CAPÍTULO 04

Hael disfarçou o sorriso ao perceber o olhar admirado da jovem. Ele sabia que era bonito, mas não dava importância a isso. No entanto, não deixou de notar o olhar ousado dela em seu traseiro enquanto selava o cavalo. Isso era inusitado para alguém que deveria ser uma dama da alta sociedade, e ele logo concluiu que Isabella Portman não tinha nada de inocente.

Claro, ele não podia julgá-la. Afinal, também a analisara brevemente na delegacia. Era uma mulher atraente, com traços delicados. Talvez fosse um pouco magra, consequência das regras rígidas de onde vivia, mas isso não diminuía sua beleza.

Discretamente, reparou no vestido comportado que ela usava. Os cabelos dourados estavam presos em um coque, com alguns fios soltos caindo suavemente sobre o rosto delicado. Seus olhos claros brilhavam com intensidade, o nariz arrebitado e os lábios carnudos completavam o quadro. Sim, ela era realmente bonita.

Quando notou as duas malas ao lado dela, ergueu uma sobrancelha. Não podia acreditar no que estava prestes a ouvir.

— Para que isso? — perguntou, apontando para as malas.

— Aqui está o seu dinheiro — respondeu ela, entregando uma das malas.

Hael pegou a mala, colocou-a no chão e a abriu. Um sorriso breve surgiu em seu rosto ao contar rapidamente o dinheiro. Pela sua experiência, a quantia estava correta: metade do combinado. Era o suficiente para pagar seu bando e chamá-los de volta após as “férias forçadas”.

Amarrou a mala com firmeza na sela de seu cavalo e, ao fechar o nó, ouviu a voz dela novamente.

— Não vai conferir? — perguntou Isabella.

— Já conferi — respondeu secamente.

Enquanto ajustava as rédeas, uma mecha de sua franja caiu sobre os olhos. Ele a jogou para trás com um movimento casual, mas ouviu o suave ofego da jovem. Virando-se, percebeu que ela o encarava. Ele estreitou os olhos, impaciente.

— E a outra mala? — questionou.

— É minha. Eu vou com você.

Desta vez, ele riu.

— Como é?

— Eu vou com o senhor. Assim, tenho a garantia de que não vai me enganar.

Hael cruzou os braços, incrédulo.

— Essa é uma das coisas mais absurdas que já ouvi. A senhorita está sendo imprudente. Me pagou para procurar seu pai, não para ser babá.

— Pago mais quando voltarmos. Quanto custa?

Ele apertou os olhos, o tom de sua voz soando como um aviso.

— Isso está fora de questão.

Pegou as rédeas, pronto para partir, mas Isabella segurou a outra ponta, impedindo-o.

— Não interessa. Eu disse que pagarei. Vou com o senhor, preciso ver meu pai com meus próprios olhos.

Hael fechou os olhos, contando até vinte em silêncio.

— Senhorita Portman — começou, com a paciência se esvaindo —, não tenho como protegê-la, e onde estou indo é perigoso.

— Sei disso. E mesmo assim, quero ir — respondeu ela, batendo o pé.

Ele balançou a cabeça. Era impossível convencê-la.

— Está bem. Depois não diga que não avisei. E saiba que, quanto mais difícil for, mais caro vou cobrar.

— Cobre o quanto quiser. Agora me ajude a subir no cavalo.

Resmungando, ele pegou as rédeas e subiu primeiro, estendendo a mão para ajudá-la. Quando estavam prontos, cavalgaram em direção à saída da cidade.

A sensação de ter uma mulher agarrada à sua cintura enquanto cavalgava era incomum. Não fazia parte de seu “trabalho” e, no fundo, sabia que a preocupação com ela dobraria. Por isso sempre alertava seus homens: nunca levem mulheres para missões.

Ao entardecer, pararam no meio do deserto. Hael desceu do cavalo e bebeu água, oferecendo a garrafa a Isabella. O vento estava mais forte, levantando areia e tornando o ar difícil de respirar.

— Está tudo bem? — perguntou ao vê-la coçar os olhos.

— Acho que entrou areia — respondeu ela, desconfortável.

Ele pegou um pano do bolso e entregou a ela.

— Use isso. Proteja os olhos e o nariz.

Isabella tentou ajustar o pano, mas com dificuldade. Hael suspirou, aproximou-se e a ajudou a amarrar o tecido, virando-a de costas para ele. Quando terminaram, um uivo ao longe chamou sua atenção. Instintivamente, Isabella se aproximou dele.

— O que foi isso? — perguntou, assustada.

— Provavelmente um coiote. Nada demais.

Ela ergueu o queixo, tentando parecer corajosa.

— Vamos continuar.

— Como quiser — respondeu, resignado.

Repetiu o processo para ajudá-la a subir no cavalo, e seguiram viagem.

No entanto, ele sabia que essa jornada seria muito mais complicada do que qualquer outra que já enfrentara.

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