O dia 15 de julho de 1962 foi o último dia da vida dos passageiros do voo A75064, que partiu da Cidade do México rumo a Boston pouco antes do nascer do sol.
Vinte e cinco minutos após a decolagem foi feita uma tentativa de pouso, mas antes de chegar ao solo uma das turbinas da aeronave explodiu, deixando ao todo 88 mortos e nenhum sobrevivente. Muitos corpos foram mutilados, carbonizados e a maioria não foi encontrado ou reconhecido, inclusive os corpos de Fabián e Rossana Rivera, pais de uma garotinha de 11 anos.
A guarda de Alice Rivera foi passada para o parente mais próximo. Sua tia de 46 anos que morava no interior do México, na pequena cidade de Esperanza.
Viúva, e com dois filhos para criar, tia Rosário não tinha condições financeiras de criar mais uma criança, mas aceitou a pequena Alice de bom grado em consideração ao falecido irmão.
Em poucos dias tudo foi acertado, os bens e a renda dos pais de Alice foram reservados para quando ela entrasse na vida adulta e tia Rosário foi a Cidade do México buscar a sobrinha.
Aos 11 anos, órfã e com pouco conhecimento sobre as coisas desse mundo; Alice partiu com a tia para a cidade de Esperanza, sem esperar mais nada da vida e querendo apenas ter morrido com os pais.
— Por que ela não fala, mãe?— Crianças, precisamos conversar.Quando Alice entrou na nova casa foi bombardeada com perguntas pelo primo mais novo, algumas delas especialmente dolorosas. Sem sentir raiva, tristeza ou qualquer sentimento pelo menino, Alice pegou suas malas e rumou para o novo quarto, arrumando tudo automaticamente e sem prestar atenção nas diferenças daquela pequena casa para o seu lar na capital. Na verdade ela não sentia nada fazia um tempo, apenas um vazio e uma vontade constante de morrer.Nem os primos nem a tia entendiam o que Alice sentia, ou deixava de sentir, especialmente os primos, que enxergavam apenas outra criança para fazer companhia nas brincadeiras. Depois de tudo, por&eacut
Uma semana após achegada de Alice havia se passado, as crianças já tinham se acostumado com a presença dela, mas tia Rosário estava perturbada com o fato dela ainda não ter falado nada.Todas as suas tentativas de conversa ou de fazer Alice sair de casa falhavam. Amélia tinha perdido um pouco do medo que sentia pela menina, mas achava desconfortável o fato de ter que dividir o quarto com alguém que mal respirava.— Vamos levar a Alice para conhecer a cidade hoje. Só nos duas.— Ela não vai querer ir.— Falei com um médico sobre ela e ele disse que ela pode estar passando por estresse pós traumático ou alguma
Dois dias se passaram desde que Alice falou pela primeira vez. De vez em quando ela dizia uma coisa ou outra, o que já era um grande avanço. Mas ainda passava a maior parte do tempo calada.Amélia tinha parado de se empenhar muito em fazer amizade com ela, visto que tia Rosário estava satisfeita ao ouvir Alice perguntar sobre o jantar. O que incomodava tia Rosário naquele momento era o fato das aulas estarem prestes a começar. Ela tinha protegido bem a sobrinha das fofocas da cidade até o momento, mas na escola seria muito mais difícil.A primeira pessoa com quem Alice tinha falado após todo o trauma que passou fora Amélia, por isso tia Rosário ainda confiava que algo de bom poderia sair da amizade das duas. Ela era professora a mais de quinze anos e sabia que
Tia Rosário levantou da cama e saiu rapidamente quando Amélia disse que Alice havia sumido. Naturalmente, pensou que ela tinha decidido fugir e rumou para a saída da rua, sem se importar com o lado do cemitério.Alice tinha acabado de pular o muro e voltava tranquilamente para casa, felizmente Amélia a viu a tempo de gritar pela mãe, que correu e abraçou a sobrinha.- Onde você estava?Alice sentiu pelo tom de repreensão da tia que não devia contar a verdade, apesar de não ver problema em ter ido dar um pouco de atenção para aquelas pessoas tão abandonadas.- Estava brincando.- Brincando
Compartilhando a raiva que sentiam por Marco, Alice e Amélia se tornaram mais próximas. Como tia Rosário suspeitava, Alice confiava mais na prima para conversar do que em qualquer adulto. O único assunto proibido entre as duas eram os pais de Alice, mas um dia essa conversa aconteceu.— Você sente falta deles; dos seus pais?— Sim.— Eu também sinto falta do meu pai.— Como ele morreu?— Um acidente no trabalho. Ele era pedreiro.— Meus pais trabalhavam em uma agência de turismo.&m
Todas as crianças estavam ansiosas para o primeiro dia de aula nas escolinhas de Esperanza. Todas exceto Alice, que não frequentaria a escola naquela ano.Tia Rosário lhe deu mil recomendações, mandou ela ficar em casa lendo e fazendo qualquer coisa até ela e os filhos chegarem na hora do almoço.— A escola não é tão legal assim, queria eu ficar em casa — Mauricio a encorajou quando viu seu rostinho triste.— Tudo bem, é só por algumas horas e ano que vem você vai com a gente — Amélia falou.Alice permaneceu calada enquanto os três saiam, ouviu bem a conversa de tia Rosário e Amélia por trá
Quando tia Rosário chegou mais tarde a primeira coisa que encontrou foi dona Ana de braços cruzados e batendo o pé no chão.— Aconteceu alguma coisa?— Sabe quem eu vi saindo do cemitério?— Alice? Ela foi pra lá?— Foi, mas já voltou. Eu fiquei aqui vigiando a porta como a boa amiga que sou e...Tia Rosário não esperou que ela terminasse de falar e entrou em casa, Alice estava sentada em uma cadeira na sala de estar lendo um livro infantil de Maurício como se nada tivesse acontecido.— Você saiu de casa?
Afinal, dona Ana tinha sido útil. Ela vigiara todos os dias durante uma semana se Alice saia de casa para suas travessuras.Marco, que parecia ter se tornado um residente constante ia satisfeito falar para tia Rosário que dona Ana não tinha visto nada de suspeito aquela manhã, em troca ganhava alguma moeda.Alice sabia desse esquema, Amélia tinha contado a ela. Para não magoar a tia e nem levar outra bronca se limitava a ficar em casa fazendo qualquer coisa para passar o tempo, mas seu coração não tinha se conformado com o fato de não ter descoberto o nome daquele morto.Uma noite chegou aos seus ouvidos que dona Ana estava internada após ter sofrido um acidente na cozinha. Comemorou intimamente esse acontecim