— Sigamos observando. Quero atualizações de cada avanço ou novo rumor — dizia Luke ao estagiário. — Sei estar fora do nosso escopo, mas posso poupá-lo de outros trabalhos por ora.
— Sim, senhor! — O jovem assentiu rapidamente.
O tempo de Luke durante o dia era escasso. Na ligação com sua mãe, fora avisado de um almoço com o pai e um homem, que o rapaz já sabia ter alguma filha.
Mesmo que conseguisse usar o trabalho como desculpa para não se prolongar nesse tipo de conversa, sabia que logo não conseguiria justificar o porquê de ser solteiro.
Seu pai fora muito paciente e isso estava acabando. Mesmo com a ajuda de sua mãe, a validade estava chegando…
Foi uma manhã de muito trabalho, principalmente lidando com as expectativas dos números nos próximos dias.
O cenário não era positivo e o mercado já conhecia o rumor da corte iraniana, o que fazia a exportadora perder um pouco mais de valor de mercado que ele gostava de ver.
Moveu-se com alguns dos seus para atenuar os impactos das notícias na especulação, o que ajudou, mas precisava de algo concreto quando o rumor se provasse real.
Na hora do almoço, dirigiu para encontrar o pai, que o aguardava na companhia de um homem. Os óbvios traços árabes já lhe davam uma ideia do que esperar.
— Salaam aleikum! — O jovem abriu seu melhor sorriso para cumprimentar ambos ao se aproximar.
— Wa aleikum essalam… — Ambos retribuíram e sentaram.
Lidaram com seus asseios, antes da refeição, e todos os preceitos necessários para pedirem sua comida. Enquanto aguardavam a chegada da refeição, seu pai apresentou:
— Esse é Tariq bin Muhammad Al-Ali. Expoente na alhicultura e um grande amigo de seu pai. Tariq, meu primogênito e único filho, Luke bin Ibrahim Al-Malik.
— Tasharrafna, senhor! — Luke sorriu-lhe. — Presumo ser uma formidável área de atuação, mas confesso que me falta conhecimento para ter grandes conversas sobre — riu.
— É jovem… fala como intelectual… tem postura de soldado. — O homem analisou. — Gosto do que vejo, Ibrahim… Quantos anos têm e com o que trabalha… Luke, não?
— Sim. Tenho vinte e três anos. Sou atual CFO da Franco & Silva Exportações. Graduado em Ciências Contábeis; tenho um MBA em Finanças e planejo me lapidar cursando Economia, Engenharia Financeira e Matemática Aplicada.
— Nasceu aqui ou no deserto de casa? — arguiu.
— Sou brasileiro. Visito minha casa, mas não tenho ambições de retornar a Arábia, senão para as sagradas visitas à Meca, senhor. — Luke foi objetivo, mesmo sabendo do quanto aquela resposta era impopular.
Tariq franziu o cenho, desconfortável com o que ouviu, mas assentiu com a cabeça e cessou seu interrogatório.
Muito incomodado, Ibrahim fitou o filho.
A refeição foi servida e eles comeram, solenes.
— Foi formidável conhecê-lo. Infelizmente, não posso me estender! — Luke o disse, tirando um cartão do paletó. — Contate, caso necessite de algo. Será ótimo atendê-lo.
— Masha’Allah, jovem! — Tariq sorriu-lhe. — Também não posso me demorar, mas ligarei para marcarmos um jantar.
— Ficarei feliz em aceitar, senhor!
Tariq se levantou e cumprimentou ambos para partir.
— Essa precisava ser a resolução, Malik? — Ibrahim indagou o filho, respirando fundo para omitir seu desgosto.
— Perdão, meu pai. Falei algo que o incomodou?
Luke sabia bem o que falara e o porquê do pai estar tão desgostoso, mas ainda fingiu que nada fizera de propósito.
— Continue assim e será ainda mais difícil casá-lo!
— Hm… pretendia me casar com ele!? — debochou.
Ibrahim bufou de raiva, mas não respondeu o filho.
— O senhor está muito nervoso, meu pai. Perdoe a brincadeira, mas não pode levar isso tão a sério, eu acho.
— Não posso levar a sério!? — O homem riu, irônico. — São oito anos desde que se tornou adulto e ainda tenho um filho solteiro, sem a menor perspectiva de me dar netos!
— Tenho vontade de dá-lo netos e constituir família, meu pai. In sha’ Allah! — Luke se defendeu. — Infelizmente, não conheci ninguém que me pareceu enviada por Allah para tal.
— Fugir de casamentos já me parece haram suficiente!
— Não estou fugindo, perdão. — Ele se reparou ao perceber que o irritara mais do que ocorria comumente.
— Pode ir para o trabalho! — Ibrahim disse, desgostoso.
— Sim, senhor, meu pai. Salaam aleikum!
— Wa aleikum essalam, filho. Juízo! — O homem desejou.
Luke se apressou ao carro e suspirou. Realizou suas íntimas preces, afinal, não tinha o menor intuito de se casar com uma desconhecida e a demora poderia acarretar nisso.
Voltou ao trabalho por volta das duas da tarde.
Não foi um dia tão fácil dada a mente avoada com as dificuldades pessoais, mas Luke conseguiu continuar traçando as possíveis estratégias para o futuro.
Com um esboço bem desenhado, conseguiu nutrir o setor de comunicação para boas sinalizações ao mercado que seriam aplicadas na estratégia de marketing
do mês.Encerrou seu dia de trabalho às cinco, horário padrão. Aguardou o pôr do sol, observando-o da janela para ter seu momento íntimo de oração, antes de assumir o volante.
Não enfrentou um trânsito tão agitado.
Chegando em sua casa, foi até sua mãe, que dispensara as empregadas do dia para cuidar da refeição. O silêncio na casa evidenciava que o pai ainda não chegara.
— Boa noite, minha mãe. Salaam aleikum!
— Ah, meu amor. Wa aleikum essalam! — Luiza beijou sua testa. — Seu pai conversou comigo e está muito irritado. Tento ajudar, mas respostas malcriadas para ele não são a saída.
— Perdão, minha mãe! — Luke riu. — Não consegui segurar, mas vi o quanto ele ficou mais irritado que o normal.
— Ele não quer ser incisivo… mas, está cogitando te dar um prazo para casar; senão ele fecha um acordo de casamento sem o seu consentimento.
O jovem olhou para a mãe, engolindo seco.
— Tentarei ajudar, mas não acho que consigo.
— Claro… — Luke assentiu com a cabeça, chateado. — E-eu… já… deveria- — suspirou, desapontado. — Eu… estarei pronto… procurarei… sei lá! — deu de ombros, aturdido.
Luiza se aproximou para abraçá-lo.
— In sha’ Allah! — O jovem bem-disse. — E-eu… vou…
— Vá se banhar… Você merece! Onde passou a noite?
— Amanda pernoitou no escritório de novo. Para não deixar Mariana ficar, a dispensei e fiquei. — O jovem disse. — Não é haram, mas é, com certeza, makruh… cuidarei no banho.
Luiza apenas assentiu e desvencilhou-se do filho para permiti-lo ir ao seu quarto. Era uma casa grande e o quarto de Luke ficava no segundo andar.
Apenas quando chegou ao quarto, Luke sentiu o peso do pernoite sobre seus ombros. Seguiu ao seu banho para lidar com a limpeza pela noite inapropriada.
Ficou algum tempo na banheira, aguardando o total cair da noite para realizar suas preces antes de sair do quarto.
O jantar fora extremamente incômodo.
Ao chegar, seu pai ainda deixou o descontentamento claro. Ficou silenciado a maioria do tempo e não parecia ter vontade alguma de conversar com o filho.
Tempos difíceis definitivamente estavam por vir.
Foi um resto de semana agitado para Amanda.O bairro residencial onde morava, Vila Yolanda em Foz do Iguaçu, tinha um ar pacífico e agradável. A volta para casa ocorrera na sexta-feira e o trânsito colaborou muito.Amanda marcou com Mariana para sair no dia seguinte, mas a noite de sexta seria reservada apenas para se cuidar.As ruas largas e arborizadas já tinham o suave trânsito animado de mães com seus filhos começando a fazer as compras para a Páscoa, o que fez Amanda sorrir ao ver.Acabou lembrando dos bons dias onde seu pai cumpriu com aquele papel e lhe levou para escolher chocolates e presentes para distribuírem aos empregados da casa.Abraçada pela boa sensação, voltou para a casa que não era tão grande, condizendo com o conforto que Roberto gostava e os poucos luxos que se permitiu em sua vida.A moça estacionou ao lado do carro do pai na garagem e seguiu à entrada. Os saltos permitiram olhar pela janela da sala e ela o fez, antes de entrar, avistando os cabelos grisalhos de
Foi cedo quando Luke saiu de sua casa. O clima não estava tão bom com seu pai e ele decidiu não pressioná-lo, obrigando-o a olhar para o filho solteiro.Amanda acordou cedo e, com ajuda das domésticas, preparou um bom café da manhã para receber o amigo. Escolheu ingredientes e pratos com cuidado.Com ajuda do jardineiro, que pouco trabalho tinha, conseguiu organizar um espaço na mesa que ficava às costas da casa no quintal para servir tudo.Tinha um plano, mas não teve tempo de redigi-lo, logo, era uma das poucas vezes em que a mesa teria uma pequena pilha de papéis e eles estariam em branco.Luke vestia um esporte social, seu visual mais casual.— Salaam aleikum, habibti! — Ele sorriu largo ao vê-la.— Essalam… — A moça retribuiu. — Como está?— Melhorando devagar — riu. — O que tem em mente?— Ai! Comemos primeiro — repreendeu.Ele riu, assentiu com a cabeça e eles foram ao jardim.Amanda já conhecia o que ele gostava de comer e foi justamente a refeição matinal que serviu. Acompanh
Fora uma segunda-feira cansativa onde Amanda não conseguiu descansar, pensando na reunião do dia seguinte.Os preparativos para a feira estavam indo muito bem.A comitiva da empresa já estava preparada, mas se comprometeram em ajudar Amanda na inclusão de Luke.Como já era habitual, a CEO pernoitou no escritório. Banhou-se num hotel e, cedo, estava pronta para a reunião.De volta ao edifício, organizou uma boa recepção, esperando que o enviado Nazari fosse alguém acostumado a lidar com viagens ao exterior.Por volta das sete, Mariana lhe notificou:— Senhora, seu convidado Nazari chegou…A voz de Mariana estava um pouco diferente, apreensiva; mas Amanda não a indagou. Apenas seguiu à recepção para ser quem receberia e guiaria o convidado à sala de reunião.O homem era alto e magro, tinha uma barba longa bem cuidada e cabelos escuros levemente ondulados até os ombros. Ele tinha postura ereta. Não abdicou das vestes típicas de casa, usava um chapéu redondo branco e longo manto escuro.A
“Droga! Estraguei tudo…”, era o que a culpa vivia repetindo na mente de Amanda que não se contentava com a resolução da reunião com o sucessor Nazari.Enquanto na reunião dos diretores, a moça não conseguiu prestar atenção em absolutamente nada. Estavam todos reunidos e ela estava avoada.— Amanda? — Luke a chamou.Estava de pé, falando do que traçou como estratégia do setor financeiro conforme os diferentes cenários que poderiam se apresentar no decorrer do ano.— Hm? — Ela o olhou. — D-desculpa! Não me sinto bem.A visão da moça embaçou enquanto o olhava.— O que está sentindo? — Roberto se preocupou.— E-eu… não tenho…A moça silenciou, pondo as mãos na cabeça.Devagar, seu corpo começava a perder forças e ela não pôde fazer nada para combater tal sensação.Mais jovem, Luke foi quem correu para ampará-la.Chamou-lhe pelo nome algumas vezes, mas Amanda apenas desfaleceu. Preocupando todos os reunidos à mesa.Roberto acionou a emergência sendo acompanhado pelo CFO até o hospital. Luk
Os dias seguintes à alta de Amanda contaram com Luke assumindo parte de suas responsabilidades. Roberto não se eximiu de voltar ao cargo na ausência da filha.O velho homem não perdera o jeito e cuidou para manter as estruturas da presidência conforme os gostos de sua CEO.Os dois dias de descanso de Amanda foram inquietos, mas, considerando a preocupação de seu pai, ela suportou.Dispensou o telefone, rádio e até a televisão. Assim, evitou receber notícias do mercado que lhe incitariam a trabalhar.Procurou médicos, mas dispensou os medicamentos; receando viver os terríveis efeitos colaterais que já vivera na infância enquanto lidando com a saúde mental.Na noite de sexta-feira, Roberto voltou para casa com alguns relatórios de Luke. Era o dia de folga do CFO, mas ele cuidou para entregá-lo na quinta-feira, pedindo que Amanda apenas recebesse tais documentos ao fim do descanso.Após o jantar com seu pai, Amanda foi ao quarto para observar os papéis que tinham muito detalhadamente cad
Suaves batidas à porta soaram e Luke foi quem atendeu.Do outro lado, Mariana arregalou os olhos ao vê-lo, quase derrubou a xícara de café que levava consigo para Amanda.— B-bom dia! — cumprimentou sem jeito. — D-desculpa…Constrangido, Luke a cumprimentou silenciosamente.— E-eu vim- vim- Tem café! — sorriu amarelo.— Calma! — riu. — Eu já pedi a refeição e logo acordarei Amanda. Pedi aspirinas para a tal ressaca, acertei? — arguiu.— S-sim… ela sempre toma… Ehrr… eu- — Não sabia o que falar. — Hm… pode entregar o café para ela? Nem trouxe outro… — repreendeu-se, meneando a cabeça.Era muito comum correrem rumores pelos corredores da empresa sobre um suposto caso da CEO com o CFO, contudo era uma surpresa para Mariana confirmar dessa forma.— Eu a entrego. — Luke pegou o café. — Também agradeço por ela… infelizmente, precisamos conversar e isso exige privacidade, então não a convidarei. Perdão! — justificou-se.Mariana assentiu com a cabeça, dispondo, e saiu o mais rápido possível,
— Não encontraram!? — Ibrahim esbravejou.— Infelizmente, não, senhor. — Hassan o falava.O chefe da segurança tinha um grau distante de parentesco com Ibrahim. Era um homem alto e forte com cerca de trinta anos, muito confiável e leal à sua família.— Desculpa… — Ibrahim respirou fundo.
— Os rumores de você num quarto vazio com ela não são nada legais! — dizia Luiza enquanto tomava café com o filho. O domingo poderia ter sido melhor, mas era complexo lidar com a estranheza de cogitar algo com Amanda e isso fez com que ele não tivesse o melhor dos dias de trabalho. Chegou tarde da noite e seus pais já estavam recolhidos. Após um merecido descanso, uma nova semana iniciou. — Não foi por mal, minha mãe. Perdão! — Não falo por mim, mas por seu pai. Logo ele presume que deve casar vocês — riu. — Esse é o tamanho da pressa dele!
Último capítulo