Collin teve que engolir o ceticismo quando o solista iniciou sua performance ao piano. Naquele momento, entendeu o quanto esteve enganado em todos esses anos. A cegueira não foi capaz de impedir o pianista de realizar tamanha façanha. Certamente, a jornada não fora fácil. Ainda assim, mesmo com a limitação e a descrença das pessoas, não deixou de seguir o próprio sonho e tornar-se grandioso. Era isso que Lily queria que ele descobrisse o levando ali? Ela esteve nos últimos meses tentando mostrar haver um mundo onde ele estava incluído? Que poderia reaprender a sonhar?
Tomado pela emoção, desejou com ardor tocá-la. Procurou a mão dela e a segurou com força, deixando Lily confusa.
— Obrigado, Lily! Por tu
Estavam tão entregues um ao outro que esqueceram de Dirceu. Lily sentiu algo vibrar contra o quadril e lembrou do celular, que àquela altura já estava encharcado. Desprendendo-se de Collin ela buscou o telefone na bolsa. Atendeu o aparelho gritando, confirmando que era Dirceu e explicou onde estavam. Instantes depois avistaram os faróis do carro se aproximando e também caminharam ao seu encontro.— Meninos, que loucura foi essa? — Dirceu perguntou.Sulivan sem reação observa os dois entrarem ensopados no fundo do carro. Lily pediu desculpas por estarem naquele estado. Mas Collin sem dizer nada apenas sorriu sozinho e não passou despercebido por Dirceu, que analisava a cena pelo espelho retrovisor.— Collin, Lily,
Depois passar metade da noite em claro, Sócrates acordou de manhã sentindo o corpo pesado e uma dor cabeça fina. Ainda sonolento e com os olhos inchados lavou o rosto no toalete, escovou os dentes e de pijama mesmo desceu para ler seu jornal e tomar sua rotineira xícara de café. Helena já havia levantado e estava na cozinha preparando o café da manhã.— Bom dia, Sócrates. — Ela falou quando ele a abraçou por trás. – Querido! Seu rosto está horrível! — Ela notou quando virou para beijá-lo.— Eu sei. Não consegui dormir graças a nossa filha. — disse dando a volta no balcão e sentando-se de frente para Helena que se apressou em colocar o café fumaçando a sua frente. O jorna
Quando Emily recobrou a consciência, ouvindo o bipar dos monitores conectados ao corpo, agradeceu internamente por reconhecer aquele som. Significava que estava viva. Mesmo ainda um pouco atordoada e sem conseguir abrir os olhos, por causa da sensibilidade à luz, ela identificou o ambiente ao seu redor. Já estava familiarizada o suficiente para saber como era um quarto de hospital. Durante muito tempo aquela fora sua casa, e mesmo em endereços e países diferentes, todos eram exatamente iguais e tinham o mesmo cheiro.Por instinto ela moveu a mão até a cabeça, lembrando-se da dor que sentira no local antes de desmaiar e dos momentos de agonia que viveu, enquanto via o pai se afastar para sair de seu quarto, em casa. Para não preocupá-lo ainda mais, havia mentido quando ele perguntou sobre seu bem-estar. Acostumara-se a i
Passou-se o final de semana, e veio a segunda-feira. Contudo, Lily não apareceu no trabalho pela manhã e nem sequer deu notícias. A esta altura Collin já estava aflito e aborrecido, apesar disso, mesmo sem nenhuma disposição concordou que Dirceu o levasse para o centro de reabilitação. Ele assumiu um compromisso consigo mesmo de não faltar aula. E desde que começou a frequentar todos os dias, havia progredido bastante. Era árdua a jornada de transição da dependência para a autonomia. Algumas coisas eram mais difíceis que outras, mas ele estava tentando de verdade por si mesmo, por sua mãe e por Lily. Ele, secretamente, vibrava cada vez que ela dizia o quanto estava orgulhosa de alguma nova conquista dele. E depois daquela noite de sexta-feira, ele queria ainda mais se tornar independente, autoconfiante e seguro.
Dirigindo pela Av. Pasteur para pegar o trajeto via túnel de Santa Bárbara de volta a Santa Teresa, Lily media as palavras para iniciar a conversa com Collin. Ela percebeu que ele fazia o mesmo. Por várias vezes ele abriu a boca para falar, mas logo em seguida, desistindo, fechava novamente. Ele segurava os próprios joelhos, tão forte que poderia rasgar ojeansda calça com as unhas.— Você estava doente? — Ele falou a primeira frase que lhe ocorreu, tentando controlar o ímpeto de se lançar sobre ela.— Sim. — Lily confirmou. — Passei o final de semana com uma virose muito forte. Na verdade, ainda estou me recuperando.— Ficamos preocupados. Você nem me
Sulivan já estava quase tendo um ataque quando ouviu o ruído do carro estacionando na frente da casa. Passaram duas horas além do horário, e depois do estarrecedor comunicado de Lily ela já nem sabia o que pensar.Quando a moça entrou logo atrás de Collin, seu olhar pousou direto nos olhos saltados e vermelhos de Sulivan. Ela sentiu coração pesar ao perceber que mulher chorara, certamente por sua causa.— Está tudo bem, filho? — Sulivan perguntou virando o rosto para beijá-lo e em seguida voltou a encarar a moça que ainda estava perto da porta.— Estou bem, mãe. — Collin respondeu com firmeza.— Sério? &mdash
Era a época perfeita do ano e o clima era agradável naquele domingo. Não chovia muito, os dias também não eram muito quentes, e quase não havia nuvens no céu. Dirceu cantarolava preparando a churrasqueira sorrindo para Sulivan, que ia e voltava da cozinha direcionando para ele, olhares amorosos. Lily e a nora de Dirceu tinham acabado a arrumação e agora ajudavam a levar os pratos para fora. Um pequeno garoto corria todo o jardim fazendo a volta pelo terreno da casa enquanto um menino e uma menina, gêmeos, e mais velhos corriam atrás dele encurralando-o dos dois lados. Ele tentava se esquivar e caía na risada. Um rapaz um pouco mais velho que Collin, conversava com Dirceu enquanto vigiava à distância, o carrinho onde um bebê dormia.— Lily, onde ele está? — Sulivan refe
Os olhos de Lily percorreram o tablado, procurando por Collin entre as duplas de alunos vestidos com quimonos brancos. O que os diferenciavam eram apenas as faixas coloridas, atadas à cintura. Circulando entre eles, o 'Sensei' proferia os comandos e parava algumas vezes para acertar uma postura ou golpe mal-executado. O rosto de Lily resplandeceu em admiração, quando avistou seu namorado aprendendo a imobilizar o parceiro de treino. Ela reconheceu o jovem de faixa roxa que praticava com Collin. Tão logo a viu ali parada, ele falou ao ouvido de Collin, que reagiu erguendo a cabeça e abrindo um sorriso largo. Sabendo que falavam sobre ela, Lily revirou os olhos, enquanto os dois continuavam conversando e rindo. Finalmente eles se curvaram fazendo o cumprimento tradicional do judô. Leonardo e Collin encerraram o treino e depois de trocar algumas palavras com o professor vieram ao encontro dela.