei nisso.

-- ah não?

-- não. -- ele me olhava nos olhos, e eu retribui seu gesto.

Ele abriu um sorriso de canto, e aquela covinha surgiu. Eu tinha certeza que ele era o tipo de homem que tinha a mulher que quisesse, quando quisesse.

-- não tente nenhuma gracinha, ou terá consequências. -- eu senti vontade de chorar.

-- e você quer que eu fique parada? Sem fazer nada quando eu nem mesmo sei quem você é! Ou o que pretende fazer comigo? Por que eu faria isso? -- ele não se moveu, apenas me encarava.

-- o modo como você fala, demonstra como você nunca teve direito de falar ou se expressar! Isso deve ser tão triste. -- meus olhos arderam.

-- VOCÊ NÃO SABE DE NADA SEU BRUTAMONTES!

eu me levantei furiosa, e acabei machucando minha mão com o garfo que estava ao lado do meu prato. Derramando um pouco de sangue do meu dedo.

Eu mal senti dor, mas quando olhei para Julian parecia que eu havia cortado todo o meu braço.

Ele se levantou com uma velocidade anormal, e andou até mim rapidamente.

Seus olhos estavam vidrados no meu dedo, no sangue que pingava lentamente.

Ele me puxou pela cintura, e segurou minha mão. Ele encarava meu dedo com tanta intensidade, ele nem parecia respirar.

-- Julian? -- sua garganta oscilou, ele parecia estar se forçando.

Ele soltou minha mão e seus olhos se fixaram em mim.

Ele me apertou contra seu corpo, e me beijou.

Sua língua adentrou em minha garganta, enquanto eu sentia seu corpo quente. E seu coração acelerado.

Seus dentes se chocaram contra os meus, ele estava feroz. Mas o beijo acabou tão rápido quanto começou, ele me afastou e saiu correndo do quarto. Me deixando estática e ofegante.

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