Quando Emily recobrou a consciência, ouvindo o bipar dos monitores conectados ao corpo, agradeceu internamente por reconhecer aquele som. Significava que estava viva. Mesmo ainda um pouco atordoada e sem conseguir abrir os olhos, por causa da sensibilidade à luz, ela identificou o ambiente ao seu redor. Já estava familiarizada o suficiente para saber como era um quarto de hospital. Durante muito tempo aquela fora sua casa, e mesmo em endereços e países diferentes, todos eram exatamente iguais e tinham o mesmo cheiro.
Por instinto ela moveu a mão até a cabeça, lembrando-se da dor que sentira no local antes de desmaiar e dos momentos de agonia que viveu, enquanto via o pai se afastar para sair de seu quarto, em casa. Para não preocupá-lo ainda mais, havia mentido quando ele perguntou sobre seu bem-estar. Acostumara-se a i
Passou-se o final de semana, e veio a segunda-feira. Contudo, Lily não apareceu no trabalho pela manhã e nem sequer deu notícias. A esta altura Collin já estava aflito e aborrecido, apesar disso, mesmo sem nenhuma disposição concordou que Dirceu o levasse para o centro de reabilitação. Ele assumiu um compromisso consigo mesmo de não faltar aula. E desde que começou a frequentar todos os dias, havia progredido bastante. Era árdua a jornada de transição da dependência para a autonomia. Algumas coisas eram mais difíceis que outras, mas ele estava tentando de verdade por si mesmo, por sua mãe e por Lily. Ele, secretamente, vibrava cada vez que ela dizia o quanto estava orgulhosa de alguma nova conquista dele. E depois daquela noite de sexta-feira, ele queria ainda mais se tornar independente, autoconfiante e seguro.
Dirigindo pela Av. Pasteur para pegar o trajeto via túnel de Santa Bárbara de volta a Santa Teresa, Lily media as palavras para iniciar a conversa com Collin. Ela percebeu que ele fazia o mesmo. Por várias vezes ele abriu a boca para falar, mas logo em seguida, desistindo, fechava novamente. Ele segurava os próprios joelhos, tão forte que poderia rasgar ojeansda calça com as unhas.— Você estava doente? — Ele falou a primeira frase que lhe ocorreu, tentando controlar o ímpeto de se lançar sobre ela.— Sim. — Lily confirmou. — Passei o final de semana com uma virose muito forte. Na verdade, ainda estou me recuperando.— Ficamos preocupados. Você nem me
Sulivan já estava quase tendo um ataque quando ouviu o ruído do carro estacionando na frente da casa. Passaram duas horas além do horário, e depois do estarrecedor comunicado de Lily ela já nem sabia o que pensar.Quando a moça entrou logo atrás de Collin, seu olhar pousou direto nos olhos saltados e vermelhos de Sulivan. Ela sentiu coração pesar ao perceber que mulher chorara, certamente por sua causa.— Está tudo bem, filho? — Sulivan perguntou virando o rosto para beijá-lo e em seguida voltou a encarar a moça que ainda estava perto da porta.— Estou bem, mãe. — Collin respondeu com firmeza.— Sério? &mdash
Era a época perfeita do ano e o clima era agradável naquele domingo. Não chovia muito, os dias também não eram muito quentes, e quase não havia nuvens no céu. Dirceu cantarolava preparando a churrasqueira sorrindo para Sulivan, que ia e voltava da cozinha direcionando para ele, olhares amorosos. Lily e a nora de Dirceu tinham acabado a arrumação e agora ajudavam a levar os pratos para fora. Um pequeno garoto corria todo o jardim fazendo a volta pelo terreno da casa enquanto um menino e uma menina, gêmeos, e mais velhos corriam atrás dele encurralando-o dos dois lados. Ele tentava se esquivar e caía na risada. Um rapaz um pouco mais velho que Collin, conversava com Dirceu enquanto vigiava à distância, o carrinho onde um bebê dormia.— Lily, onde ele está? — Sulivan refe
Os olhos de Lily percorreram o tablado, procurando por Collin entre as duplas de alunos vestidos com quimonos brancos. O que os diferenciavam eram apenas as faixas coloridas, atadas à cintura. Circulando entre eles, o 'Sensei' proferia os comandos e parava algumas vezes para acertar uma postura ou golpe mal-executado. O rosto de Lily resplandeceu em admiração, quando avistou seu namorado aprendendo a imobilizar o parceiro de treino. Ela reconheceu o jovem de faixa roxa que praticava com Collin. Tão logo a viu ali parada, ele falou ao ouvido de Collin, que reagiu erguendo a cabeça e abrindo um sorriso largo. Sabendo que falavam sobre ela, Lily revirou os olhos, enquanto os dois continuavam conversando e rindo. Finalmente eles se curvaram fazendo o cumprimento tradicional do judô. Leonardo e Collin encerraram o treino e depois de trocar algumas palavras com o professor vieram ao encontro dela.
Em agosto, Sulivan e Dirceu anunciaram a data do casamento. Casariam-se dali a dois meses numa cerimônia simples e intimista, e fariam uma recepção para poucos convidados, no próprio jardim da casa.Com a proximidade da data, as semanas consequentes foram bastante intensas.Enquanto Lily ajudava Sulivan com os preparativos, Collin seguia frequentando rigorosamente as aulas no instituto e estava cada vez mais dedicado ao judô. O esporte havia se tornado a segunda coisa preferida em sua vida. A sua primeira 'coisa' favorita era a moça corajosa, de perfume doce e voz cativante. A amizade dele e Leonardo se fortaleceu bastante durante esse período, uma vez que passavam mais tempos juntos, enquanto as parceiras estavam ocupadas com a organização do casamento.
— Como ela está, Lily? — a moça girou levemente o corpo para trás, para observar Sulivan entre os convidados.— Sorrindo tanto que parece nem ter ossos no rosto.— Foi uma ótima descrição. — Collin riu.Apesar de haver poucos convidados a festa estava bastante animada. A maior parte dos presentes eram da família de Dirceu. Até a banda de Tomás, o filho caçula de Dirceu, havia tocado algumas músicas logo no início da festa, e como eram conhecidas todos cantaram junto. Ficou evidente que o garoto tinha potencial.Depois de ter se apresentado para umas trinta pessoas, Collin ficou impaciente e quis procurar uma mesa afastada
Quase seis horas de voo e duas escalas depois de embarcarem no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Galeão, os quatro viajantes desembarcaram em Porto Seguro, na Bahia.Assim que notaram a ausência da filha, Helena e Sócrates tentaram desesperadamente entrar em contato com ela. Mas, a moça ignorou suas ligações e quando entrou no avião desligou o aparelho.A viagem havia sido tranquila, embora Sulivan e Collin que nunca haviam entrado em um avião tivessem ficado bastante apreensivos. Corroída de remorso por ter fugido de casa e decepcionado os pais, Lily, não falou muito durante o voo. Isso fez Collin se preocupar depois do que havia acontecido no final do dia anterior durante a festa. Naquela manhã ela havia aparecido afirmando estar bem. Quando Collin a quest