Encontro

Ethan era uma presença opressora em minha vida, e eu não sabia como lidar com isso. Desviei novamente, buscando abrigo em um beco mais escuro, esperando que ele não me visse. Meus pulmões queimavam e meu corpo tremia, mas eu precisava encontrar uma saída. O beco era estreito e pouco iluminado, e eu me encostei na parede fria, tentando fazer o menor ruído possível.

__"Clara!" Ele chamou novamente, a frustração agora evidente em sua voz. "Só quero conversar!" Não respondi. Eu apenas permaneci ali, paralisada, ouvindo o som da sua busca. A adrenalina corria em minhas veias como um veneno e, ao mesmo tempo, havia uma parte de mim que queria acreditar que ele se preocupava de verdade. O silêncio se instalou por um momento, e eu me perguntei se ele tinha desistido. Mas então ouvi passos se aproximando. Meu coração disparou novamente, e eu me preparei para correr.

__"Clara, não se esconda," ele disse, sua voz mais suave agora, quase como um sussurro. "Eu não vou te machucar." A dúvida me atingiu. Eu queria acreditar, mas a memórias do passado eram um lembrete constante do contrário. ___"Clara!" Ele chamou mais uma vez, e dessa vez sua voz soou mais perto.

"Por favor," eu murmurei para mim mesma, "saia daqui ",mas, antes que eu pudesse me mover, ele apareceu na entrada do beco, sua figura se destacando contra a luz da rua. O olhar dele era intenso, mas havia uma preocupação genuína em seu rosto.

__"Eu só queria entender," ele disse, a frustração agora misturada com algo mais vulnerável. "Não quero que você fuja de mim. Não assim."

Diante daquela revelação, eu me vi presa entre o impulso de correr e o desejo de ouvir o que ele tinha a dizer.A tensão no ar era palpável, e eu lutava contra a dualidade das minhas emoções. Uma parte de mim queria crer que havia algo mais em Ethan, algo além do que eu havia visto até então. A outra parte, a parte mais cautelosa, gritava para que eu não me deixasse levar por palavras doces e promessas vazias.

__"Entender o quê?" Eu perguntei, a voz mais firme do que me sentia. "Você não entende que eu não posso simplesmente ignorar o que você me faz sentir? Você me fez sentir medo. Medo de você, medo de mim mesma."

Ethan respirou profundamente, como se estivesse tentando organizar seus pensamentos.

- Eu entendo que você está assustada - ele disse, a voz mais suave, quase implorando por compreensão. - Mas eu não sou o monstro que você imagina. Quero que você veja isso.

Ele hesitou por um momento, como se estivesse pesando suas palavras cuidadosamente.

- Que tal fazermos uma trégua? Um passeio, só nós dois. Assim, você pode me conhecer melhor e entender que eu não quero te fazer mal.

Olhei nos olhos dele, buscando alguma verdade naquelas palavras.

- Por que você acha que eu tenho medo de você? - perguntei, a curiosidade se misturando à desconfiança.

Ethan deu um passo à frente, sua expressão carregada de sinceridade.

- Porque eu sei que, em algum lugar dentro de você, existe uma parte que ainda acredita que eu posso ser diferente. Vamos caminhar e conversar. Prometo que não vou te pressionar. Só quero que você me conheça de verdade.

A tensão no ar parecia diminuir um pouco, mas a dúvida ainda pairava entre nós. Eu hesitei, mas a ideia de um passeio, de um momento a sós, me atraía. Afinal, talvez fosse a chance que eu precisava para descobrir quem Ethan realmente era.

A noite caiu, envolvendo a cidade em um manto de sombras e mistérios. Clara se despediu de Ethan com um misto de ansiedade e expectativa. A ideia de um passeio sozinha com ele me deixava inquieta, mas a curiosidade sobre o que ele realmente era a impulsionava. Assim que chegou em casa, a escuridão parecia refletir suas próprias inseguranças. Ela se deitou, mas o sono não vinha. Pensamentos sobre Ethan dançavam em sua mente, como sombras fugidias.

No dia seguinte, o sol raiou timidamente, acordei com a sensação de que algo estava prestes a mudar. Ao me preparar para o dia, não conseguia evitar a esperança de que o encontro com Ethan revelaria um lado dele que ainda não conhecia.

Ethan estava esperando em um café, um sorriso no rosto que parecia genuíno, mas seus olhos, ah, aqueles olhos. Eles carregavam uma profundidade que não conseguia ignorar. Havia algo neles que me fazia sentir que ele guardava segredos, algo que ia além do que ele havia compartilhado.

- Oi, Clara! - ele disse, a voz calorosa e convidativa. - Espero que você tenha dormido bem.

Forcei um sorriso, tentando afastar a desconfiança que ainda me acompanhava.

- Dormi, sim. E você?

- Também. Estava pensando sobre como poderíamos nos conhecer melhor - respondeu ele, gesticulando de forma animada, como se tentasse desviar a atenção de algo mais profundo.

Enquanto conversavamos notei como Ethan parecia se esforçar para ser simpático, fazendo perguntas sobre meus gostos, minhas paixões. Mas havia momentos em que seu olhar se tornava distante, como se ele estivesse lutando contra pensamentos internos que não conseguia compartilhar.

- Você gosta de arte? - ele perguntou, os olhos brilhando com uma luz que a intrigava.

- Gosto sim. Aprecio a forma como a arte pode expressar sentimentos que às vezes não conseguimos colocar em palavras - respondi , observando a reação dele.

Ethan assentiu, mas seu olhar parecia se perder em algum lugar longe, como se ele estivesse contemplando um passado que o assombrava.

- A arte é uma forma de libertação, não é? - ele murmurou, quase para si mesmo. - Às vezes, precisamos nos libertar de nossos próprios demônios.

Sentir um frio na espinha. As palavras de Ethan ressoavam em minha mente, e a ideia de que ele poderia estar lutando contra algo muito maior me fez hesitar. O que ele realmente queria de mim ? O que ele escondia atrás daquele sorriso encantador?

A dúvida voltou a surgir, mas, mesmo assim, sentia que havia algo de especial naquele momento. Talvez, apenas talvez, a verdade que eu buscava estivesse mais próxima do que imaginava.

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