Como esperado, Rosário foi seguida por várias pessoas até o cemitério dos loucos. Todos queriam ver como era um surto, todos queriam ver o que aconteceria. Chegaram no portão e entraram atrás de Rosário, que suava e tremia de tanta preocupação. Ia a frente daquela multidão de urubus curiosos a procura de uma história para conversarem mais tarde. Maurício a seguia. Apontou para o exato local que Alice estava, e Rosário se sentiu aliviada por ela ainda está ali e não ter fugido, mais logo depois virou para o lado e vomitou.
Alice estava cavando a areia negra e lamacenta do cemitério com as próprias mãos, e parecia ter encontrado alguma coisa.
As pessoas eram enterradas de qualquer jeito ali, algumas até sem
— Quanto tempo faz que estou aqui?— Olá, Alice. Meu nome é Mariana, sou psicóloga. Como está se sentindo?— Onde estou?— Você está no hospital, deu entrada no processo de internação há três dias.— Três dias!?— Sim, você foi medicada muitas vezes e também dormiu. Mas agora está tudo bem.— Minha família...— Sua tia esteve aqui todos os dias nos horários de visita. Ela concordou que o melhor para você
O dia 15 de julho de 1962 foi o último dia da vida dos passageiros do voo A75064, que partiu da Cidade do México rumo a Boston pouco antes do nascer do sol.Vinte e cinco minutos após a decolagem foi feita uma tentativa de pouso, mas antes de chegar ao solo uma das turbinas da aeronave explodiu, deixando ao todo 88 mortos e nenhum sobrevivente. Muitos corpos foram mutilados, carbonizados e a maioria não foi encontrado ou reconhecido, inclusive os corpos de Fabián e Rossana Rivera, pais de uma garotinha de 11 anos.A guarda de Alice Rivera foi passada para o parente mais próximo. Sua tia de 46 anos que morava no interior do México, na pequena cidade de Esperanza.Viúva, e com dois filhos para criar, tia Rosário n
— Por que ela não fala, mãe?— Crianças, precisamos conversar.Quando Alice entrou na nova casa foi bombardeada com perguntas pelo primo mais novo, algumas delas especialmente dolorosas. Sem sentir raiva, tristeza ou qualquer sentimento pelo menino, Alice pegou suas malas e rumou para o novo quarto, arrumando tudo automaticamente e sem prestar atenção nas diferenças daquela pequena casa para o seu lar na capital. Na verdade ela não sentia nada fazia um tempo, apenas um vazio e uma vontade constante de morrer.Nem os primos nem a tia entendiam o que Alice sentia, ou deixava de sentir, especialmente os primos, que enxergavam apenas outra criança para fazer companhia nas brincadeiras. Depois de tudo, por&eacut
Uma semana após achegada de Alice havia se passado, as crianças já tinham se acostumado com a presença dela, mas tia Rosário estava perturbada com o fato dela ainda não ter falado nada.Todas as suas tentativas de conversa ou de fazer Alice sair de casa falhavam. Amélia tinha perdido um pouco do medo que sentia pela menina, mas achava desconfortável o fato de ter que dividir o quarto com alguém que mal respirava.— Vamos levar a Alice para conhecer a cidade hoje. Só nos duas.— Ela não vai querer ir.— Falei com um médico sobre ela e ele disse que ela pode estar passando por estresse pós traumático ou alguma
Dois dias se passaram desde que Alice falou pela primeira vez. De vez em quando ela dizia uma coisa ou outra, o que já era um grande avanço. Mas ainda passava a maior parte do tempo calada.Amélia tinha parado de se empenhar muito em fazer amizade com ela, visto que tia Rosário estava satisfeita ao ouvir Alice perguntar sobre o jantar. O que incomodava tia Rosário naquele momento era o fato das aulas estarem prestes a começar. Ela tinha protegido bem a sobrinha das fofocas da cidade até o momento, mas na escola seria muito mais difícil.A primeira pessoa com quem Alice tinha falado após todo o trauma que passou fora Amélia, por isso tia Rosário ainda confiava que algo de bom poderia sair da amizade das duas. Ela era professora a mais de quinze anos e sabia que
Tia Rosário levantou da cama e saiu rapidamente quando Amélia disse que Alice havia sumido. Naturalmente, pensou que ela tinha decidido fugir e rumou para a saída da rua, sem se importar com o lado do cemitério.Alice tinha acabado de pular o muro e voltava tranquilamente para casa, felizmente Amélia a viu a tempo de gritar pela mãe, que correu e abraçou a sobrinha.- Onde você estava?Alice sentiu pelo tom de repreensão da tia que não devia contar a verdade, apesar de não ver problema em ter ido dar um pouco de atenção para aquelas pessoas tão abandonadas.- Estava brincando.- Brincando
Compartilhando a raiva que sentiam por Marco, Alice e Amélia se tornaram mais próximas. Como tia Rosário suspeitava, Alice confiava mais na prima para conversar do que em qualquer adulto. O único assunto proibido entre as duas eram os pais de Alice, mas um dia essa conversa aconteceu.— Você sente falta deles; dos seus pais?— Sim.— Eu também sinto falta do meu pai.— Como ele morreu?— Um acidente no trabalho. Ele era pedreiro.— Meus pais trabalhavam em uma agência de turismo.&m
Todas as crianças estavam ansiosas para o primeiro dia de aula nas escolinhas de Esperanza. Todas exceto Alice, que não frequentaria a escola naquela ano.Tia Rosário lhe deu mil recomendações, mandou ela ficar em casa lendo e fazendo qualquer coisa até ela e os filhos chegarem na hora do almoço.— A escola não é tão legal assim, queria eu ficar em casa — Mauricio a encorajou quando viu seu rostinho triste.— Tudo bem, é só por algumas horas e ano que vem você vai com a gente — Amélia falou.Alice permaneceu calada enquanto os três saiam, ouviu bem a conversa de tia Rosário e Amélia por trá