Pistas Sujas
Pistas Sujas
Por: Ana Luiza Marriel
Um

A chuva leve daquela tarde em Sacramento encharcava o casaco da jovem enquanto ela observava o cartão preto em suas mãos. Ela ainda não tinha certeza se aquele era o local certo, mas não poderia mais esperar.

Ele sabia demais, e ela precisava dar um fim nisso, isso sem sujar suas mãos, é claro.

Respirando fundo, ela atravessou a rua e, olhando para todos os lados possíveis, entrou no prédio comercial que parecia estar abandonado. Enquanto subia os lances de escada, ela observava a atmosfera nada convidativa e extremamente ameaçadora do local, que consistia em pôsteres de filmes de ação antigos, ameaças escritas à mão e algumas pessoas de aparência nada gentil que passavam a todo momento e que a estavam deixando muito assustada.

Quando parou no quinto andar, checou o cartão em suas mãos novamente e seguiu até a sala de número 505, o mesmo que estava marcado abaixo de apenas um nome: Margot. A jovem não conhecia essa tal de Margot, mas como havia sido indicada por uma das amigas que dissera que ela era a melhor do ramo na cidade, resolveu se arriscar.

Então, respirando fundo, ela deu quatro batidas rápidas na porta e aguardou. Alguns poucos segundos depois, a porta estava sendo aberta, e na sua frente aparecia a figura de uma bela mulher. Ela era um pouco mais alta do que a jovem, tinha a pele negra, um corpo magro, porém curvilíneo, cabelos curtíssimos e em um tom de caramelo, que combinavam perfeitamente com o rosto anguloso. Os olhos pretos e pequenos a encaravam com uma seriedade enorme.

— Margot? — A jovem perguntou com incerteza e recebeu um aceno de cabeça da outra. — Sou Joyce Carter, uma amiga me deu seu cartão...

— Entre. — Margot a cortou, abrindo a porta para que ela pudesse entrar em seu escritório.

Ao contrário de tudo o que Joyce havia visto no prédio, o escritório de Margot tinha uma bela decoração em tons de preto e vermelho, com diversos quadros na parede e um minibar ao lado de sua mesa. Enquanto se sentava na cadeira na frente de Margot, Joyce era observada com muita atenção por ela.

Margot estava acostumada a receber mulheres ricas em seu escritório pedindo que ela realizasse seu trabalho sujo por elas, porém aquela jovem na sua frente não parecia se encaixar no tipo de sempre. Ela parecia assustada demais, perdida demais. Porém Margot lembrou que seu trabalho não era analisar as pessoas que iam atrás de seus serviços, e sim cumprir com seu trabalho.

— Então, senhorita Carter, no que posso ajudá-la? — Margot perguntou em um tom formal, encarando a jovem assustada. Ela parecia um pouco envergonhada em dizer o que queria, por isso, com um sorriso tranquilizador, Margot completou — Pode ficar tranquila, meu trabalho exige confidencialidade. Tudo o que conversarmos aqui ficará apenas entre nós, senhora Carter.

— Eu sei, é só que... — Joyce começou a falar, sorrindo de maneira triste. — Eu nunca imaginei que teria que chegar ao extremo de mandar matar alguém por saber demais.

— Ninguém imagina. — Margot afirmou em seu habitual tom frio e profissional. — Bom, eu preciso que a senhorita me passe todos os dados da pessoa para que eu possa realizar meu trabalho. — Continuou a falar e observou enquanto a outra colocava uma pasta em cima de sua mesa. Margot a pegou e começou a ler os dados de seu alvo. — Ótimo. E o pagamento é feito metade agora e a outra metade quando o trabalho estiver concluído. — Completou, encarando a loira, que assentiu e tirou um envelope pardo de sua bolsa preta.

— Aí está a metade de agora. — Joyce disse, colocando o pacote em cima da mesa enquanto Margot apenas acenava em resposta, pois estava concentrada na ficha de seu alvo. — Espero que o trabalho seja realizado o mais rápido possível.

— Pode ficar tranquila, hoje mesmo eu conseguirei terminá-lo.            

— Obrigada. — Ela disse com um sorriso mínimo nos lábios, já se levantando. — Amanhã entrarei em contato para saber se ocorreu tudo bem e para combinarmos o pagamento da próxima parcela. — Completou, estendendo a mão na direção de Margot, que a aceitou e indicou a saída para sua mais nova cliente.

Assim que a jovem foi embora, Margot voltou a analisar a ficha de seu alvo, que consistia em alguns dados como altura, idade, nome e ocupação. Havia também duas fotos, uma dele e uma do lugar onde ela o encontraria.

— Esse vai ser fácil. — Margot sussurrou para si antes de se levantar da cadeira, colocar a pasta em sua bolsa e ir embora para sua casa.

Precisava se arrumar para ir ao local onde encontraria seu alvo.

Naquela noite, ela iria ao 1984.

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