A possibilidade de ter sido enganada, manipulada, me assombrava. Ethan era tão carismático, tão encantador, tão persuasivo. Ele conseguia me convencer de qualquer coisa, me envolver com sua aura de mistério e intensidade. Mas aquela ruga... aquela ruga era real, era palpável, era um sinal físico, uma pequena rachadura em sua máscara de perfeição. Eu me peguei analisando cada detalhe da noite, cada palavra, cada gesto. O jeito como ele me olhava, a forma como sua mão roçava a minha, o tom de sua voz... tudo parecia meticulosamente calculado, perfeitamente orquestrado para me envolver em sua teia. Mas aquela ruga... ela era a única nota fora do tom, a única dissonância em sua sinfonia de encantamento. E quanto a Sarah? Será que ela estava certa o tempo todo? Será que eu havia sido cega, tão cega que não conseguia ver a verdade por trás da máscara de Ethan? A possibilidade me assombrava, me dilacerava por dentro. Naquela noite, eu não consegui dormir. A ruga na testa de Ethan, aquela
A ansiedade roía meu estômago enquanto esperava Sarah no café. Dias de incerteza haviam passado desde a última vez que a vi, dias marcados pela confusão causada por Ethan e sua enigmática ruga na testa. Precisava falar com Sarah, precisava de respostas. Quando ela finalmente chegou, a fragilidade em seus ombros e a inquietação em seus olhos me atingiram antes mesmo de uma palavra ser dita. Algo estava terrivelmente errado. __"Oi, Clara", ela murmurou, o sorriso forçado não alcançando seus olhos. Sem rodeios, fui direto ao ponto: __"Sarah, sobre o que você disse sobre Ethan... era verdade?" Ela hesitou, o silêncio se estendendo como um fio de tensão entre nós. __ "Eu... eu não sei. Eu estava com ciúmes, insegura. Era difícil aceitar que você podia ser feliz sem mim", ela confessou, a voz trêmula. A frieza me atingiu como um choque. Eram as mesmas palavras que Ethan havia usado para justificar a sua manipulação. Um arrepio percorreu minha espinha. Agarrei seu braço, meus dedos a
Os dias seguintes foram um tormento. A impotência me corroía, a saudade de Ethan, dos nossos momentos, era uma ferida aberta. Desde a discussão, não voltava à loja de antiguidades da Sarah. Passava os dias presa em casa, a melancolia me aprisionando.Certa noite, sem sono, debruçada na janela, o vi emergir da floresta, bonito e imponente. Caminhou com passos largos e ágeis, atravessou a grama seca do meu jardim e parou à porta. Bateu uma, duas vezes. Fiquei imóvel, hesitante. Ele ergueu a cabeça, seus olhos encontrando os meus na janela do segundo andar.“Não vai abrir a porta?” Parecia perguntar o seu olhar.Pensei em não abrir, mas havia algo em Ethan, uma força invisível que me prendia a ele. Por mais que quisesse resistir, não conseguia dizer não.Desci as escadas e abri a porta. Ethan entrou rápido, como um fantasma, e se deixou cair no sofá.__“O que veio fazer aqui, Ethan?” Perguntei, a voz baixa.__“Precisava te ver…”Sentei ao seu lado, e um silêncio aterrador pairou entre
Ele tomou um longo gole, fechando os olhos com prazer. __ “Ótimo, mas tem uma maneira de ficar ainda melhor…” Aquele tom brincalhão, porém, não conseguia disfarçar a tristeza que ainda persistia em seus olhos._“Como?”, perguntei, a curiosidade me picando.__“Como é inocente, doce Clara…” Ele sorriu, um sorriso enigmático que me deixou ainda mais intrigada.__“Sem gracinhas, Ethan…” Minha voz saiu mais firme do que eu pretendia.“Está bem, deixe-me mostrar.”Ele tomou outro gole de vinho, e então, aproximou-se. O calor de sua respiração na minha pele me fez estremecer. Ele pressionou seus lábios nos meus, e o vinho, quente e doce, fluiu entre nós, criando uma ligação inesperada, íntima e arrebatadora. A textura de seus lábios, macios e quentes, me deixou sem fôlego. Era uma sensação nova, estranhamente intensa, que me deixava confusa, mas ao mesmo tempo, profundamente excitada. Ele repetiu o gesto, saboreando minha reação, a confusão e o desejo que se misturavam em meu olhar.
A solidão apertava o meu peito como se fosse uma mão gélida, sufocando qualquer vestígio de esperança. O quarto, antes um refúgio acolhedor, transformou-se numa prisão escura e silenciosa, onde o tempo parecia ter parado. Os dias se confundiam em noites intermináveis, um ciclo vicioso de sofrimento sem fim à vista. A comida perdia o sabor, o sono se tornava um inimigo cruel que me roubava a força, deixando-me ainda mais fraca e vulnerável. A imagem dele, o seu cheiro, a sua voz ecoavam na minha memória, como fantasmas que me assombravam sem descanso. A cada lembrança, uma nova onda de dor me invadia, me afogando em um mar de lágrimas e desespero. A letargia era uma companhia constante, um véu pesado que obscurecia qualquer pensamento positivo, qualquer vontade de lutar. Eu estava perdida num labirinto de tristeza, sem saber como encontrar a saída. A única certeza era a imensa dor que me consumia, a sensação de vazio que me deixava vazia, sem alma.Os dias se transformavam num b
O cheiro de desinfetante e pó de giz ainda pairava no ar quando Sarah me convenceu a voltar para a loja. Aceitei o convite com um misto de alívio e apreensão. A solidão da minha casa havia se tornado um monstro silencioso, devorando meus dias em um mar de pensamentos obscuros. Mas voltar ao trabalho? Era como mergulhar de volta em um mar agitado, depois de ter me refugiado na praia calma e silenciosa da minha própria companhia.A loja estava um caos, como eu esperava. Caixas desorganizadas, prateleiras empoeiradas, um verdadeiro campo de batalha pós-guerra. Comecei a arrumar tudo, quase que em um transe, a cada caixa organizada, a cada prateleira limpa, sentia um pequeno alívio, como se estivesse limpando também a poeira da minha própria alma. Sarah observava, um sorriso irônico nos lábios. “Você tem um talento oculto, Clara”, disse ela, “nunca imaginei que você tivesse jeito para isso.” A aprovação dela, inesperada e sincera, me aqueceu mais do que o sorvete gelado que comp
O expediente terminou e, juntas, Sarah e eu nos sentamos em um banco da praça, papo vai, papo vem. Contei-lhe sobre o sonho, mas sua reação foi… neutra. Nenhuma expressão de espanto, nenhuma exclamação. A semente da dúvida brotou em meu peito. __será um presságio?__"Presságio do quê, Sarah?", perguntei, a voz quase um sussurro. Seus olhos, escuros e penetrantes, encontraram os meus. __"Talvez de que você precise mesmo manter distância de Ethan."Mudamos de assunto, mas como imãs repelidos e atraídos ao mesmo tempo, a conversa sempre voltava para ele. Era como se um fio invisível nos prendesse a esse tema incômodo. __"Tudo começou depois que cheguei a essa vila e conheci Ethan...", confessei, a amargura da constatação me sufocando.A brisa suave da tarde não conseguia dissipar a névoa de apreensão que me envolvia. O sonho, vago e perturbador, ecoava em minha mente. As palavras de Sarah, embora ditas com delicadeza, soavam como um prenúncio. Será que estava mesmo destinada a
Mantive o incidente em segredo, enterrando o medo e a dúvida no fundo do meu coração. Contar para Sarah seria inútil; ela se preocuparia, e isso era a última coisa que eu queria. Talvez, pensei, tenha sido apenas impressão, um produto da minha imaginação fértil, sobrecarregada por eventos recentes. Ultimamente, minha mente parecia trabalhar em tempo extra, criando cenários fantasiosos e apavorantes. A única coisa que compartilhei com Sarah foi o encontro com Lucas, o beijo.__"Ah, que bom, amiga!", ela exclamou, os olhos brilhando de alegria.__ "Ele é um cara bacana, é disso que você precisa." Suas palavras, cheias de entusiasmo, foram um bálsamo para a minha alma, um alívio temporário para a angústia que me corroía por dentro. Mas a imagem dos olhos vermelhos, brilhantes na escuridão, continuava a me assombrar, uma sombra persistente que se recusava a desaparecer. A dúvida persistia, um nó apertado no meu estômago. Será que eu estava realmente enlouquecendo? Ou havia algo de