O crepúsculo pintava o céu com tons de laranja e vermelho enquanto a tensão na cabana se tornava quase palpável. Ethan, sempre vigilante, mantinha os olhos atentos a qualquer sinal de perigo. Eu, com meu ventre avantajado e pesado, me esforçava para manter a calma, mas a apreensão me corroía por dentro. A espera constante do ataque era um fardo pesado demais.Foi então que Sarah irrompeu na cabana, esbaforida, como se tivesse corrido por quilômetros. O suor escorria pelo seu rosto, os cabelos estavam desgrenhados.— Sarah… — murmurei, meu coração disparando no peito.Ela entrou, sentando-se pesadamente no chão de terra batida. Ethan e eu a cercamos, nossos rostos marcados pela preocupação.— O que veio fazer aqui, Sarah? — perguntou Ethan, sua voz grave e tensa.— Vim buscar proteção… — ela respondeu, ofegante.— Por quê? Eles descobriram que você é uma espiã? — Ethan pressionou, seus olhos escuros e penetrantes.Sarah negou com a cabeça, os olhos arregalados de pavor. — Não. Na ver
As horas se arrastavam, pesadas como pedras de chumbo. O relógio da sala parecia zombar da minha angústia, cada tic-tac um martelo golpeando a minha crescente preocupação. Ethan ainda não havia voltado. Sarah, com sua serenidade irritantemente imperturbável, conseguiu me convencer a deitar um pouco. Deitei, mas o sono foi fugaz, preenchido por imagens nebulosas e perturbadoras de Ethan, um sonho que me deixou com um peso insuportável no peito. Acordei sobressaltada, o coração disparado como um pássaro preso em uma gaiola. Corri para a sala, a imagem do sonho ainda viva na minha mente, e lá estava Sarah, espichada no sofá como uma gata preguiçosa. Sacudi-a levemente, a voz rouca de preocupação. — Sarah... Sarah — sussurrei, o nome dele preso na garganta. Ela abriu os olhos, esfregando-os com a mão, o sono ainda grudado em seus cílios. — Que foi, Clara? — perguntou, a voz sonolenta. — Ethan ainda não chegou — respondi, a voz trêmula. — E eu tive um sonho estranho... Sarah sen
A garganta me queimava, um nó de angústia me sufocava. Respirei fundo, tentando controlar a tremedeira que me percorria. "Aceitam café?", perguntei, a voz saindo quase como um sussurro. Fui até a cozinha, meus passos hesitantes ecoando no silêncio tenso da casa. A bandeja de porcelana, fria sob meus dedos trêmulos, carregava xícaras fumegantes de café recém-feito. Sirvi a todos, mas minha sogra recusou com um gesto seco da mão."Café não vai resolver nada...", ela murmurou, a voz carregada de amargura."Mamãe, Clara não tem culpa de nada", Ethan interveio, sua voz tensa."Ela está prenha! Como não pode ter culpa? Se não tivesse ido para a cama dele...", a voz de minha sogra cortou o ar como uma lâmina.A raiva explodiu dentro de mim, um vulcão prestes a entrar em erupção. Não resisti. Arremesssei a bandeja contra o chão, o estrondo do impacto quebrando o silêncio opressor. Cacos de porcelana se espalharam, o café quente se derramou, pintando o chão de um marrom escuro e fedoren
O vento uivava como um lobo faminto, chicoteando as folhas secas contra as janelas da casa antiga. Apertei o cobertor ao redor do corpo, tentando ignorar o frio que se infiltrava pelas frestas da madeira. Era a primeira noite em Willow Creek, e a solidão da casa vazia pesava sobre mim como uma névoa densa. A morte do meu pai, repentina e inesperada, havia me arrancado de minha vida movimentada em Nova York e me jogado nesse vilarejo isolado,longe de tudo. A casa, herdada do meu avô, era um relicário de memórias, com móveis de madeira escura e um cheiro de poeira e pinho. Me sentia um fantasma nesse lugar, uma sombra perdida em meio a lembranças alheias. Mudei para Willow Creek buscando paz, um refúgio da frenética Nova York. A morte recente do meu pai me deixara fragilizada, e a pequena cidade, com seu ritmo lento e moradores acolhedores, parecia o lugar ideal para recomeçar. Mas a tranquilidade era enganosa. Um véu de mistério pairava sobre Willow Creek, um segredo sussurrado ao v
Ele levantou o olhar e nossos olhos se encontraram. Senti um arrepio, mas não desviei o olhar.Com passos firmes, me aproximei e sentei-me à mesa dele. Ethan me observou em silêncio, um sorriso enigmático brincando em seus lábios. - Precisamos conversar - disse, tentando manter a voz firme. Ethan inclinou a cabeça, curioso. - Sobre o quê? - Sobre você. Sobre por que está sempre por perto, mas nunca se aproxima. Quem é você de verdade, Ethan? Ele suspirou, olhando para o copo em suas mãos antes de responder. - Sou alguém que carrega muitos segredos, Clara. Segredos que podem ser perigosos para quem se aproxima demais. Senti um misto de medo e determinação. Eu não podia recuar agora, porque talvez essa fosse minha última oportunidade de confrontar-lo. - Eu não tenho medo de segredos. Quero saber a verdade. Ele sorriu de modo ameaçador , jogou várias notas de dinheiro sobre a mesa que daria para pagar o que bebeu e ainda sobrar uma generosa gorjeta para o garçom, e saiu, nã
Eu, com uma pulga enorme atrás da orelha, sabia que precisava descobrir o que era. Aquele mistério, aquele segredo obscuro, me chamava com uma força irresistível. Eu tinha que desvendá-lo.Eu preciso saber o que está acontecendo", repetia para mim mesma, enquanto Sarah tentava, em vão, me convencer a desistir. Minhas noites se tornaram uma caçada furtiva. Seguia Ethan pelas ruas de Willow Creek, observando-o de longe. Bares escuros, conversas enigmáticas com pessoas estranhas, o desaparecimento nas sombras da floresta... tudo era intrigante, assustador e irresistível.Então, numa noite que seguia ele que caminhava por uma rua escura e silenciosa, ele se virou. Seus olhos, frios e penetrantes, me encontraram.___"Você", ele disse, a voz baixa e rouca, "Você está me seguindo? O medo me paralisou. Ele se aproximou, imponente, ameaçador.___"Você não deveria estar aqui", a voz dele era um sussurro ameaçador. Tentei me afastar, mas sem sucesso, senti seu aperto firme em meu braço, e
Era como se eu pudesse sentir o passado, a energia de cada peça, e isso me ajudava a esquecer o medo que Ethan me causava. Mas, por mais que tentasse, a imagem dele, o toque dele, o olhar dele, me perseguiam. Era como se ele tivesse me marcado, e eu não conseguia me livrar da sensação de que ele estava sempre presente, mesmo quando não estava. Sarah, por sua vez, se sentia aliviada por ter minha companhia. A presença dela me tranquilizava, e me ajudava a lidar com o medo que ainda sentia por Ethan. ___"Você está fazendo um ótimo trabalho, Clara," Sarah disse, com um sorriso. "A loja está parecendo nova." Sorri de volta. ___"Estou feliz em ajudar," eu disse. "É bom ter algo para fazer." No fim de semana, Sarah decidiu aceitar o convite de um amigo, um rapaz chamado Daniel, que trabalhava com ela na loja de antiguidades. Ele convidou Sarah para levá-la para um barzinho, e ele, gentilmente, sugeriu levar seu amigo, um rapaz chamado Lucas, para fazer companhia a mim. __"Lucas é um ca
Ethan era uma presença opressora em minha vida, e eu não sabia como lidar com isso. Desviei novamente, buscando abrigo em um beco mais escuro, esperando que ele não me visse. Meus pulmões queimavam e meu corpo tremia, mas eu precisava encontrar uma saída. O beco era estreito e pouco iluminado, e eu me encostei na parede fria, tentando fazer o menor ruído possível. __"Clara!" Ele chamou novamente, a frustração agora evidente em sua voz. "Só quero conversar!" Não respondi. Eu apenas permaneci ali, paralisada, ouvindo o som da sua busca. A adrenalina corria em minhas veias como um veneno e, ao mesmo tempo, havia uma parte de mim que queria acreditar que ele se preocupava de verdade. O silêncio se instalou por um momento, e eu me perguntei se ele tinha desistido. Mas então ouvi passos se aproximando. Meu coração disparou novamente, e eu me preparei para correr. __"Clara, não se esconda," ele disse, sua voz mais suave agora, quase como um sussurro. "Eu não vou te machucar." A dúvida