Sacramento – Três dias antesUma, duas, três vezes.Joyce terminava uma mecha de seu cabelo e passava para a próxima, a cabeça longe do seu ritual de cuidados capilares da manhã. Tudo estava caminhando para onde ela queria.Para onde ele desejava.Mesmo Margot e o idiota do Andrew tendo fugido, a mulher sabia que em breve os teria de volta e nada sairia do seu controle. Seu sorriso surgiu, enquanto finalmente deixava a escova de lado e seguindo para o primeiro andar da casa, onde seu marido a aguardava.Colocando a máscara da esposa troféu, a mesma que usava nos últimos doze anos de casamento, Joyce beijou Matthew com falsa doçura, mesmo enojada com a crise de tosses que o acometeu depois.Por ela, nunca teria se casado com o filho do casal responsável pela ruína da sua família, afinal, nutria variados sentimentos por ele. Exceto pelo amor.Mas esse casamento fora necessário para que seus planos tomassem forma. Para que os planos deles dessem certo.— Está piorando muito, meu amor. —
Margot estava presa em uma espiral de culpa.Seu pai e sua irmã estavam nas mãos de Stan e ela ali, usando roupas bonitas, bebendo, rindo e se divertindo. Ela estava falhando com os dois. Sua mente flutuou para o pior cenário: os dois estarem mortos àquele ponto e era sua culpa.Eu jamais deveria ter saído do lado deles. Deveria ter deixado Andrew fugir e me entregado. Eu deveria estar no lugar dos dois.— Margot, você está me escutando? — Andrew chamou pela terceira vez.Ele mantinha seus braços em volta dela, já que ao ouvir a novidade dada por Flynn, Margot quase caiu ao chão. Aliás, ele estava completamente arrependido de ter lhe dado aquela notícia em meio a pista de dança.Mas o que ele deveria dizer primeiro? “Ei, meus pais estão muito bem, mas a sua família não teve a mesma sorte”?— Toma, Mag. — Gavin reapareceu, entregando um copo d'água à amiga, que o sorveu com rapidez e tremendo muito. — Você precisa se acalmar, mi amor. Isso tudo vai se resolver.— Exatamente, Margot. Tu
A música pop genérica tocava alto, enquanto as dançarinas se moviam de forma provocante. Margot era uma delas.Ela não tinha costume com o pole dance ou era a melhor dançarina do mundo, mas sabia como usar seu corpo para seduzir. Ela fez isso por um ano, seduzindo suas vítimas, antes de arrancar suas vidas sem piedade alguma.Pensamento errado e hora errada, Margot. Se repreendeu, voltando a se movimentar de forma provocadora, os olhos presos a mesa em que Stan estava, a sua favorita. Como ela sabia daquilo? Bom, a jovem já havia estado ali, na companhia do próprio, por duas vezes.Enquanto contava a Margot sobre um dos seus diversos negócios ilegais, se gabando como aquela mesa era sua favorita e que todos ali beijavam o chão em que pisava. Essa última parte não era mentira, afinal, o próprio dono do local, Elliot, era uma das diversas pessoas que o cercavam.Nesse pequeno grupo, além dele, estavam algumas dançarinas, incluindo a garota que a ajudou com sua maquiagem e Leah. Elas sor
Depois quase seis horas de uma viagem direta até Los Angeles, Margot e Andrew chegaram em sua casa. Isso depois de deixarem um Gavin mais do que nervoso em casa, com a promessa de visitá-lo, antes de decidirem como toda aquela história iria terminar.Em silêncio, cada um seguiu para um dos banheiros da casa tentando relaxar após a noite agitada que tiveram. Além disso, Margot queria mais do que tudo tirar o cheiro do perfume de Stan de seu corpo.Completamente enojada ao lembrar dos toques inapropriados do seu ex-chefe, ela se limpou, enquanto as imagens de seu pai e irmã, que Stan havia enviado para Joyce, não deixavam sua mente.Os dois pareciam tão frágeis! Seu pai principalmente, mas o olhar que Melinda direcionava à câmera lhe deixou apavorada. Não era nada comum para Margot ver sua irmã daquela maneira.Melinda era resiliente assim como Jane Sanders fora. Margot era fisicamente parecida com a mãe, mas a mais nova puxara sua personalidade. E era isso que mantinha a memória dela v
— Mais uma vez. — Margot praticamente gritou, os olhos fixos na postura de Andrew. — Arrume os ombros. — Repetiu, os braços cruzados atrás do corpo e se segurando para não ir até onde ele estava.Ensinar alguém a atirar para matar era tudo que ela não desejava ter que fazer em sua vida. Mas lá estava ela, ordenando que Andrew se concentrasse em acertar pontos do boneco de treino, que seriam fatais em uma pessoa.Se meus pais me vissem agora... pensou, se recriminando logo em seguida.Tentar não pensar no pai e na irmã era a tarefa mais difícil que ela tentava realizar nos últimos dias. Aguardar que Flynn entrasse em contato também estava sendo difícil. Além disso, os pensamentos sobre como seu coração andava batendo de uma forma perigosamente rápida, quando Andrew encostava nela. Ou falava algo, sorria, estava por perto ou simplesmente respirava.Inclusive naquele momento, quando ao acertar o peito próximo aonde o coração do boneco estaria, ele se voltou para ela sorrindo com orgulho
A primeira coisa que ambos escutaram, foi um estrondo seguido de gritos. Margot ainda estava sonolenta, mas seus sentidos ficaram em alerta quando o segundo estrondo surgiu.— Que merda é essa? — Sussurrou, se levantando a procura do vestido e sua companhia constante: sua Taurus 380.— Margot... — Andrew a chamou, mas ela apenas pediu que ele mantivesse silêncio.Ambos se vestiram o mais rápido que puderam e com a jovem na frente, empunhando sua arma, caminharam a passos certeiros em direção ao salão principal da boate. A cada passo, mais alto ficavam os gritos de puro desespero das pessoas. Dois grupos de frequentadores passaram pelos dois, pouco antes da fumaça vinda do Glass ficar visível a eles.Margot contou três batidas rápidas de seu coração, até que o silêncio se fizesse presente, com apenas ecos dos gritos ficando para trás. Ela conferiu a trava da sua arma e sem pensar duas vezes, fez o caminho até o interior da boate.Quanto mais próxima da parte principal da Glass ela fica
Abrir os olhos naquela manhã estava sendo uma tarefa difícil para Margot. Não por causa do ferimento que pulsava de maneira menos incômoda em seu braço, mas pelo cansaço físico e emocional de ter que se mudar novamente.Ela e Andrew passaram o restante da madrugada e dia seguinte ao ataque a Glass arrumando todas as suas coisas e decidindo para aonde iriam daquela vez. Foram horas de trocas de celular, roupas, carro e identidades, mas assim que a jovem terminasse de se levantar, eles iriam embora.— Eu não queria que a nossa noite tivesse acabado daquela forma. — Foi a primeira coisa que ela disse para um igualmente cansado Andrew, que acabara de despertar ao seu lado. — Tinha preparado tudo para termos mais um pouco de normalidade. — Suspirou, olhando para o teto com raiva.— Ei, olhe para mim. — Andrew pediu, arrumando seu corpo sobre o dela, uma das mãos nas bochechas da jovem e a fazendo finalmente o encarar. — Você não tem culpa do que aconteceu. Se a culpa deveria ir para alguém
Sacramento – Horas após o ataque a GlassO barulho criado pela força com que Stan bateu sua mão a mesa, tirou a mulher de seu transe. Ela queria revirar os olhos para a notícia de que, mais uma vez, os homens dele haviam falhado.Joyce não entendia o motivo dele querer trabalhar com alguém tão falho, quanto Stan, mas respeitava suas ordens.E por isso Margot e Andrew estavam sabe-se Deus onde e atrapalhando todos os planos dela. Era para os dois estarem mortos, desde o instante em que a mulher falhou em cumprir o seu trabalho de tirar o melhor amigo de Matthew do seu caminho.— Eu simplesmente não entendo o porquê de eles terem falhado de novo. — Ele disse em indignação, acendendo um de seus charutos.— Talvez se você mandasse que a trouxessem morta, os dois já estariam aqui. — Joyce soltou com simplicidade, vendo a face do homem se contorcer em raiva. — Eu sei, eu sei, você a ama. — Revirou os olhos. — Mas sabe que ela nunca vai querer nada com você, não sabe? Ela te detesta e provav