A chuva leve daquela tarde em Sacramento encharcava o casaco da jovem enquanto ela observava o cartão preto em suas mãos. Ela ainda não tinha certeza se aquele era o local certo, mas não poderia mais esperar.
Ele sabia demais, e ela precisava dar um fim nisso, isso sem sujar suas mãos, é claro.
Respirando fundo, ela atravessou a rua e, olhando para todos os lados possíveis, entrou no prédio comercial que parecia estar abandonado. Enquanto subia os lances de escada, ela observava a atmosfera nada convidativa e extremamente ameaçadora do local, que consistia em pôsteres de filmes de ação antigos, ameaças escritas à mão e algumas pessoas de aparência nada gentil que passavam a todo momento e que a estavam deixando muito assustada.
Quando parou no quinto andar, checou o cartão em suas mãos novamente e seguiu até a sala de número 505, o mesmo que estava marcado abaixo de apenas um nome: Margot. A jovem não conhecia essa tal de Margot, mas como havia sido indicada por uma das amigas que dissera que ela era a melhor do ramo na cidade, resolveu se arriscar.
Então, respirando fundo, ela deu quatro batidas rápidas na porta e aguardou. Alguns poucos segundos depois, a porta estava sendo aberta, e na sua frente aparecia a figura de uma bela mulher. Ela era um pouco mais alta do que a jovem, tinha a pele negra, um corpo magro, porém curvilíneo, cabelos curtíssimos e em um tom de caramelo, que combinavam perfeitamente com o rosto anguloso. Os olhos pretos e pequenos a encaravam com uma seriedade enorme.
— Margot? — A jovem perguntou com incerteza e recebeu um aceno de cabeça da outra. — Sou Joyce Carter, uma amiga me deu seu cartão...
— Entre. — Margot a cortou, abrindo a porta para que ela pudesse entrar em seu escritório.
Ao contrário de tudo o que Joyce havia visto no prédio, o escritório de Margot tinha uma bela decoração em tons de preto e vermelho, com diversos quadros na parede e um minibar ao lado de sua mesa. Enquanto se sentava na cadeira na frente de Margot, Joyce era observada com muita atenção por ela.
Margot estava acostumada a receber mulheres ricas em seu escritório pedindo que ela realizasse seu trabalho sujo por elas, porém aquela jovem na sua frente não parecia se encaixar no tipo de sempre. Ela parecia assustada demais, perdida demais. Porém Margot lembrou que seu trabalho não era analisar as pessoas que iam atrás de seus serviços, e sim cumprir com seu trabalho.
— Então, senhorita Carter, no que posso ajudá-la? — Margot perguntou em um tom formal, encarando a jovem assustada. Ela parecia um pouco envergonhada em dizer o que queria, por isso, com um sorriso tranquilizador, Margot completou — Pode ficar tranquila, meu trabalho exige confidencialidade. Tudo o que conversarmos aqui ficará apenas entre nós, senhora Carter.
— Eu sei, é só que... — Joyce começou a falar, sorrindo de maneira triste. — Eu nunca imaginei que teria que chegar ao extremo de mandar matar alguém por saber demais.
— Ninguém imagina. — Margot afirmou em seu habitual tom frio e profissional. — Bom, eu preciso que a senhorita me passe todos os dados da pessoa para que eu possa realizar meu trabalho. — Continuou a falar e observou enquanto a outra colocava uma pasta em cima de sua mesa. Margot a pegou e começou a ler os dados de seu alvo. — Ótimo. E o pagamento é feito metade agora e a outra metade quando o trabalho estiver concluído. — Completou, encarando a loira, que assentiu e tirou um envelope pardo de sua bolsa preta.
— Aí está a metade de agora. — Joyce disse, colocando o pacote em cima da mesa enquanto Margot apenas acenava em resposta, pois estava concentrada na ficha de seu alvo. — Espero que o trabalho seja realizado o mais rápido possível.
— Pode ficar tranquila, hoje mesmo eu conseguirei terminá-lo.
— Obrigada. — Ela disse com um sorriso mínimo nos lábios, já se levantando. — Amanhã entrarei em contato para saber se ocorreu tudo bem e para combinarmos o pagamento da próxima parcela. — Completou, estendendo a mão na direção de Margot, que a aceitou e indicou a saída para sua mais nova cliente.
Assim que a jovem foi embora, Margot voltou a analisar a ficha de seu alvo, que consistia em alguns dados como altura, idade, nome e ocupação. Havia também duas fotos, uma dele e uma do lugar onde ela o encontraria.
— Esse vai ser fácil. — Margot sussurrou para si antes de se levantar da cadeira, colocar a pasta em sua bolsa e ir embora para sua casa.
Precisava se arrumar para ir ao local onde encontraria seu alvo.
Naquela noite, ela iria ao 1984.
Às dez horas da noite em ponto, Margot estava em frente ao 1984, um bar temático dos anos 80 que seu alvo, Andrew Griffin, era um dos sócios, e usando seu melhor look matador... literalmente. Ela usava calças de alfaiataria preta e de cintura alta, um sutiã branco, um terninho e saltos também na cor preta.Em seu belo rosto, havia pouquíssima maquiagem, e ela dava destaque para os lábios grossos com um batom vinho e para os cílios com rímel. Ela adorava a praticidade de ter cabelos curtos, lhe livravam de várias horas os arrumando em um penteado elaborado demais, já que assim era só passar um gel e o pentear para trás, que ficava elegante.Escondidos pelo terninho e a calça estavam seus aparatos de trabalho: duas armas de tamanho médio com seus devidos silenciadores e dois canivetes escondidos em dois bolsos secretos em seu sutiã. Isso sem contar com a munição extra em seu carro.A jovem entrou no belo estabelecimento e logo foi cumprimentada por um garçom, que a acompanhou até uma me
— Mas que mer... — Margot gaguejou, assustada por ter uma arma apontada para sua cabeça.— Eu sabia que ela ia mandar alguém atrás de mim! — Ele disse com um meio sorriso triste. — Foi a Joyce que te mandou, não foi? — Ele perguntou, e Margot apenas assentiu. — Sabia! Aquela mulher é uma falsa! Joyce que faz a merda e, com medo das provas que tenho contra ela, manda que alguém faça o trabalho sujo!— Do que você está falando?— Não vai me dizer que ela não te contou? — Ele indagou com sarcasmo. — Pensei que isso era necessário para seu trabalho.— Eu não costumo saber sobre o porquê das pessoas me procurarem. — Ela respondeu, levantando o queixo. Ela era uma assassina de aluguel, mas não aceitava que ninguém a maltratasse pelo que fazia.— Então, querida Margot, você deveria saber que foi enganada e que está prestes a matar um inocente.— Como posso saber se está falando a verdade? — Margot perguntou com a arma firme em suas mãos. Ele podia muito bem a estar enganando para fugir de se
Assim que uma das portas do outro carro foi aberta, Margot começou a atirar, não havia tempo para pensar. Quando esvaziou o cartucho, ela pediu a Andrew que lhe entregasse mais um.Mas não podia contar que enquanto terminava de recarregar a arma, um dos homens no outro carro fosse puxá-la para fora do veículo e começar a sufocá-la.— Me larga! — Ela disse enquanto se debatia embaixo das mãos do homem e as arranhava, enquanto o mesmo ria de seu esforço.— Me desculpe, bonitinha, mas acabou para você. — E dizendo isso, o homem aumentou a pressão que fazia no pescoço da jovem, que perdia cada vez mais o ar.Andrew, que estava tentando recarregar a arma em sua mão, desistiu e puxou o homem de cima de Margot, lhe dando um soco tão forte, que o homem desmaiou no mesmo instante. Margot respirava com tanta força e rapidez, que Andrew pensou que estivesse se engasgando.— Você está bem? — Ele perguntou a ajudando a se levantar, e Margot apenas assentiu. — Venha, vamos sair daqui.Andrew a ajud
Três dias se passaram desde a fatídica noite na 1984. Para dois completos desconhecidos, tudo ainda era muito estranho na convivência entre eles. Aliás, desde o momento em que colocaram os pés para fora do carro naquela noite, tudo ficou estranho.— Bem-vinda ao nosso esconderijo. — Andrew soltou, assim que terminou de fechar a porta do motorista.Havia sido uma viagem silenciosa de Sacramento até ali e ele não sabia exatamente como a jovem ao seu lado estava se sentindo. Margot encarou a fachada luxuosa, que destoava da simplicidade do restante da cidade.Toda feita em pedras brancas, a casa de dois andares, diversas janelas e um belíssimo jardim, parecia mais ter saído de um dos bairros chiques de Los Angeles. Se recompondo, ela o encarou e disse:— Não sei se estaremos tão escondidos assim, mas já é um começo.Andrew a encarou por alguns segundos, ponderando se deveria dizer algo ou não. Optou pelo silêncio, acompanhando aquela estranha e belíssima mulher, que há poucas horas estav
Andrew não era o melhor cozinheiro do mundo, Margot notou no instante em que colocou a primeira garfada da lasanha em sua boca. Estava salgada demais e levemente queimada nos cantos.Deus, isso está horrível! Pensou, se repreendendo em seguida, já que também não era a melhor cozinheira. E nem pretendia ser, restaurante e entrega em casa existiam para isso.Andrew notou a careta que ela fazia para o prato a sua frente e resolveu se explicar:— Eu sei que está salgado demais, acho que perdi a mão. As notícias que chegaram hoje me deixaram completamente fora do ar.Parando com o garfo poucos centímetros de sua boca, Margot o encarou com interesse.— Quais notícias?— Matthew está doente aparentemente. — Suspirou, passando as mãos pelo cabelo novamente. — E Joyce foi indicada para um cargo alto na Carter Co., para “representar o marido”. — Revirou os olhos em irritação. — Tenho certeza que tem dedo dela, na doença de meu amigo.— Como você ficou sabendo de tudo isso? Aliás, eu estou curio
— Eu tenho uma pergunta para te fazer.Foi assim que Margot recepcionou Andrew, na manhã seguinte ao jantar desastroso dos dois, quando ele chegou à cozinha para o café.Ele a encarou, curioso para saber o que ela pretendia fazer, mas ainda sonolento da noite mal dormida. Passava das três da manhã, quando o sono chegou e seus pensamentos voaram para longe da mulher a alguns quartos de distância. Aquela havia sido a primeira noite desde que chegaram ali, em que sua mãe e seu padrasto não eram o foco de seus pensamentos antes de dormir.Já Margot, mesmo tendo dormido tão pouco quanto ele, estava acostumada. Desde que o pai ficou doente, ela não havia dormido mais de seis horas. Isso quando dormia, pois, sua atenção era completamente dominada para atender todas as necessidades do pai.Por isso, quando o relógio indicou que eram cinco para às seis da manhã, rumou ao banheiro e após cuidar de tudo o necessário, correu para a cozinha e preparou o café. Bom, tirou todas as comidas de suas em
O silêncio era a trilha sonora da segunda viagem de Andrew e Margot em menos de uma semana. Ambos pareciam ainda tentar raciocinar como uma manhã tranquila havia se transformado em uma nova fuga.— Como eles conseguiram nos achar? — Andrew finalmente juntou coragem o suficiente para falar.— Provavelmente pelo seu celular. Ah, por cartões de crédito também, essas merdas têm rastreadores potentes. — Margot lhe respondeu abafadamente, já que mantinha o rosto grudado a janela. — Precisamos encontrar um novo esconderijo.Com os olhos voltados para a estrada, Andrew assentiu e repassou mentalmente todos os lugares em que poderiam ficar. Anunciou depois de algum tempo, que a próxima cidade pela qual passassem iriam usar como esconderijo pela noite.— Descansamos em algum hotel e poderemos decidir o que fazer.Margot concordou sem muita vontade e se fechou novamente em seus pensamentos. A confirmação de que Stan a queria viva era pior que se tivesse mandado que os matassem de uma vez. Ele es
— Acha que agora podemos conversar? — Andrew perguntou, a respiração entrecortada e uma Margot igualmente cansada deitada ao seu lado.A jovem havia voltado de seu banho e o encontrado recém-chegado do seu, não lhe dando tempo nem de se vestir, antes de ser novamente agarrado como na noite passada. E ele não reclamou nem um pouco.— Podemos. — Ela lhe beijou rapidamente, se sentando na cama em seguida. — Temos muito a fazer, antes de chegar em LA. Precisamos vender meu carro e pegar um novo. Comprar outros celulares e entrar em contato com seu hacker. Tudo bem para você?— Claro, mas posso te perguntar uma coisa? Na verdade, duas. — Pediu, a observando assentir, já se levantando e pegando o roupão que havia abandonado há alguns minutos. — A primeira é: Qual o motivo para LA ser sua escolha?— Simples: é onde meu pai e minha irmã estão escondidos. — Andrew se sentou de uma só vez, observando a expressão da jovem se fechar em clara preocupação. — Eu tenho uma casa com um nome falso, com