CAPÍTULO 03

Logo ao amanhecer, Bella saiu em busca de ajuda, indo até os homens que trabalhavam com seu pai. Mas, ao chegar na frente da delegacia, viu os corpos espalhados no chão. Colocou as mãos na boca, tomada pelo pânico, e deu meia volta, buscando auxílio em qualquer lugar. No entanto, as pessoas que passavam apenas a ignoravam ou balançavam a cabeça em sinal de medo, sem sequer deixá-la terminar de falar.

Merda, ninguém nesta cidade consegue me ajudar.

Foi então que um senhor, com uma carroça carregada de feno, parou ao lado dela.

— Somos só civis, senhorita. Não temos como lutar contra bandidos, mas talvez alguém no saloon possa ajudá-la. — Ele apontou em direção ao local.

— Obrigada, senhor. — Ela agradeceu, observando o homem seguir seu caminho.

Bella sabia que não deveria entrar ali. O saloon não era um lugar para mulheres. Mas seu desespero superava qualquer pudor. Reunindo coragem, ela caminhou até o saloon. Ao soltar o ar que estava prendendo, percebeu que, para sua sorte, não havia muitas pessoas. Porém, seu alívio foi curto: todos os homens presentes se viraram para encará-la. Suas mãos tremiam, mas ela tentou manter a calma.

— O que quer aqui, mocinha? — O homem atrás do bar perguntou.

— E-eu... — A voz dela saiu fraca e trêmula. Ela soltou um pigarro e continuou —, eu preciso de ajuda para encontrar meu pai. Ele foi levado pelos bandidos na noite passada.

O local ficou em silêncio, e, então, os homens começaram a rir.

— Então, é a filha do xerife. — O mais velho riu. — Essa busca já é uma causa perdida. O xerife já deve estar morto, a essa altura.

Seu coração disparou ao ouvir aquele absurdo.

— Não, ele não pode estar morto!

— Se não estiver, com certeza estará. Quando um homem é levado assim por pistoleiros, sua morte é a mais dolorosa possível. — Disse um cowboy. — Volte para o seu lugar, mocinha. Isso aqui não é para você!

Bella sentiu o desespero ameaçar dominá-la. Seus olhos se encheram de lágrimas. Não, ela não iria perder seu pai assim, e não ia desistir dele.

O homem que estava no bar saiu do salão e se aproximou. Bella percebeu, pelo olhar dele, que ele sentia pena dela. Como ela odiava isso.

— Sou amigo do seu pai há muito tempo. Tem algum jeito de saber se o xerife está vivo ou se voltará vivo? — Ele perguntou.

— Júlio, não se meta nisso. — Disse outro homem, que estava sentado no canto. — Vai levá-la direto aos lobos.

— Mas eu também quero saber se ele está vivo. — Júlio sorriu e deu de ombros. — O que você está disposta a oferecer para saber?

— Farei de tudo para salvar meu pai. — Bella respondeu, com firmeza.

— É boa em negociações?

— Nunca fiz isso, mas sou inteligente e audaciosa o suficiente. — Ela disse com confiança.

Júlio riu, parecendo mais interessado.

— Espero que seja mesmo. Bom... — Ele suspirou. — O homem que pode ajudá-la está preso na cela da delegacia, ou pelo menos ainda acho que está.

— Ele quer entregá-la aos lobos. — O cowboy riu e balançou a cabeça. — Pobre moça.

Bella pensou por um momento e continuou com a expressão séria.

— Está falando do Billy Walker?

— Então você o conhece, isso é ainda melhor. — Júlio levantou uma sobrancelha, como se esperasse que ela recuasse.

— Eu disse que farei qualquer coisa para salvar meu pai. Obrigada. — Bella agradeceu com um leve sorriso e, em seguida, saiu do saloon, ouvindo o coro de risadas atrás de si.

Não importava quem fosse; se aquele homem podia ajudá-la, ela iria até ele.

Quase correndo até a delegacia, Bella parou diante dela, fechando os olhos com força enquanto passava pelos corpos no chão. Quando conseguiu entrar, observou a delegacia quebrada, seu olhar se fixando em um homem caído no chão. Ele parecia ser alto, suas roupas imundas e rasgadas, o chapéu de cowboy cobrindo o rosto.

— Por favor, senhor, com licença. — Ela tentou soar o mais simpática possível.

O homem não respondeu.

— O senhor é Billy Walker, não é? Por favor, me responda, senhor. — Ela insistiu.

O homem se mexeu, como se finalmente estivesse prestando atenção nela. Tirou o chapéu de cowboy, revelando um rosto de traços marcantes. Ela o observou, curiosa. Ele é asiático? Pensou enquanto o fitava. O homem se levantou devagar e, ao sorrir discretamente, Bella sentiu uma onda de desconforto misturada com uma estranha atração. Seus olhos, profundos e intensos, a fizeram dar alguns passos para trás involuntariamente.

— Sim, eu sou Billy Walker. O que a mocinha quer comigo? — Ele perguntou, com um tom desinteressado.

Billy Walker ficou ali, encostado na parede, observando-a com um olhar tão penetrante que Bella sentiu um arrepio se espalhar por sua espinha. Era evidente que ele sabia o quanto poderia ser perigoso.

Parece que os boatos são reais.

— Meu nome é Isabella Portman, me disseram que o senhor estava aqui. Levaram meu pai, o xerife.

Ele coçou o pescoço, sem pressa.

— E?

— Eu quero sua ajuda. Preciso trazer meu pai de volta. Não posso perdê-lo. — A voz dela, carregada de aflição, se quebrou no final. — Por favor, eu não tenho a quem recorrer, e só o senhor pode me ajudar.

Billy sorriu de forma irônica.

— Não entendo o porquê eu faria isso. — Ele riu, como se a situação fosse um jogo.

— Mas... o senhor é um dos pistoleiros mais perigosos. Disseram que pode me ajudar.

Billy se aproximou da grade e cruzou os braços, soltando um longo suspiro. Bella quase torceu o nariz pelo cheiro, mas rapidamente se concentrou.

— Talvez eu possa, mas eu não quero. — Ele disse calmamente. — Lamento que seu pai tenha sido levado, mas não tenho nada a ver com isso.

Ela suspirou profundamente, disposta a fazer qualquer coisa para obter sua ajuda.

— Por favor, senhor, meu pai é tudo o que tenho de mais precioso. — Ela não conseguiu mais conter as lágrimas, e o olhar de Billy vacilou, mas logo ele se recompôs.

— Escute, vamos supor que eu vá atrás do seu pai. Isso não garante que ele esteja vivo. E eu vou ter colocado minha vida em risco por nada.

— Não será por nada. Eu lhe darei 300 pratas.

Ele balançou a cabeça e quase riu.

— Minha vida não vale isso. Volte para casa, senhorita.

— 700 pratas. — Ela insistiu, com a voz firme.

— Nada disso.

— 2000 pratas. — Ela propôs.

Billy ficou surpreso, seus olhos brilhando com uma mistura de desconfiança e interesse. A oferta de Bella era tentadora, e ele sabia que o valor era muito mais do que imaginava. Ela estava disposta a pagar.

Ele a encarou por um momento, e quando ela estava prestes a aumentar a oferta, ele finalmente falou.

— Você tem como me dar tudo esse dinheiro? Não sou idiota, como vou saber que não está mentindo?

— Vamos fazer o seguinte: eu dou metade agora e a outra metade quando voltarmos. — Bella sugeriu com segurança.

Billy permaneceu quieto por um momento, ainda observando-a atentamente. Depois, finalmente, assentiu.

— Feito. Mas não posso garantir que seu pai ainda esteja vivo.

Ela respirou aliviada.

— Tudo bem, obrigada por aceitar. — Bella disse, começando a procurar as chaves da cela.

Billy assobiou, chamando sua atenção. Ele empurrou a porta da cela, revelando que estava solto o tempo inteiro. Bella o encarou, estupefata.

— Por que o senhor não foi embora antes? — Ela perguntou, confusa.

— Porque eu queria dormir mais um pouco. — Ele respondeu calmamente. — Aproveitei para descansar.

Bella olhou-o, agora mais próximo. O cheiro dele estava... muito mais agradável, e ela teve dificuldade em parar de olhá-lo.

— Quando o senhor pretende sair? — Ela perguntou, ainda um pouco desorientada.

— Em breve. Preciso resolver algumas coisas. — Ele respondeu, pegando suas armas com destreza.

— Certo, então onde posso encontrar o senhor para entregar o dinheiro?

— Atrás do saloon. Meu cavalo está amarrado lá. Nos vemos mais tarde, senhorita.

Depois de pegar suas coisas, Billy se dirigiu à porta, e Bella o observou sair. Ela ficou ali por um momento, refletindo sobre tudo o que acabara de acontecer. Uma coisa era certa: ela sentia que podia confiar em Billy Walker.

➷➷➷

Como combinado ela estava atrás do saloon um pouco depois da hora do almoço, como havia um cavalo ali o pistoleiro ainda não havia ido embora. Ela o aguardava com duas malas, uma com o dinheiro e outra com suas roupas, iria com ele em busca do seu pai.

Lembrou-se da expressão de apavorada da governanta, quando citou Billy e o que estava prestes a fazer:

— Senhora, esse homem é um bandido, não pode ir com ele — aconselhou a governanta.

— Fique tranquila senhora Candice, eu sei me cuidar, e sinceramente se Billy Walker quisesse me machucar ele o teria feito. — Respondeu com um sorriso tranquilo, enquanto fazia suas malas.

O que era verdade já que a cela dele esteve aberta aquele tempo todo e ele não fez um movimento maldoso.

— Mesmo assim, querida, você é uma dama, e não sabe das perversidades do velho oeste, não pode ir com esse homem, seu pai ficaria bravo.

— Eu não posso ficar aqui esperando, eu não vou aguentar. Eu preciso ir com ele e ver meu pai bem com os meus próprios olhos.

A governanta a olhou.

— Se algo acontecer com a senhorita, volte para a sua cidade, lá você ficará segura.

— Não vai acontecer nada, Billy Walker irá me proteger, afinal eu que darei o restante do dinheiro para ele.

A senhora continuou tentando convencê-la de não fazer isso, mas nada no mundo faria Isabella mudar de ideia.

E com isso ela estava aqui esperando, olhando para o animal ao lado, tentou se aproximar para fazer carinho, mas o cavalo se afastou e virou-se de costas para ela.

— Olha só, temos um genioso aqui. — sussurrou com um sorriso.

Então ela pegou no relógio de bolso preso a uma correntinha no seu vestido.

— Cadê ele? Será que vem mais tarde? — disse alto falando sozinha consigo mesmo —, senhor espero que essas coisas que ele precisava fazer era tomar um banho, eu não vou aguentar um homem sujo e fedorento ao meu lado.

Isabella ouviu um pigarro indicando que alguém estava atrás dela.

Quando ela se virou para encarar o homem e seu queixo caiu... Não é possível que ele seja a mesma pessoa!

Billy Walker se apresentava muito diferente do que quando o encontrou mais cedo. Seu cabelo liso estava úmido em um corte médio, divido um pouco ao meio com a franja jogada para o lado, claramente ela podia ver o seu rosto, ele havia tirado a barba deixando apenas um leve sombreado entre o queixo e o bigode, seus lábios eram bem desenhados, seus olhos profundos e grandes continuavam com aquele brilho sensual, e o cheiro dele estava... Maravilhoso, sabonete fresco misturado a uma colônia que ela não conseguia decifrar o aroma. Mas era muito bom.

O pistoleiro era lindo e no momento para ela estava sendo completamente difícil parar de olhá-lo. 

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