CAPÍTULO 02

Cidade de Albuquerque — Novo México 1870

Isabella Portman era a dama perfeita. Criada para seguir as regras da sociedade, ela sabia exatamente como se comportar em qualquer situação. Desde pequena, fora educada em um dos melhores colégios internos para moças, onde se tornara uma mulher culta, cujas palavras e sabedoria frequentemente assustavam aqueles ao seu redor. Diziam até que ela estava "à frente de seu tempo".

Sua relação com o pai, o xerife Henry Hamilton, fora sempre distante. Embora o respeitasse, as visitas entre eles tornaram-se esparsas ao longo dos anos. Quando ele se mudou para o Oeste e ela se casou, os encontros tornaram-se ainda mais raros. Isabella se acostumara à vida na alta sociedade, mas, com a morte do marido e a solidão do luto, ela sentiu a necessidade de voltar a estar perto do pai. A pressão social e os comentários cruelmente piedosos sobre sua viúva situação tornaram a decisão ainda mais urgente. "Coitada, ficou viúva tão cedo", "Será que ela vai casar novamente?", "Parece que ela já está com um novo caso." Isabella estava farta de ouvir aquilo.

Assim, decidiu que era hora de retornar ao Oeste, ao lado do pai, para escapar das murmurações que a assombravam. Chegando à cidade de Albuquerque, ela logo percebeu que a realidade do Oeste, conforme contada por seu pai, era ainda mais dura do que imaginava. O calor do deserto, os mosquitos incômodos, os homens bêbados e as brigas constantes... Bella mal teve tempo de se acostumar antes de ser confrontada com o caos que permeava aquela terra.

Estava na cidade há uma semana quando os tiros começaram. Aquelas disparos interromperam a tranquilidade da noite, e o xerife Hamilton saiu apressado de casa, visivelmente irritado. Ele mandou Bella ficar em casa e não sair por nada.

Ela não ousou desobedecer, mas a preocupação com o bem-estar do pai a manteve acordada. Não conseguia relaxar até vê-lo retornar são e salvo. Os empregados da casa, já acostumados com aqueles eventos, pareciam não se abalar, e até comentaram que era algo que já demorara para acontecer.

Algumas horas depois, Henry Hamilton voltou, aparentemente ileso.

— Ah, não acredito que esses calhordas resolveram brigar logo hoje — ele resmungou. — E o pior, Billy Walker ainda está por aqui.

— Billy Walker! O pistoleiro? — Isabella exclamou, reconhecendo o nome imediatamente.

Mesmo vivendo em um mundo de luxo, Bella conhecia os nomes dos pistoleiros mais notórios do Oeste. Sem Alma, Águia Cinzenta, Jason Fox, o Urso, e Billy Walker, o mais temido de todos. Hábil com armas, facas e luta corporal, Billy superava até mesmo Sem Alma, que era considerado o pistoleiro mais perigoso.

— Vejo que a fama dele já ultrapassou fronteiras — o pai comentou, visivelmente irritado. — Bella, enquanto ele estiver por aqui, não quero que saia de casa. Eu o prendi, mas não sei até quando ele vai permanecer lá.

— Está bem — Bella assentiu, sentindo o peso da preocupação do pai.

— Agora vá dormir, querida. Já está tarde, e você deve estar cansada.

Ela sorriu, aliviada por ver o pai seguro, e lhe deu um beijo na bochecha. Ele estava bem, sem um arranhão. Com um suspiro de alívio e sono, Bella subiu para o seu quarto e logo adormeceu, acreditando que a noite passaria em paz.

No entanto, o pesadelo estava prestes a começar.

Era madrugada quando Bella acordou com o som de tiros, novamente. Ela se levantou da cama, o coração batendo forte no peito. A janela do quarto estava aberta, e ela observou o céu escuro, iluminado apenas pela luz fraca das velas nas casas vizinhas. O que estava acontecendo? Billy Walker havia escapado? E seu pai, estaria ele em segurança?

Ela escutou o barulho de cavalos, e logo um grupo de homens passou pela rua. Alguns carregavam tochas acesas, iluminando as sombras da noite, enquanto outros gritavam palavras incompreensíveis. O pânico se espalhou em sua mente enquanto ela observava, sem saber o que fazer.

Então tudo ficou quieto. O silêncio parecia esmagador. Bella ficou ali, imóvel, até que ouviu batidas na porta de seu quarto.

Ela deu um salto, o susto a fazendo quase perder o equilíbrio. Com pressa, vestiu um roupão e abriu a porta, encontrando a governanta, Senhora Candice, pálida e visivelmente assustada. Outros dois empregados estavam ao lado dela.

— Senhora Portman? — a governanta perguntou, sua voz tremendo.

— O que houve? — Bella perguntou, preocupada com o tom de aflição na voz da mulher.

— Senhora... — Candice mal conseguiu terminar a frase, e os outros empregados a ajudaram a se apoiar para não desmaiar.

— Calma, o que aconteceu? — Bella segurou a mulher, tentando acalmá-la.

— Senhora... O senhor Hamilton... — a governanta finalmente conseguiu dizer, antes de desabar em lágrimas.

Bella congelou, seu coração falhou um batimento. O chão parecia abrir sob seus pés.

— Como assim, ele... foi levado? — Bella perguntou, sua voz falhando.

— Sim, senhora, pistoleiros o levaram. Não sabemos onde estão. — A governanta chorava descontroladamente. — Desculpe, senhora, não conseguimos fazer nada.

A notícia caiu como um peso esmagador sobre Bella. Seu pai, o único membro de sua família próximo a ela, estava em grande perigo. Sozinha no quarto, ela sentiu o pânico tomar conta de seu ser. O que fazer? Como agir? A solidão e a incerteza começaram a consumir suas forças enquanto ela tentava compreender a situação.

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