ー Não nos resta mais muito tempo. Temos que entrar logo na fenda.
Foi o que Bento disse. Seus aliados pensavam a mesma coisa. Não estavam preocupados com o que Hanna e Roger pensavam, tinham pouco tempo e não queriam gastar com perguntas sem respostas.
ー Vão sem nós. Não queremos ir, Bento, por favor, siga seu caminho e nos deixe aqui. ー Pediu Roger em voz baixa, mais calmo do que havia estado até agora; olhava para Bento com um pedido no olhar, mais do que suas palavras, sua feição era de cansaço, físico e mental Ele não pedia á nenhum outro, mas á seu velho amigo.
Hanna ao seu lado, não estava tão calma como ele, olhava com incredulidade para Bento e meio enraivecida de terem que insistir t
ー Melhor os três na frente. ー Téron avisou os demais. Serena e Dora estavam em polvorosa, mas deixaram que os três jovens passassem e entrassem primeiro na fenda da grande árvore. Não parecia que há apenas alguns minutos eles tivessem visto algo surreal e agora iriam fazer o mesmo. Olhando para a fenda, não parecia nada anormal, um grande buraco, um oco na árvore que brincaram tanto e por tantos anos. Nada de anormal ali, nenhuma luz irradiando, nenhuma seta brilhante, nenhum tapete de boas vindas, nada, apenas uma simples, grande, porém simples árvore que conheceram a vida toda.Bento deixou que os dois andassem à sua frente. Óbvio que temia que eles fossem desistir ou fazer algo, caso os deixasse entrar depois. Instava-os a continuar e transpor o buraco cavado no tronco por sabe-se lá quem. Será que a á
ー Meu Deus, Roger, você está bem? ー Agachada ao lado dele, com os joelhos, ela não conseguiu deixar de notar, no cimento, e não no gramado.O sangue quente do amigo saía forte e já se empoçava debaixo dele.ー Não acho que tenha quebrado nenhum osso, mas dói demais. Onde estamos? ーEle tentou se levantar, mas com um gemido se deixou cair novamente.Hanna olhou ao lado e lhe parecia que estavam em uma praça. Via pessoas ao longe, cerca de cinquenta metros. Nunca havia visto aquele lugar.ー Parece que entramos na fenda. Fique aqui e vou buscar ajuda.ーNão! Por favor, não me deixe só.ー Jamais o d
Bento- Chegou uma carta para você, Bento. - Disse Ronan, o rapaz que trabalhava no caixa do Supermercado, estava em sua hora de folga.- A carta chegou aqui? - Perguntou Bento, que usava a balança para pesar um frango para uma cliente.- Sim, estranho, né? Uma carta simples. Deixei na gaveta do meu caixa, vou fumar um cigarro lá fora, caso você queira pegá-la, está lá.Bento agradeceu e se esqueceu segundos depois, mais uma cliente aguardava sua vez de realizar o pedido.Só quando foi sua vez de fazer uma pausa, no meio da tarde, foi que Ronan o chamou do caixa e lhe entregou a carta.Bento se sentou
- Não entendi, resolveu devolver a carta ao meu caixa? - Ronan estava novamente ao lado do freezer de vidro do açougue e estendia a carta para Bento. A mesma que ele amassara e jogara no cesto de lixo.- Chegou outra? - Perguntou, incrédulo. Sorte que aquele horário, o mercado e o açougue estavam quase vazios.- Me parece a mesma.Bento pegou a carta. O mesmo lacre, ainda intacto, não estava amassado.- Pode me render aqui, um pouco?- Está tudo bem?- Sim, só preciso conferir uma coisa. - Disse já tirando a touca e o avental.- Clóvis. - Gritou Ronan, para o garoto
Bento passou o restante da tarde a pensar na carta. Deixou-a no bolso do avental; abriu-a novamente e constatou o que já sabia, era a mesma carta, como se não a tivesse jogado fora. Ninguém a colocou no caixa de Ronan, ele olhou nas câmeras, ela apareceu misteriosamente no caixa.Por mais que tentasse achar uma explicação, não conseguia.Lembrava que quando estavam, Hanna, Roger e ele, com idade entre onze, doze e treze anos, nenhum deles tinham um registro de nascimento quando foram para o orfanato, os cuidadores lhes deram mais ou menos essa idade, aproximadamente, e encontrando um livro velho - Hanna era obcecada por leitura, encontraram uma lenda, uma história que ensinava como se transformarem um bruxos e feiticeiros. Liam esse livro desde que foram alfabetizados. Foi ideia dele mandar uma carta para o
Bento explicou aos pais que iria visitar Roger, pegou o carro do pai, depois de a mãe recomendar dezenas de vezes que fosse devagar e com cuidado, visto que sua habilitação era nova e sua mãe estava extremamente preocupada de o filho sofrer um acidente, e pegou estrada.Chegou lá e viu o carro de Hanna estacionado de frente ao bar do Gordo.- Não me diga que também recebeu uma carta! - Ele perguntou, após cumprimentar a tão amada amiga com um forte abraço e um beijo no rosto.- Cansei de te ligar, Bento. Te liguei até no Mercado. Estava planejando ir com Roger à sua casa, quando ele me disse que você estava à caminho. O que acham que significa? E Roger, essa é a última cerveja, ok?
- Será que foi ele quem deixou as cartas para nós três? - Roger falava para ninguém em especial, pensava alto. Hanna nem lhe chamou a atenção quando ele acendeu um cigarro, ela também estava imersa em pensamentos e só se afastou dele, involuntariamente por causa da fumaça.- Pode ser. E o que é Solstício de Verão? - Indagou Bento.- Dei uma olhada na biblioteca do colégio que fui hoje para ver se farei faculdade lá, e pesquisei um livro. Me parece que é o dia mais longo do ano, tipo, é quando os pólos da terra se inclinam ao máximo e recebe mais luz do sol, é o dia mais longo do ano, e a noite mais curta, alguma coisa assim. - Finalizou Hanna.- E quando será isso?
Os dias se passaram e os amigos se ligavam duas ou três vezes ao dia, às vezes mais. Estavam realmente preocupados.- Fui a dezenas de bibliotecas e livrarias e em nenhuma delas encontrei o livro. - Dizia Hanna à Bento, em uma de suas ligações a noite. - Não me lembro muito bem dele, você se lembra?- Engraçado que não, me lembro de algumas histórias, não todas elas, mas a capa, só me lembrei quando vi o desenho na carta de Roger, mas do autor, nada, não me recordo muito bem.- As folhas eram parecidas com as da carta, você percebeu? Rústicas, envelhecidas.- Como pergaminhos. Me lembro de estar com ele aberto, escondidos no quarto para não mandarem apagarmo