Já estava ficando exausta de ficar naquela sala apertada, e conforme o barco balançava meu estômago se revirava.
Eu estava decidida a sair.Abri lentamente a porta e dei de cara com dois homens que estavam me vigiando.-- eu gostaria de sair. -- eles se olharam e nada disseram.-- por favor já estou exausta de ficar aqui e além do mais... não há como eu fugir.Eles continuaram se encarando, como se estivessem pensando se era ou não uma boa ideia.Eu bufei já nervosa e sentindo um vômito iminente, passei por eles correndo. Eles tentaram me agarrar, mas rapidamente eu subi para cima.O brilho do sol quase me deixou cega, os diversos marujos me encararam confusos. Eu apenas passei por eles e corri até a borda do barco, vomitando tudo o que havia comido.Quando eu reabri os olhos, meu coração parecia estar saindo por minha garganta. Eu não acreditava no que estava vendo, o mar tão grande, imenso e azul.Eu quase caí para fora do barco, quando senti a mão dele me segurando pela cintura.Ele se aproximou gentilmente e segurou meus cabelos.-- pode vomitar mais se quiser. -- ele falou de uma forma tão amável.Eu ainda sentia o estômago embrulhado, mas a visão daquele vasto mundo azul me deixou em transe.Eu sentia que iria cair para fora do barco, quando ele soltou meus cabelos e se aproximou um pouco mais ficando atrás de mim.Lentamente ele tocou meus braços, descendo até minhas mãos. Me apoiando na borda.-- você não vai cair, não se não quiser. Apenas... respire e segure firme. -- sua voz suou tão baixa em meu ouvido, que me deixou arrepiada. Mas eu desviei minha atenção disso e segui suas instruções, segurando fortemente na borda. Eu respirei fundo, sentindo aquele frescor salgado invadindo meus pulmões e abri um sorriso. Aquilo não parecia real, em meio a todo aquele caos, aquilo parecia um sonho.Ele saiu de trás de mim e ficou ao meu lado, fitando o mar.Eu nem mesmo havia notado que nuvens carregadas haviam coberto o sol.-- é tão bonito.-- tudo é bonito para quem vivia em uma prisão. -- eu engoli em seco e olhei para ele. Aquilo não deixava de ser verdade.-- quero um outro vestido, esse... está fedido e muito sujo. -- ele me fitou de cima a baixo e deu de ombros.-- faça como quiser. -- eu o encarei, havia algo estranho em seu olhar. Mas eu não sabia o que era.-- quando você disse que teve uma ideia em relação a mim, o que quis dizer? -- ele continuou a olhar para o horizonte.-- digamos que eu não sou o maior fã da pessoa que me contratou para levá-la até ele. -- havia pesar e ódio em sua voz.-- mas você aceitou o pedido dele, aceitou me sequestrar!-- não está errada.-- e por quê está mudando de ideia? -- ele olhou de relance para mim.-- você é importante demais, e além do mais... eu posso usá-la para conseguir o que quero. -- eu franzi o cenho.-- e o que você quer?-- liberdade. -- eu continuei a olhar para ele, havia algo de muito estranho nessa história.Lentamente o sol foi surgindo no céu novamente, ele engoliu em seco e se afastou rapidamente da proa do barco.-- não salte do barco, eu não irei pular na água para salvá-la. -- e logo ele desapareceu, eu ainda estava aflita e nervosa com meu futuro. Mas por um instante, eu esqueci de tudo enquanto olhava para o horizonte. ****Eu encontrei um vestido azul escuro, que ficava muito apertado e abafado naquela situação. Então cortei um pouco embaixo, aquilo parecia muito inadequado. Mas eu não morreria de calor.Eu estava andando pelos corredores do barco, quando ouvi uma conversa em uma sala ao meu lado. Parei por um instante e tentei ouvir aquele assunto.-- estamos próximos do porto das uvas, o que faremos quando atracarmos? -- um homem rouco questionou.-- tem um assunto pendente que preciso resolver, deixe tudo pronto. -- Julian ordenou. O homem assentiu, eu saí rapidamente dali.Então estávamos próximos de uma parada? Aquela era minha chance de fugir.Eu andei um pouco mais pelos corredores, e avistei uma sala mais para baixo. Como um compartimento secreto, lentamente eu desci até lá.Parecia que alguém havia acabado de sair dali.Havia uma grande porta preta, e tinha um cheiro ruim. Além do fato de ser muito escuro.Eu abri a porta lentamente, e meu coração quase saiu pela boca com a cena que vi.Havia sangue espalhado por todo o chão, e até mesmo vísceras.Eu tapei o nariz, e entrei um pouco mais para dentro.Quando olhei para frente, eu arregalei os olhos. Haviam inúmeras cabras presas em correntes. Todas estripadas. E sem nenhum sangue no corpo. Eu ouvi um barulho estranho, e apenas sai correndo. Que tipo de monstro faria aquilo? Aquelas cabras com certeza não estavam sendo preparadas para servir de alimentos, havia algo comendo aqueles animais, bebendo todo o seu sangue. ****Eu estava naquela pequena sala, ainda confusa com o que eu havia visto. Quando ele adentrou, eu me sobressaltei. Será que ele sabia daquilo?-- venha. -- eu estremeci.-- para onde?-- seu quarto. -- engoli em seco.Lentamente eu me pus de pé e andei até ele, quando saímos do quarto ele me levou pelo corredor e paramos em uma sala a esquerda. Ele abriu a porta e logo eu adentrei, com ele em seguida. Havia uma grande cama de casal preparada, e um grande banquete.Ele passou por mim, e puxou a cadeira para mim. Eu estremeci, mas logo me aproximei e sentei. Ele logo em seguida, enquanto me servia.-- coma. -- ele pôs o prato para mim, enquanto me encarava.Eu peguei sem demora, e comecei a engolir a comida.-- você não deveria ser tão bisbilhoteira. -- eu quase desmaiei.-- eu... eu...-- ficar ouvindo atrás das portas é uma coisa muito feia de uma princesa fazer, Ravena. -- eu respirei aliviada, não era tão grave como pensava.-- eu queria saber sobre o que era a conversa. -- ele me fitava tão intensamente, parecia que ele lia meus pensamentos.-- está pensando em fugir quando chegarmos ao porto das uvas? -- eu nada disse. Ele abriu um sorriso de canto.-- as pessoas de lá detestam a realeza, acredite em mim! Imagine só se virem uma mocinha tão inocente como você, não vai querer saber o que acontece. -- eu me enrijece onde estava.-- eu não pensei nisso.-- ah não?-- não. -- ele me olhava nos olhos, e eu retribui seu gesto.Ele abriu um sorriso de canto, e aquela covinha surgiu. Eu tinha certeza que ele era o tipo de homem que tinha a mulher que quisesse, quando quisesse.-- não tente nenhuma gracinha, ou terá consequências. -- eu senti vontade de chorar.-- e você quer que eu fique parada? Sem fazer nada quando eu nem mesmo sei quem você é! Ou o que pretende fazer comigo? Por que eu faria isso? -- ele não se moveu, apenas me encarava.-- o modo como você fala, demonstra como você nunca teve direito de falar ou se expressar! Isso deve ser tão triste. -- meus olhos arderam.-- VOCÊ NÃO SABE DE NADA SEU BRUTAMONTES!eu me levantei furiosa, e acabei machucando minha mão com o garfo que estava ao lado do meu prato. Derramando um pouco de sangue do meu dedo.Eu mal senti dor, mas quando olhei para Julian parecia que eu havia cortado todo o meu braço.Ele se levantou com uma velocidade anormal, e andou até mim rapidamente.Seus olhos estavam vidrados no meu dedo, no sangue que pingava lentamente.Ele me puxou pela cintura, e segurou minha mão. Ele encarava meu dedo com tanta intensidade, ele nem parecia respirar.-- Julian? -- sua garganta oscilou, ele parecia estar se forçando.Ele soltou minha mão e seus olhos se fixaram em mim.Ele me apertou contra seu corpo, e me beijou.Sua língua adentrou em minha garganta, enquanto eu sentia seu corpo quente. E seu coração acelerado.Seus dentes se chocaram contra os meus, ele estava feroz. Mas o beijo acabou tão rápido quanto começou, ele me afastou e saiu correndo do quarto. Me deixando estática e ofegante.Quando deitei na cama aquela noite, eu tentei entender o que havia acontecido naquele quarto. Mas nenhuma explicação lógica me vinha à cabeça, afinal o modo como Julian havia agido não fazia sentido. Mas eu não queria pensar naquilo, eu não iria pensar naquilo. Porque se não, minha mente me levaria a lugares que eu não queria ir. Quando acordei pela manhã o sol entrava pelas frestas do navio, eu me pus de pé rapidamente e subi até o convés. Os marujos estavam afoitos aquela manhã, enquanto iam e vinham de um lado para o outro. Eu me inclinei para frente e avistei o porque dessa agitação. O porto das uvas estava logo à frente. Eu engoli em seco, pensando que aquela era minha única forma de fugir, mas também lembrava do que Julian havia dito sobre isso. Eu me empertiguei e senti um arrepio na nuca, quando olhei para o lado e vi Julian conversando com um marujo. Ele estava usando um grande casaco negro de pele de urso, e seu rosto estava muito sério. Seu olhar recaiu sobre mim, enqu
Eu fiquei imóvel, minhas pernas, meu corpo não conseguia se mover. Parecia que minha cabeça não conseguia assimilar o que estava acontecendo. Julian ficou encarando aquele corpo sangrento no chão, enquanto suas presas pareciam ficar ainda maiores e seu peito subia e descia rapidamente. Eu não sei como estava tendo coragem de fazer aquilo, mas eu me pus de pé rapidamente e comecei a correr. O mais rápido que conseguia, o mais rapidamente que minhas pernas aguentavam. Tudo ficou quieto, enquanto eu corria pela floresta. Me chocando contra galhos e pedregulhos, rasgando meu joelho. Até que eu senti uma mão me puxar pela cintura, ele iria me matar eu sabia. Ele me puxou para junto de si, mas o chutei e nós acabamos caindo no chão. Eu fiquei por cima dele, e logo tentei sair. Mas ele segurou minhas mãos e me puxou para baixo dele. Eu tremia. -- ME SOLTE, SEU DEMÔNIO! seus olhos estavam vidrados em mim. O sangue já estava seco no canto de seus lábios. Ele abriu um leve sorriso de c
Passamos mais três dias em alto mar. Eu ainda estava muito nervosa e ansiosa pelo o que o futuro reservava. Tinha medo do que estava por vir, mas me sentia um pouco mais tranquila, ficando ao lado de Julian. Mesmo ele sendo o que era. Eu estava na borda do navio, fitando o grande mar azul em uma bela manhã. Quando ele se colocou ao meu lado, eu olhei para ele de canto. O homem parecia pensativo. -- faltam só algumas horas para estarmos em rocha nublada. -- eu estremeci. -- não terá perigo de Hector nos encontrar? -- eu tenho um lugar seguro e escondido, onde ele nunca descobrirá. -- assenti pensativa. -- quero que saiba que não irei machucá-la. -- eu o encarei. -- sei que tem medo de mim, pelo o que sou. -- pesar tomou sua voz. -- mas não farei nada com você, eu juro pelo sangue. -- franzi o cenho. -- como o sol não fere você? -- ele só me fere quando tomo sangue humano, quando não... eu me pareço um humano. -- eu estava tão intrigada. -- então se não beber sangue humano, o s
Fui devidamente apresentada a boa parte dos residentes daquela... comunidade. Eu não sabia bem como intitular. Mas fui apresentada como esposa de Julian, o que me deixava nervosa e receosa. Mas ver a situação que todas aquelas pessoas passavam, durante anos. Até mesmo crianças inocentes, me fazia querer ajudar a todo custo. Quando acabou a apresentação, Eris levou eu e Julian por um corredor de rocha, que subia até a parte de cima. Onde havia um grande quarto iluminado, com uma cama posta no meio do quarto. -- obrigado irmão, mais tarde conto a você as novidades. -- eu espero mesmo, tenham uma boa noite. -- ele disse cheio de malícia, e logo após se foi. Julian fechou a porta já tirando a parte de cima de sua roupa. -- por quê você está se despindo? -- questionei nervosa. Ele sorriu ao ver minha cara. -- porque estou exausto e suado, quero me refrescar e depois dormir. -- ele ficou apenas de calças, e seu peitoral tão largo e bem definido me deixou sem palavras. Eu não pude evit
Me levantei cedo demais aquela manhã, eu sabia que era dia, pois entravam pequenos raios de sol pelas frestas da fortaleza. Não sabia se Julian ainda estava no quarto, eu apenas vesti um outro vestido azul e saí pelos corredores. Andei um pouco e cheguei até o que parecia ser o lugar de alimentação daquelas pessoas, algumas distribuíam enquanto outros recebiam. -- acordou cedo. -- Eris disse se aproximando com uma bandeja cheia de frutas e peixe assado nas mãos. -- digamos que não dormi muito bem. -- pelo o modo como seu rosto ficou malicioso, eu tinha certeza que ele não havia entendido. -- pode ficar por aqui se quiser, é hora do café da manhã. -- ele já estava passando por mim, quando segurei seu braço. -- me dê uma bandeja, eu quero distribuir também. -- ele me fitou de cima a baixo.-- ora não é necessário. -- mas eu quero. -- insisti sorridente. Ele me encarou por alguns instantes e então me entregou a bandeja que segurava. -- apenas duas frutas e dois peixes. -- eu ass
Eu sentia o corpo bem acomodado, enquanto pequenos raios de sol refletiam em meus olhos. Acordei lentamente, e logo notei que estava deitada em uma pequena cama, em volta de um cobertor quente, no que parecia ser uma tenda. Lá fora eu ouvia vozes, sobressaltada, eu me pus de pé recordando o que havia acontecido. Eu não via bem lá fora, mas dava para notar que havia um pequeno tráfego de pessoas. -- você é um maldito estúpido! -- eu reconheci aquela voz furiosa, era Ivan. -- você sabe que nós não podemos confiar naquele sanguessuga! -- Adam esbravejou. Eu estremeci, logo corri para o outro lado da tenda e tentei encontrar um modo de fugir. Eu estava quase rasgando uma parte da tenda, quando senti um braço passar por minha cintura me prendendo contra si. Ele me jogou na cama, e eu sentia o coração a mil. Ele vestia apenas uma calça preta larga, e seu rosto estava muito sério. Ivan estava ao seu lado. -- por favor... Por favor não me façam nada! Eu imploro. Adam sorriu ironicam
Eu sabia que ele mataria todos Aqueles lobisomens, seu rosto não escondia isso. Olhei ao redor e pude ver algumas mulheres escondidas nos cantos, protegendo suas crianças. Enquanto olhavam para Julian apavoradas. Aquilo seria um massacre, então sai de onde estava parada e corri até ele. Julian ainda apertava o pescoço do lobisomem, quando um outro tentou saltar contra ele, Julian sorriu. -- você está sem jeito, Ivan. -Ele era um grande lobisomem cinzento de orelhas pontudas, eu olhei para ele enquanto corria. -- JULIAN, EU ESTOU AQUI. seus olhos recairam sobre mim. Ele me fitou de cima a baixo, enquanto sua garganta oscilava. Ele vacilou um pouco, dando tempo para o lobisomem se soltar e jogá-lo para longe. Julian rugiu ao se chocar contra as árvores. Todos os lobisomens foram para cima dele ao mesmo tempo, mas eu fui mais rápida e corri me colocando na frente. Eles pararam me encarando. -- não... Não façam nada com ele, eu imploro. -- os lobisomens rugiram para mim. Julian se
Voltamos à fortaleza de Julian em total silêncio. Ele ainda parecia muito tenso e nervoso, mas eu não conseguia compreender o motivo. Afinal nós havíamos conseguido a ajuda da alcatéia de Ivan, ele deveria estar feliz. Mas não foi o que aconteceu, quando adentramos ele mandou Eris me guiar até o quarto. E quando o fez, eu fiquei sozinha. Passei muito tempo andando de um lado para o outro naquele quarto, e comecei a me sentir culpada. Será que ele estava bravo comigo? Durante todo o percurso ele ficou quieto, quando chegamos mal olhou para mim. Eu tentei me acalmar, troquei de roupas e fiquei no quarto durante muito tempo. Mas ele não apareceu, aquilo foi a gota d'água para mim. Furiosa talvez comigo mesma, eu sai daquele quarto. E subi as escadas, seguindo para sua sala de reuniões. Eris saiu assim que surgi, ele me olhou de cima a baixo. -- ele quer ficar sozinho. -- eu quero falar com ele. -- não será possível. -- eu sou esposa dele, para todos os efeitos! Diga que quero fala