Foi um resto de semana agitado para Amanda.
O bairro residencial onde morava, Vila Yolanda em Foz do Iguaçu, tinha um ar pacífico e agradável. A volta para casa ocorrera na sexta-feira e o trânsito colaborou muito.
Amanda marcou com Mariana para sair no dia seguinte, mas a noite de sexta seria reservada apenas para se cuidar.
As ruas largas e arborizadas já tinham o suave trânsito animado de mães com seus filhos começando a fazer as compras para a Páscoa, o que fez Amanda sorrir ao ver.
Acabou lembrando dos bons dias onde seu pai cumpriu com aquele papel e lhe levou para escolher chocolates e presentes para distribuírem aos empregados da casa.
Abraçada pela boa sensação, voltou para a casa que não era tão grande, condizendo com o conforto que Roberto gostava e os poucos luxos que se permitiu em sua vida.
A moça estacionou ao lado do carro do pai na garagem e seguiu à entrada. Os saltos permitiram olhar pela janela da sala e ela o fez, antes de entrar, avistando os cabelos grisalhos de Roberto, no sofá, ele bebia sua cotidiana dose de uísque.
Roberto já tinha cinquenta e dois anos. Todo o cabelo grisalhara, incluindo a barba bem feita. Ele tinha um ar sóbrio, elegância ao segurar o copo e exalava confiança.
Um típico homem de negócio, grande tubarão brasileiro.
Ao entrar, Amanda abraçou o pai e ele retribuiu.
— Boa noite, sumida! — Ele riu. — Como estamos?
— Cansada, mas pronta para minha folga — suspirou.
— Isso é ótimo. Gosto do quanto investe energia no trabalho, mas temo por sua saúde. — Ele a convidou a sentar.
— Estou muito preocupada… imagino que já saiba.
— Sim, eu soube da resolução iraniana. Deve começar assim que voltarem do descanso de seu dia santo da semana… ou esses são os rumores que recebi no decorrer do dia.
A moça suspirou, assentindo com a cabeça.
— Já estava me preparando para jantar sozinho. — O homem sorriu. — Fico feliz que ainda tenho uma filha!
— Desculpa a ausência. Temos tido muito trabalho para lidar com as especulações decorrente desse novo fato e já estamos traçando planos para debater com a mesa diretora.
— Imaginei que já estivesse trabalhando com isso. Todos estamos com as atenções voltadas para isso. Oremos!
— Oremos! — arfou, se levantando. — Sua benção, pai.
— Que Deus te abençoe. Bebemos um vinho quando descer do banho, o que me diz? — O velho homem sorriu.
— Necessário… talvez eu durma na sala, mas será igualmente bom! — A moça gargalhou.
Amanda seguiu ao seu quarto para tomar seu banho.
Com os poucos cochilos dos últimos dias, tinha um enorme acúmulo de cansaço. Quase cochilou algumas vezes na banheira, optando por terminar o banho no chuveiro.
Descendo, o pai já a aguardava na mesa e a refeição cheirava muito bem — fazendo o estômago da moça roncar com saudade da boa e velha comida caseira da dona Maria.
Roberto indagou a filha sobre os últimos dias, iniciando o assunto do jantar. Era habitual sempre conversarem de trabalho por ser um ponto em comum de ambos.
Ele era sócio majoritário da exportadora. Tinha um papel importante na mesa diretora, voz ativa e muitos contatos.
Agia como conselheiro para os executivos e gostava de sempre acompanhar e galgar novas parcerias — sempre fugindo da autoria de tudo que realizava.
Era um homem bem quisto, afinal, dava um tratamento humano aos funcionários, sempre conciliando seu papel executivo com um cuidado quase paternal.
Terminando a refeição e o asseio, ambos seguiram à sala para beber uma taça de vinho, responsável por fazer Amanda adormecer no sofá da sala. Foi o sono dos justos!
Amanda acordou às dez com algumas das domésticas se movendo pela casa para lidar com o pouco trabalho do dia.
— Bom dia! — A moça cumprimentou todas.
— Bom dia, senhora. — Uma delas respondeu. — Seu pai pediu para avisar que saiu, mas não deve se demorar.
— Ele disse para onde iria? — Ela franziu o cenho.
— Luiza…
Amanda apenas assentiu com a cabeça e seguiu ao seu quarto. Tomou um banho e tirou o dia para fazer duas únicas coisas: ser vaidosa e descansar.
Cuidou do cabelo, da pele… já deixando sua roupa para a noite destacada, afinal, fazia algum tempo que ela não saía à noite — nem conseguia se lembrar quando fora a última vez.
Por volta das sete, pegou seu carro para buscar Mariana, que vivia há cerca de dois bairros de sua casa.
Mariana vivia num lugar mais simples. Tinha um ótimo salário, mas guardava seu dinheiro para comprar uma casa — objetivo que já não estava tão distante.
Amanda buzinou e não tardou para a amiga sair. Bem arrumada e muito cheirosa, Mariana tinha um largo sorriso no rosto e parecia muito empolgada.
— Boa noite, Mari!
— Boa… conseguiu descansar? — Ela se preocupou.
— Bastante… consegui cuidar de mim e já estou pronta para a próxima semana, que não será assim tão simples…
— Já pensando em trabalho? — Mariana entrou no carro e começou a lidar com a própria maquiagem.
— Claro! Não teremos uma feira logo? — Ela franziu o cenho. — Não me lembro do dia muito bem…
— Sim… uma feira de negócios… tem até palestra.
Amanda revirou os olhos, descontente com esse trabalho.
— Não falemos disso! — A moça mudou o assunto. — Hoje, eu só quero beber e fingir que não tenho todo um mundo caindo sobre a minha cabeça — riu.
Mariana comemorou e ambas seguiram ao Wood’s Bar, principal casa noturna da cidade. Haviam alguns artistas performando, em suma, sertanejos famosinhos.
Havia muita gente bonita por toda parte. Alguns turistas se aventuravam por entre as pessoas e usufruíam do quente espírito receptivo dos brasileiros do local.
Amanda não tinha nenhum interesse em conhecer pessoas ou trocar carícias despretensiosas com qualquer um dos homens que pareceram desejá-la.
Contudo, ficou só quando Mariana encontrou um velho amigo colorido com quem decidiu passar parte da noite.
Não tão empolgada, mas, leve pelo álcool, Amanda dançou parte da noite; até trocou conversas com outras moças que estavam próximas. Claro, não demorou para o tédio envolvê-la.
Pegando o telefone, observou sua agenda da semana e parte dos próximos dias tinham suas horas dedicadas à tal feira de negócios, que ocorreria no próximo fim de semana.
“Temos um espaço na feira da próxima semana… o que acha de me acompanhar?”, foi a mensagem que mandou a Luke.
Sentando, a moça não conseguiu deixar de trabalhar. Demorou, mas ele acabou respondendo à mensagem:
“Imagino que planeje algo… podemos almoçar amanhã?”
“Tudo bem… na minha casa ou na sua?”
“Eu te visito…”
“Prometo que será halal!”
A moça acabou rindo com a última mensagem que mandou; mas, deixou o telefone de lado e continuou sua noite, acompanhada de um bom vinho e boa música.
Voltou tarde com Mariana e apenas buscou descanso.
Foi cedo quando Luke saiu de sua casa. O clima não estava tão bom com seu pai e ele decidiu não pressioná-lo, obrigando-o a olhar para o filho solteiro.Amanda acordou cedo e, com ajuda das domésticas, preparou um bom café da manhã para receber o amigo. Escolheu ingredientes e pratos com cuidado.Com ajuda do jardineiro, que pouco trabalho tinha, conseguiu organizar um espaço na mesa que ficava às costas da casa no quintal para servir tudo.Tinha um plano, mas não teve tempo de redigi-lo, logo, era uma das poucas vezes em que a mesa teria uma pequena pilha de papéis e eles estariam em branco.Luke vestia um esporte social, seu visual mais casual.— Salaam aleikum, habibti! — Ele sorriu largo ao vê-la.— Essalam… — A moça retribuiu. — Como está?— Melhorando devagar — riu. — O que tem em mente?— Ai! Comemos primeiro — repreendeu.Ele riu, assentiu com a cabeça e eles foram ao jardim.Amanda já conhecia o que ele gostava de comer e foi justamente a refeição matinal que serviu. Acompanh
Fora uma segunda-feira cansativa onde Amanda não conseguiu descansar, pensando na reunião do dia seguinte.Os preparativos para a feira estavam indo muito bem.A comitiva da empresa já estava preparada, mas se comprometeram em ajudar Amanda na inclusão de Luke.Como já era habitual, a CEO pernoitou no escritório. Banhou-se num hotel e, cedo, estava pronta para a reunião.De volta ao edifício, organizou uma boa recepção, esperando que o enviado Nazari fosse alguém acostumado a lidar com viagens ao exterior.Por volta das sete, Mariana lhe notificou:— Senhora, seu convidado Nazari chegou…A voz de Mariana estava um pouco diferente, apreensiva; mas Amanda não a indagou. Apenas seguiu à recepção para ser quem receberia e guiaria o convidado à sala de reunião.O homem era alto e magro, tinha uma barba longa bem cuidada e cabelos escuros levemente ondulados até os ombros. Ele tinha postura ereta. Não abdicou das vestes típicas de casa, usava um chapéu redondo branco e longo manto escuro.A
“Droga! Estraguei tudo…”, era o que a culpa vivia repetindo na mente de Amanda que não se contentava com a resolução da reunião com o sucessor Nazari.Enquanto na reunião dos diretores, a moça não conseguiu prestar atenção em absolutamente nada. Estavam todos reunidos e ela estava avoada.— Amanda? — Luke a chamou.Estava de pé, falando do que traçou como estratégia do setor financeiro conforme os diferentes cenários que poderiam se apresentar no decorrer do ano.— Hm? — Ela o olhou. — D-desculpa! Não me sinto bem.A visão da moça embaçou enquanto o olhava.— O que está sentindo? — Roberto se preocupou.— E-eu… não tenho…A moça silenciou, pondo as mãos na cabeça.Devagar, seu corpo começava a perder forças e ela não pôde fazer nada para combater tal sensação.Mais jovem, Luke foi quem correu para ampará-la.Chamou-lhe pelo nome algumas vezes, mas Amanda apenas desfaleceu. Preocupando todos os reunidos à mesa.Roberto acionou a emergência sendo acompanhado pelo CFO até o hospital. Luk
Os dias seguintes à alta de Amanda contaram com Luke assumindo parte de suas responsabilidades. Roberto não se eximiu de voltar ao cargo na ausência da filha.O velho homem não perdera o jeito e cuidou para manter as estruturas da presidência conforme os gostos de sua CEO.Os dois dias de descanso de Amanda foram inquietos, mas, considerando a preocupação de seu pai, ela suportou.Dispensou o telefone, rádio e até a televisão. Assim, evitou receber notícias do mercado que lhe incitariam a trabalhar.Procurou médicos, mas dispensou os medicamentos; receando viver os terríveis efeitos colaterais que já vivera na infância enquanto lidando com a saúde mental.Na noite de sexta-feira, Roberto voltou para casa com alguns relatórios de Luke. Era o dia de folga do CFO, mas ele cuidou para entregá-lo na quinta-feira, pedindo que Amanda apenas recebesse tais documentos ao fim do descanso.Após o jantar com seu pai, Amanda foi ao quarto para observar os papéis que tinham muito detalhadamente cad
Suaves batidas à porta soaram e Luke foi quem atendeu.Do outro lado, Mariana arregalou os olhos ao vê-lo, quase derrubou a xícara de café que levava consigo para Amanda.— B-bom dia! — cumprimentou sem jeito. — D-desculpa…Constrangido, Luke a cumprimentou silenciosamente.— E-eu vim- vim- Tem café! — sorriu amarelo.— Calma! — riu. — Eu já pedi a refeição e logo acordarei Amanda. Pedi aspirinas para a tal ressaca, acertei? — arguiu.— S-sim… ela sempre toma… Ehrr… eu- — Não sabia o que falar. — Hm… pode entregar o café para ela? Nem trouxe outro… — repreendeu-se, meneando a cabeça.Era muito comum correrem rumores pelos corredores da empresa sobre um suposto caso da CEO com o CFO, contudo era uma surpresa para Mariana confirmar dessa forma.— Eu a entrego. — Luke pegou o café. — Também agradeço por ela… infelizmente, precisamos conversar e isso exige privacidade, então não a convidarei. Perdão! — justificou-se.Mariana assentiu com a cabeça, dispondo, e saiu o mais rápido possível,
— Não encontraram!? — Ibrahim esbravejou.— Infelizmente, não, senhor. — Hassan o falava.O chefe da segurança tinha um grau distante de parentesco com Ibrahim. Era um homem alto e forte com cerca de trinta anos, muito confiável e leal à sua família.— Desculpa… — Ibrahim respirou fundo.
— Os rumores de você num quarto vazio com ela não são nada legais! — dizia Luiza enquanto tomava café com o filho. O domingo poderia ter sido melhor, mas era complexo lidar com a estranheza de cogitar algo com Amanda e isso fez com que ele não tivesse o melhor dos dias de trabalho. Chegou tarde da noite e seus pais já estavam recolhidos. Após um merecido descanso, uma nova semana iniciou. — Não foi por mal, minha mãe. Perdão! — Não falo por mim, mas por seu pai. Logo ele presume que deve casar vocês — riu. — Esse é o tamanho da pressa dele!
— Sempre tomarei cuidado, mas quero ajuda. — Luke disse no decorrer da tarde. — Imagino que já conheça meus modos…— Sim… e vou colaborar. — Amanda assentiu. — Seu pai não se chateará com isso? Tipo, sei ser adequado casarem-se enquanto castos e essa não é bem a minha realidade.— Sei disso… não tenho como dizer como ele reagirá, mas não acredito que será assim tão ortodoxo&hel