-- obrigada, doce menina. -- a senhora pálida e franzina disse quando entreguei a ela uma grande bandeja de comida.
-- não há de quê, amanhã eu prometo que trago um pedaço enorme de bolo de chocolate para você e para os meninos. -- ela sorriu para mim. E eu retribui me afastando.Quando saí de sua pequena casinha, Camila já me esperava na porta. Ela me encarava de forma assustada e nervosa.-- já voltei, viu.-- você sabe que eu detesto vir aqui. -- ela se aproximou e arrumou o capuz em minha cabeça, para que meu rosto ficasse coberto.-- sim, você já deixou claro! Agora vamos. -- ela bufou nervosa enquanto saímos da pequena e mal iluminada aldeia. Enquanto eu passava, pessoas a quem eu ajudava me reconheciam e sorriam para mim.Camila me encarava brava enquanto andávamos.-- você sabe como isso é imprudente.-- essas pessoas passam fome com as guerras que vem acontecendo, não posso ficar simplesmente parada e fingir que não as vejo. -- Camila cruzou os braços brava.-- você é a princesa!-- shh! -- ela olhou para todos os lados e se aproximou.-- você é a princesa, deveria agir como tal.-- entendo e deixar que crianças e idosos morram de fome, quando temos tanta comida sendo desperdiçada no palácio. -- ela revirou os olhos e voltou a andar.-- mesmo disfarçada, ficar vindo aqui é um erro, em algum momento isso ainda vai dar errado. -- eu abri um sorriso de canto.-- tudo bem Camila, agora vamos continuar. -- subimos o grande penhasco e ao longe eu avistei o mar, tão amplo e azul. Eu tirei o capuz e respirei fundo, enquanto meus cabelos longos e castanhos voavam com a brisa.-- veja que lindo Camila, tudo o que eu queria era sair daqui! Navegar pelo mar! Ver o mundo! -- ela me fitou e revirou os olhos.-- você é a princesa, não uma pessoa qualquer. -- eu bufei brava, ela tinha razão. Por mais que eu quisesse ver o mundo, eu era uma princesa.Desviei a atenção do mar, e voltamos a andar. Adentramos em nossa passagem secreta, que levava para a cozinha. Que logo passamos despercebidas e subimos até meu quarto.Tirei o capuz e me olhei no espelho, eu já estava quase tirando o vestido quando mamãe bateu na porta.-- entre. -- ela me fitou assim que me viu.-- procurei você, onde estava?-- estava no jardim com Camila. -- ela viu meu capuz e franziu o cenho.-- bom, você sabe que temos uma visita hoje, não é? O príncipe Julian está vindo. -- eu engoli em seco.-- ele não havia cancelado?-- não, ele vem! Por isso... quero seu comportamento e boa vontade, entendeu? -- eu assenti sem olhar para ela.-- Ravena...-- já entendi mamãe, serei boazinha e recatada. -- ela revirou os olhos e saiu em seguida.-- vista o vestido roxo, ele gosta dessa cor. -- eu revirei os olhos. Será possível que aquele era mesmo o meu destino? ****Era quase meio dia, quando olhei pela janela e avistei uma grande carruagem com um brasão de montanha, chegando em nosso palácio. Me fitei no espelho. Vestia o vestido roxo de mangas longas, enquanto meu rosto estava pintado de rosa, e meus cabelos presos em uma trança. Respirei fundo e sai do quarto.Desci as escadas e avistei meus pais no salão principal, ao redor de algumas pessoas. Quando me aproximei, meu pai me deu passagem.-- príncipe Julian, está é Ravena. -- quando o vi foi estranho. Ele era muito alto, seus cabelos eram de um negro forte, ondulados na altura dos ombros, seus olhos eram castanhos, e ele usava uma armadura de bronze. Eu Engoli em seco, quando ele me estendeu a mão.-- princesa Ravena, é uma honra. -- ele tinha uma voz grave. Eu lhe estendi a mão, e ele a beijou levemente. Foi estranho.Quando me afastei ele sorriu e uma covinha surgiu em sua bochecha.-- vamos então? -- meu pai questionou. Ele assentiu e os dois seguiram para uma sala a sós. Eu estremeci, ali seria decidido meu futuro. ****Eu estava furiosa no jardim, andando em círculos.-- acalme-se Ravena.-- eu não consigo, esse estúpido príncipe apareceu do nada e está conversando com papai há horas. -- ela se aproximou.-- ele não apareceu do nada, há uma negociação entre os reinos há um ano! Você sabe. -- eu revirei os olhos.-- não quero ele.-- mas ele é lindo.-- dane-se! Isso não é tudo. -- ela franziu o cenho, eu me aproximei.-- vamos fugir Camila, você e eu! Podemos ir para o outro lado do mar.-- Ravena...-- acho que seria difícil ir para o outro lado do mar. -- eu ouvi sua voz grave.Me empertiguei, Camila saiu tão rápido que foi assustador. Ele se aproximou lentamente, com suas mãos para trás. Ele parecia um felino. Eu me curvei lentamente com sua aproximação, mas ele segurou meu queixo, me fazendo olhar para ele.-- por favor meu príncipe, não conte aos meus pais o que eu disse! É bobagem, eu não falava sério. -- ele abriu um sorriso de canto.-- parecia bem sério para mim. -- ele iria contar, eu estava frita.-- me perdoe.-- perdoar você por não querer se casar com um estranho que você nunca viu? Que tipo de monstro acha que sou? -- eu nada disse. Ele se aproximou um pouco mais de mim e eu prendi a respiração.-- esse pode ser o nosso segredo. -- ele se afastou rapidamente, quando meus pais surgiram.-- tudo bem Julian? -- meu pai questionou, ele me encarou. Eu estremeci.-- tudo, Ravena estava me mostrando as rosas. -- meu coração quase saiu pela boca.-- que bom, então já informou a ela sobre o casamento? -- eu quase caí no chão, encarei o meu pai.-- ca... casamento? Mas já?-- muitas guerras entre muitos reinos vem acontecendo minha filha, uma união com Cardonia é o melhor para fortalecer ainda mais nosso reino. -- eu estava tremendo, aquilo não era possível. Eu sabia sobre um possível casamento, mas agora?-- para que as coisas se encaminhem logo, já montamos o altar. -- eu estava quase desmaiando.-- ótimo, eu quero que aconteça o mais rápido possível. -- Julian disse olhando para mim. E eu só queria fugir. ****Quando o dia seguinte chegou eu mal havia dormido, Camila e mais algumas serviçais vieram me vestir.Me colocaram em um horrível vestido branco, e prenderam meus cabelos em um coque.O palácio estava pronto para um casamento.Quando cheguei à capela do palácio, meu pai me esperava.Ele me fitou e se aproximou.-- Ravena, você está linda. Os filhos que você terá com Julian, serão o nosso futuro querida! Lembre-se disso. -- eu mal respirava. Filhos? Eu nem havia pensado nisso.As portas se abriram, não haviam muitos convidados. E Julian estava mais a frente, vestindo um terno preto.Quando cheguei, fiquei de frente para ele. O velho reverendo, começou a cerimônia.-- que a união de cascata negra, e Cardonia! Seja forte e duradoura! Que muitas bênçãos e herdeiros venham. -- ele continuou a falar várias coisas, mas eu mal escutava. Até que Julian segurou meu queixo, e era como se eu tivesse acordado de um transe, quando olhei para seus olhos. Ele era tão misterioso.-- sim, eu aceito. -- minha boca se mexeu sem eu notar.-- muito bem, pode beijar a noiva. -- e logo ele me puxou para junto de si, e seus lábios se chocaram contra os meus. Me arremessando de uma montanha.Quando nos afastamos eu estava imóvel, todos aplaudiram. Enfim a união entre os reinos havia acontecido. ****Julian e meu pai se trancaram em uma sala, e eu fiquei perambulando pelo salão. Quando ele se aproximou e segurou minha mão.-- vamos para casa. -- eu franzi o cenho.-- o... o que? Mas hoje? Como?-- quero estar em Cardonia o mais rápido possível, já falei com seus pais. -- eu não tive tempo de falar nada.Sem que me desse conta, mamãe estava beijando minha testa e me desejando felicidades e mais algumas coisas.Nos abraçamos e de repente, eu estava dentro da carruagem.As lágrimas ameaçavam rolar, quando avistei Camila ao longe.Me sentei de frente para ele, que tirou a gravata do terno. E sentou-se de uma forma calma na carruagem.-- não chore querida, nossa aventura está só começando. -- seu modo de falar mudou. Seu jeito fino e elegante, havia sumido. Eu me empertiguei.-- tem algo errado.-- não querida, ainda não. -- ele parecia ter se transformado em outra pessoa.A carruagem entrou em outro caminho, e de repente paramos. Ele saiu e eu em seguida.Havia areia, estávamos de frente para um grande navio na costa do mar.-- mas o que está acontecendo aqui?-- o que está acontecendo querida, é que... você está sendo sequestrada. -- ele me puxou pela cintura e sem demora, nós estávamos dentro do grande navio.Eu tentei me desvencilhar, mas ele me segurava fortemente.-- não se preocupe amor, a diversão está só começando.-- tudo ficou embaçado em minha mente, e eu não fazia ideia se aquilo realmente era verdade.Ele me segurou fortemente pela cintura, eu não sabia como agir. Ou o que fazer. Mas eu sabia que ele não estava brincando, ele não era um príncipe. E eu estava sendo sequestrada. Sem opções eu mordi seu pescoço, ele pareceu confuso e me soltou. Eu saí correndo em disparada para dentro do barco, pois eu já não podia pular no mar. O barco já estava zarpando, e eu não sabia nadar. Corri o mais rápido possível para o compartimento de dentro, e encontrei uma sala aberta. Eu adentrei desesperada e tranquei a porta em seguida. Logo comecei a procurar por algo afiado, ou pontudo, mas nada encontrei.Eu já estava me escondendo de baixo da mesa, quando ouvi ele mexer na maçaneta da porta. Mas não havia como ele abrir, estava trancada. Até que ele simplesmente quebrou a maçaneta, como se não fosse nada. Com uma força anormal, ela ficou amassada.Quando ele entrou na sala, seus olhos me fitaram. Havia algo confuso ali, eu queria correr. Mas não havia como, lentamente ele desfilou até mim. --
Já estava ficando exausta de ficar naquela sala apertada, e conforme o barco balançava meu estômago se revirava. Eu estava decidida a sair. Abri lentamente a porta e dei de cara com dois homens que estavam me vigiando. -- eu gostaria de sair. -- eles se olharam e nada disseram. -- por favor já estou exausta de ficar aqui e além do mais... não há como eu fugir. Eles continuaram se encarando, como se estivessem pensando se era ou não uma boa ideia. Eu bufei já nervosa e sentindo um vômito iminente, passei por eles correndo. Eles tentaram me agarrar, mas rapidamente eu subi para cima. O brilho do sol quase me deixou cega, os diversos marujos me encararam confusos. Eu apenas passei por eles e corri até a borda do barco, vomitando tudo o que havia comido. Quando eu reabri os olhos, meu coração parecia estar saindo por minha garganta. Eu não acreditava no que estava vendo, o mar tão grande, imenso e azul. Eu quase caí para fora do barco, quando senti a mão dele me segurando pela ci
Quando deitei na cama aquela noite, eu tentei entender o que havia acontecido naquele quarto. Mas nenhuma explicação lógica me vinha à cabeça, afinal o modo como Julian havia agido não fazia sentido. Mas eu não queria pensar naquilo, eu não iria pensar naquilo. Porque se não, minha mente me levaria a lugares que eu não queria ir. Quando acordei pela manhã o sol entrava pelas frestas do navio, eu me pus de pé rapidamente e subi até o convés. Os marujos estavam afoitos aquela manhã, enquanto iam e vinham de um lado para o outro. Eu me inclinei para frente e avistei o porque dessa agitação. O porto das uvas estava logo à frente. Eu engoli em seco, pensando que aquela era minha única forma de fugir, mas também lembrava do que Julian havia dito sobre isso. Eu me empertiguei e senti um arrepio na nuca, quando olhei para o lado e vi Julian conversando com um marujo. Ele estava usando um grande casaco negro de pele de urso, e seu rosto estava muito sério. Seu olhar recaiu sobre mim, enqu
Eu fiquei imóvel, minhas pernas, meu corpo não conseguia se mover. Parecia que minha cabeça não conseguia assimilar o que estava acontecendo. Julian ficou encarando aquele corpo sangrento no chão, enquanto suas presas pareciam ficar ainda maiores e seu peito subia e descia rapidamente. Eu não sei como estava tendo coragem de fazer aquilo, mas eu me pus de pé rapidamente e comecei a correr. O mais rápido que conseguia, o mais rapidamente que minhas pernas aguentavam. Tudo ficou quieto, enquanto eu corria pela floresta. Me chocando contra galhos e pedregulhos, rasgando meu joelho. Até que eu senti uma mão me puxar pela cintura, ele iria me matar eu sabia. Ele me puxou para junto de si, mas o chutei e nós acabamos caindo no chão. Eu fiquei por cima dele, e logo tentei sair. Mas ele segurou minhas mãos e me puxou para baixo dele. Eu tremia. -- ME SOLTE, SEU DEMÔNIO! seus olhos estavam vidrados em mim. O sangue já estava seco no canto de seus lábios. Ele abriu um leve sorriso de c
Passamos mais três dias em alto mar. Eu ainda estava muito nervosa e ansiosa pelo o que o futuro reservava. Tinha medo do que estava por vir, mas me sentia um pouco mais tranquila, ficando ao lado de Julian. Mesmo ele sendo o que era. Eu estava na borda do navio, fitando o grande mar azul em uma bela manhã. Quando ele se colocou ao meu lado, eu olhei para ele de canto. O homem parecia pensativo. -- faltam só algumas horas para estarmos em rocha nublada. -- eu estremeci. -- não terá perigo de Hector nos encontrar? -- eu tenho um lugar seguro e escondido, onde ele nunca descobrirá. -- assenti pensativa. -- quero que saiba que não irei machucá-la. -- eu o encarei. -- sei que tem medo de mim, pelo o que sou. -- pesar tomou sua voz. -- mas não farei nada com você, eu juro pelo sangue. -- franzi o cenho. -- como o sol não fere você? -- ele só me fere quando tomo sangue humano, quando não... eu me pareço um humano. -- eu estava tão intrigada. -- então se não beber sangue humano, o s
Fui devidamente apresentada a boa parte dos residentes daquela... comunidade. Eu não sabia bem como intitular. Mas fui apresentada como esposa de Julian, o que me deixava nervosa e receosa. Mas ver a situação que todas aquelas pessoas passavam, durante anos. Até mesmo crianças inocentes, me fazia querer ajudar a todo custo. Quando acabou a apresentação, Eris levou eu e Julian por um corredor de rocha, que subia até a parte de cima. Onde havia um grande quarto iluminado, com uma cama posta no meio do quarto. -- obrigado irmão, mais tarde conto a você as novidades. -- eu espero mesmo, tenham uma boa noite. -- ele disse cheio de malícia, e logo após se foi. Julian fechou a porta já tirando a parte de cima de sua roupa. -- por quê você está se despindo? -- questionei nervosa. Ele sorriu ao ver minha cara. -- porque estou exausto e suado, quero me refrescar e depois dormir. -- ele ficou apenas de calças, e seu peitoral tão largo e bem definido me deixou sem palavras. Eu não pude evit
Me levantei cedo demais aquela manhã, eu sabia que era dia, pois entravam pequenos raios de sol pelas frestas da fortaleza. Não sabia se Julian ainda estava no quarto, eu apenas vesti um outro vestido azul e saí pelos corredores. Andei um pouco e cheguei até o que parecia ser o lugar de alimentação daquelas pessoas, algumas distribuíam enquanto outros recebiam. -- acordou cedo. -- Eris disse se aproximando com uma bandeja cheia de frutas e peixe assado nas mãos. -- digamos que não dormi muito bem. -- pelo o modo como seu rosto ficou malicioso, eu tinha certeza que ele não havia entendido. -- pode ficar por aqui se quiser, é hora do café da manhã. -- ele já estava passando por mim, quando segurei seu braço. -- me dê uma bandeja, eu quero distribuir também. -- ele me fitou de cima a baixo.-- ora não é necessário. -- mas eu quero. -- insisti sorridente. Ele me encarou por alguns instantes e então me entregou a bandeja que segurava. -- apenas duas frutas e dois peixes. -- eu ass
Eu sentia o corpo bem acomodado, enquanto pequenos raios de sol refletiam em meus olhos. Acordei lentamente, e logo notei que estava deitada em uma pequena cama, em volta de um cobertor quente, no que parecia ser uma tenda. Lá fora eu ouvia vozes, sobressaltada, eu me pus de pé recordando o que havia acontecido. Eu não via bem lá fora, mas dava para notar que havia um pequeno tráfego de pessoas. -- você é um maldito estúpido! -- eu reconheci aquela voz furiosa, era Ivan. -- você sabe que nós não podemos confiar naquele sanguessuga! -- Adam esbravejou. Eu estremeci, logo corri para o outro lado da tenda e tentei encontrar um modo de fugir. Eu estava quase rasgando uma parte da tenda, quando senti um braço passar por minha cintura me prendendo contra si. Ele me jogou na cama, e eu sentia o coração a mil. Ele vestia apenas uma calça preta larga, e seu rosto estava muito sério. Ivan estava ao seu lado. -- por favor... Por favor não me façam nada! Eu imploro. Adam sorriu ironicam