O vento uivava como um lobo faminto, chicoteando as folhas secas contra as janelas da casa antiga. Apertei o cobertor ao redor do corpo, tentando ignorar o frio que se infiltrava pelas frestas da madeira. Era a primeira noite em Willow Creek, e a solidão da casa vazia pesava sobre mim como uma névoa densa.
A morte do meu pai, repentina e inesperada, havia me arrancado de minha vida movimentada em Nova York e me jogado nesse vilarejo isolado,longe de tudo. A casa, herdada do meu avô, era um relicário de memórias, com móveis de madeira escura e um cheiro de poeira e pinho. Me sentia um fantasma nesse lugar, uma sombra perdida em meio a lembranças alheias. Mudei para Willow Creek buscando paz, um refúgio da frenética Nova York. A morte recente do meu pai me deixara fragilizada, e a pequena cidade, com seu ritmo lento e moradores acolhedores, parecia o lugar ideal para recomeçar. Mas a tranquilidade era enganosa. Um véu de mistério pairava sobre Willow Creek, um segredo sussurrado ao vento. Na manhã seguinte conheci a loja de antiguidades de Sarah, uma moradora local , de olhos amendoados e cabelos castanhos, ela cheirava a biscoitos de mel que aliás ela me deu alguns acompanhado de chá. Conversamos por horas, e ela me contou sobre a rica história de Willow Creek, repleta de lendas e segredos. Ela me disse que Willow Creek era um lugar especial, cheio de beleza e magia. E eu, cética inicialmente, comecei a acreditar nela. Cansada de minha costumeira rotina decidi explorar a cidade. O ar fresco da montanha picou minhas narinas, e o sol da manhã banhava as casas de madeira em uma luz dourada. A única rua principal era um labirinto de lojas e cafés, com um ritmo lento e calmo que me deixava inquieta, mudei de direção me dirigindo a floresta , com a expectativa que um pouco de verde mudasse meu humor. Enquanto caminhava pela floresta próxima, sentir um olhar penetrante em minhas costas. Parei respirando fundo, mas não vi ninguém. O cheiro de pinho e terra úmida era forte, mas algo mais intenso pairava no ar, um cheiro selvagem e inebriante. De repente, um galho se quebrou atrás de mim , me virei , o coração batendo forte no peito. Um homem moreno alto e musculoso surgiu entre as árvores, com olhos escuros e penetrantes que pareciam ler meus pensamentos. Ele usava uma jaqueta de couro surrada e botas pesadas, e um sorriso misterioso se formou em seus lábios. __"Perdida, moça?" A voz dele era rouca e profunda, como um trovão distante. Sentir um arrepio percorrer minha espinha. __ "Não, apenas explorando." falei tentando parecer confiante, mas a minha voz saiu tremida. ___"Esta floresta tem muitos segredos," ele disse, aproximando-se de mim . "Mas cuidado com o que você encontra." Sentir um calafrio percorrer meu corpo. O olhar dele era intenso, como se ele pudesse ver através de mim. Me sentir presa, incapaz de me mover, era como se eu fosse uma gazela e aquele homen uma onça,se preparando para o ataque. __"Eu... eu preciso ir." gaguejei , dando um passo para trás. __"Não tenha medo," ele disse, com um sorriso que não chegava aos seus olhos. "Eu estou aqui para te proteger." Não conseguia entender o que sentia. Medo? Atração? Aquele homem misterioso me fascinava e me assustava ao mesmo tempo. _"Quem é você?" perguntei, minha voz quase inaudível. Ele se inclinou para perto, seu hálito quente em meu rosto. __Chame-me de Ethan." E com um último olhar penetrante, ele se virou e desapareceu entre as árvores, me deixando sozinha com o cheiro de pinho e o eco de seu sorriso misterioso. Fiquei parada por um instante, observando o ponto onde ele havia sumido. O sol da tarde começava a se pôr, tingindo o céu de tons alaranjados e roxos, mas a floresta permanecia escura e ameaçadora. Sentia um frio estranho percorrer meu corpo, um misto de medo e excitação. Ethan era um enigma, um homem que me fascinava e me assustava ao mesmo tempo. Voltei para a casa, meus passos pesados e hesitantes. A solidão da casa antiga parecia mais opressiva do que antes. Acendi a lareira, tentando espantar o frio que se instalara em meus ossos. Mas o cheiro de pinho e terra úmida ainda pairava no ar, e a imagem de Ethan, com seus olhos escuros e penetrantes, não saía de minha mente. Nos dias seguintes, tentei me concentrar em minha nova vida em Willow Creek. Explorei a cidade, conheci os moradores locais e até mesmo me matriculei em um curso de cerâmica na única escola da região. Mas a lembrança de Ethan me perseguia como um fantasma. Me vi procurando ele na floresta, esperando encontrá-lo novamente, mas ele parecia ter evaporado. Uma noite, enquanto caminhava pela rua principal, vi Ethan sentado em um bar, com um grupo de homens que pareciam tão sombrios quanto ele. Hesitei por um instante, pensando em me aproximar, mas a timidez me venceu. Me virei e voltei para casa, com o coração batendo forte no peito. A partir daquele dia, passei a observar Ethan de longe. Eu via ele no bar, na floresta, e até mesmo na igreja, onde ele parecia tão estranho quanto um lobo em um rebanho de ovelhas. Tentava decifrar seus mistérios, mas ele permanecia um enigma, um homem que parecia pertencer a outro mundo. Não sabia se devia me aproximar dele, se devia confiar nele. Mas uma coisa era certa: não conseguia tirar Ethan de minha mente. Ele me fascinava como um fogo que me atraía e me amedrontava ao mesmo tempo. Uma noite, enquanto a lua cheia iluminava a floresta com uma luz prateada, decidi que não podia mais viver na incerteza. Eu precisava confrontar Ethan, descobrir quem ele realmente era e por que exercia tanto poder sobre meus pensamentos. Vesti um casaco grosso e saí de casa, determinada. Caminhei até o bar onde sabia que ele costumava estar. Ao entrar, meus olhos rapidamente encontraram Ethan, sentado sozinho em um canto, com um copo de uísque na mão.Ele levantou o olhar e nossos olhos se encontraram. Senti um arrepio, mas não desviei o olhar.Com passos firmes, me aproximei e sentei-me à mesa dele. Ethan me observou em silêncio, um sorriso enigmático brincando em seus lábios. - Precisamos conversar - disse, tentando manter a voz firme. Ethan inclinou a cabeça, curioso. - Sobre o quê? - Sobre você. Sobre por que está sempre por perto, mas nunca se aproxima. Quem é você de verdade, Ethan? Ele suspirou, olhando para o copo em suas mãos antes de responder. - Sou alguém que carrega muitos segredos, Clara. Segredos que podem ser perigosos para quem se aproxima demais. Senti um misto de medo e determinação. Eu não podia recuar agora, porque talvez essa fosse minha última oportunidade de confrontar-lo. - Eu não tenho medo de segredos. Quero saber a verdade. Ele sorriu de modo ameaçador , jogou várias notas de dinheiro sobre a mesa que daria para pagar o que bebeu e ainda sobrar uma generosa gorjeta para o garçom, e saiu, nã
Eu, com uma pulga enorme atrás da orelha, sabia que precisava descobrir o que era. Aquele mistério, aquele segredo obscuro, me chamava com uma força irresistível. Eu tinha que desvendá-lo.Eu preciso saber o que está acontecendo", repetia para mim mesma, enquanto Sarah tentava, em vão, me convencer a desistir. Minhas noites se tornaram uma caçada furtiva. Seguia Ethan pelas ruas de Willow Creek, observando-o de longe. Bares escuros, conversas enigmáticas com pessoas estranhas, o desaparecimento nas sombras da floresta... tudo era intrigante, assustador e irresistível.Então, numa noite que seguia ele que caminhava por uma rua escura e silenciosa, ele se virou. Seus olhos, frios e penetrantes, me encontraram.___"Você", ele disse, a voz baixa e rouca, "Você está me seguindo? O medo me paralisou. Ele se aproximou, imponente, ameaçador.___"Você não deveria estar aqui", a voz dele era um sussurro ameaçador. Tentei me afastar, mas sem sucesso, senti seu aperto firme em meu braço, e
Era como se eu pudesse sentir o passado, a energia de cada peça, e isso me ajudava a esquecer o medo que Ethan me causava. Mas, por mais que tentasse, a imagem dele, o toque dele, o olhar dele, me perseguiam. Era como se ele tivesse me marcado, e eu não conseguia me livrar da sensação de que ele estava sempre presente, mesmo quando não estava. Sarah, por sua vez, se sentia aliviada por ter minha companhia. A presença dela me tranquilizava, e me ajudava a lidar com o medo que ainda sentia por Ethan. ___"Você está fazendo um ótimo trabalho, Clara," Sarah disse, com um sorriso. "A loja está parecendo nova." Sorri de volta. ___"Estou feliz em ajudar," eu disse. "É bom ter algo para fazer." No fim de semana, Sarah decidiu aceitar o convite de um amigo, um rapaz chamado Daniel, que trabalhava com ela na loja de antiguidades. Ele convidou Sarah para levá-la para um barzinho, e ele, gentilmente, sugeriu levar seu amigo, um rapaz chamado Lucas, para fazer companhia a mim. __"Lucas é um ca
Ethan era uma presença opressora em minha vida, e eu não sabia como lidar com isso. Desviei novamente, buscando abrigo em um beco mais escuro, esperando que ele não me visse. Meus pulmões queimavam e meu corpo tremia, mas eu precisava encontrar uma saída. O beco era estreito e pouco iluminado, e eu me encostei na parede fria, tentando fazer o menor ruído possível. __"Clara!" Ele chamou novamente, a frustração agora evidente em sua voz. "Só quero conversar!" Não respondi. Eu apenas permaneci ali, paralisada, ouvindo o som da sua busca. A adrenalina corria em minhas veias como um veneno e, ao mesmo tempo, havia uma parte de mim que queria acreditar que ele se preocupava de verdade. O silêncio se instalou por um momento, e eu me perguntei se ele tinha desistido. Mas então ouvi passos se aproximando. Meu coração disparou novamente, e eu me preparei para correr. __"Clara, não se esconda," ele disse, sua voz mais suave agora, quase como um sussurro. "Eu não vou te machucar." A dúvida
E, enquanto o sol subia no céu, decidi que não iria me deixar levar apenas pela desconfiança. Era hora de descobrir a verdadeira essência de Ethan, mesmo que isso significasse enfrentar meus próprios medos.A conversa fluiu entre nós, mas a atmosfera estava carregada de uma tensão sutil. Eu tentava me concentrar nas palavras de Ethan, mas minha mente não conseguia ignorar os sinais de que havia algo mais por trás daquela fachada amigável. - Você mencionou que a arte é uma forma de libertação - eu disse, buscando um caminho para aprofundar a conversa. - Você tem alguma obra favorita? Algo que realmente te impactou? Ethan hesitou, seus olhos desviando por um instante, como se estivesse revivendo uma memória dolorosa. - Na verdade, eu... - ele começou, mas a voz falhou. - Eu gosto de um pintor chamado Edvard Munch. A forma como ele captura a angústia humana é algo que me fascina e, ao mesmo tempo, me assusta. Senti um aperto no coração. O nome de Munch ressoava com a própria luta que
Eu sabia que estava sendo levada por uma força muito intensa, mas também sabia que queria explorar isso, mesmo sem saber até onde iria. Fixei meu olhar nos fios de cabelo que começavam a crescer em sua cabeça raspada. Um arrepio percorreu meu corpo, e uma vontade incontrolável de passar minhas mãos ali me invadiu. A textura, a promessa do que estava por vir... era excitante.— Por que você raspa a cabeça assim? — perguntei, minha voz um pouco mais rouca do que o normal.Ele sorriu, um sorriso selvagem que mostrava dentes brancos e brilhantes. Algo em seu olhar me fez estremecer de antecipação.— Sou muito peludo, menina. Meu cabelo cresce absurdamente, então sempre corto para não ficar parecendo um lobisomem — disse ele, a última palavra sussurrada com uma intensidade que me deixou arrepiada, mas de um jeito bom.Desci meu olhar para seu corpo, e a verdade da sua afirmação me atingiu em cheio. Ele era realmente muito peludo, com pelos escuros e grossos no peito e nos braços. A visã
Não conseguia explicar a mim mesma a decisão de ir, a sensação de que simplesmente não poderia dizer não a Ethan. O medo, é claro, estava lá, um nó frio na garganta, mas era ofuscado por uma curiosidade insaciável, uma necessidade de saber o que me esperava. O vento frio da noite soprava, carregando consigo o cheiro de rio e a promessa de algo desconhecido.Então, ele apareceu. Não apenas apareceu, mas surgiu como um espectro das sombras, montado em uma Kawasaki Ninja preta, a máquina imponente cortando a penumbra como uma lâmina afiada. O ronco profundo do motor, um rugido selvagem que ecoou pela ponte, vibrou em meu corpo, intensificando a mistura de medo e excitação que me consumia. A moto, reluzindo sob a luz fraca dos postes, parecia uma extensão de sua personalidade – poderosa, enigmática e um tanto ameaçadora. Ethan, com sua figura imponente e um sorriso que prometia tanto perigo quanto prazer, desceu da moto, a silhueta escura contra o céu noturno. Senti um arrepio percorrer m
O ronco baixo do motor era um contraponto ao zumbido que começava a tomar conta da minha cabeça o vinho já estava fazendo efeito. Saímos do pub, a risada de Ethan ainda ecoando fracamente atrás de nós, e agora a cidade se esvaía em um borrão de luzes. Eu me agarrava a ele, o cheiro de couro e gasolina misturado ao aroma doce e intenso do vinho que ainda tinha em minha taça.A ponte se erguia à nossa frente, imponente e escura contra o céu estrelado. Ethan estacionou a moto no acostamento, o motor silenciando abruptamente. O silêncio, quebrado apenas pelo som distante do tráfego, era quase opressor. Descemos, e eu me senti cambaleante, a terra parecendo se mover sob meus pés. Ethan me ajudou a manter o equilíbrio, seu braço forte e seguro em minhas costas.Enquanto ele abria outra garrafa de vinho, eu me encostei na mureta fria da ponte, observando as luzes da cidade refletidas na água escura lá embaixo. O vinho escorria pela minha garganta, quente e reconfortante, mas também me deixav