Não conseguia explicar a mim mesma a decisão de ir, a sensação de que simplesmente não poderia dizer não a Ethan. O medo, é claro, estava lá, um nó frio na garganta, mas era ofuscado por uma curiosidade insaciável, uma necessidade de saber o que me esperava. O vento frio da noite soprava, carregando consigo o cheiro de rio e a promessa de algo desconhecido.Então, ele apareceu. Não apenas apareceu, mas surgiu como um espectro das sombras, montado em uma Kawasaki Ninja preta, a máquina imponente cortando a penumbra como uma lâmina afiada. O ronco profundo do motor, um rugido selvagem que ecoou pela ponte, vibrou em meu corpo, intensificando a mistura de medo e excitação que me consumia. A moto, reluzindo sob a luz fraca dos postes, parecia uma extensão de sua personalidade – poderosa, enigmática e um tanto ameaçadora. Ethan, com sua figura imponente e um sorriso que prometia tanto perigo quanto prazer, desceu da moto, a silhueta escura contra o céu noturno. Senti um arrepio percorrer m
O ronco baixo do motor era um contraponto ao zumbido que começava a tomar conta da minha cabeça o vinho já estava fazendo efeito. Saímos do pub, a risada de Ethan ainda ecoando fracamente atrás de nós, e agora a cidade se esvaía em um borrão de luzes. Eu me agarrava a ele, o cheiro de couro e gasolina misturado ao aroma doce e intenso do vinho que ainda tinha em minha taça.A ponte se erguia à nossa frente, imponente e escura contra o céu estrelado. Ethan estacionou a moto no acostamento, o motor silenciando abruptamente. O silêncio, quebrado apenas pelo som distante do tráfego, era quase opressor. Descemos, e eu me senti cambaleante, a terra parecendo se mover sob meus pés. Ethan me ajudou a manter o equilíbrio, seu braço forte e seguro em minhas costas.Enquanto ele abria outra garrafa de vinho, eu me encostei na mureta fria da ponte, observando as luzes da cidade refletidas na água escura lá embaixo. O vinho escorria pela minha garganta, quente e reconfortante, mas também me deixav
O silêncio dele era ensurdecedor. Um abismo profundo e intransponível se abriu entre nós, e eu me encontrava à beira, olhando para o vazio sem saber como atravessá-lo. Não era eu que o evitava; era ele que me ignorava completamente, como se eu fosse um fantasma, uma lembrança incômoda a ser esquecida. A cada dia que passava, a esperança diminuía, dando lugar a uma dor lancinante, uma ferida aberta que sangrava a cada notificação não recebida, a cada mensagem sem resposta.A lembrança do beijo, antes um bálsamo para a alma, agora era uma tortura. Era como se ele tivesse roubado não só um beijo, mas também um pedaço de mim, deixando um vazio imenso em seu lugar. A intensidade daquela noite, o calor dos seus abraços, tudo agora parecia um sonho distante, irreal, um conto de fadas que terminara em um pesadelo.A confusão inicial deu lugar a uma raiva crescente. A raiva pela sua indiferença, pela sua falta de respeito, pela sua incapacidade de explicar o que havia acontecido. Por que ele h
Reconheci a camisa xadrez, a mesma que usava naquela noite… a noite que mudou tudo. A visão dele, ali, me atingiu como um soco no estômago.A raiva me subiu à garganta, um nó apertado que me impedia de respirar. Mas, ao invés de gritar, eu apenas me aproximei. ___"Preciso de uma resposta", disse, minha voz baixa e rouca, quase um rosnado. Os olhos dele se encontraram com os meus, e por um instante, vi um reflexo de dor neles – uma dor que ecoava a minha própria.__"Foi um erro, Clara", ele sussurrou, a voz quase abafada pelo ruído da cidade. "Eu não sou bom para você. Eu te colocaria em perigo. De verdade. Você precisa entender isso." Ele gesticulou com a mão, como se tentasse afastar algo invisível entre nós, algo que ameaçava nos engolir. "Só… tente ser feliz sem mim." As palavras foram ditas com uma firmeza que me feriu mais do que qualquer grito. Ele se virou e se foi, deixando-me sozinha sob a luz fria do letreiro enferrujado, o cheiro da chuva e a amargura da desped
As tardes eram preenchidas com o cheiro de madeira velha, poeira e livros antigos, um ambiente familiar e reconfortante que me proporcionava uma sensação de paz. Mas as noites… as noites eram diferentes.Sob a escuridão do meu quarto, longe dos olhos curiosos, as lágrimas ainda rolavam pelo meu rosto. A imagem de Ethan, seu sorriso, seu olhar, ainda me assombravam, mesmo que eu tentasse racionalizar, mesmo que eu soubesse que ele não era bom para mim. A saudade, uma dor surda e constante, me acompanhava como uma sombra. Eu tentava me convencer de que estava seguindo em frente, de que estava superando, mas a verdade era que uma parte de mim ainda estava presa ao passado, presa a ele.Para tentar esquecer, para tentar preencher o vazio que ele havia deixado, eu continuava saindo com Lucas. Ele era gentil, atencioso, e fazia de tudo para me fazer feliz. Mas, por mais que eu tentasse, não conseguia apagar a imagem de Ethan da minha mente. Lucas era um bom homem, um porto seguro, ma
A tensão sexual é palpável, um fio invisível que nos conecta, nos prende, e me deixa ansiosa pelo que pode acontecer a seguir. O ar entre nós está denso, pesado, carregado de uma promessa silenciosa, de algo proibido, mas incrivelmente tentador.A colher de sorvete parece pesar uma tonelada na minha mão. O silêncio entre nós é ensurdecedor, quebrado apenas pelo leve tilintar do metal contra a porcelana da tigela e pela minha própria respiração ofegante. Ele se aproxima, lentamente, cada passo medido, intencional. O cheiro dele, uma mistura de sabonete e algo inefável, masculino e primitivo, me invade, me embriaga.Seu olhar desce do meu rosto, percorre o meu corpo com uma intensidade que me deixa estremecer. Sinto a pele arrepiar, um arrepio que parte da nuca e se espalha por todo o meu corpo, deixando um rastro de calor e formigamento. A culpa ainda está lá, uma sombra persistente, mas o desejo, implacável e avassalador, a domina.Ele para a poucos centímetros de mim, a respiração que
Talvez, um vislumbre de esperança. A tensão sexual que nos unira momentos antes se dissipou, deixando para trás um vazio profundo, mas também uma possibilidade. A possibilidade de reconstruir, de entender, de talvez, um dia, encontrar um caminho para o que existe entre nós, para além do desejo e da confusão.Em um impulso, vou catar os cacos da tigela quebrada, mas um pedaço afiado corta meu dedo.O sangue escorre, um fio vermelho vivo contra a palidez da minha pele. Ethan reage imediatamente, a preocupação substituindo a hesitação anterior. Ele se aproxima, pega minha mão com cuidado, e suga o sangue do meu dedo. O gesto é instintivo, quase primitivo. Mas a forma como ele faz, a intensidade do seu olhar, o visível prazer que transparece em seus olhos enquanto ele suga o meu sangue… isso me assombra.Após limpar e cuidar do meu ferimento, ele faz um curativo cuidadoso. O toque dele é suave, mas a lembrança do seu prazer ao sugar o meu sangue permanece, uma mancha escura na memór
Ele não queria mais brigar. Ele só me queria. Ele queria a gente.__O que você quer comigo? ___“Um tempo só para nós dois,” ele repetiu, seus olhos buscando os meus, suplicando por compreensão. Uma lágrima solitária rolou pela minha bochecha, um testemunho do turbilhão de emoções dentro de mim. Ele estava certo, é claro. Meu corpo doía por ele, uma lembrança constante e latejante da conexão que ardia entre nós, mesmo através de nossas discussões.A culpa me corroía. Sarah. Eu tinha que avisá-la que estava segura, que havia voltado para casa. A ideia da preocupação gravada em seu rosto era um peso pesado no meu peito. __ “Eu preciso ligar para Sarah,” confessei, minha voz quase um sussurro. Ethan assentiu, sua expressão amolecendo. Ele entendia. Ele sempre entendia, mesmo quando eu mesma não me entendia.Disquei o número de Sarah, minha mão tremendo levemente. O alívio que me invadiu quando ela atendeu foi imenso. Eu a tranquilizei, minha voz embargada pela emoção, que eu estava be