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III. Uma Guerra Fria

— Sigamos observando. Quero atualizações de cada avanço ou novo rumor — dizia Luke ao estagiário. — Sei estar fora do nosso escopo, mas posso poupá-lo de outros trabalhos por ora.

Sim, senhor! — O jovem assentiu rapidamente.

O tempo de Luke durante o dia era escasso. Na ligação com sua mãe, fora avisado de um almoço com o pai e um homem, que o rapaz já sabia ter alguma filha.

Mesmo que conseguisse usar o trabalho como desculpa para não se prolongar nesse tipo de conversa, sabia que logo não conseguiria justificar o porquê de ser solteiro.

Seu pai fora muito paciente e isso estava acabando. Mesmo com a ajuda de sua mãe, a validade estava chegando…

Foi uma manhã de muito trabalho, principalmente lidando com as expectativas dos números nos próximos dias.

O cenário não era positivo e o mercado já conhecia o rumor da corte iraniana, o que fazia a exportadora perder um pouco mais de valor de mercado que ele gostava de ver.

Moveu-se com alguns dos seus para atenuar os impactos das notícias na especulação, o que ajudou, mas precisava de algo concreto quando o rumor se provasse real.

Na hora do almoço, dirigiu para encontrar o pai, que o aguardava na companhia de um homem. Os óbvios traços árabes já lhe davam uma ideia do que esperar.

Salaam aleikum! — O jovem abriu seu melhor sorriso para cumprimentar ambos ao se aproximar.

Wa aleikum essalam… — Ambos retribuíram e sentaram.

Lidaram com seus asseios, antes da refeição, e todos os preceitos necessários para pedirem sua comida. Enquanto aguardavam a chegada da refeição, seu pai apresentou:

Esse é Tariq bin Muhammad Al-Ali. Expoente na alhicultura e um grande amigo de seu pai. Tariq, meu primogênito e único filho, Luke bin Ibrahim Al-Malik.

Tasharrafna, senhor! — Luke sorriu-lhe. — Presumo ser uma formidável área de atuação, mas confesso que me falta conhecimento para ter grandes conversas sobre — riu.

É jovem… fala como intelectual… tem postura de soldado. — O homem analisou. — Gosto do que vejo, Ibrahim… Quantos anos têm e com o que trabalha… Luke, não?

Sim. Tenho vinte e três anos. Sou atual CFO da Franco & Silva Exportações. Graduado em Ciências Contábeis; tenho um MBA em Finanças e planejo me lapidar cursando Economia, Engenharia Financeira e Matemática Aplicada.

Nasceu aqui ou no deserto de casa? — arguiu.

Sou brasileiro. Visito minha casa, mas não tenho ambições de retornar a Arábia, senão para as sagradas visitas à Meca, senhor. — Luke foi objetivo, mesmo sabendo do quanto aquela resposta era impopular.

Tariq franziu o cenho, desconfortável com o que ouviu, mas assentiu com a cabeça e cessou seu interrogatório.

Muito incomodado, Ibrahim fitou o filho.

A refeição foi servida e eles comeram, solenes.

Foi formidável conhecê-lo. Infelizmente, não posso me estender! — Luke o disse, tirando um cartão do paletó. — Contate, caso necessite de algo. Será ótimo atendê-lo.

Masha’Allah, jovem! — Tariq sorriu-lhe. — Também não posso me demorar, mas ligarei para marcarmos um jantar.

Ficarei feliz em aceitar, senhor!

Tariq se levantou e cumprimentou ambos para partir.

Essa precisava ser a resolução, Malik? — Ibrahim indagou o filho, respirando fundo para omitir seu desgosto.

Perdão, meu pai. Falei algo que o incomodou?

Luke sabia bem o que falara e o porquê do pai estar tão desgostoso, mas ainda fingiu que nada fizera de propósito.

Continue assim e será ainda mais difícil casá-lo!

Hm… pretendia me casar com ele!? — debochou.

Ibrahim bufou de raiva, mas não respondeu o filho.

O senhor está muito nervoso, meu pai. Perdoe a brincadeira, mas não pode levar isso tão a sério, eu acho.

Não posso levar a sério!? — O homem riu, irônico. — São oito anos desde que se tornou adulto e ainda tenho um filho solteiro, sem a menor perspectiva de me dar netos!

Tenho vontade de dá-lo netos e constituir família, meu pai. In sha’ Allah! — Luke se defendeu. — Infelizmente, não conheci ninguém que me pareceu enviada por Allah para tal.

Fugir de casamentos já me parece haram suficiente!

Não estou fugindo, perdão. — Ele se reparou ao perceber que o irritara mais do que ocorria comumente.

Pode ir para o trabalho! — Ibrahim disse, desgostoso.

Sim, senhor, meu pai. Salaam aleikum!

Wa aleikum essalam, filho. Juízo! — O homem desejou.

Luke se apressou ao carro e suspirou. Realizou suas íntimas preces, afinal, não tinha o menor intuito de se casar com uma desconhecida e a demora poderia acarretar nisso.

Voltou ao trabalho por volta das duas da tarde.

Não foi um dia tão fácil dada a mente avoada com as dificuldades pessoais, mas Luke conseguiu continuar traçando as possíveis estratégias para o futuro.

Com um esboço bem desenhado, conseguiu nutrir o setor de comunicação para boas sinalizações ao mercado que seriam aplicadas na estratégia de marketing

do mês.

Encerrou seu dia de trabalho às cinco, horário padrão. Aguardou o pôr do sol, observando-o da janela para ter seu momento íntimo de oração, antes de assumir o volante.

Não enfrentou um trânsito tão agitado.

Chegando em sua casa, foi até sua mãe, que dispensara as empregadas do dia para cuidar da refeição. O silêncio na casa evidenciava que o pai ainda não chegara.

Boa noite, minha mãe. Salaam aleikum!

Ah, meu amor. Wa aleikum essalam! — Luiza beijou sua testa. — Seu pai conversou comigo e está muito irritado. Tento ajudar, mas respostas malcriadas para ele não são a saída.

Perdão, minha mãe! — Luke riu. — Não consegui segurar, mas vi o quanto ele ficou mais irritado que o normal.

Ele não quer ser incisivo… mas, está cogitando te dar um prazo para casar; senão ele fecha um acordo de casamento sem o seu consentimento.

O jovem olhou para a mãe, engolindo seco.

Tentarei ajudar, mas não acho que consigo.

Claro… — Luke assentiu com a cabeça, chateado. — E-eu… já… deveria- — suspirou, desapontado. — Eu… estarei pronto… procurarei… sei lá! — deu de ombros, aturdido.

Luiza se aproximou para abraçá-lo.

In sha’ Allah! — O jovem bem-disse. — E-eu… vou…

Vá se banhar… Você merece! Onde passou a noite?

Amanda pernoitou no escritório de novo. Para não deixar Mariana ficar, a dispensei e fiquei. — O jovem disse. — Não é haram, mas é, com certeza, makruh… cuidarei no banho.

Luiza apenas assentiu e desvencilhou-se do filho para permiti-lo ir ao seu quarto. Era uma casa grande e o quarto de Luke ficava no segundo andar.

Apenas quando chegou ao quarto, Luke sentiu o peso do pernoite sobre seus ombros. Seguiu ao seu banho para lidar com a limpeza pela noite inapropriada.

Ficou algum tempo na banheira, aguardando o total cair da noite para realizar suas preces antes de sair do quarto.

O jantar fora extremamente incômodo.

Ao chegar, seu pai ainda deixou o descontentamento claro. Ficou silenciado a maioria do tempo e não parecia ter vontade alguma de conversar com o filho.

Tempos difíceis definitivamente estavam por vir.

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