Quando deitei na cama aquela noite, eu tentei entender o que havia acontecido naquele quarto. Mas nenhuma explicação lógica me vinha à cabeça, afinal o modo como Julian havia agido não fazia sentido. Mas eu não queria pensar naquilo, eu não iria pensar naquilo. Porque se não, minha mente me levaria a lugares que eu não queria ir.
Quando acordei pela manhã o sol entrava pelas frestas do navio, eu me pus de pé rapidamente e subi até o convés.Os marujos estavam afoitos aquela manhã, enquanto iam e vinham de um lado para o outro. Eu me inclinei para frente e avistei o porque dessa agitação. O porto das uvas estava logo à frente.Eu engoli em seco, pensando que aquela era minha única forma de fugir, mas também lembrava do que Julian havia dito sobre isso.Eu me empertiguei e senti um arrepio na nuca, quando olhei para o lado e vi Julian conversando com um marujo. Ele estava usando um grande casaco negro de pele de urso, e seu rosto estava muito sério.Seu olhar recaiu sobre mim, enquanto nos aproximavamos do porto.Ele deixou o marujo e andou até mim.-- imagino que você lembre da nossa conversa sobre uma tentativa de fuga? -- eu me forcei a assentir.-- pois bem, espero que você saiba quais as consequências que podem vir a surgir se você tentar algo desse tipo. -- sua voz estava grave. Ele não estava brincando, ou blefando.-- não tentarei nada.-- ótimo. -- e logo ele se afastou, não me dando espaço para questionar sobre a noite passada. O que me deixou frustrada.Sem demora nós atracamos, Julian se certificou de ficar ao meu lado enquanto desciamos.O porto das uvas era lindo, havia tanta natureza e paz. Parecia um lugar irreal.Eu estava maravilhada.Continuamos andando, com Julian me segurando pela cintura. por onde passavamos algumas pessoas esticavam o pescoço para olhar para nós.Eu não entendia bem, será que eles me reconheciam?Chegamos no meio do porto, onde havia um grande casarão. Julian me fitou e logo adentramos, rapidamente eu descobri que aquilo era um bordel. Mulheres dançavam nuas nas mesas, enquanto homens ficavam em posições... Inadequadas.Passamos por todas aquelas coisas e eu estava tão vermelha que parecia que iria explodir.Julian me guiou até uma mesa, onde havia um homem gorducho de cabelos grisalhos e expressão séria.Eu estava quase sentando quando Julian o fez o primeiro, e me puxou para o seu colo. Eu arregalei os olhos e tentei levantar, mas ele me segurou pela cintura, me mantendo onde eu estava. Eu não sabia se respirava.O homem me encarou lentamente e logo após Julian.-- bela empreitada essa que você arrumou. -- ele pegou um copo de vinho na mesa e bebeu.-- gostou? Eu disse que conseguiria.-- muito, nunca duvidei de sua capacidade. -- eu encarei aquele velho. Parecia que eu era um animal a ser negociado. Julian apertou minha cintura e subiu um pouco mais seus dedos até meu ombro, eu estremeci.-- consegui domar essa aqui, não foi tão difícil. -- o velhote sorriu, eu só queria cuspir nele. O homem se inclinou sobre a mesa, se aproximando mais de Julian.-- há boatos sobre você amigo, sobre o que você está fazendo! -- eu me concentrei naquela conversa.-- ah é? E sobre o que estão comentando?-- dizem que você quer libertar o povo de rocha nublada, que você mesmo irá enfrentar Hector e libertar nosso povo da escravidão, matando aquele maldito bastardo usurpador.O velho cuspiu no chão.Então Hector era o usurpador a quem Julian estava me levando.Ele se inclinou um pouco, fazendo eu me mover em seu colo, foi uma estranha sensação.-- como eu poderia fazer isso Arthur? -- o velho o fitou.-- você tem planos, você é bom nisso... em esconder as coisas! Em planejar. -- Julian sorriu.-- por quê você me chamou aqui Julian?-- eu tenho planos, mas preciso de ajuda! De mais guerreiros que estejam dispostos a luterem ao meu lado, e quem melhor do que você Arthur? -- Arthur se recostou na cadeira.-- você ainda tem aquele problema? -- Julian ficou quieto, imóvel. Parecia não respirar.-- não.-- é mesmo? Então porque parece o contrário? -- tudo parecia ter ficado mais silencioso.Julian se recostou novamente na cadeira e encarou Arthur, ele não parecia tenso. Mas eu sabia que estava.-- eu não preciso provar nada para você, você sabe da minha capacidade! Do que eu posso fazer. Está vendo ela? Ela está aqui não está? Eu consigo fazer isso. -- sua voz ficou mais grave, mais firme. Arthur se empertigou.-- não duvido que consiga, o problema... é que você perde o controle! E isso... isso é perigoso meu amigo, lembra-se da...-- chega! -- eu me assustei, ele apertou minha cintura muito forte. Arthur ficou quieto.-- não falaremos disso. -- eu estava tão nervosa, engoli em seco.-- eu preciso ir ao banheiro.Julian parecia ter esquecido minha presença, mesmo eu estando em seu colo.-- espere.-- eu não consigo. -- senti as bochechas queimando.Ele bufou, uma dançarina alta e esbelta estava passando ao nosso lado, Julian segurou seu pulso e a trouxe para perto.-- leve-a até o banheiro amor, e não deixe que ela fuja! Ou se não... você vai perder sua habilidade de dançar. -- a dançarina engoliu em seco e me encarou, eu me pus de pé. Julian segurou meu pulso, e me lançou um olhar explicativo. Eu assenti e segui a mulher.Ela ficou ao lado de fora. o banheiro era sujo e fedido mas eu estava apertada. Rapidamente eu comecei a fazer, quando ouvi um estrondo na porta. Eu me sobressaltei, e me pus de pé.-- Olá? Você ainda está aí? -- ela não respondeu, eu andei até a porta, quando ela foi aberta bruscamente. Dois homens enormes me encararam, me puxaram para junto de si. Eu se quer tive tempo de gritar quando eles me colocaram dentro de um saco, e me puxaram para fora do casarão pelas portas dos fundos. Eu mal via pelos buracos do saco, enquanto me debatia.-- ele foi tolo de trazê-la aqui.Um deles riu.-- ele ainda acha que pode ganhar, esse desgraçado vai virar cinzas. -- eu fui arremessada para dentro de uma carruagem que começou a andar, eu gritava e me debatia mas ninguém ouvia.Estávamos indo muito rápido pela floresta, quando eu comecei a rasgar o saco com os dentes e abriu um buraco, que eu rasguei com as mãos.Rapidamente eu consegui pôr a cabeça para fora, os dois estavam na parte da frente da carruagem. Eu saí de dentro do saco, quando um deles me viu.-- SUA M*****A. -- ele tentou me pegar, mas eu chutei. Enquanto o outro parava a carruagem. Eu me joguei para fora, correndo o mais rápido que podia.Mas um deles me alcançou, me puxando para junto de si. Eu tentei chutá-lo, mas ele segurou minhas pernas.-- acho que eu vou ter que domar você princesa. -- ele quis levantar meu vestido, eu gritei com medo. Eu estava quase em seus braços, quando o outro homem berrou de dor. De uma forma dolorida e sofrida. O que me puxava parou rapidamente, me soltou e tirou da calça uma adaga.-- FILIPE? -- eu me encolhi.-- dane-se ele. -- ele se voltou para mim, eu estava quase berrando quando uma mão passou por dentro de seu peito, arrancando seu coração como se não fosse nada.O homem ficou com os olhos vidrados, enquanto sangue escorria por sua boca.Eu quis gritar, mas não havia voz em minha garganta.Ele caiu de joelhos, e eu pude ver quem estava atrás dele.Julian segurava o coração ensanguentado do homem.Seus olhos estavam vermelhos como fogo, seu rosto cheio de sangue e em sua boca haviam duas enormes presas animalescas.Julian era um demônio bebedor de sangue.Eu fiquei imóvel, minhas pernas, meu corpo não conseguia se mover. Parecia que minha cabeça não conseguia assimilar o que estava acontecendo. Julian ficou encarando aquele corpo sangrento no chão, enquanto suas presas pareciam ficar ainda maiores e seu peito subia e descia rapidamente. Eu não sei como estava tendo coragem de fazer aquilo, mas eu me pus de pé rapidamente e comecei a correr. O mais rápido que conseguia, o mais rapidamente que minhas pernas aguentavam. Tudo ficou quieto, enquanto eu corria pela floresta. Me chocando contra galhos e pedregulhos, rasgando meu joelho. Até que eu senti uma mão me puxar pela cintura, ele iria me matar eu sabia. Ele me puxou para junto de si, mas o chutei e nós acabamos caindo no chão. Eu fiquei por cima dele, e logo tentei sair. Mas ele segurou minhas mãos e me puxou para baixo dele. Eu tremia. -- ME SOLTE, SEU DEMÔNIO! seus olhos estavam vidrados em mim. O sangue já estava seco no canto de seus lábios. Ele abriu um leve sorriso de c
Passamos mais três dias em alto mar. Eu ainda estava muito nervosa e ansiosa pelo o que o futuro reservava. Tinha medo do que estava por vir, mas me sentia um pouco mais tranquila, ficando ao lado de Julian. Mesmo ele sendo o que era. Eu estava na borda do navio, fitando o grande mar azul em uma bela manhã. Quando ele se colocou ao meu lado, eu olhei para ele de canto. O homem parecia pensativo. -- faltam só algumas horas para estarmos em rocha nublada. -- eu estremeci. -- não terá perigo de Hector nos encontrar? -- eu tenho um lugar seguro e escondido, onde ele nunca descobrirá. -- assenti pensativa. -- quero que saiba que não irei machucá-la. -- eu o encarei. -- sei que tem medo de mim, pelo o que sou. -- pesar tomou sua voz. -- mas não farei nada com você, eu juro pelo sangue. -- franzi o cenho. -- como o sol não fere você? -- ele só me fere quando tomo sangue humano, quando não... eu me pareço um humano. -- eu estava tão intrigada. -- então se não beber sangue humano, o s
Fui devidamente apresentada a boa parte dos residentes daquela... comunidade. Eu não sabia bem como intitular. Mas fui apresentada como esposa de Julian, o que me deixava nervosa e receosa. Mas ver a situação que todas aquelas pessoas passavam, durante anos. Até mesmo crianças inocentes, me fazia querer ajudar a todo custo. Quando acabou a apresentação, Eris levou eu e Julian por um corredor de rocha, que subia até a parte de cima. Onde havia um grande quarto iluminado, com uma cama posta no meio do quarto. -- obrigado irmão, mais tarde conto a você as novidades. -- eu espero mesmo, tenham uma boa noite. -- ele disse cheio de malícia, e logo após se foi. Julian fechou a porta já tirando a parte de cima de sua roupa. -- por quê você está se despindo? -- questionei nervosa. Ele sorriu ao ver minha cara. -- porque estou exausto e suado, quero me refrescar e depois dormir. -- ele ficou apenas de calças, e seu peitoral tão largo e bem definido me deixou sem palavras. Eu não pude evit
Me levantei cedo demais aquela manhã, eu sabia que era dia, pois entravam pequenos raios de sol pelas frestas da fortaleza. Não sabia se Julian ainda estava no quarto, eu apenas vesti um outro vestido azul e saí pelos corredores. Andei um pouco e cheguei até o que parecia ser o lugar de alimentação daquelas pessoas, algumas distribuíam enquanto outros recebiam. -- acordou cedo. -- Eris disse se aproximando com uma bandeja cheia de frutas e peixe assado nas mãos. -- digamos que não dormi muito bem. -- pelo o modo como seu rosto ficou malicioso, eu tinha certeza que ele não havia entendido. -- pode ficar por aqui se quiser, é hora do café da manhã. -- ele já estava passando por mim, quando segurei seu braço. -- me dê uma bandeja, eu quero distribuir também. -- ele me fitou de cima a baixo.-- ora não é necessário. -- mas eu quero. -- insisti sorridente. Ele me encarou por alguns instantes e então me entregou a bandeja que segurava. -- apenas duas frutas e dois peixes. -- eu ass
Eu sentia o corpo bem acomodado, enquanto pequenos raios de sol refletiam em meus olhos. Acordei lentamente, e logo notei que estava deitada em uma pequena cama, em volta de um cobertor quente, no que parecia ser uma tenda. Lá fora eu ouvia vozes, sobressaltada, eu me pus de pé recordando o que havia acontecido. Eu não via bem lá fora, mas dava para notar que havia um pequeno tráfego de pessoas. -- você é um maldito estúpido! -- eu reconheci aquela voz furiosa, era Ivan. -- você sabe que nós não podemos confiar naquele sanguessuga! -- Adam esbravejou. Eu estremeci, logo corri para o outro lado da tenda e tentei encontrar um modo de fugir. Eu estava quase rasgando uma parte da tenda, quando senti um braço passar por minha cintura me prendendo contra si. Ele me jogou na cama, e eu sentia o coração a mil. Ele vestia apenas uma calça preta larga, e seu rosto estava muito sério. Ivan estava ao seu lado. -- por favor... Por favor não me façam nada! Eu imploro. Adam sorriu ironicam
Eu sabia que ele mataria todos Aqueles lobisomens, seu rosto não escondia isso. Olhei ao redor e pude ver algumas mulheres escondidas nos cantos, protegendo suas crianças. Enquanto olhavam para Julian apavoradas. Aquilo seria um massacre, então sai de onde estava parada e corri até ele. Julian ainda apertava o pescoço do lobisomem, quando um outro tentou saltar contra ele, Julian sorriu. -- você está sem jeito, Ivan. -Ele era um grande lobisomem cinzento de orelhas pontudas, eu olhei para ele enquanto corria. -- JULIAN, EU ESTOU AQUI. seus olhos recairam sobre mim. Ele me fitou de cima a baixo, enquanto sua garganta oscilava. Ele vacilou um pouco, dando tempo para o lobisomem se soltar e jogá-lo para longe. Julian rugiu ao se chocar contra as árvores. Todos os lobisomens foram para cima dele ao mesmo tempo, mas eu fui mais rápida e corri me colocando na frente. Eles pararam me encarando. -- não... Não façam nada com ele, eu imploro. -- os lobisomens rugiram para mim. Julian se
Voltamos à fortaleza de Julian em total silêncio. Ele ainda parecia muito tenso e nervoso, mas eu não conseguia compreender o motivo. Afinal nós havíamos conseguido a ajuda da alcatéia de Ivan, ele deveria estar feliz. Mas não foi o que aconteceu, quando adentramos ele mandou Eris me guiar até o quarto. E quando o fez, eu fiquei sozinha. Passei muito tempo andando de um lado para o outro naquele quarto, e comecei a me sentir culpada. Será que ele estava bravo comigo? Durante todo o percurso ele ficou quieto, quando chegamos mal olhou para mim. Eu tentei me acalmar, troquei de roupas e fiquei no quarto durante muito tempo. Mas ele não apareceu, aquilo foi a gota d'água para mim. Furiosa talvez comigo mesma, eu sai daquele quarto. E subi as escadas, seguindo para sua sala de reuniões. Eris saiu assim que surgi, ele me olhou de cima a baixo. -- ele quer ficar sozinho. -- eu quero falar com ele. -- não será possível. -- eu sou esposa dele, para todos os efeitos! Diga que quero fala
Continuamos a nos beijar com intensidade, enquanto nossos corpos se chocavam um contra o outro. Nossas línguas travavam uma luta intensa em nossas bocas, eu tateava o corpo de Julian querendo mais, implorando por mais. Enquanto suas mãos desciam por minhas costas, apertando meus quadris com força. Eu arfava a cada toque, enquanto ele se afastava por um instante de meus lábios e descia até meu pescoço. Deixando beijos leves, e molhados contra minha pele. Mas então... Ele parou. Por um instante, observando meu pescoço. Como se estivesse vendo algo que mais ninguém pudesse ver. Eu notei a pressão de seu corpo contra o meu, o modo como ele ficou quente. -- Julian? -- ele continuou a encarar meu pescoço, então suas mãos subiram até meu cabelo. Ele os entrelaçou entre os dedos, enquanto se aproximava de meu pescoço um pouco mais. Sua garganta oscilou. -- Julian! -- eu bati em seu ombro, ele me encarou. Seus olhos estavam arregalados, seus lábios ainda inchados de nosso beijo tão intenso.