Dois

Às dez horas da noite em ponto, Margot estava em frente ao 1984, um bar temático dos anos 80 que seu alvo, Andrew Griffin, era um dos sócios, e usando seu melhor look matador... literalmente. Ela usava calças de alfaiataria preta e de cintura alta, um sutiã branco, um terninho e saltos também na cor preta.

Em seu belo rosto, havia pouquíssima maquiagem, e ela dava destaque para os lábios grossos com um batom vinho e para os cílios com rímel. Ela adorava a praticidade de ter cabelos curtos, lhe livravam de várias horas os arrumando em um penteado elaborado demais, já que assim era só passar um gel e o pentear para trás, que ficava elegante.

Escondidos pelo terninho e a calça estavam seus aparatos de trabalho: duas armas de tamanho médio com seus devidos silenciadores e dois canivetes escondidos em dois bolsos secretos em seu sutiã. Isso sem contar com a munição extra em seu carro.

A jovem entrou no belo estabelecimento e logo foi cumprimentada por um garçom, que a acompanhou até uma mesa bem ao fundo do local. Enquanto passava, cabeças viravam em sua direção, e ela sabia que isso aconteceria e já estava acostumada. Aliás, ela usava isso a seu favor, pois quando lançava um sorriso convidativo, seu alvo da vez se sentiria mais animado a se aproximar, e isso facilitaria seu trabalho.

Assim que terminou de fazer o pedido de sua bebida, o ambiente foi preenchido pelo som de uma música eletro-pop, que ela adorava, e logo sentiu que seus ombros balançavam no ritmo da música. Foi então que ela parou realmente para observar o bar.

Ele realmente parecia ter saído direto dos anos 80: neon para todo o lado, discos de vinil distribuídos em prateleiras pouco acima das mesas. O chão era daquele tipo de ladrilho preto e branco, e havia, a alguns metros, uma pequena pista de dança ainda vazia. Os garçons e garçonetes estavam usando roupas características da época, o que somente reforçava o sentimento de nostalgia.

Gradualmente, o local foi começando a ficar movimentado, fazendo ela se sentir desconfortável. Com o trabalho que realizava, não era muito fã de lugares lotados. Isso sempre dificultava que realizasse tudo em paz, pois corria o risco de alguém ver o que não deveria.

Quando sua bebida chegou, Margot agradeceu e passou a observar um grupo de homens parados a alguns metros à sua frente, até que notou que um deles não tirava os olhos dela. E, não é que esse homem era justamente seu alvo?

Daquela curta distância, ele parecia ser alto, não muito forte. A pele clara de seu rosto estava um pouco repuxada em volta dos lábios por causa do sorriso mínimo que ele lançava para Margot. Seus olhos castanhos estavam presos nela e não se desviaram, nem mesmo quando alguns fios de seus longos cabelos pretos caíram em seus olhos e ele os piscou, soltando todos e os prendendo em um coque novamente.

Andrew a havia notado e não conseguia mais parar de a encarar. Que mulher extremamente bonita era aquela?

— Andrew? Está me ouvindo? — Um de seus sócios perguntou, estalando os dedos em frente ao seu rosto.

Mas de nada adiantou. Andrew estava preso no magnetismo que Margot exercia. Ele precisava ir falar com aquela mulher o mais rápido possível.

— Me desculpem, continuem conversando, eu já volto.

Margot observava tudo de sua mesa enquanto levava o copo a boca. Sabia que ele logo viria ao seu encontro. Eles sempre faziam a mesma coisa. Enquanto o observava se aproximar, Margot se preparou para a sua mesma encenação. A que ela usava para todos os casos. Tomou o restante de sua bebida, colocou o copo na mesa e terminou de pedir outra, no mesmo instante em que Andrew parava a sua frente.

— Boa noite. — Ele disse, sorrindo largamente, mas a jovem mal parecia lhe dar atenção. — Estão lhe atendendo bem?

— Por que deseja saber? — Margot perguntou, cruzando os braços em frente ao corpo, o que fez seu terninho se abrir um pouco e deixou seu colo à mostra. Sorriu internamente quando o viu descer o olhar de seu rosto para aquele ponto em questão e completou — Senhor, eu perguntei por que deseja saber se estou sendo bem atendida ou não!

— O quê? — Andrew disse, sobressaltado ao notar que fora pego checando os seios dela. Envergonhado, respondeu à pergunta — Eu sou um dos donos da 1984 e como nunca vi você aqui, queria saber se estava sendo bem atendida.

— Ah, entendo. — Exclamou, um pouco mais receptiva. — Neste caso, estou sendo muito bem atendida, obrigada.

— Fico feliz... Bom, muito prazer, sou Andrew. — Ele disse, estendendo a mão e sorrindo para Margot, que apenas o encarava. Como podem cair tão rápido assim? pensou com ironia. — E você é...?

— Margot. — Respondeu, sorrindo minimamente.

— Então, Margot... quer dançar? — Ele perguntou, a mão ainda estendida na sua direção, na esperança de ela aceitar.

— Não gosto de dançar. — Margot deu de ombros e observou o garçom colocar a outra bebida na sua frente. — Obrigada. — Completou, agradecendo tanto ao Andrew, quanto ao garçom.

— Como assim não gosta? — Indagou com surpresa na voz.

— Não sei dançar muito bem. — Margot respondeu, sorrindo timidamente.

— Ah, qual é! — Andrew exclamou, puxando uma cadeira e se sentando ao lado da jovem. — Eu aposto que você fica bonita na pista de dança. — Flertou de maneira descarada, fazendo Margot sorrir largamente.

— Não sei...

— Eu te ensino a dançar. — Ofereceu e notou como ela era ainda mais bela tão perto. — O que acha?

— Pode ser.

Então os dois se levantaram e seguiram até a pista de dança. Essa era a parte de que Margot mais gostava em seu trabalho: seduzir seu alvo. Era divertido ver a pessoa cair na sua rede. Não, ela não era uma pessoa sádica. Ela apenas achava boa essa parte do trabalho, sentia como se estivesse dando um último presente para seu alvo.

Eles dançavam ao som de uma música do Depeche Mode, uma das bandas favoritas da jovem, e foi então que Andrew percebeu duas coisas: que ela não dançava nada mal e que ele queria muito a beijar.

E foi o que ele fez. Sem pedir licença ou perguntar se tudo bem, ele beijou aquela quase desconhecida como se nunca mais fosse a ver. O que era parte da verdade, afinal, o máximo que Margot lhe permitiria seriam poucos segundos antes de dar seu golpe de “misericórdia”.

Margot estava contando os segundos para executar a próxima parte de seu trabalho, mas não conseguia deixar de notar como aquele beijo era bom. A maneira como ele estava mordendo seu lábio inferior de leve, fazendo com que sua nuca arrepiasse loucamente, ou o modo como sua língua explorava cada canto de sua boca com fervor, tudo era simplesmente incrível.

Uma pena ela ter que matá-lo, pois ela o queria por perto por mais algum tempo, apenas para que ele a beijasse mais e mais. Mas infelizmente estava na hora de executar a parte final. Sendo assim, ela soltou seus lábios dos de Andrew, sorriu, mexeu nos bolsos e disse:

— Droga! Deixei meu celular no carro. Vou ter que buscar.

E começou a sair em direção à saída, mas teve seu braço segurado por Andrew.

— Quer que eu a acompanhe até lá fora? — Ele ofereceu com um meio sorriso nos lábios.

— Claro! — Margot disse com animação.

Logo os dois seguiram até o lado de fora do bar, sem falar nada. Assim que avistou seu carro, Margot foi seguindo até ele, se preparando para o que viria a seguir.

— É esse aqui. — Anunciou, apontando para a Mercedes preta em um modelo sedã, poucos metros na sua frente.

Assim que pararam em frente ao carro, a ela teve seu corpo prensado contra a porta do carro e seus lábios foram presos em um novo beijo. Ok, aquilo era bom, mas estava atrasando seu trabalho. Foi por isso que, ainda de olhos fechados e sendo beijada fervorosamente, ela tirou uma das mãos que estavam enroscadas nos cabelos do homem e começou a buscar por sua arma.

Assim que teve sua arma em punho, Margot começou a apontá-la na direção de Andrew. Só que ela não podia contar com o que veio a seguir.

— Se eu fosse você, não faria isso, Margot. — Andrew disse, com uma arma apontada para a sua cabeça.

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