Cada músculo do seu corpo doía por conta do embate com as ondas, mas sua mente simplesmente não parava. Collin tinha estado ansioso para ficar sozinho e tentar digerir tudo que havia acontecido na noite passada. Até tentar dormir um pouco, se conseguisse. Então, quando Leonardo apareceu naquela tarde acompanhado dos meio-irmãos, ele de início, não apreciou a invasão. Mas, passado algum tempo, se conformou e até gostou da companhia.
Ser parte daquele pequeno grupo, trouxe um pouco de leveza para sua alma, e por alguns breves momentos, mantivera sua mente distante de pensamentos negativos. Era bom ter irmãos, e já que os filhos mais novos de Dirceu, se mudariam para sua casa em breve, aquelas reuniões serviam também para se aproximarem. Pena, que ele estava no seu pior estágio.
Helena ficou emocionada quando finalmente conheceu Collin.— Sou a mãe da Emily. Estava ansiosa para te conhecer. Meu Deus! Você é tão bonito! — exclamou puxando-o para dentro de seus braços. E antes de soltá-lo deu um beijo no rosto, fazendo-o corar. — E alto! — Helena tinha a mesma altura de Lily.— Sou Sócrates, o pai. — falou em tom grave e sisudo.Collin se recuperou da recepção calorosa da mãe de Lily, e estendeu a mão para cumprimentar o sogro, que aferrou o aperto de mão, quase quebrando seus dedos.— É um prazer, conhecer vocês! — Collin falou tentando relaxar a mão que por pou
— Você disse, casar? — Sócrates coçou a barba, em baixo do queixo, transparecendo seu nervosismo. Após conversarem, os jovens convocaram a presença de todos no quarto e Collin fez o comunicado deixando-os atônitos.— Sim. Quando a Lily entrar na sala de cirurgia, será como minha esposa. — Ele disse beijando a mão dela.Dirceu foi o que primeiro se recuperou do choque, e se aproximou para felicitar os dois. Deu uns tapinhas nas costas de Collin, e o elogiou por ter compreendido a conversa que tiveram. Helena, emocionada, abraçou a filha.— Crianças, vocês sabem que planejar um casamento não é simples. É um tempo muito curto. — Sulivan, ponderou antes de abso
Dr. Eric, era simpático e tinha um sorriso relaxado. Sua fala não era carregada de termos técnicos, como a maioria de seus colegas de profissão, mas, era simples, clara e passava confiança. De início ele conversou com Lily e a família, interessado pela sua história. Na sequência, solicitou novos exames, e discutiu reservadamente com Dr. Alberto, por alguns minutos, que para Lily pareceram horas inacabáveis. Não era a primeira vez que ela se via naquela situação. Imaginando-se a ré em um tribunal, aguardando a deliberação do júri para receber a sentença. Olhando para os pais, e dos pais para Sulivan e Dirceu e deles para Collin, sentiu ainda mais angústia por ver tantas pessoas sofrendo com ela. De repente foi tomada por um sentimento de pânico. E se o prognóstico fosse igual aos anteriores? Se n&
Os olhos arregalavam-se, alarmados, enquanto Lily encarava a porta. O coração saltava dentro do peito, cada vez que ouvia uma maca se aproximando. Quando a via passar direto, sua expressão se descontraia e ela respirava aliviada.Em um dado momento iniciou uma correria incomum nos corredores. Sócrates colocou a cabeça para fora buscando entender o que acontecia. Quando ele olhou de volta para dentro, seus olhos pousaram direto na filha, e nenhum dos presentes precisou tentar decifrar a aflição que encobriu seu rosto. Todos ouviram, alto e claro, quando alguém em meio aquela movimentação, deixou escapar que o paciente no quarto ao lado havia falecido, naquele instante. O pranto desesperado de um familiar que acabara de receber a triste notícia, ainda ecoou no quarto antes que Sócrates fechasse a porta, na
Sete meses depois... Por volta das oito horas da manhã, quando Sulivan acordou, Dirceu não estava na cama. Ela o chamou para conferir se estava no banheiro, mas não houve resposta. Então, se levantou e foi até o quarto vizinho. Todo seu rosto se iluminou com a cena encantadora do marido embalando a pequena criança nos braços, enquanto cantarolava baixinho. Ele sorriu ao levantar os olhos e vê-la parada na porta com um sorriso derretido, e cara de boba. — Bom dia, minha querida! — Bom dia! Vejo que se vira muito bem sem mim. O quarto havia sido redecorado recentemente. As paredes foram revestidas com papel de parede de poá; e a decoração lançava mão de adesivos e objetos que combinavam diferentes tons de r
O táxi amarelo subiu a ladeira e parou em frente ao imponente casarão de muros cobertos de musgos. Santa Tereza, bairro da Zona Central do Rio de Janeiro, é conhecido pelas antigas mansões, ruas íngremes e sinuosas, e estilo de vida boêmio. Lily ergueu o olhar apreensivo através da janela do carro e respirou fundo. Estar ali era importante e, ao mesmo tempo, angustiante, mas sentia que tudo daria certo. Tinha que dar certo. Segurando um envelope, colocou a bolsa no ombro, pagou a corrida e andou até o portão de ferro. Anunciou sua presença no interfone e, assim que a entrada foi liberada, passou pelo estreito caminho de tijolos até a varanda de estilo colonial.Enquanto aguardava a proprietária do imóvel, olhava o ambiente. As paredes eram revestidas de ladrilhos holandeses com alguns retratos antigos. Um denso carpete estampado cobria boa parte do chão de mármore frio e escuro, e cortinas cinzas se estendiam sobre duas grandes janelas, impedindo quase toda a luminosidade de entrar.Li
Após receber as instruções sobre a rotina da casa, Lily acompanhou Sulivan em suas tarefas, observando com atenção. No decorrer da semana, mais adaptada, passou a cuidar das coisas de Collin, mas procurando se manter resignada em relação a ele. Não queria forçar uma aproximação prematura. Desde que Lily chegou ele raramente saía do quarto, seu dia a dia se resumia as necessidades básicas, como única distração passava horas escutando os canais de esportes, documentários e notícias na TV a cabo, mas sem demonstrar qualquer sinal de ânimo ou interesse. Era apenas uma tentativa de manter a mente ocupada.Lily esperava que teria dificuldades para obter a aceitação dele. Porém, foi pior do que havia presumido. O rapaz parecia ter encontrado uma nova ocupação, a de tornar o contato entre eles o mais odioso poss&i
Sulivan adorava ter a companhia de Lily. Em pouco tempo, a moça se ofereceu para ajudá-la a recuperar o jardim, e trabalhavam nele duas ou três vezes por semana, enquanto a dona da casa, contava histórias sobre sua família, aventuras de sua juventude e dos momentos preciosos que viveu ao lado do marido. A mais jovem, como uma perfeita ouvinte que era, a escutava com entusiasmo. Algumas vezes estas conversas tomavam um tom de desabafo. Sulivan se emocionava, chorava, e depois, envergonhada, se desculpava por obrigá-la a presenciar estes momentos de fraqueza.— Eu nunca me abri sobre essas coisas com ninguém, você entende? — justificou Sulivan tentando enxugar os olhos marejados com o antebraço — Não quero que o Collin se sinta culpado pela minha tristeza.
Último capítulo