Ainda era uma terça-feira e Amanda não poderia estar se sentindo mais pressionada, tentando presumir como ficariam os negócios com a tal mudança entre os iranianos.
A exportadora era um grande nome do mercado halal e poderia se recuperar, mas precisaria começar a galgar novos nomes para assumir as posições dos clientes que perderiam.
O grupo iraniano Nazari era o maior cliente e não ter a receita advinda dos negócios com eles seria muito impactante para a empresa, exigindo criatividade para driblar a crise.
Luke a dirigiu de volta à empresa e seguiu ao seu escritório enquanto Amanda também foi à sua sala e se trancou, deixando um único recado para sua secretária:
— Estou indisponível pela próxima hora!
Mariana lhe alertaria sobre as próximas reuniões, mas a CEO apenas a ignorou e conseguiu ficar só por uma longa hora, que usou apenas para tentar se tranquilizar.
Era muito ansiosa comumente e isso seria demais.
Voltando ao trabalho, foi objetiva, como sempre. Precisou de novos contatos com todo o corpo da empresa para reaver os balanços dos anos anteriores e repensar suas estratégias.
Era tarde quando Luke terminou seu trabalho e foi no escritório de Amanda para deixar os papéis que ela pediu, mas a moça não o atendeu quando ele bateu.
O rapaz apenas suspirou, meneando a cabeça e entrou, encontrando-a cochilando com os braços sobre os papéis.
Luke foi à mesa para usar o ramal e falar com Mariana.
— Senhora? — A moça atendeu rápido.
— Não é ela, Mari… sou eu. — Luke falou. — Já deveria ter ido embora, mas o mau exemplo da patroa não ajuda — repreendeu. — Antes de te dispensar, pode pedir uma refeição para a noite? Acompanho ela por hoje.
— S-sim, senhor! — A moça assentiu.
Mariana pediu a refeição para ambos e ficou para receber. Levou ao escritório e Luke a dispensou do trabalho.
O CFO diminuiu o nível da luz do escritório e sentou com os papéis da matéria iraniana para transcrevê-lo empregando termos mais simples e fáceis de entender.
Era quase meia-noite quando Amanda acordou assustada — nem percebera em que momento cochilara.
— Se continuar não dormindo direito e acordando assim, morrerá disso! — Luke a alertou, olhando-a de canto de olho.
— L-Luke? — Aturdida, franziu o cenho. — Q-que hora-
— São meia-noite agora. — Ele a interrompeu. — Já dispensei sua secretária e temos uma refeição… Não é adequado pernoitar com você, mas faço esse esforço.
— Desculpa! — Ela se reparou. — Não queria dar trabalho.
— Não se preocupa. — Ele parou o que fazia para levantar e esquentar as refeições. — Estou descomplicando um pouco o material que reuni sobre o incômodo assunto do almoço.
— Você é um anjo! — elogiou. — Não sei o quão bom está meu persa para entender um jurisdiquês iraniano — riu.
— Nem quer entender! — Luke também riu.
Enquanto ele lidava com a refeição, Amanda organizou toda a papelada na mesa para conseguirem não sujar nada.
Eles tiveram sua refeição e Luke compartilhou o arquivo para explicar o pouco que tinha da situação e como agentes importantes da indústria estavam lidando com o rumor.
O número de conservadores ou ultraconservadores não era tão pequeno no Irã e isso dava maior força para uma interpretação que poderia afetar a exportadora.
— O patriarca Nazari nunca cedeu à tendência alguma… sabe algo sobre o sucessor? — Amanda o indagou.
— A má notícia é que os filhos Nazari são conservadores… a intensidade varia… mas estou certo que todos são a favor de mudanças nesse sentido — suspirou.
— Tomarei a dianteira e solicitarei uma reunião para discutirmos passos futuros, considerando a mudança.
— Isso pode ajudar. Indica boa vontade e eles podem gostar — riu. — O que estudamos tanto que nos fez dormir no trabalho? — Mudou o assunto, observando os papéis anteriores.
— Temos que repensar as estratégias… qualquer plano expansionista deve considerar uma crise! — falou apressada.
— Gosto da determinação e do quanto soa confiante, mas precisa tomar cuidado para não atropelar nada no caminho — aconselhou. — Busque seu pai, talvez ele ajude.
— É a segunda noite que não vou em casa! — A moça se recostou na cadeira com as mãos na cabeça. — Misericórdia!
— Isso não é vida, habibti!
— Não se preocupa! — A moça deu uns tapinhas no próprio rosto e suspirou, recuperando o sorriso confiante.
Novamente, o rapaz optou por silenciar.
Sempre que conversava com Amanda sobre os péssimos hábitos, sobre seu vício em trabalho, nunca conseguia extrair nada positivo… apenas desconforto da moça.
Eles voltaram ao trabalho e ele se juntou para dar suas sugestões. Como diretor financeiro, não estava no cargo só por ter sua família próxima à família Franco e Silva.
Estudara muito e fora preparado para tal cargo. O objetivo inicial não era ocupar uma empresa fora da família, mas o pai de Amanda necessitou e seus pais atenderam.
Pouco antes do amanhecer, Luke recebeu uma ligação da mãe, Luiza, muito preocupada para saber onde estava o filho e o porquê de ele não comunicar que dormiria fora.
— A namorada ficou chateada? — Amanda riu.
— Quem me dera… me pouparia de muita coisa — arfou, rindo. — Era a mãe… esqueci de avisar do pernoite…
— Deve ser complexo… — A moça compadeceu-se.
— Bastante… as pressões do pai só aumentam, mas eu ainda consigo resistir às suas ideias de me casar — riu.
— São hanabalitas, não!? — A moça franziu o cenho.
— Sim — assentiu. — Já estou enrolando para casar há muito tempo… nem é porque quero, mas ele jamais entenderá.
Ambos acabaram gargalhando.
Luke ajudou para a moça organizar sua papelada do dia, fazendo o que Mariana provavelmente já fizera em seu canto, mas ainda não compartilhara com Amanda.
— Terei com Amir e o corpo jurídico assim que terminar de ler tudo isso. Não são tantas reuniões, mas… após ter com eles, quero reunir nossa mesa diretora para conversar.
— Estou pronto, habibti. — Ele sorriu. — Precisando de algo, basta chamar e venho para tentar ajudar, tudo bem?
— Já disse que é um anjo? — Amanda riu.
Luke a cumprimentou e deixou a sala.
Amanda ainda tirou mais um cochilo em sua mesa para esperar a chegada de Mariana, que entrou na sala, perfumando-a com cheiro de café recém-passado.
— Senhora… — Mariana a despertou.
— Ah, Mari! Eu te amo! — Amanda sorriu-lhe, sonolenta.
O cheiro estava divino e era tudo que ela precisava.
— Precisa dormir… e sabe disso, não!? — Mariana lhe disse. — Até te chamaria para sairmos, mas você está numa viagem sem fim para o fundo do poço! — riu.
— Nossa, Mari! — riu, franzindo o cenho. — Que horror!
— De verdade…
— O final de semana já está chegando… está tudo bem!
— Menina! — Mariana riu. — Posso começar a ler tudo o que tem para fazer durante o dia sem você dormir?
— Pode, sim… o café vai me salvar — gargalhou, se ajeitando na cadeira para dar iniciar mais um dia.
— Sigamos observando. Quero atualizações de cada avanço ou novo rumor — dizia Luke ao estagiário. — Sei estar fora do nosso escopo, mas posso poupá-lo de outros trabalhos por ora.— Sim, senhor! — O jovem assentiu rapidamente.O tempo de Luke durante o dia era escasso. Na ligação com sua mãe, fora avisado de um almoço com o pai e um homem, que o rapaz já sabia ter alguma filha.Mesmo que conseguisse usar o trabalho como desculpa para não se prolongar nesse tipo de conversa, sabia que logo não conseguiria justificar o porquê de ser solteiro.Seu pai fora muito paciente e isso estava acabando. Mesmo com a ajuda de sua mãe, a validade estava chegando…Foi uma manhã de muito trabalho, principalmente lidando com as expectativas dos números nos próximos dias.O cenário não era positivo e o mercado já conhecia o rumor da corte iraniana, o que fazia a exportadora perder um pouco mais de valor de mercado que ele gostava de ver.Moveu-se com alguns dos seus para atenuar os impactos das notícias
Foi um resto de semana agitado para Amanda.O bairro residencial onde morava, Vila Yolanda em Foz do Iguaçu, tinha um ar pacífico e agradável. A volta para casa ocorrera na sexta-feira e o trânsito colaborou muito.Amanda marcou com Mariana para sair no dia seguinte, mas a noite de sexta seria reservada apenas para se cuidar.As ruas largas e arborizadas já tinham o suave trânsito animado de mães com seus filhos começando a fazer as compras para a Páscoa, o que fez Amanda sorrir ao ver.Acabou lembrando dos bons dias onde seu pai cumpriu com aquele papel e lhe levou para escolher chocolates e presentes para distribuírem aos empregados da casa.Abraçada pela boa sensação, voltou para a casa que não era tão grande, condizendo com o conforto que Roberto gostava e os poucos luxos que se permitiu em sua vida.A moça estacionou ao lado do carro do pai na garagem e seguiu à entrada. Os saltos permitiram olhar pela janela da sala e ela o fez, antes de entrar, avistando os cabelos grisalhos de
Foi cedo quando Luke saiu de sua casa. O clima não estava tão bom com seu pai e ele decidiu não pressioná-lo, obrigando-o a olhar para o filho solteiro.Amanda acordou cedo e, com ajuda das domésticas, preparou um bom café da manhã para receber o amigo. Escolheu ingredientes e pratos com cuidado.Com ajuda do jardineiro, que pouco trabalho tinha, conseguiu organizar um espaço na mesa que ficava às costas da casa no quintal para servir tudo.Tinha um plano, mas não teve tempo de redigi-lo, logo, era uma das poucas vezes em que a mesa teria uma pequena pilha de papéis e eles estariam em branco.Luke vestia um esporte social, seu visual mais casual.— Salaam aleikum, habibti! — Ele sorriu largo ao vê-la.— Essalam… — A moça retribuiu. — Como está?— Melhorando devagar — riu. — O que tem em mente?— Ai! Comemos primeiro — repreendeu.Ele riu, assentiu com a cabeça e eles foram ao jardim.Amanda já conhecia o que ele gostava de comer e foi justamente a refeição matinal que serviu. Acompanh
Fora uma segunda-feira cansativa onde Amanda não conseguiu descansar, pensando na reunião do dia seguinte.Os preparativos para a feira estavam indo muito bem.A comitiva da empresa já estava preparada, mas se comprometeram em ajudar Amanda na inclusão de Luke.Como já era habitual, a CEO pernoitou no escritório. Banhou-se num hotel e, cedo, estava pronta para a reunião.De volta ao edifício, organizou uma boa recepção, esperando que o enviado Nazari fosse alguém acostumado a lidar com viagens ao exterior.Por volta das sete, Mariana lhe notificou:— Senhora, seu convidado Nazari chegou…A voz de Mariana estava um pouco diferente, apreensiva; mas Amanda não a indagou. Apenas seguiu à recepção para ser quem receberia e guiaria o convidado à sala de reunião.O homem era alto e magro, tinha uma barba longa bem cuidada e cabelos escuros levemente ondulados até os ombros. Ele tinha postura ereta. Não abdicou das vestes típicas de casa, usava um chapéu redondo branco e longo manto escuro.A
“Droga! Estraguei tudo…”, era o que a culpa vivia repetindo na mente de Amanda que não se contentava com a resolução da reunião com o sucessor Nazari.Enquanto na reunião dos diretores, a moça não conseguiu prestar atenção em absolutamente nada. Estavam todos reunidos e ela estava avoada.— Amanda? — Luke a chamou.Estava de pé, falando do que traçou como estratégia do setor financeiro conforme os diferentes cenários que poderiam se apresentar no decorrer do ano.— Hm? — Ela o olhou. — D-desculpa! Não me sinto bem.A visão da moça embaçou enquanto o olhava.— O que está sentindo? — Roberto se preocupou.— E-eu… não tenho…A moça silenciou, pondo as mãos na cabeça.Devagar, seu corpo começava a perder forças e ela não pôde fazer nada para combater tal sensação.Mais jovem, Luke foi quem correu para ampará-la.Chamou-lhe pelo nome algumas vezes, mas Amanda apenas desfaleceu. Preocupando todos os reunidos à mesa.Roberto acionou a emergência sendo acompanhado pelo CFO até o hospital. Luk
Os dias seguintes à alta de Amanda contaram com Luke assumindo parte de suas responsabilidades. Roberto não se eximiu de voltar ao cargo na ausência da filha.O velho homem não perdera o jeito e cuidou para manter as estruturas da presidência conforme os gostos de sua CEO.Os dois dias de descanso de Amanda foram inquietos, mas, considerando a preocupação de seu pai, ela suportou.Dispensou o telefone, rádio e até a televisão. Assim, evitou receber notícias do mercado que lhe incitariam a trabalhar.Procurou médicos, mas dispensou os medicamentos; receando viver os terríveis efeitos colaterais que já vivera na infância enquanto lidando com a saúde mental.Na noite de sexta-feira, Roberto voltou para casa com alguns relatórios de Luke. Era o dia de folga do CFO, mas ele cuidou para entregá-lo na quinta-feira, pedindo que Amanda apenas recebesse tais documentos ao fim do descanso.Após o jantar com seu pai, Amanda foi ao quarto para observar os papéis que tinham muito detalhadamente cad
Suaves batidas à porta soaram e Luke foi quem atendeu.Do outro lado, Mariana arregalou os olhos ao vê-lo, quase derrubou a xícara de café que levava consigo para Amanda.— B-bom dia! — cumprimentou sem jeito. — D-desculpa…Constrangido, Luke a cumprimentou silenciosamente.— E-eu vim- vim- Tem café! — sorriu amarelo.— Calma! — riu. — Eu já pedi a refeição e logo acordarei Amanda. Pedi aspirinas para a tal ressaca, acertei? — arguiu.— S-sim… ela sempre toma… Ehrr… eu- — Não sabia o que falar. — Hm… pode entregar o café para ela? Nem trouxe outro… — repreendeu-se, meneando a cabeça.Era muito comum correrem rumores pelos corredores da empresa sobre um suposto caso da CEO com o CFO, contudo era uma surpresa para Mariana confirmar dessa forma.— Eu a entrego. — Luke pegou o café. — Também agradeço por ela… infelizmente, precisamos conversar e isso exige privacidade, então não a convidarei. Perdão! — justificou-se.Mariana assentiu com a cabeça, dispondo, e saiu o mais rápido possível,
— Não encontraram!? — Ibrahim esbravejou.— Infelizmente, não, senhor. — Hassan o falava.O chefe da segurança tinha um grau distante de parentesco com Ibrahim. Era um homem alto e forte com cerca de trinta anos, muito confiável e leal à sua família.— Desculpa… — Ibrahim respirou fundo.