A chuva leve daquela tarde em Sacramento encharcava o casaco da jovem enquanto ela observava o cartão preto em suas mãos. Ela ainda não tinha certeza se aquele era o local certo, mas não poderia mais esperar.Ele sabia demais, e ela precisava dar um fim nisso, isso sem sujar suas mãos, é claro.Respirando fundo, ela atravessou a rua e, olhando para todos os lados possíveis, entrou no prédio comercial que parecia estar abandonado. Enquanto subia os lances de escada, ela observava a atmosfera nada convidativa e extremamente ameaçadora do local, que consistia em pôsteres de filmes de ação antigos, ameaças escritas à mão e algumas pessoas de aparência nada gentil que passavam a todo momento e que a estavam deixando muito assustada.Quando parou no quinto andar, checou o cartão em suas mãos novamente e seguiu até a sala de número 505, o mesmo que estava marcado abaixo de apenas um nome: Margot. A jovem não conhecia essa tal de Margot, mas como havia sido indicada por uma das amigas que dis
Às dez horas da noite em ponto, Margot estava em frente ao 1984, um bar temático dos anos 80 que seu alvo, Andrew Griffin, era um dos sócios, e usando seu melhor look matador... literalmente. Ela usava calças de alfaiataria preta e de cintura alta, um sutiã branco, um terninho e saltos também na cor preta.Em seu belo rosto, havia pouquíssima maquiagem, e ela dava destaque para os lábios grossos com um batom vinho e para os cílios com rímel. Ela adorava a praticidade de ter cabelos curtos, lhe livravam de várias horas os arrumando em um penteado elaborado demais, já que assim era só passar um gel e o pentear para trás, que ficava elegante.Escondidos pelo terninho e a calça estavam seus aparatos de trabalho: duas armas de tamanho médio com seus devidos silenciadores e dois canivetes escondidos em dois bolsos secretos em seu sutiã. Isso sem contar com a munição extra em seu carro.A jovem entrou no belo estabelecimento e logo foi cumprimentada por um garçom, que a acompanhou até uma me
— Mas que mer... — Margot gaguejou, assustada por ter uma arma apontada para sua cabeça.— Eu sabia que ela ia mandar alguém atrás de mim! — Ele disse com um meio sorriso triste. — Foi a Joyce que te mandou, não foi? — Ele perguntou, e Margot apenas assentiu. — Sabia! Aquela mulher é uma falsa! Joyce que faz a merda e, com medo das provas que tenho contra ela, manda que alguém faça o trabalho sujo!— Do que você está falando?— Não vai me dizer que ela não te contou? — Ele indagou com sarcasmo. — Pensei que isso era necessário para seu trabalho.— Eu não costumo saber sobre o porquê das pessoas me procurarem. — Ela respondeu, levantando o queixo. Ela era uma assassina de aluguel, mas não aceitava que ninguém a maltratasse pelo que fazia.— Então, querida Margot, você deveria saber que foi enganada e que está prestes a matar um inocente.— Como posso saber se está falando a verdade? — Margot perguntou com a arma firme em suas mãos. Ele podia muito bem a estar enganando para fugir de se
Assim que uma das portas do outro carro foi aberta, Margot começou a atirar, não havia tempo para pensar. Quando esvaziou o cartucho, ela pediu a Andrew que lhe entregasse mais um.Mas não podia contar que enquanto terminava de recarregar a arma, um dos homens no outro carro fosse puxá-la para fora do veículo e começar a sufocá-la.— Me larga! — Ela disse enquanto se debatia embaixo das mãos do homem e as arranhava, enquanto o mesmo ria de seu esforço.— Me desculpe, bonitinha, mas acabou para você. — E dizendo isso, o homem aumentou a pressão que fazia no pescoço da jovem, que perdia cada vez mais o ar.Andrew, que estava tentando recarregar a arma em sua mão, desistiu e puxou o homem de cima de Margot, lhe dando um soco tão forte, que o homem desmaiou no mesmo instante. Margot respirava com tanta força e rapidez, que Andrew pensou que estivesse se engasgando.— Você está bem? — Ele perguntou a ajudando a se levantar, e Margot apenas assentiu. — Venha, vamos sair daqui.Andrew a ajud
Três dias se passaram desde a fatídica noite na 1984. Para dois completos desconhecidos, tudo ainda era muito estranho na convivência entre eles. Aliás, desde o momento em que colocaram os pés para fora do carro naquela noite, tudo ficou estranho.— Bem-vinda ao nosso esconderijo. — Andrew soltou, assim que terminou de fechar a porta do motorista.Havia sido uma viagem silenciosa de Sacramento até ali e ele não sabia exatamente como a jovem ao seu lado estava se sentindo. Margot encarou a fachada luxuosa, que destoava da simplicidade do restante da cidade.Toda feita em pedras brancas, a casa de dois andares, diversas janelas e um belíssimo jardim, parecia mais ter saído de um dos bairros chiques de Los Angeles. Se recompondo, ela o encarou e disse:— Não sei se estaremos tão escondidos assim, mas já é um começo.Andrew a encarou por alguns segundos, ponderando se deveria dizer algo ou não. Optou pelo silêncio, acompanhando aquela estranha e belíssima mulher, que há poucas horas estav
Andrew não era o melhor cozinheiro do mundo, Margot notou no instante em que colocou a primeira garfada da lasanha em sua boca. Estava salgada demais e levemente queimada nos cantos.Deus, isso está horrível! Pensou, se repreendendo em seguida, já que também não era a melhor cozinheira. E nem pretendia ser, restaurante e entrega em casa existiam para isso.Andrew notou a careta que ela fazia para o prato a sua frente e resolveu se explicar:— Eu sei que está salgado demais, acho que perdi a mão. As notícias que chegaram hoje me deixaram completamente fora do ar.Parando com o garfo poucos centímetros de sua boca, Margot o encarou com interesse.— Quais notícias?— Matthew está doente aparentemente. — Suspirou, passando as mãos pelo cabelo novamente. — E Joyce foi indicada para um cargo alto na Carter Co., para “representar o marido”. — Revirou os olhos em irritação. — Tenho certeza que tem dedo dela, na doença de meu amigo.— Como você ficou sabendo de tudo isso? Aliás, eu estou curio
— Eu tenho uma pergunta para te fazer.Foi assim que Margot recepcionou Andrew, na manhã seguinte ao jantar desastroso dos dois, quando ele chegou à cozinha para o café.Ele a encarou, curioso para saber o que ela pretendia fazer, mas ainda sonolento da noite mal dormida. Passava das três da manhã, quando o sono chegou e seus pensamentos voaram para longe da mulher a alguns quartos de distância. Aquela havia sido a primeira noite desde que chegaram ali, em que sua mãe e seu padrasto não eram o foco de seus pensamentos antes de dormir.Já Margot, mesmo tendo dormido tão pouco quanto ele, estava acostumada. Desde que o pai ficou doente, ela não havia dormido mais de seis horas. Isso quando dormia, pois, sua atenção era completamente dominada para atender todas as necessidades do pai.Por isso, quando o relógio indicou que eram cinco para às seis da manhã, rumou ao banheiro e após cuidar de tudo o necessário, correu para a cozinha e preparou o café. Bom, tirou todas as comidas de suas em
O silêncio era a trilha sonora da segunda viagem de Andrew e Margot em menos de uma semana. Ambos pareciam ainda tentar raciocinar como uma manhã tranquila havia se transformado em uma nova fuga.— Como eles conseguiram nos achar? — Andrew finalmente juntou coragem o suficiente para falar.— Provavelmente pelo seu celular. Ah, por cartões de crédito também, essas merdas têm rastreadores potentes. — Margot lhe respondeu abafadamente, já que mantinha o rosto grudado a janela. — Precisamos encontrar um novo esconderijo.Com os olhos voltados para a estrada, Andrew assentiu e repassou mentalmente todos os lugares em que poderiam ficar. Anunciou depois de algum tempo, que a próxima cidade pela qual passassem iriam usar como esconderijo pela noite.— Descansamos em algum hotel e poderemos decidir o que fazer.Margot concordou sem muita vontade e se fechou novamente em seus pensamentos. A confirmação de que Stan a queria viva era pior que se tivesse mandado que os matassem de uma vez. Ele es