Foi cedo quando Luke saiu de sua casa. O clima não estava tão bom com seu pai e ele decidiu não pressioná-lo, obrigando-o a olhar para o filho solteiro.
Amanda acordou cedo e, com ajuda das domésticas, preparou um bom café da manhã para receber o amigo. Escolheu ingredientes e pratos com cuidado.
Com ajuda do jardineiro, que pouco trabalho tinha, conseguiu organizar um espaço na mesa que ficava às costas da casa no quintal para servir tudo.
Tinha um plano, mas não teve tempo de redigi-lo, logo, era uma das poucas vezes em que a mesa teria uma pequena pilha de papéis e eles estariam em branco.
Luke vestia um esporte social, seu visual mais casual.
— Salaam aleikum, habibti! — Ele sorriu largo ao vê-la.
— Essalam… — A moça retribuiu. — Como está?
— Melhorando devagar — riu. — O que tem em mente?
— Ai! Comemos primeiro — repreendeu.
Ele riu, assentiu com a cabeça e eles foram ao jardim.
Amanda já conhecia o que ele gostava de comer e foi justamente a refeição matinal que serviu. Acompanhou e, cuidando da própria ressaca, serviu um suco depois.
— Sabe que temos a feira… tem um espaço para nós. — A moça começou, olhando-o. — Na feira, não precisamos abordar a situação atual, mas podemos mostrar preparo.
— É uma boa ideia! — Ele assentiu com a cabeça. — Quer que eu assuma para falar? Não me incomodo…
— Quero que me acompanhe justamente por isso. Espero conseguir reunir a mesa diretora na semana e nossas medidas, ou parte delas, já estarão prontas no dia da feira.
Luke a observou, parecendo bastante pensativo.
— Com base nessa tomada de decisões, é possível termos algum texto pronto. Essa demonstração de preparo pode diminuir, e muito, o impacto em nosso valor de mercado.
— É um ótimo plano. Destaco parte da minha semana para isso. — Ele assentiu rapidamente. — Já tenho muita coisa pronta para colaborar com a reunião.
— É muito competente! — A moça riu, comemorando.
— Não posso dizer o oposto de você… apesar de eu entender que sou muito mais cuidadoso com a minha saúde.
— Vou conseguir acalmar… em algum momento… prometo! — arfou. — Já é domingo… eles já… sabe dizer?
— Sim, na meia-noite de ontem… às seis e meia no Irã.
— Imagino ser cedo para querer ser atualizada — riu.
— Muito cedo… não é público… então, temos que esperar seu comunicado à imprensa. Não deve demorar muito…
— Matérias demoram semanas! — A moça se chateou.
— Eles estão retomando essa matéria, pelo que sei. Já estava sendo julgada há alguns meses… então, não precisa se preocupar quanto à demora de uma resolução.
Amanda apenas assentiu com a cabeça e bebeu seu suco numa vã tentativa de aplacar o passeio da ansiedade por seus pulmões, tentando lhe tirar o ar.
— Acalme-se. — Luke lhe disse, gentil. — Já solicitou o envio de algum representante Nazari para conversar?
— Consegui fazer isso na quinta-feira. Devo estar recebendo, no máximo, na terça. Tomara que eles não peguem tão pesado quanto aos nossos contratos.
— In sha’ Allah! — bem-disse. — Não acompanharei, mas se precisar conversar, após a reunião, conta comigo! — sorriu.
— Eu realmente agradeço!
Eles continuaram bebendo seu suco e pegaram suas canetas para continuarem seu trabalho. Começando a esboçar o roteiro que o CFO seguiria no dia da palestra.
Amanda já tinha todo um enredo traçado para si e compartilhou com ele. Até mesmo se levantou para ensaiar por uma única vez e receber avaliação de Luke.
Claro, a avaliação foi positiva.
A moça tinha seus muitos complexos e medos internamente, mas aprendera a silenciar seus monstros para conseguir entregar seu melhor na oratória.
— Sempre impecável, habibti! — elogiou.
— Tem certeza que está bom? — Franziu o cenho.
— Claro que tenho. Não sou mentiroso — riu. — Claro que uma boa apresentação depende muito de seu estado. Logo, sugiro que descanse ou tente… tudo bem?
— Vou me esforçar… mas, até a tal reunião com o iraniano, eu tenho certeza que não conseguirei dormir! — suspirou. — Talvez eu procure um médico para me ajudar…
— Temos um RH! — gargalhou.
— Eu sei, bobo! — Amanda riu, meneando a cabeça.
— Não gostaria que te enchessem de remédio… se quiser, a mãe sempre tem ótimas receitas de chás para lidar com nossos momentos mais estressantes.
— Ah, eu realmente adoraria!
— Pedirei para ela entrar em contato com você.
Amanda assentiu com a cabeça e voltou a sentar. Realizou alguns poucos ajustes em seu discurso, meramente pela insegurança por trechos que não lhe agradavam.
Luke tentou fazê-la entender estar muito perfeito, mas ela simplesmente não se rendia, refém de sua insegurança.
Fora uma hora e meia falando, não tardando para eles precisarem entrar e se prepararem para a refeição.
Roberto se juntou, cumprimentando Luke.
O assunto no almoço também fora de trabalho até o momento em que o pai de Amanda fez a pergunta de ouro:
— Quando casará? — Olhou para Luke.
— Até aqui, senhor? — Luke brincou, rindo.
— Sua mãe disse que você e seu pai estão em guerra. — Roberto gargalhou. — Se precisar de refúgio, minha casa está aberta para recebê-lo por alguns dias.
— Agradeço, mas não é necessário. — Luke também riu. — Fui um pouco rude com o pai e isso acabou incendiando o conflito frio… mas… passará! — arfou. — In sha’ Allah!
— Bom… não posso ajudar muito… infelizmente! — deu de ombros. — Minha filha não parece querer casar…
— Nem casaria com ele, meu pai! — Amanda exclamou.
— Nossa amizade já é bem velha… realmente não tenho vontade de casar com Amanda. — Luke riu da ideia absurda.
— Isso dificulta! Com quantas mulheres você conversa?
— Além das que trabalham comigo? — indagou retórico. — Acho que só minha mãe e as domésticas — suspirou.
— Isso é um óbvio sinal de nenhuma vontade da sua parte… pode ser isso que está incomodando seu pai. — O mais velho aconselhou. — Poderia se esforçar mais.
— Nem sei por onde começar, senhor. — Ele meneou a cabeça. — Nem sei o que fazer… não sei se tenho vontade… se deveria me comprometer com outra pessoa… tão rápido.
Luke suspirou, engolindo seco.
— Tenho tantos objetivos pessoais para cumprir antes de conseguir enxergar… sabe!? — Limitou-se, rindo.
— É o que Amanda sempre fala! — O velho homem riu.
— Entendo perfeitamente. — Amanda reiterou. — Com tantos objetivos a cumprir na carreira, é muito difícil ponderar dividir a atenção com algo assim, não!?
— Pois é! Quero estudar… e não conseguirei, se o pai me casar — lamentou. — Com isso, precisarei de um filho… com um filho, precisarei sacrificar algo e não gostaria mesmo!
— Seu pai é muito duro! — Roberto se compadeceu. — Infelizmente, nada consegue mudar a cabeça daquele homem… só posso lhe desejar boa fortuna…
— Masha’Allah, senhor! — Luke bem-disse.
Fora uma segunda-feira cansativa onde Amanda não conseguiu descansar, pensando na reunião do dia seguinte.Os preparativos para a feira estavam indo muito bem.A comitiva da empresa já estava preparada, mas se comprometeram em ajudar Amanda na inclusão de Luke.Como já era habitual, a CEO pernoitou no escritório. Banhou-se num hotel e, cedo, estava pronta para a reunião.De volta ao edifício, organizou uma boa recepção, esperando que o enviado Nazari fosse alguém acostumado a lidar com viagens ao exterior.Por volta das sete, Mariana lhe notificou:— Senhora, seu convidado Nazari chegou…A voz de Mariana estava um pouco diferente, apreensiva; mas Amanda não a indagou. Apenas seguiu à recepção para ser quem receberia e guiaria o convidado à sala de reunião.O homem era alto e magro, tinha uma barba longa bem cuidada e cabelos escuros levemente ondulados até os ombros. Ele tinha postura ereta. Não abdicou das vestes típicas de casa, usava um chapéu redondo branco e longo manto escuro.A
“Droga! Estraguei tudo…”, era o que a culpa vivia repetindo na mente de Amanda que não se contentava com a resolução da reunião com o sucessor Nazari.Enquanto na reunião dos diretores, a moça não conseguiu prestar atenção em absolutamente nada. Estavam todos reunidos e ela estava avoada.— Amanda? — Luke a chamou.Estava de pé, falando do que traçou como estratégia do setor financeiro conforme os diferentes cenários que poderiam se apresentar no decorrer do ano.— Hm? — Ela o olhou. — D-desculpa! Não me sinto bem.A visão da moça embaçou enquanto o olhava.— O que está sentindo? — Roberto se preocupou.— E-eu… não tenho…A moça silenciou, pondo as mãos na cabeça.Devagar, seu corpo começava a perder forças e ela não pôde fazer nada para combater tal sensação.Mais jovem, Luke foi quem correu para ampará-la.Chamou-lhe pelo nome algumas vezes, mas Amanda apenas desfaleceu. Preocupando todos os reunidos à mesa.Roberto acionou a emergência sendo acompanhado pelo CFO até o hospital. Luk
Os dias seguintes à alta de Amanda contaram com Luke assumindo parte de suas responsabilidades. Roberto não se eximiu de voltar ao cargo na ausência da filha.O velho homem não perdera o jeito e cuidou para manter as estruturas da presidência conforme os gostos de sua CEO.Os dois dias de descanso de Amanda foram inquietos, mas, considerando a preocupação de seu pai, ela suportou.Dispensou o telefone, rádio e até a televisão. Assim, evitou receber notícias do mercado que lhe incitariam a trabalhar.Procurou médicos, mas dispensou os medicamentos; receando viver os terríveis efeitos colaterais que já vivera na infância enquanto lidando com a saúde mental.Na noite de sexta-feira, Roberto voltou para casa com alguns relatórios de Luke. Era o dia de folga do CFO, mas ele cuidou para entregá-lo na quinta-feira, pedindo que Amanda apenas recebesse tais documentos ao fim do descanso.Após o jantar com seu pai, Amanda foi ao quarto para observar os papéis que tinham muito detalhadamente cad
Suaves batidas à porta soaram e Luke foi quem atendeu.Do outro lado, Mariana arregalou os olhos ao vê-lo, quase derrubou a xícara de café que levava consigo para Amanda.— B-bom dia! — cumprimentou sem jeito. — D-desculpa…Constrangido, Luke a cumprimentou silenciosamente.— E-eu vim- vim- Tem café! — sorriu amarelo.— Calma! — riu. — Eu já pedi a refeição e logo acordarei Amanda. Pedi aspirinas para a tal ressaca, acertei? — arguiu.— S-sim… ela sempre toma… Ehrr… eu- — Não sabia o que falar. — Hm… pode entregar o café para ela? Nem trouxe outro… — repreendeu-se, meneando a cabeça.Era muito comum correrem rumores pelos corredores da empresa sobre um suposto caso da CEO com o CFO, contudo era uma surpresa para Mariana confirmar dessa forma.— Eu a entrego. — Luke pegou o café. — Também agradeço por ela… infelizmente, precisamos conversar e isso exige privacidade, então não a convidarei. Perdão! — justificou-se.Mariana assentiu com a cabeça, dispondo, e saiu o mais rápido possível,
— Não encontraram!? — Ibrahim esbravejou.— Infelizmente, não, senhor. — Hassan o falava.O chefe da segurança tinha um grau distante de parentesco com Ibrahim. Era um homem alto e forte com cerca de trinta anos, muito confiável e leal à sua família.— Desculpa… — Ibrahim respirou fundo.
— Os rumores de você num quarto vazio com ela não são nada legais! — dizia Luiza enquanto tomava café com o filho. O domingo poderia ter sido melhor, mas era complexo lidar com a estranheza de cogitar algo com Amanda e isso fez com que ele não tivesse o melhor dos dias de trabalho. Chegou tarde da noite e seus pais já estavam recolhidos. Após um merecido descanso, uma nova semana iniciou. — Não foi por mal, minha mãe. Perdão! — Não falo por mim, mas por seu pai. Logo ele presume que deve casar vocês — riu. — Esse é o tamanho da pressa dele!
— Sempre tomarei cuidado, mas quero ajuda. — Luke disse no decorrer da tarde. — Imagino que já conheça meus modos…— Sim… e vou colaborar. — Amanda assentiu. — Seu pai não se chateará com isso? Tipo, sei ser adequado casarem-se enquanto castos e essa não é bem a minha realidade.— Sei disso… não tenho como dizer como ele reagirá, mas não acredito que será assim tão ortodoxo&hel
O clássico almoço de domingo na casa de Luke foi um pouco mais agitado que o esperado, afinal, Tariq fora convidado para a refeição e sua filha o acompanhava. Sua aparência era simples e modesta. De estatura média, tinha cabelos castanhos escuros lisos, cobrindo os ombros. Os olhos eram castanhos claros e expressivos, transmitindo uma doçura e serenidade quase peçonhentas.