E, enquanto o sol subia no céu, decidi que não iria me deixar levar apenas pela desconfiança. Era hora de descobrir a verdadeira essência de Ethan, mesmo que isso significasse enfrentar meus próprios medos.
A conversa fluiu entre nós, mas a atmosfera estava carregada de uma tensão sutil. Eu tentava me concentrar nas palavras de Ethan, mas minha mente não conseguia ignorar os sinais de que havia algo mais por trás daquela fachada amigável. - Você mencionou que a arte é uma forma de libertação - eu disse, buscando um caminho para aprofundar a conversa. - Você tem alguma obra favorita? Algo que realmente te impactou? Ethan hesitou, seus olhos desviando por um instante, como se estivesse revivendo uma memória dolorosa. - Na verdade, eu... - ele começou, mas a voz falhou. - Eu gosto de um pintor chamado Edvard Munch. A forma como ele captura a angústia humana é algo que me fascina e, ao mesmo tempo, me assusta. Senti um aperto no coração. O nome de Munch ressoava com a própria luta que eu percebia nele. - "O Grito", certo? - comentei, tentando conectar-me a ele. - É uma obra poderosa. - Exatamente - ele respondeu, um leve sorriso aparecendo em seus lábios, que logo se apagou. - Às vezes, sinto que todos nós carregamos um "grito" dentro de nós, algo que não conseguimos expressar. Suas palavras pairaram no ar, e percebi que Ethan estava se revelando de uma forma que eu não esperava. A vulnerabilidade dele me tocou, mas também me deixou mais alerta. - Você se sente assim? - perguntei, a curiosidade superando a cautela. - Como se houvesse algo preso dentro de você? Ethan me olhou nos olhos, e por um breve momento, eu vi uma tempestade de emoções. - Sim, eu... - Ele hesitou novamente, a luta interna visível em seu rosto. - Às vezes, sinto que estou lutando contra algo que não consigo controlar. E isso me assusta, porque não quero que isso te afete. Senti que aquele momento era crucial. A tensão que antes me paralisava agora me instigava a me aproximar mais. - Não precisa me proteger, Ethan. Eu quero entender. Ele respirou fundo, como se estivesse se preparando para revelar um segredo profundo. - Eu não quero que você veja o lado sombrio de mim. Mas, ao mesmo tempo, sei que não posso esconder isso para sempre. Decidi que, independentemente do que viesse a seguir, eu estava disposta a enfrentar essa jornada com Ethan. - Então, vamos continuar a nos conhecer, um passo de cada vez. - sugeri, sentindo uma determinação crescente. Ethan sorriu, e dessa vez, o sorriso parecia mais genuíno. - Obrigado, Clara. Isso significa muito para mim Dias depois daquele encontro sair para uma caminhada pela floresta imaginando que esta seria a melhor maneira de clarear a mente. O ar fresco e o cheiro das árvores sempre me faziam sentir mais leve. Enquanto caminhava, me perdi em pensamentos sobre Ethan e a conexão que estávamos começando a construir. A ideia de contar a Sarah ainda me deixava apreensiva, mas, por ora, queria aproveitar aquele momento. De repente, ao me afastar um pouco mais do caminho principal, ouvi passos atrás de mim. Quando me virei, para minha surpresa, era Ethan. — Oi, Clara! O que você está fazendo aqui? — ele perguntou, com um sorriso que iluminou seu rosto. — Oi, Ethan! Eu só estou caminhando um pouco. — Respondi, tentando esconder a surpresa. — É tão tranquilo aqui. Ele franziu a testa, parecendo preocupado. — Você sabe que é perigoso andar sozinha na floresta, não é? — disse ele, com um tom sério. — Pode haver animais ou até mesmo pessoas estranhas por aqui. Senti um frio na barriga, mas, ao mesmo tempo, a presença dele me deixava mais tranquila. — Eu sei, mas estou me sentindo segura. Além disso, agora que você está aqui, tudo fica melhor! — brinquei, tentando aliviar a tensão. Ele sorriu, um pouco aliviado, mas seu olhar se tornou mais intenso. — Você sabe, Clara... Eu sou o perigo aqui — ele disse, com um sorriso ligeiramente travesso, aproximando-se um pouco mais de mim. — Talvez eu seja a ameaça que você deveria temer. Aquelas palavras me pegaram de surpresa, mas de alguma forma, algo no tom de voz dele fez meu coração bater mais rápido. A ideia de estar perto dele, no silêncio da floresta, com a tensão no ar, me fazia sentir uma mistura de excitação e curiosidade. Ele deu um passo à frente, agora tão próximo que podia sentir o calor de seu corpo. Os olhos dele estavam fixos nos meus, como se ele estivesse esperando algo de mim, ou talvez querendo ver até onde aquela energia entre nós iria. — Você provavelmente estaria mais segura sem mim mas posso caminhar com você? — ele perguntou, o tom da sua voz agora mais suave, mais envolvente. — Claro! Eu adoraria que você me acompanhasse. — Respondi, sentindo meu coração acelerar com a proximidade dele. Começamos a caminhar juntos, e a floresta parecia ainda mais bonita com a companhia dele. Conversamos sobre tudo e nada, mas a cada palavra trocada, a conexão entre nós se tornava mais forte. O silêncio entre as frases tinha um peso diferente agora, algo mais carregado, como se a floresta, com suas árvores imponentes, estivesse guardando nosso segredo. — Você já percebeu como tudo fica mais intenso quando estamos juntos, Clara? — ele perguntou, quase em um sussurro, os olhos fixos nos meus. Eu não sabia o que responder de imediato. Aquele clima estava ficando mais denso, e eu não conseguia mais separar o que sentia de uma forma clara. A presença dele me envolvia, me fazia sentir segura e ao mesmo tempo inquieta. — Eu não sei do que está falando — disse, o tom da minha voz quase inaudível, à medida que o clima ao redor parecia pesar. Ele sorriu suavemente, mais uma vez dando aquele passo que me aproximava ainda mais dele. — A solidão aqui pode ser perigosa, Clara. Mas... com você, tudo parece mais fácil de suportar — ele murmurou, suas palavras carregadas de algo que eu não sabia como decifrar, mas que me fazia querer descobrir.Eu sabia que estava sendo levada por uma força muito intensa, mas também sabia que queria explorar isso, mesmo sem saber até onde iria. Fixei meu olhar nos fios de cabelo que começavam a crescer em sua cabeça raspada. Um arrepio percorreu meu corpo, e uma vontade incontrolável de passar minhas mãos ali me invadiu. A textura, a promessa do que estava por vir... era excitante.— Por que você raspa a cabeça assim? — perguntei, minha voz um pouco mais rouca do que o normal.Ele sorriu, um sorriso selvagem que mostrava dentes brancos e brilhantes. Algo em seu olhar me fez estremecer de antecipação.— Sou muito peludo, menina. Meu cabelo cresce absurdamente, então sempre corto para não ficar parecendo um lobisomem — disse ele, a última palavra sussurrada com uma intensidade que me deixou arrepiada, mas de um jeito bom.Desci meu olhar para seu corpo, e a verdade da sua afirmação me atingiu em cheio. Ele era realmente muito peludo, com pelos escuros e grossos no peito e nos braços. A visã
Não conseguia explicar a mim mesma a decisão de ir, a sensação de que simplesmente não poderia dizer não a Ethan. O medo, é claro, estava lá, um nó frio na garganta, mas era ofuscado por uma curiosidade insaciável, uma necessidade de saber o que me esperava. O vento frio da noite soprava, carregando consigo o cheiro de rio e a promessa de algo desconhecido.Então, ele apareceu. Não apenas apareceu, mas surgiu como um espectro das sombras, montado em uma Kawasaki Ninja preta, a máquina imponente cortando a penumbra como uma lâmina afiada. O ronco profundo do motor, um rugido selvagem que ecoou pela ponte, vibrou em meu corpo, intensificando a mistura de medo e excitação que me consumia. A moto, reluzindo sob a luz fraca dos postes, parecia uma extensão de sua personalidade – poderosa, enigmática e um tanto ameaçadora. Ethan, com sua figura imponente e um sorriso que prometia tanto perigo quanto prazer, desceu da moto, a silhueta escura contra o céu noturno. Senti um arrepio percorrer m
O ronco baixo do motor era um contraponto ao zumbido que começava a tomar conta da minha cabeça o vinho já estava fazendo efeito. Saímos do pub, a risada de Ethan ainda ecoando fracamente atrás de nós, e agora a cidade se esvaía em um borrão de luzes. Eu me agarrava a ele, o cheiro de couro e gasolina misturado ao aroma doce e intenso do vinho que ainda tinha em minha taça.A ponte se erguia à nossa frente, imponente e escura contra o céu estrelado. Ethan estacionou a moto no acostamento, o motor silenciando abruptamente. O silêncio, quebrado apenas pelo som distante do tráfego, era quase opressor. Descemos, e eu me senti cambaleante, a terra parecendo se mover sob meus pés. Ethan me ajudou a manter o equilíbrio, seu braço forte e seguro em minhas costas.Enquanto ele abria outra garrafa de vinho, eu me encostei na mureta fria da ponte, observando as luzes da cidade refletidas na água escura lá embaixo. O vinho escorria pela minha garganta, quente e reconfortante, mas também me deixav
O silêncio dele era ensurdecedor. Um abismo profundo e intransponível se abriu entre nós, e eu me encontrava à beira, olhando para o vazio sem saber como atravessá-lo. Não era eu que o evitava; era ele que me ignorava completamente, como se eu fosse um fantasma, uma lembrança incômoda a ser esquecida. A cada dia que passava, a esperança diminuía, dando lugar a uma dor lancinante, uma ferida aberta que sangrava a cada notificação não recebida, a cada mensagem sem resposta.A lembrança do beijo, antes um bálsamo para a alma, agora era uma tortura. Era como se ele tivesse roubado não só um beijo, mas também um pedaço de mim, deixando um vazio imenso em seu lugar. A intensidade daquela noite, o calor dos seus abraços, tudo agora parecia um sonho distante, irreal, um conto de fadas que terminara em um pesadelo.A confusão inicial deu lugar a uma raiva crescente. A raiva pela sua indiferença, pela sua falta de respeito, pela sua incapacidade de explicar o que havia acontecido. Por que ele h
Reconheci a camisa xadrez, a mesma que usava naquela noite… a noite que mudou tudo. A visão dele, ali, me atingiu como um soco no estômago.A raiva me subiu à garganta, um nó apertado que me impedia de respirar. Mas, ao invés de gritar, eu apenas me aproximei. ___"Preciso de uma resposta", disse, minha voz baixa e rouca, quase um rosnado. Os olhos dele se encontraram com os meus, e por um instante, vi um reflexo de dor neles – uma dor que ecoava a minha própria.__"Foi um erro, Clara", ele sussurrou, a voz quase abafada pelo ruído da cidade. "Eu não sou bom para você. Eu te colocaria em perigo. De verdade. Você precisa entender isso." Ele gesticulou com a mão, como se tentasse afastar algo invisível entre nós, algo que ameaçava nos engolir. "Só… tente ser feliz sem mim." As palavras foram ditas com uma firmeza que me feriu mais do que qualquer grito. Ele se virou e se foi, deixando-me sozinha sob a luz fria do letreiro enferrujado, o cheiro da chuva e a amargura da desped
As tardes eram preenchidas com o cheiro de madeira velha, poeira e livros antigos, um ambiente familiar e reconfortante que me proporcionava uma sensação de paz. Mas as noites… as noites eram diferentes.Sob a escuridão do meu quarto, longe dos olhos curiosos, as lágrimas ainda rolavam pelo meu rosto. A imagem de Ethan, seu sorriso, seu olhar, ainda me assombravam, mesmo que eu tentasse racionalizar, mesmo que eu soubesse que ele não era bom para mim. A saudade, uma dor surda e constante, me acompanhava como uma sombra. Eu tentava me convencer de que estava seguindo em frente, de que estava superando, mas a verdade era que uma parte de mim ainda estava presa ao passado, presa a ele.Para tentar esquecer, para tentar preencher o vazio que ele havia deixado, eu continuava saindo com Lucas. Ele era gentil, atencioso, e fazia de tudo para me fazer feliz. Mas, por mais que eu tentasse, não conseguia apagar a imagem de Ethan da minha mente. Lucas era um bom homem, um porto seguro, ma
A tensão sexual é palpável, um fio invisível que nos conecta, nos prende, e me deixa ansiosa pelo que pode acontecer a seguir. O ar entre nós está denso, pesado, carregado de uma promessa silenciosa, de algo proibido, mas incrivelmente tentador.A colher de sorvete parece pesar uma tonelada na minha mão. O silêncio entre nós é ensurdecedor, quebrado apenas pelo leve tilintar do metal contra a porcelana da tigela e pela minha própria respiração ofegante. Ele se aproxima, lentamente, cada passo medido, intencional. O cheiro dele, uma mistura de sabonete e algo inefável, masculino e primitivo, me invade, me embriaga.Seu olhar desce do meu rosto, percorre o meu corpo com uma intensidade que me deixa estremecer. Sinto a pele arrepiar, um arrepio que parte da nuca e se espalha por todo o meu corpo, deixando um rastro de calor e formigamento. A culpa ainda está lá, uma sombra persistente, mas o desejo, implacável e avassalador, a domina.Ele para a poucos centímetros de mim, a respiração que
Talvez, um vislumbre de esperança. A tensão sexual que nos unira momentos antes se dissipou, deixando para trás um vazio profundo, mas também uma possibilidade. A possibilidade de reconstruir, de entender, de talvez, um dia, encontrar um caminho para o que existe entre nós, para além do desejo e da confusão.Em um impulso, vou catar os cacos da tigela quebrada, mas um pedaço afiado corta meu dedo.O sangue escorre, um fio vermelho vivo contra a palidez da minha pele. Ethan reage imediatamente, a preocupação substituindo a hesitação anterior. Ele se aproxima, pega minha mão com cuidado, e suga o sangue do meu dedo. O gesto é instintivo, quase primitivo. Mas a forma como ele faz, a intensidade do seu olhar, o visível prazer que transparece em seus olhos enquanto ele suga o meu sangue… isso me assombra.Após limpar e cuidar do meu ferimento, ele faz um curativo cuidadoso. O toque dele é suave, mas a lembrança do seu prazer ao sugar o meu sangue permanece, uma mancha escura na memór