Reconheci a camisa xadrez, a mesma que usava naquela noite… a noite que mudou tudo. A visão dele, ali, me atingiu como um soco no estômago.A raiva me subiu à garganta, um nó apertado que me impedia de respirar. Mas, ao invés de gritar, eu apenas me aproximei. ___"Preciso de uma resposta", disse, minha voz baixa e rouca, quase um rosnado. Os olhos dele se encontraram com os meus, e por um instante, vi um reflexo de dor neles – uma dor que ecoava a minha própria.__"Foi um erro, Clara", ele sussurrou, a voz quase abafada pelo ruído da cidade. "Eu não sou bom para você. Eu te colocaria em perigo. De verdade. Você precisa entender isso." Ele gesticulou com a mão, como se tentasse afastar algo invisível entre nós, algo que ameaçava nos engolir. "Só… tente ser feliz sem mim." As palavras foram ditas com uma firmeza que me feriu mais do que qualquer grito. Ele se virou e se foi, deixando-me sozinha sob a luz fria do letreiro enferrujado, o cheiro da chuva e a amargura da desped
As tardes eram preenchidas com o cheiro de madeira velha, poeira e livros antigos, um ambiente familiar e reconfortante que me proporcionava uma sensação de paz. Mas as noites… as noites eram diferentes.Sob a escuridão do meu quarto, longe dos olhos curiosos, as lágrimas ainda rolavam pelo meu rosto. A imagem de Ethan, seu sorriso, seu olhar, ainda me assombravam, mesmo que eu tentasse racionalizar, mesmo que eu soubesse que ele não era bom para mim. A saudade, uma dor surda e constante, me acompanhava como uma sombra. Eu tentava me convencer de que estava seguindo em frente, de que estava superando, mas a verdade era que uma parte de mim ainda estava presa ao passado, presa a ele.Para tentar esquecer, para tentar preencher o vazio que ele havia deixado, eu continuava saindo com Lucas. Ele era gentil, atencioso, e fazia de tudo para me fazer feliz. Mas, por mais que eu tentasse, não conseguia apagar a imagem de Ethan da minha mente. Lucas era um bom homem, um porto seguro, ma
A tensão sexual é palpável, um fio invisível que nos conecta, nos prende, e me deixa ansiosa pelo que pode acontecer a seguir. O ar entre nós está denso, pesado, carregado de uma promessa silenciosa, de algo proibido, mas incrivelmente tentador.A colher de sorvete parece pesar uma tonelada na minha mão. O silêncio entre nós é ensurdecedor, quebrado apenas pelo leve tilintar do metal contra a porcelana da tigela e pela minha própria respiração ofegante. Ele se aproxima, lentamente, cada passo medido, intencional. O cheiro dele, uma mistura de sabonete e algo inefável, masculino e primitivo, me invade, me embriaga.Seu olhar desce do meu rosto, percorre o meu corpo com uma intensidade que me deixa estremecer. Sinto a pele arrepiar, um arrepio que parte da nuca e se espalha por todo o meu corpo, deixando um rastro de calor e formigamento. A culpa ainda está lá, uma sombra persistente, mas o desejo, implacável e avassalador, a domina.Ele para a poucos centímetros de mim, a respiração que
Talvez, um vislumbre de esperança. A tensão sexual que nos unira momentos antes se dissipou, deixando para trás um vazio profundo, mas também uma possibilidade. A possibilidade de reconstruir, de entender, de talvez, um dia, encontrar um caminho para o que existe entre nós, para além do desejo e da confusão.Em um impulso, vou catar os cacos da tigela quebrada, mas um pedaço afiado corta meu dedo.O sangue escorre, um fio vermelho vivo contra a palidez da minha pele. Ethan reage imediatamente, a preocupação substituindo a hesitação anterior. Ele se aproxima, pega minha mão com cuidado, e suga o sangue do meu dedo. O gesto é instintivo, quase primitivo. Mas a forma como ele faz, a intensidade do seu olhar, o visível prazer que transparece em seus olhos enquanto ele suga o meu sangue… isso me assombra.Após limpar e cuidar do meu ferimento, ele faz um curativo cuidadoso. O toque dele é suave, mas a lembrança do seu prazer ao sugar o meu sangue permanece, uma mancha escura na memór
Ele não queria mais brigar. Ele só me queria. Ele queria a gente.__O que você quer comigo? ___“Um tempo só para nós dois,” ele repetiu, seus olhos buscando os meus, suplicando por compreensão. Uma lágrima solitária rolou pela minha bochecha, um testemunho do turbilhão de emoções dentro de mim. Ele estava certo, é claro. Meu corpo doía por ele, uma lembrança constante e latejante da conexão que ardia entre nós, mesmo através de nossas discussões.A culpa me corroía. Sarah. Eu tinha que avisá-la que estava segura, que havia voltado para casa. A ideia da preocupação gravada em seu rosto era um peso pesado no meu peito. __ “Eu preciso ligar para Sarah,” confessei, minha voz quase um sussurro. Ethan assentiu, sua expressão amolecendo. Ele entendia. Ele sempre entendia, mesmo quando eu mesma não me entendia.Disquei o número de Sarah, minha mão tremendo levemente. O alívio que me invadiu quando ela atendeu foi imenso. Eu a tranquilizei, minha voz embargada pela emoção, que eu estava be
Ele me seguiu, sua presença uma sombra insistente na escuridão da mata. A perseguição era silenciosa, tensa. Sua força e agilidade me surpreenderam quando ele me carregou nas costas, abrindo caminho pela vegetação densa. Em poucos minutos, estávamos em frente à minha casa. __"Entregue, senhorita...", ele disse, a voz rouca, carregada de um desejo que eu não conseguia ignorar.Mas antes que eu pudesse entrar, ele me segurou, me prendendo contra ele, e me beijou. Um beijo intenso, avassalador, que me roubou o fôlego, um beijo que misturava desejo, poder e uma possessividade assustadora. ___"Não deixe novamente que outro homem beije esta boca ou toque seu corpo, você é minha." A declaração foi uma sentença, uma marca indelével. __"Até onde sei, não tenho dono...", respondi, a voz fraca, insegura.A força do seu abraço me fez chorar, a dor física se misturando com a confusão que tomava conta de mim. ___"Estou avisando, doce Clara, estou sempre por perto, de olho em você. E vou matar q
O momento congelou. O olhar de Sarah, uma mistura de choque e descrença, me atingiu como um golpe físico. Envolta nos braços de Ethan, senti o calor do seu corpo em contraste brutal com o frio que me invadia. Vulnerável, exposta, como um pássaro prestes a ser devorado. __"Claraaa...", o sussurro de Sarah ecoou, carregado de dor. Me afastei levemente de Ethan, buscando seu olhar, mas ele apenas sorriu, um sorriso frio e calculista que me gelou por dentro. __"Você não pode estar aqui!", exclamei, a voz tremendo. O pânico me invadiu, a realidade da situação se impondo sobre a ilusão momentânea. __"Ethan, vá embora", pedi, tentando me soltar, mas seu aperto se firmou, implacável. __"Por que você me enganou, Clara?", Sarah perguntou, a incredulidade em sua voz se transformando em acusação. "O que está acontecendo? Você realmente acha que ele é bom para você?" "__Sarah, eu...", tentei explicar, mas as palavras se recusavam a sair. A verdade era um nó na minha garganta, um emaranhado de
Ele não tentou me deter, não tentou me convencer a ficar. Aquele leve traço de preocupação, quase imperceptível, mas que eu captei com a sensibilidade de quem se sente observada, intensificou a minha confusão. Era genuíno? Ou uma demonstração de habilidade?Ele se levantou, se aproximou e depositou um beijo casto em minha testa. Um beijo leve, quase imperceptível, mas que carregava uma ternura estranha, um respeito silencioso que me surpreendeu. Era como se ele soubesse que precisava me dar espaço, que minha decisão era minha e somente minha. Mas aquela ruga na testa... ela persistia, uma interrogação silenciosa que me deixava ainda mais perturbada.Em seguida, ele se virou e desapareceu floresta adentro, sua figura se fundindo com as sombras da noite, deixando-me sozinha com meus pensamentos, sozinha com minhas dúvidas. Aquele gesto de despedida, tão cuidadoso, tão respeitoso, era contraditório com a imagem do homem possessivo e manipulador que eu também conhecia.Me deixei cair