LarissaApesar de tantas coisas ruins que aconteceram ao longo do tempo, eu estava "feliz". Havia perdido meu pai, mas acredito que foi melhor do que ele ficar sofrendo nesse mundo...— Amiga, você colocou uva passa no arroz. — Carla revirou os olhos.— Eu gosto.— Mas eu odeio.— Problema teu, piranhona! — ri. — Tua sorte é que fiz um sem uva passa.— Vou me arrumar aqui, tá bom? — ela disse.— Claro, eu só tô esperando Rangel chegar pra começar a me arrumar também.— Hum... — sorriu maliciosa. — Deve esperar pra tomar banho e dar uma rapidinha com meu primo.— Me respeita, Carla. — ri.— Amiga, tenho que te contar um negócio. — ela fez uma cara de cachorro abandonado.— Ih, desembucha mona.— Eu encontrei Marcelo no mercado. Aí ele se ofereceu pra me trazer aqui, e eu tava cheia de saco, eu aceitei e nos beijamos. Desculpa, Lari, eu fui uma péssima amiga e fazer isso, mas...— Ei, louca! — toquei em seu ombro sorrindo. — Eu vou me casar com Rangel, eu amo ele. Marcelo é meu melhor a
LarissaO natal se passou, eu estava em paz comigo mesma, ainda triste por perder meu pai. Talvez algumas pessoas me achem hipócrita por aparentemente deixar meu pai sem me importar e agora estar sofrendo por perdê-lo, mas só quem passa pela situação sabe.Me levantei da cama e fui até a sala; Rangel já estava ouvindo rap às oito da manhã na TV e comendo pão com ovo. Meu Deus, esse homem é doido.— Foda-se a adidas, não me manda os kits, eu tenho grana, eu mesmo compro se eu quiser. — ele cantarolava.- Por que acordou cedo? - falei o abraçando por trás.— Sei lá, vontade. — deu de ombros. Bom dia. — selou nossos lábios.— Vai pra boca não?— Sai, tô de férias.— Ih, parou de traficar? - ri.— Bandido não para, bandido dá um tempo.— Mas você vai parar, pois vamos viajar para fora do país. - pisquei para ele.— Sei disso, mas vai ser melhor pra nós! — disse decidido.Rangel foi pôr o prato na pia, só de sentir o cheiro de ovo me deu um revirar no estômago; corri para o banheiro e vomi
Enfim, o dia do ano novo chegou. Eu estava eufórica e me sentia até mais gordinha; acho que meu bebê já estava evoluindo.— Você comprou fogos? Pra quê tanta coisa? - perguntei a Rangel, que veio com uma caixa cheia de fogos de artifício.— Todo ano nós patrocina, pra deixar a comunidade mais alegre. - ele sorriu.- Ah.— Seu pai vem?— Vem. Por que a pergunta? - levantei uma das sobrancelhas.— Nada. Só não gostei do papo dele com minha mãe. - fechou a cara.— Afe, como você é ciumento. - ri.— Mais do que você imagina. E com você principalmente... E por acaso, odiei esse vestidinho que tu vai usar.— Pelo amor de Deus. Vestido mó respeitoso. - eu dei risada.— Respeitoso... Fica aí, Larissa, te quebro no meio.— Você que venha tirar onda, depois de tudo que nós passamos. - cruzei os braços.— Eu sei, meu amor, tô zoando. Daqui pra frente entre nós é só amor e paz. - sorriu e me deu um beijo demorado.— Espero.Rangel foi tirar um cochilo, e eu fui almoçar. Estava ansiosa para a noit
Larissa narrando:Saí cedo com Carla e Luísa para terminar de comprar as coisas do meu casamento. O vestido já estava escolhido, só precisava terminar de ajustar.— Olha, mano, que coroa linda! - Carla falou.— Vou usar coroa nenhuma. - falei.— E o véu?— Não é só virgem que usa véu não? - falei.— Sei lá, mas e se for, vamos fingir que você é virgem.— Virgem grávida. - Luísa riu.— É, que nem a mãe de Jesus. - Carla falou.— Afe, ridículas. - segurei o riso.Depois de tanta perturbação de Carla para eu escolher o véu, acabei optando por um bem simples mas muito bonito.Estava fazendo a última prova do vestido. Estava emocionada.— Eu tive que fazer uns grandes ajustes e folgar um pouco o vestido, pois ficou um pouco apertado.A costureira falou meio sem graça, não querendo dizer que eu engordei.— Tudo bem. - sorri.— Ela tá grávida, moça. - Carla falou, e eu quase dei uma voadora nela.— Ah, oh céus! Parabéns, querida.— Obrigado. - falei sem graça, olhando para Carla.Depois de t
Rangel narrando:O sábado havia chegado. O dia que eu iria me casar com a mulher que amo.Nunca pensava em me casar... Na verdade, eu sempre achei uma besteira ter uma mulher ao meu lado, e nunca sequer cogitei ser romântico. Como diria a frase de uma música "difícil eu ser romântico, meu ego é do tamanho do oceano Atlântico".Mas aí chega Larissa e muda todo meu conceito...— Caraca, que orgulho do meu mano! - Júnior falou me olhando.— Até que fiquei jeitoso. - sorri me olhando no espelho.— Ficou mesmo, até eu casava contigo.— Saí. Nem sabia do seu lado gay. - ri.— Agora sabe.— Deus me defenda! - fiz o sinal da cruz.De fato, eu estava bonito. Terno, gravata... Quem diria hein, estava até parecendo gente.A cada dia que passava, eu desejava mudar e ser melhor por Larissa e pelo filho que estávamos esperando. Eu tinha o desejo de ser o melhor pai do mundo, de ser o pai que não pude ter. A morte do meu pai dói em mim até hoje, então agora mais do que nunca quero largar a vida do c
Larissa:Era de manhãzinha. O sol já estava forte a essa hora, e podem acreditar que até do sol daqui eu já estou sentindo falta.— Já pegou tudo? - Perguntei a Rangel que tirava o celular do carregador.— Sim. - sorriu. - Mas não se preocupe, vamos comprar muitas coisas lá.— Do que vamos viver lá? É impossível não pensar nisso.— Está tudo sob controle, Lari. Pode ficar tranquila, amor, confia em mim.— Eu confio. - dei um selinho rápido nele.Eu estava com uma mistura enorme de sentimentos. Medo, saudade, insegurança de Rangel não conseguir viajar, enfim... Tantas coisas, mas como disse, eu confio nele.Terminamos de pegar todas as coisas e fomos para a frente da nossa casa. Me despedi daquela casa... Nela eu vivi muitas coisas maravilhosas, e ruins também. Mas ela sempre vai ser bem cuidada para quando viermos visitar.— Filha. - Meu pai se aproximou de nós.— Papai. - sorri o abraçando. - Pensei que demoraria para chegar.— É que... - Olhou para Rangel. - Ah, não interessa, só qu
— Quatro meses se passaram. Já sei falar inglês, quem diria? Bom, também não vou ser exagerada, sei falar o essencial pra viver aqui.Rafael está estudando, e eu morrendo de orgulho desse homem. Muitas pessoas não acreditam em mudanças, mas eu acreditei na dele, e olha no que deu.Vivemos muito bem aqui. A vida é outra, estou com cinco meses de gestação e vou ser mãe de um menino. Rangel quase morreu quando soube que ia ter um "moleque", como diz ele. Disse que assim que ele fizer seis anos vai pôr ele na escolinha do Barcelona. Mereço?— Obrigado Cláudia. — agradeci a empregada que me trouxe minha vitamina.— De nada senhora Larissa. — ela sorriu e voltou à cozinha.Optei por uma brasileira pra trabalhar aqui, e nos damos super bem. Já não sei falar inglês direito, imagina dialogar toda hora com um estrangeiro. E aqui vivem muitos brasileiros, ainda bem.Carla me mandava várias fotos do passeio que estava fazendo na Bahia. Senti inveja daquele calor, do mar, aqui é frio toda hora. Li
— Mais uma aula estressante. O vagabundo virou estudante, tomei um rumo na minha vida graças a Larissa.Vou ser pai, vou me formar, ser feliz. Eu também tenho sentimentos, sempre tive, mas só essa mulher conseguiu reacender eles.Eu sou todo errado mas tô certo que ela me quer, sempre quis, e sempre irá querer.Terminadas as aulas, entreguei as bostas das atividades à professora chata do caralho.Na moral, se eu não soubesse que isso ia me dar um futuro eu não ia pra cá não. Meu pai me obrigou a concluir o ensino médio, mas não quis fazer faculdade, queria na verdade comandar o morro achando que seria fácil.Piranhas, dinheiro , respeito... De fato, quando se é bandido você tem tudo isso. Mas a dor quando alguém que você ama corre risco por sua culpa? O medo de amanhecer morto ou no presídio.Quero mais isso pra mim não, eu mudei por Larissa, meu filho, e por mim mesmo.Voltei para casa com sorriso no rosto. Um senhor vendia flores resolvi comprar para minha esposa. Ela merecia ser mi