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capítulo 02: mudança de planos

Ele me segurou fortemente pela cintura, eu não sabia como agir. Ou o que fazer. Mas eu sabia que ele não estava brincando, ele não era um príncipe. E eu estava sendo sequestrada.

Sem opções eu mordi seu pescoço, ele pareceu confuso e me soltou. Eu saí correndo em disparada para dentro do barco, pois eu já não podia pular no mar. O barco já estava zarpando, e eu não sabia nadar.

Corri o mais rápido possível para o compartimento de dentro, e encontrei uma sala aberta. Eu adentrei desesperada e tranquei a porta em seguida. Logo comecei a procurar por algo afiado, ou pontudo, mas nada encontrei.

Eu já estava me escondendo de baixo da mesa, quando ouvi ele mexer na maçaneta da porta. Mas não havia como ele abrir, estava trancada.

Até que ele simplesmente quebrou a maçaneta, como se não fosse nada. Com uma força anormal, ela ficou amassada.

Quando ele entrou na sala, seus olhos me fitaram. Havia algo confuso ali, eu queria correr. Mas não havia como, lentamente ele desfilou até mim.

-- NÃO SE APROXIME! -- um sorriso de canto surgiu em seu rosto. Ele parecia uma rocha de tão alto.

-- ou o quê? Vai jogar um livro em mim? -- eu me abaixei procurando algo, mas quando me voltei para frente, ele estava bem ao meu lado. Como ele havia feito aquilo tão rápido e sem nenhum barulho?

Corri até a porta, estava quase passando por ela quando ele a fechou atrás de mim, e me prendeu contra a porta.

Eu fiquei de costas para ele, e sentia que iria desmaiar.

Ele aproximou sua cabeça da minha, e me virou de frente para ele. Eu estava imóvel.

-- se você se acalmar e parar de fugir, talvez eu possa explicar a você o que está acontecendo, amor. -- eu senti a garganta secar.

-- não há o que explicar! Você me sequestrou... você...  você não é um príncipe. -- ele assentiu ironicamente.

-- não, não sou.

-- e... e... por que eu estou aqui? O que está acontecendo!? Você é algum espião de um dos inimigos de meu pai? Quer me levar para me prender e pedir uma boa recompensa? -- seus olhos me fitaram de cima a baixo, e lentamente ele se afastou caminhando até a mesa com leveza e de forma elegante. Eu não entendia como um homem tão alto demonstrava tanta leveza.

Ele se aproximou da mesa e pegou o que parecia ser um whisky que estava escondido dentro do armário. Ele colocou dois copos sobre a mesa e despejou a bebida em cada um. Ele me ofereceu, mas eu fiquei onde estava. Ele deu de ombros e sentou-se de frente para mim, como se aquilo fosse muito normal.

-- respondendo a sua... longa pergunta, eu não estou levando-a para alguém que irá pedir uma recompensa por você. -- eu estremeci. Então realmente estava sendo levada para um inimigo de meu reino.

-- sou um contratado, meu "mandante" é uma pessoa muito reclusa, mas... que alguns de seu reino devem conhecê-lo. -- eu me empertiguei onde estava.

-- q... quem?

-- ele reside em rocha nublada. -- eu quase desmaiei.

-- não... não pode ser! Ele não existe, é só uma lenda para crianças assustadas. -- um leve sorriso de canto surgiu em seus lábios.

-- não, amor ele existe! E sim... ele realmente é assustador. -- eu estava lutando contra a vontade de chorar.

-- as histórias contam que ele é um monstro que bebe sangue, e não pode sair a luz do dia! Que é um tirano deformado! Isso... isso não pode ser real. -- ele inclinou a cabeça para o lado, me fitando inteira.

-- sim é real, ele me contratou! Pois ele quer você, mas ele sabia que não poderia se revelar, você sabe as pessoas o reconheceriam. Então... começou todo o plano de ganhar a confiança de seus pais, mandando jóias, dinheiro e etc. Seus pais foram tão tolos de acreditar no príncipe de "Cardonia" e agora você está aqui, indo para rocha nublada. -- eu estava lentamente perdendo a força das pernas.

-- o que ele quer comigo? Por que justo eu? -- ele deu de ombros bebendo mais um pouco.

-- o seu reino é forte, muito forte! Um casamento com você... é tudo o que um monstro como ele quer, quem não iria querer? -- eu fiquei estática.

-- mas... mas você casou comigo, então não há como eu ficar com ele! Pois você é meu marido. -- ele sorriu novamente.

-- não houve consumação amor, então o casamento não vale! -- eu inflei as narinas e comecei a andar de um lado para o outro desesperada, enquanto ele me fitava.

Eu o encarei e ousei me aproximar um pouco.

-- por favor eu imploro a você! Eu dou o que você quiser, muito ouro! Muito dinheiro, tudo! Só... só me leve de volta para casa. -- seus olhos pareciam ir para dentro de minha alma.

-- é uma boa proposta, mas eu tenho planos para você. -- eu franzi o cenho. Ele se pôs de pé, e andou até a porta.

-- o que quer dizer com isso?

Ele se voltou para mim.

-- logo você saberá. -- e então ele saiu, me deixando aflita naquela sala.

Eu abri levemente a porta e ele estava no corredor falando com alguns homens.

-- fiquem de olho para que ela não tente nenhuma burrice, e se algum de vocês encostar um dedo em um fio se quer do cabelo dela... vão perder bem mais do que a mão. -- os homens engoliram em seco com sua ameaça, e logo ele desapareceu.

                         ****

Eu estava sentada no cantinho da sala, ouvindo minha barriga roncar. Enquanto eu já não tinha mais lágrimas para derramar. Estava sendo sequestrada, sendo levada para um monstro que faria sabe-se lá o que comigo.

Eu realmente não sabia o que fazer. A porta se abriu lentamente, e eu me empertiguei.

Quando logo ele surgiu entrando na sala. Seus cabelos estavam molhados, e agora ele vestia uma roupa mais fresca. Uma camisa branca entre-aberta, e uma calça azul. Ele trazia em suas mãos uma bandeija, com um prato que parecia ser frango cozido.

Ele se aproximou e eu me encolhi ainda mais, ele sentou-se de frente para mim e ergueu o prato.

-- os homem disseram que você não comeu, por quê? Nossa culinária não é boa o suficiente para uma princesa? -- eu engoli em seco.

-- não sou esse tipo de pessoa.

-- não é o que parece, desperdiçando comida como se fosse algo que tivéssemos em abundância. -- por algum motivo eu quis chorar.

-- prefiro morrer de fome. -- ele abriu um sorriso sem felicidade.

-- e por quê?

-- porque estou sendo sequestrada e levada para um monstro! Eu não vou comer nada, prefiro morrer. - ele ficou quieto me encarando por alguns segundos desconfortáveis, e então começou a cortar o frango.

-- você vai comer, por bem ou por mal. -- não havia brincadeiras em sua voz, eu sabia que ele não era um homem de blefes. O que me dava ainda mais medo.

-- terá que me forçar. -- seus olhos brilharam quando disse tal coisa. Ele colocou o prato de lado, e se inclinou na minha direção. Eu tentei me afastar, mas minha cabeça se chocou contra a parede atrás de mim.

Ele se aproximou ainda mais e ficou á centímetros de meus lábios.

Eu prendi a respiração.

-- você acha que... -- sem demora ele me beijou, eu não sabia como reagir. Senti a intensidade de seus lábios contra os meus, a forma como ele parecia ansioso e desesperado, a forma como senti sua língua entrando na minha boca. Eu fechei os olhos por impulso e me deixei levar. Ele se afastou, e eu fiquei com a boca aberta, me assustando quando ele enfiou um pedaço de frango em minha boca. Eu quase engasguei. Ele me encarou com malícia.

-- é melhor comer, ou nós ficaremos nisso a noite toda. Eu tenho tempo. -- eu queria cuspir nele, mas aquela não era a melhor ocasião. Então apenas continuei a mastigar furiosa.

Quando acabei, eu estava brava comigo mesma.

Ele se pôs de pé e andou até a porta, se voltando lentamente para mim.

-- você não precisa ter medo de mim, ou do seu futuro! Eu tive uma ideia muito melhor.  -- eu não sabia o que aquilo significava, mas fiquei onde estava enquanto ele saia da sala e me deixava ainda mais ansiosa sobre meu futuro.

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