— Mas que mer... — Margot gaguejou, assustada por ter uma arma apontada para sua cabeça.
— Eu sabia que ela ia mandar alguém atrás de mim! — Ele disse com um meio sorriso triste. — Foi a Joyce que te mandou, não foi? — Ele perguntou, e Margot apenas assentiu. — Sabia! Aquela mulher é uma falsa! Joyce que faz a merda e, com medo das provas que tenho contra ela, manda que alguém faça o trabalho sujo!
— Do que você está falando?
— Não vai me dizer que ela não te contou? — Ele indagou com sarcasmo. — Pensei que isso era necessário para seu trabalho.
— Eu não costumo saber sobre o porquê das pessoas me procurarem. — Ela respondeu, levantando o queixo. Ela era uma assassina de aluguel, mas não aceitava que ninguém a maltratasse pelo que fazia.
— Então, querida Margot, você deveria saber que foi enganada e que está prestes a matar um inocente.
— Como posso saber se está falando a verdade? — Margot perguntou com a arma firme em suas mãos. Ele podia muito bem a estar enganando para fugir de seu fim.
— De duas maneiras... assim... — Andrew começou a falar de maneira calma e colocou sua arma aos pés da jovem. Retirou o celular do bolso. — E te mostrando os arquivos que tenho em meu celular e que provam que Joyce não é nenhuma santa. — Completou e esperou por uma reação de Margot.
Ela ponderou por alguns segundos.
Ela matava pessoas para viver, mas não tinha um coração ruim, apenas falta de sorte. Se aquele cara estivesse falando a verdade, ela não queria ser responsável pela morte de um inocente.
Foi por isso que, pegando a arma dele do chão e guardando a sua, ela disse:
— Me mostre esses arquivos.
Andrew teve que se segurar para não suspirar alto demais. Ele mal podia acreditar que ela estava lhe dando uma chance. Mesmo sabendo que talvez ela o matasse mesmo assim...
Bom, não seria tão ruim assim, afinal ao menos a sua carrasca era extremamente bela. Ele começou a passar pelos arquivos que mostravam todas as conversas entre ele e Joyce Carter.
Quando a esposa de seu melhor amigo, o magnata do petróleo Matthew Carter, tentava a todo custo o chantagear para que Andrew não contasse a ele sobre o gigantesco roubo que ela havia feito nos cofres da empresa.
Além disso, ele possuía cópias de documentos que provavam que ela estava deixando o marido na ruína.
— Mas porque ela está fazendo isso?
— Pelo que pesquisei, a família de Matthew esteve envolvida em um acidente que tirou a vida do pai de Joyce, e ela quer vingança.
— Meio que a entendo... — Margot começou a falar, mas foi interrompida por barulhos de tiro. — Que merda é essa? — Exclamou em meio ao susto enquanto Andrew a puxava para o chão.
— Ela mandou mais alguém! — Andrew disse, olhando para o carro que vinha do fim da rua em direção a eles. Um dos passageiros atirava na direção dos dois.
Margot pegou a chave do carro no pequeno bolso interno em seu terno e o destravou.
— Entra logo. — Ela gritou para Andrew, que abriu a porta de trás e entrou.
Margot abriu a do motorista e entrou também. Seu carro era à prova de balas, afinal era uma coisa fundamental em seu trabalho.
Enquanto o carro se aproximava mais e mais, Margot preparou sua Glock 17, apenas para o caso de necessidade, e arrancou com o carro, porém os atiradores do outro carro não desistiam e logo ficaram na cola dos dois.
— Você tem um arsenal no seu carro. — Andrew afirmou com surpresa, fazendo Margot dar uma risadinha.
— Eu sei. — Ela disse, o olhando pelo retrovisor enquanto fazia uma curva fechada e entrava em uma espécie de viela, observando o carro que os seguia passar direto. — Você está bem? — Perguntou com preocupação, se virando para trás e observando o belo homem, que parecia estar assustado demais com tudo o que acontecia.
— Sim, eu já imaginava que isso fosse acontecer. Por isso comprei a minha arma. — Ele respondeu, dando um sorriso mínimo.
Eles ficaram naquela viela por mais alguns minutos, até que Margot teve certeza de que não estavam em uma emboscada. Quando ela voltou a dirigir pela cidade, ainda sem rumo, seus pensamentos ficaram barulhentos. Seu chefe, Stan, iria acabar com sua raça por não ter matado aquele cara ainda. Ou pior: mataria outra pessoa para puni-la.
— No que está pensando? — Andrew perguntou enquanto se sentava ao lado da jovem, lhe dando um belo susto. — Está ponderando se me mata ou não, não é?
— Exatamente. — Margot resmungou sem nenhum traço de humor na voz enquanto passavam em frente a um prédio muito parecido com o que ela morava.
— Posso te fazer uma pergunta? — Andrew voltou a falar, e ela apenas assentiu. — Por que disse que “meio que a entende”?
— Porque eu também estou fazendo coisas ruins pela minha família. — Ela respondeu, observando-o pelo canto de olho rapidamente, mas a tempo de ver a surpresa em seu rosto. — Que foi? Pensou que eu fazia isso porque gostava? — Perguntou com sarcasmo, e ele tentou se explicar, mas, rindo, ela o cortou. — Está tudo bem, todo mundo pensa o mesmo.
— Então... O que houve para que você entrasse nesse meio?
— Meu pai, ele está muito doente. — Começou a explicar sem tirar os olhos da estrada. — E como estava desempregada, precisei pegar um dinheiro emprestado com um agiota...
— Com um agiota? Margot, você não sabia...?
— Que era perigoso? — Ela o interrompeu enquanto estacionava o carro em um bar bem afastado do centro da cidade. — Claro que sim, mas eu precisava. Já ouviu a expressão “tempos desesperados pedem medidas desesperadas”? Pois então, eu precisava fazer o que fosse necessário para salvar o meu pai.
— E como foi que você acabou como assassina de aluguel?
— Bom, como esse agiota sabia que eu tenho muito conhecimento e habilidade com armas, já que meu pai me ensinou como caçar e como usar armas desde que me lembro. Ele resolveu fazer uma troca: pagaria todas as contas hospitalares e de remédios do meu pai, e eu deveria trabalhar como assassina de aluguel para ele durante um ano. Eu não tenho orgulho algum do trabalho que eu faço, mas é ele que mantém meu pai vivo. — Respondeu, encarando-o e dando de ombros.
— Eu sinto muito. — Andrew disse, passando um dos dedos na bochecha da jovem e a fazendo sorrir.
— Não sinta, eu já estou no último mês do meu contrato, meu pai está quase melhor e logo voltarei a ter uma vida normal... — Ela foi interrompida pelo toque do celular de Andrew.
— Alô?
— Coloque no viva-voz, Andrew, quero que sua nova amiga escute também. — Joyce disse do outro lado da linha, usando toda a frieza de que era capaz de imprimir em sua voz.
Andrew olhou para Margot de maneira assustada e fez o que a mulher pedira.
— Pode falar.
— Quem é? — Margot perguntou com preocupação.
— Margot, Margot... você não deveria ter me contrariado. — Joyce falou com sarcasmo. — Deveria o ter matado no instante em que o viu, mas como não o fez, você terá de sofrer as consequências disso.
— Deixe-a em paz, Joyce, é a mim que você quer. — Andrew quase gritou para o pequeno aparelho em sua mão.
Os dois tomaram um susto quando a mulher riu.
— Tolinho, você acha mesmo que eu vou deixar vocês dois em paz? Correndo o risco de você contar tudo para Matthew? — Ela zombou em meio as risadas. — Não, não. Já mandei dois amiguinhos meus atrás de vocês. — Continuou a falar, e como que para dar ênfase em suas palavras, o carro que os seguira há pouco tempo começava a vir em direção aos dois.
— Merda, merda, merda... — Margot sussurrou enquanto arrancava com o carro.
— Espero que o inferno seja divertido, queridos.
— E agora, Margot? — Andrew perguntou em meio ao desespero, olhando para trás e vendo o carro cinza se aproximar mais e mais a cada segundo.
— Agora... — Margot começou a falar enquanto rodava o carro na pista e depois o parava assim que ficou frente a frente com o de seus inimigos. Pegou sua arma e entregou a de Andrew para ele. — Nós atacamos. — Continuou enquanto se sentava no colo de Andrew e lhe dava um beijo rápido. Abriu a janela e, colocando metade do corpo para fora, completou — Se eles se aproximarem demais, você vai para o banco do motorista e nos tira daqui. Entendeu?
— Sim.
— Então que comece a festa. — Ela sorria enquanto destravava sua arma, vendo o carro parar a poucos metros de onde o dela estava.
Assim que uma das portas do outro carro foi aberta, Margot começou a atirar, não havia tempo para pensar. Quando esvaziou o cartucho, ela pediu a Andrew que lhe entregasse mais um.Mas não podia contar que enquanto terminava de recarregar a arma, um dos homens no outro carro fosse puxá-la para fora do veículo e começar a sufocá-la.— Me larga! — Ela disse enquanto se debatia embaixo das mãos do homem e as arranhava, enquanto o mesmo ria de seu esforço.— Me desculpe, bonitinha, mas acabou para você. — E dizendo isso, o homem aumentou a pressão que fazia no pescoço da jovem, que perdia cada vez mais o ar.Andrew, que estava tentando recarregar a arma em sua mão, desistiu e puxou o homem de cima de Margot, lhe dando um soco tão forte, que o homem desmaiou no mesmo instante. Margot respirava com tanta força e rapidez, que Andrew pensou que estivesse se engasgando.— Você está bem? — Ele perguntou a ajudando a se levantar, e Margot apenas assentiu. — Venha, vamos sair daqui.Andrew a ajud
Três dias se passaram desde a fatídica noite na 1984. Para dois completos desconhecidos, tudo ainda era muito estranho na convivência entre eles. Aliás, desde o momento em que colocaram os pés para fora do carro naquela noite, tudo ficou estranho.— Bem-vinda ao nosso esconderijo. — Andrew soltou, assim que terminou de fechar a porta do motorista.Havia sido uma viagem silenciosa de Sacramento até ali e ele não sabia exatamente como a jovem ao seu lado estava se sentindo. Margot encarou a fachada luxuosa, que destoava da simplicidade do restante da cidade.Toda feita em pedras brancas, a casa de dois andares, diversas janelas e um belíssimo jardim, parecia mais ter saído de um dos bairros chiques de Los Angeles. Se recompondo, ela o encarou e disse:— Não sei se estaremos tão escondidos assim, mas já é um começo.Andrew a encarou por alguns segundos, ponderando se deveria dizer algo ou não. Optou pelo silêncio, acompanhando aquela estranha e belíssima mulher, que há poucas horas estav
Andrew não era o melhor cozinheiro do mundo, Margot notou no instante em que colocou a primeira garfada da lasanha em sua boca. Estava salgada demais e levemente queimada nos cantos.Deus, isso está horrível! Pensou, se repreendendo em seguida, já que também não era a melhor cozinheira. E nem pretendia ser, restaurante e entrega em casa existiam para isso.Andrew notou a careta que ela fazia para o prato a sua frente e resolveu se explicar:— Eu sei que está salgado demais, acho que perdi a mão. As notícias que chegaram hoje me deixaram completamente fora do ar.Parando com o garfo poucos centímetros de sua boca, Margot o encarou com interesse.— Quais notícias?— Matthew está doente aparentemente. — Suspirou, passando as mãos pelo cabelo novamente. — E Joyce foi indicada para um cargo alto na Carter Co., para “representar o marido”. — Revirou os olhos em irritação. — Tenho certeza que tem dedo dela, na doença de meu amigo.— Como você ficou sabendo de tudo isso? Aliás, eu estou curio
— Eu tenho uma pergunta para te fazer.Foi assim que Margot recepcionou Andrew, na manhã seguinte ao jantar desastroso dos dois, quando ele chegou à cozinha para o café.Ele a encarou, curioso para saber o que ela pretendia fazer, mas ainda sonolento da noite mal dormida. Passava das três da manhã, quando o sono chegou e seus pensamentos voaram para longe da mulher a alguns quartos de distância. Aquela havia sido a primeira noite desde que chegaram ali, em que sua mãe e seu padrasto não eram o foco de seus pensamentos antes de dormir.Já Margot, mesmo tendo dormido tão pouco quanto ele, estava acostumada. Desde que o pai ficou doente, ela não havia dormido mais de seis horas. Isso quando dormia, pois, sua atenção era completamente dominada para atender todas as necessidades do pai.Por isso, quando o relógio indicou que eram cinco para às seis da manhã, rumou ao banheiro e após cuidar de tudo o necessário, correu para a cozinha e preparou o café. Bom, tirou todas as comidas de suas em
O silêncio era a trilha sonora da segunda viagem de Andrew e Margot em menos de uma semana. Ambos pareciam ainda tentar raciocinar como uma manhã tranquila havia se transformado em uma nova fuga.— Como eles conseguiram nos achar? — Andrew finalmente juntou coragem o suficiente para falar.— Provavelmente pelo seu celular. Ah, por cartões de crédito também, essas merdas têm rastreadores potentes. — Margot lhe respondeu abafadamente, já que mantinha o rosto grudado a janela. — Precisamos encontrar um novo esconderijo.Com os olhos voltados para a estrada, Andrew assentiu e repassou mentalmente todos os lugares em que poderiam ficar. Anunciou depois de algum tempo, que a próxima cidade pela qual passassem iriam usar como esconderijo pela noite.— Descansamos em algum hotel e poderemos decidir o que fazer.Margot concordou sem muita vontade e se fechou novamente em seus pensamentos. A confirmação de que Stan a queria viva era pior que se tivesse mandado que os matassem de uma vez. Ele es
— Acha que agora podemos conversar? — Andrew perguntou, a respiração entrecortada e uma Margot igualmente cansada deitada ao seu lado.A jovem havia voltado de seu banho e o encontrado recém-chegado do seu, não lhe dando tempo nem de se vestir, antes de ser novamente agarrado como na noite passada. E ele não reclamou nem um pouco.— Podemos. — Ela lhe beijou rapidamente, se sentando na cama em seguida. — Temos muito a fazer, antes de chegar em LA. Precisamos vender meu carro e pegar um novo. Comprar outros celulares e entrar em contato com seu hacker. Tudo bem para você?— Claro, mas posso te perguntar uma coisa? Na verdade, duas. — Pediu, a observando assentir, já se levantando e pegando o roupão que havia abandonado há alguns minutos. — A primeira é: Qual o motivo para LA ser sua escolha?— Simples: é onde meu pai e minha irmã estão escondidos. — Andrew se sentou de uma só vez, observando a expressão da jovem se fechar em clara preocupação. — Eu tenho uma casa com um nome falso, com
Com a vista privilegiada do centro de Los Angeles, Margot aproveitava mais uma xícara do café maravilhoso preparado por Andrew. Ele estava mais que inspirado naquela manhã, graças à animação para ver a jovem em ação novamente.Aliás, desde que começaram a treinar, uma semana antes, ele não conseguia deixar de admirá-la. E aos poucos começar a entender como usar uma arma da forma correta. Não queria correr o risco de deixá-la na mão, como aconteceu na noite em que se conheceram.A simples lembrança daquele homem tentando acabar com a vida dela lhe dava calafrios. Os dois estavam se dando tão bem, que a ideia de algo acontecer com Margot o deixava em estado de terror.Pegando sua xícara, Andrew caminhou até a sacada para encontrá-la. Ela parecia serena observando os prédios a sua frente, a brisa do final de verão terminando de secar os fios curtos de seu cabelo.Na verdade, sua mente estava longe, ainda tentando entender o silêncio de sua irmã e preocupada com seu melhor amigo, Gavin. O
Sacramento – Três dias antesUma, duas, três vezes.Joyce terminava uma mecha de seu cabelo e passava para a próxima, a cabeça longe do seu ritual de cuidados capilares da manhã. Tudo estava caminhando para onde ela queria.Para onde ele desejava.Mesmo Margot e o idiota do Andrew tendo fugido, a mulher sabia que em breve os teria de volta e nada sairia do seu controle. Seu sorriso surgiu, enquanto finalmente deixava a escova de lado e seguindo para o primeiro andar da casa, onde seu marido a aguardava.Colocando a máscara da esposa troféu, a mesma que usava nos últimos doze anos de casamento, Joyce beijou Matthew com falsa doçura, mesmo enojada com a crise de tosses que o acometeu depois.Por ela, nunca teria se casado com o filho do casal responsável pela ruína da sua família, afinal, nutria variados sentimentos por ele. Exceto pelo amor.Mas esse casamento fora necessário para que seus planos tomassem forma. Para que os planos deles dessem certo.— Está piorando muito, meu amor. —